Amor, Ansiedade, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, refugiados

Diáspora do Fim do Mundo

It’s like the walls are caving in
Sometimes, I feel like giving up
But I just can’t

Para todos que fogem para encontrar algo melhor, que deixam um coração para trás, que não tem para onde voltar, que desabam sem ninguém ver…


Então eu finalmente consegui.

Cheguei.

Meus braços doem, meu corpo treme, eu não consigo olhar para trás e encarar tudo que deixei, não existe mais nada, não existe para onde voltar. 

Ainda ouço os gritos, ainda sinto o cheiro salgado e metálico do sangue, ainda vejo os passos apressados, os tropeços, o medo estampado nos olhos daqueles com tão pouca idade que nada entendiam. 

Cheguei só, mesmo que tenha tentado carregar outros comigo, eles não conseguiram, foram atravessados pela vida. 

Haviam dias que o baque da perda doía mais do que outros, eu lembro de tudo que senti, da angústia que parecia comprimir meu peito como se fosse uma parede me esmagando. Eu escorregava em meus soluços, e tentava me esconder das lembranças, é assustador reviver tudo em detalhes tão ínfimos. 

Quando cheguei não havia cama, abraços, ou pessoas para me receber, eu era um intruso protegido por uma fina burocracia social. Não me queriam, não me aceitavam, mas eu continuava aqui, preso, respirando de forma desesperada pronto para ser ouvido. 

Sentia o cheiro da chuva que molhava a terra, e sentia saudades do tempo que dançava com ela, os cheiros, da chuva e da saudade, se misturavam aos meus sonhos dissipados, era isso que eu queria mas ainda assim nada é como eu pensei. 

Nos primeiros dias eu não só sentia medo, mas também sentia frio, me senti desprotegido, mesmo que não houvesse motivo para isso. Era como me forçar a respirar mesmo me faltando ar, eu deixei que me levassem ao limite, que me testassem, que me tirassem o sono e que fizessem por mim planos, eu deixei pois não tinha mais forças para lutar…

Ainda tenho medo do escuro, tenho medo de não enxergar o que tá a minha frente, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo por não ter ninguém que procure por mim. 

Se eu cair, será que vão sentir minha falta? Será que vão me ver desabar? Será que vão tentar me segurar, agarrar minhas mãos e me abraçar para não me deixar escapar? Será que eu vou continuar?

Tudo era diferente, até mesmo as minhas perguntas eram diferentes, o lugar era maior, mais frio, eram pessoas demais por perto e ainda assim todos pareciam bem distantes. Eu era invisível mesmo todos me conhecendo, senti vontade de anestesiar todas essas sensações. 

Eu não consigo respirar direito, minhas mãos tremem e tudo aqui parece apertado demais, minha garganta seca, as palavras somem, não havia ninguém para ouvir meu lamento ou paredes para proteger o som do meu choro, um choro vazio e ardido que me afogava sem o mínimo esforço. 

O cheiro do sangue misturado ao álcool parecem me completar. Juro que eu tentei evitar por muito tempo a ambos, mas depois de um tempo tudo parece meio impossível.

Queria correr, mas não havia para onde ir, eu não conseguia voltar, não conseguia fazer nada além de ficar travado ali, entre todos que me rodeiam, tentando inventar finais para aqueles que já deixei, tentando me imaginar em um futuro distante. 

Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, silêncio

Tudo que começa acaba

Vocês sabem que eu escrevo sobre coisas que sinto, na verdade não escrevo sobre o que sinto, mas sobre os sentimentos que não são meus e me atravessam em forma de escrita. Tem uns dias que os Fãs Clubes do Jão andam atravessando minhas redes sociais, e eu acabei mergulhando em informações sobre ele. Ele curte escrever cartas, então eu escrevi uma carta que até agora eu não entendi se é para ele ou não. 

Oi,

Tenho um monte de perguntas para te fazer…, mas não sei se tenho esse direito. 

Eu sumi…, e ao contrário dos contos de fadas não deixei pistas, me perdi no meio de uma floresta densa sem deixar lembranças ou migalhas para serem seguidas, me senti um pouco estúpido, não sei se alguém vai entender, mas eu precisava sentir tudo aquilo que tinha dentro de mim, precisava sentir tudo que eu era e parar de mentir, eu me escondi em um lugar que só eu conhecia, meu frágil castelo de cartas que me mantinha aquecido mesmo quando estava desabando.

Queria esquecer todas as coisas que me fazem chorar, queria dizer que tá tudo bem, mas ainda não tá, eu não sei se você vai entender, mas espero que entenda, aqui dentro de mim ainda passa um filme, um filme que quase ninguém conseguiu assistir, eu sempre me considerei um roteiro ruim de assistir de perto, faço coisas sem sentido, coisas que quase ninguém entende, sou um bom vilão das minhas histórias. Me falam isso quando apareço com algum machucado novo, eu sou realmente um bom vilão…

Às vezes me pergunto se eu me tornei tudo que queria…, me desenhei e redesenhei tantas vezes que me perco em que me tornei…

Desculpa se eu não fui um bom herói, mas eu não sei como arrumar esse roteiro, não sei o que tirar e o que colocar no lugar, ainda tenho medo de tudo que eu sinto e do que posso fazer com isso, eu ainda não me acho essa pessoa legal para qual você escreve cartas, mas eu juro que estou tentando me encontrar, tentando ser um pouquinho mais parecido com aquela criança que você conheceu… 

Eu ando lendo, mesmo que em doses homeopáticas, o que escreveu para mim, eu sinto vontade de chorar, eu choro, e acho isso bom, você enxerga alguém que ainda não sei quem é, tenho que te agradecer por isso. 

Queria te contar que aqui o tempo passa devagar e eu não sinto saudade de como o tempo passava rápido, ando chorando de saudade e também de medo, isso me machuca mais do que cura, não sei se no fim de tudo eu vou conseguir voltar e salvar o dia, ou se alguém vai vir e me salvar… 

Talvez eu não precise ser salvo, mas eu ainda quero que alguém tente, ainda quero me sentir importante, desculpa pelo pensamento egoísta, mas eu espero que com o tempo me perdoe, espero que minhas palavras ainda possam ser importantes, e mesmo que eu não seja mais o herói na sua parede, espero que você ainda possa ter um tempo para me ouvir falar da vida, mesmo que de forma triste. 

Eu queria ter tido mais tempo, ter construído uma fortaleza mais forte do que as cartas de baralho que cercam esse castelo, mas não deu tempo…, eu sempre achei que dava, e por isso demorei para voltar.  Meses são anos, e eu aprendi isso enquanto desabava por tudo que perdi…

É estranho olhar para tudo que passou, ainda carrego todos os arranhões da minha última queda, não me lembro das noites mais divertidas, tudo parecia meio entorpecente, os cheiros eram ambíguos demais e de repente todo mundo pareceu gostar mais dessa minha versão, queria me tornar essa versão, eletrizante, apaixonante, fugaz…

Sempre fui bom em me remontar… Fugir era algo que eu era bom em fazer, as quedas não me machucavam, os medos não me assustavam, tudo parecia bem guardado aqui dentro. 

Ainda sinto a adrenalina desses dias, ainda sinto os toques, mesmo não me lembrando dos rostos, eu não sei explicar quando tudo começou a desabar, foi rápido, uma montanha russa em queda livre, sem freio, sem aviso, me senti frágil demais, pequeno, inseguro, quebrado, culpado, era como se tudo tivesse voltado novamente, só que com mais intensidade. Tudo que eu sempre evitei apareceu ali diante de mim. 

Meu peito apertava a cada palavra solta, os assuntos pareciam desinteressantes e tudo que vivi parecia uma lembrança distante do que eu não consegui viver, de repente tudo pareceu um erro maior do que um acerto, é estranho, era tudo que eu sempre quis, mas agora me faltavam palavras para entender o que eu havia me tornado… 

Queria fugir novamente, mas minhas pernas pareciam presas, e eu fui obrigado a assistir tudo que eu sonhei passar em um filme bem diante dos meus olhos, senti dúvidas, senti culpa. Não consegui fugir para nenhum outro lugar que não fosse aqui… 

Eu desejava desaparecer, assim como outras tantas vezes, então vim parar aqui, nesse lugar tão seguro e ainda assim tão frágil, me perguntei se o mundo era mais bonito do alto da torre de cartas, mesmo me achando incapaz de a escalar, sempre tive medo do que eu iria encontrar por lá, tive medo de gostar do silêncio, de desabar as cartas no meio do precipício e de gostar da queda. 

Meu coração ainda dói, parece que caí de lugares ainda mais altos, tenho dias bons e dias nem tão bons assim, a vida de todos pareceu andar tão bem sem mim, sinto medo de voltar e não me encaixar mais naquele lugar, eu ainda lembro dos risos e dos abraços, das palavras e dos afagos, mas tudo parece tão distante, que já não sei quanto tempo passou. É, o tempo passa realmente devagar aqui. 

Eu não sei se mudei, sei menos do que sabia sobre mim, eu ainda sinto vontade de me esconder, mas parece meio inevitável voltar, me olhar já não é algo tão assustador assim, já consigo me ouvir sem querer me esconder.

Os dias aqui tem cheiro de saudade, são quentes como um fim de tarde no Arpoador, às vezes são coloridos, barulhentos, mas outras tantas são cinzas, repetitivos, um loop enjoativo que me lembra de tudo que não volta mais. Nesses dias, a dor é mais forte e parece que nada vai fazer passar…, eu sei que vai passar, nesses dias eu não preciso de nada além de abraços quentes e silêncio. 

Eu voltei a escrever igual quando eu era criança, sabe, me sinto feliz com isso, não é algo bonito de se ler, mas ainda assim me sinto feliz… 

Me pergunto como o tempo anda por aí? se seu coração se acalmou ou se o tempo fez tudo ficar ainda pior?

Será que você sente o mesmo que eu senti?

Será que também já quis fugir no meio de uma tempestade? 

Será que já se afogou enquanto chorava lembrando de tudo que passou. Será que correu descalço, pisando em pedras, enquanto ouvia o coração gritar que deveria ficar mesmo que em migalhas?

Se você me fizer essas perguntas, não saberei responder, aqui tudo tá igual, mas também tá diferente, acho que aprendi a respirar com um pouco mais de calma, aprendi a ouvir meus gritos e a aceitar ajuda para secar minhas lágrimas. Ainda dói enquanto corro e por vezes parece que não tem ninguém que me entenda, às vezes tenho vontade de fugir para mais longe, mas não posso. 

Sentir é ruim para um caramba, dói, mas dói ainda mais não sentir nada. Continuo um filme bem ruim de assistir, mas agora ao menos eu ofereço pipoca para quem aceitar ficar, sei lá, pode parecer uma piada ruim, mas é quem eu sou e talvez eu não seja tão ruim assim.

Amor, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, Minhas Crônicas, silêncio, término

We were right till we weren’t


Tudo é transmitido o tempo todo: o amor, a angústia, a traição. Logo as feridas ficam expostas e exigem de si uma reação imediata, como se sua dor fosse plástica, moldável aos anseios de quem te assiste. 

Para todas as pessoas que atravessam o caminho de quem sofre com um término, fiquem, acolham e abracem, não julguem, nada termina ou começa naquele ponto final. 


Terminar é um verbo muito difícil de ser conjugado sózinho e mesmo com a casa tão cheia eu ainda me sinto sózinho.

Ainda escuto o som daquela voz, me dando desculpas para conter meu riso, ainda sinto o toque de quem limpa minhas lágrimas após me fazer chorar, ainda o sinto por perto mesmo estando longe. 

Antes do fim eu me questionava se eu deveria ou não desistir desse nó que éramos nós, mas tudo se apagava quando você aparecia, me trazendo flores, falando sobre como eu me sentia, me fazendo sentir, como se ninguém mais me entendesse. 

Talvez ninguém realmente entenda!

Eu pensava que era minha culpa, achava que você me entendia, que todos os deslizes eram causados por meu desencaixe. 

Tudo dentro de mim sempre doeu, você sabia disso, falava que tudo estava bem, que estaria sempre aqui, era uma mentira que eu precisava acreditar. 

Agora dói ainda mais.

Tudo que sempre foi meio bagunçado, agora parece pior

Fico revisitando cada palavra, cada gesto, cada ausência, não é que eu nunca soubesse, é só que era difícil aceitar.

Me sinto sozinho, mesmo com todos em minha volta.

Uma angústia sobe com os soluços, meu pranto me rasga por dentro, me engasgo, a garganta dói, o peito aperta, me sinto pequeno, sózinho, o medo aumenta, me culpo, me questiono:

Por que deixei isso acontecer?

Por que eu sou assim?

Por que é tão difícil esquecer?

Eu queria que me respondessem o que fiz de errado. Se eu fiz algo de errado. 

As conversas de repente passaram a ser sobre mim, não gosto de ser assim, porque é tudo que sempre tentei evitar transparecer. Todos parecem saber tudo sobre mim, quando nem eu sei. Talvez possam me dizer onde errei, o que tenho que fazer para parar de doer.

Me sinto frágil, talvez eu tenha nascido quebrado, ou talvez tenham me quebrado tanto que agora pareço ser incapaz de remendar meus cacos. Será que existe uma super cola para isso?

Não sei onde comecei a estilhaçar-me, mas olhar para todos esse caos é como não me reconhecer.

Me machuco enquanto tento caminhar sozinho. 

Não para de doer.

Eu sinto cada parte de quem eu sou fugir de mim, ficar pelo caminho.

Quero fugir, fugir de tudo, de todas as conversas, de todos os abraços, de todos os olhares…

Não quero ter que dizer coisas boas, eu não consigo, não há nada de bom para ver aqui.

Procurei minhas roupas e encontrei lembranças. 

Minhas memórias não eram só minhas, e por mais que todos digam que é só apagar, é impossível.

Eu queria dizer que tudo sempre foi bom e que por isso não me importo com as lembranças, mas é mentira.

Talvez a maior mentira tenha sido escrita por mim, eu aceitei, sempre aceito

Dizem que dentro de mim há muita intensidade, que não consigo controlar o que sinto, mas eu controlo, eu tento controlar, tudo fica aqui dentro, guardado, tenho medo que se cansem das minhas palavras.  

Tudo ainda tem aquele cheiro, aquele gosto e ainda sinto aquele toque e isso é como caminhar em um campo minado, parece que tudo que sempre segurei vai explodir a qualquer instante. Não acho que alguém seja capaz de desarmar essa bomba que se encontra no meu peito.

Não quero conversar, não quero falar sobre aquilo que todos já sabem ou ter que contar o que não sabem, não quero ter que sair do lugar seguro que criei para não me machucar mais.

Me sinto uma criança fugindo da tempestade escondida dentro do armário, não quer ter que abrir essa porta. 

Talvez isso seja só o reflexo do cansaço de quem se acostumou a sorrir em concordância, dizer sim mesmo querendo dizer não, não consigo esquecer e esse sempre foi o problema, eu deveria ter gritado quando tive chance. 

Eu prometo que vou tentar apagar tudo, que vou tentar sorrir, que vou tentar fingir estar bem, mas por enquanto eu não consigo, tudo parece desmoronar aqui dentro e é só isso que tenho a oferecer por enquanto. 

Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, Minhas Crônicas

Tempo rei

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, Pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei

Quando um animal morre em seu habitat, seu corpo se transforma em vida, se transformando em abrigo, comida e refúgio, nós somos animais e o fim nunca é realmente o fim. Para todos os que pensam qual o legado a ser deixado, para todos que precisam deixar-se ir para encontrar a paz.

Música…

Minha vida sempre foi uma música estranha, uma balada que embalava os meus sonhos mais improváveis, eu sonhava acordada e me perdia fácil entre os acordes, não existia como passar por mim sem se perder na melodia que embalava minha vida. Mas as vezes me canso, a música com o tempo se tornou nublada, abafada e desconexa, ainda me perco entre os acordes, mas agora tudo é uma melodia melancólica e abafada…

As tempestades se tornaram frequentes, embalavam meus sonhos e tornavam o amanhã improvável, as melodias antes tão agitadas agora eram alcoólicas, nubladas, um solo de guitarra no meio do silêncio.  Tudo se tornou turbulento, uma despedida entre sorrisos tristes e suspiros cansados. 

Se tudo passa, por qual motivo ainda permaneço aqui, por qual motivo ainda não passou? Cada olhar era uma despedida incansável que eu não queria, mas eu precisava dançar mesmo que eu não quisesse, eles precisavam disso mais do que eu, eu precisava de outra música, outro tom, precisava dançar até cansar todas as músicas que ainda tinham dentro daquela pequena jukebox. 

Retirei meus sapatos, senti a areia da praia, dancei uma música que só eu ouvia, uma melodia inexistente e até mesmo desacreditada entre todos os mortais, eu gritei, um grito miserável, solitário, agudo, era assim que eu me sentia, mesmo aqui, mesmo agora.

Eu atravessei tudo que podia, mergulhei quando insistiam que eu deveria permanecer segura na terra, tive medo de me perder, me perdi, me encontrei, conheci tudo que queria 

Talvez tenha chegado a hora de iniciar uma nova canção, de dançar um novo ritmo, de me despedir da forma certa e deixar as lágrimas rolarem sem as interromper no meio do caminho. 

Talvez agora seja tarde demais para passar, agora eu já não quero que passe, já não quero que vá, eu só quero estar, viver e sentir, não importa por quanto tempo, eu quero deixar uma marca mesmo que não seja o plano inicial, tudo que quero é um tempo maior, mesmo que por um segundo.

O tempo a muito se tornou inconstante, o medo é praticamente solúvel, dissolve os sonhos, o orgulho, o amor, mesmo com tantos abraços, mesmo com todo o carinho, mesmo sentindo tudo que sinto, o amor também é solúvel e por ele eu tento permanecer, porque eu quero sentir mais um pouco de tudo isso. 

Ainda estou aqui, estou na gota de suor, nas lágrimas de despedida, nas palavras de amor, nas paredes desenhadas, no pôr do sol, eu estive, estou, estarei… Não sei por quanto tempo poderei conjugar esse sentimento, mas eu sinto que eu quero existir no agora e se for para ir que seja da melhor forma, eu quero sentir e quero que sintam, quero que me sintam.

Não sinto mais os abraços, o cheiro, o gosto… tudo se perdeu, menos meu eu, ainda estou aqui, sentindo a inexistência de não poder passar, eu queria deixar ir, me deixar ir, ao mesmo tempo que queria apenas sentir. 

O toque antes ágil agora é demorado, guardando a saudade do que não volta. 

De repente sinto-me como água, sinto frio, sinto sede, sinto-me afogando em sentimentos indesejados, em sentimentos de despedida, uma despedida indolor, quente, calma. O relógio não voltou, os ponteiros pararam, todas as despedidas pareciam se fazer presente naquele instante e então tudo passou por mim: Passou o amor, o cheiro, os abraços, o medo e finalmente eu passei.

Amor, cartas, Crônica, Opinião

Heaven’s not ready for you

Para todos que precisam deixar ir. 

Fiz você me prometer que ficaria, que iria tentar, que ia lutar…

Você tentou, eu sei que tentou, mas talvez você não devesse ter prometido ou eu não devesse ter cobrado essa promessa. 

Ficar nem sempre é bom, às vezes quando mais ficamos mais saímos machucados. Lembro de como você sorria sempre que sonhava com algo novo, às vezes acho que seus sonhos não existem mais, sinto saudade do seu riso, do seu olhar tão peculiar sobre as coisas do mundo.

Sinto saudade de quando você queria ficar, de quando não se apegava a promessas. 

Eu quero que você tente, quero que fique, não por mim mas por você. 

Eu não quero carregar a culpa da sua dor. 

Talvez eu devesse ter te deixado partir, ter te deixado voar.

Talvez eu seja egoísta e não saiba viver sem você, mas te ter aqui sempre foi tão confortável, que não consigo me imaginar longe de você. 

Acho que você não pensa mais nisso…

Eu deveria estar feliz por você tentar, mas tudo que sinto é uma angústia grande, um silêncio que nasce nos seus olhos e termina no meu coração. 

Te ter aqui agora é como permanecer no vazio, um lugar frio e escuro, logo você que sempre foi tão quente, que distribuía um sol em cada sorriso.

Vejo seus pedaços caindo pelo meio do caminho, e tudo que posso fazer é juntar o que puder e te entregar no fim dessa jornada.

Vejo seus passos se perdendo, e tudo que consigo fazer é correr até você e segurar na sua mão e te guiar por um caminho que acredito ser melhor.

Vejo sua luz se apagando e tudo que tenho a oferecer é uma vela acesa e uma companhia no escuro. 

Não sei se isso basta, se algo que fiz basta para você permanecer.

Eu quero gritar, eu sei que você também quer…

Eu quero ficar, eu vou ficar e quero que você fique, mas fique bem. 

Quero ser seu sol nas manhãs de tempestade.

Não aguento te ver assim, e eu sei que isso também é egoísmo. 

Eu ainda te peço para lutar e mesmo que você não tenha mais força, eu sei que ainda posso ajudar. 

Eu ainda te peço para ficar, quando deveria te deixar partir. 

Eu também te fiz uma promessa, que permaneceria ao seu lado mesmo que você me expulsasse. 

Eu ficaria mesmo se o seu silêncio me machucasse, mesmo se o seu sol se apagasse. 

Eu te fiz tantas promessas, bem mais do que você a mim, eu só queria que tudo terminasse bem, queria ouvir sua voz gritar por uma desventura, queria me perder na sua confusão, eu queria tanto quanto ainda quero. 

Você não pode ir, não agora, não sem sorrir, não sem se lembrar o quão bom são os abraços de fim de tarde. Você não pode ir sem se despedir de todos os seus sonhos, de todos os seus medos. 

Te deixar ir é a pior coisa que posso fazer por mim. 

Abuso, Ansiedade, cartas, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, Violência

Believe me

Escrevo para todos que guardam a dor de ter seus corpos violados, que carregam uma culpa que não tem, que se desesperam com lembranças involuntárias. Desejo que que todos os silêncios possam ser ouvidos sem julgamentos.

Eu me lembro perfeitamente do dia que aconteceu e isso ainda faz meu estômago revirar, minhas pernas ainda doem e tudo a minha volta parece girar mais e mais rápido. Era uma quarta feira de cinzas, as ruas estavam lotadas, as serpentinas arrebentadas se espalhavam no chão, os cheiros se misturavam, bebida, urina, suor, era indecifrável e inebriante, meus olhos piscavam e minha cabeça parecia não pender no lugar, pequenos e involuntários espasmos se espalharam pelo meu corpo, enquanto tudo dentro de mim parecia vir para fora. 

A esperança, o amor, o afeto, tudo parecia uma grande massa cinza que eu não conseguia conter que me engasgava e tirava o meu ar.

Não consegui compreender as mãos que me tocavam tentando me levantar, minhas mãos tentaram de forma desesperada afastar aqueles intrusos, tentei recolher meu corpo e me proteger, mas era impossível, tudo queimava, os toques, as palavras, meu corpo. 

“CHAMEM AJUDA, UMA AMBULÂNCIA…” – alguém gritou, eu não conseguia dizer nada, os barulhos se intensificaram e isso fazia minha cabeça girar ainda mais. Quando dei por mim, já estavam me deitando em uma maca fria com um fino colchão, a coberta não saciava meu frio e nem escondia meu medo, meu corpo ainda tremia a cada olhar invasivo e toque indesejado. 

Falhei quando tentei me reerguer, não queria ajuda, tranquei minhas portas e janelas, fechei meus olhos, me cobri para o mundo, não me importo deles saberem o que aconteceu, mas me importo deles me culparem, os olhares se repetem dia após dia, e é como se tudo se repetisse, passo horas sentindo aqueles toques, sentindo aqueles cheiros, vomitando aquela dor, todo dia é uma quarta feira de cinzas diferente. 

Falhei em achar que ficar só me deixaria bem, o silêncio me lembra incansavelmente de todas as minhas faltas, de tudo que poderia ter feito e não fiz, o silêncio intensifica minha culpa e eu não consigo segurar os soluços advindos dela. 

Eu tento gritar, mas sei que gritar não adianta mais, ninguém vai ouvir ou entender, ninguém vai ficar. 

No meu mundo não existe estabilidade, tudo é instável, mesmo que eu tente esquecer, mesmo que as pessoas não saibam, sempre terá algo para reafirmar aquela quarta feira, aquele neblina no meio da purpurina, o caos pigmentado que pintava minha roupa naquele dia, fez com que cada cor carregasse um pedaço da dor que senti, um pedaço de mim que se tornou apenas uma mancha no passado. 

E eu que tentei de tantas formas me transformar em muitos, agora estava me reduzindo a nada, a um pedaço de lamentação que não tinha onde esconder. Sinto falta do silêncio carregado de felicidade que era ter alguém ao meu lado, sinto falta dos pecados que cometia disfarçados de amor, sinto falta dos sorrisos que envolviam as pequenas histórias de fim de tarde. Sinto falta…

Ansiedade, depressão, Minhas Crônicas

Sangrando

Dedico esse texto aos corações que se sentem desalinhados, que se sentem usados e observados, que deixam cair pelo caminho tudo que é desimportante e que não conseguem olhar para o passado sem se machucar.

Constantemente sangro por coisas que não entendo, eu quero gritar, mas minha voz não saí, minhas mãos tremem, meu coração dispara, o choro se entala na minha garganta e dificulta minha respiração.

Me sinto em uma rua deserta, com luzes apagadas de forma permanente, não há barulho, não há esperança, sinto um silêncio muito maior dentro de mim do que do lado de fora. 

Me sinto viciado nessa sensação, não que eu goste, mas não sei viver de outra forma, não sei não me proteger do mundo, é como se a todo instante alguém pudesse ascender as luzes e iluminar meus defeitos, me interrogando, me questionando, me apontando. 

Tudo dentro de mim parece desencaixado eu respondo sim, mesmo quando quero dizer não, eu faço graça, engulo meu choro e sorrio, propositalmente é mais fácil fingir ser quem eu não sou, do que deixar perceberem o quão perdido estou. 

Tropeço nos meus pés, sinto um incômodo no joelho, o choro por vezes escapa, procuro por abraços mas não há ninguém, parece que fugi durante tanto tempo que agora não há ninguém.

O escuro tão incômodo e silencioso me ajuda a sobreviver e a me camuflar, ajuda a esconder toda a dor que eu finjo não sentir, enquanto respondo de forma atravessada todas as perguntas incômodas…

Não sei se iriam entender toda a confusão que me tornei, não sei nada sobre mim, não sei o que quero e tenho medo do desconhecido, mas eu queria não estar sozinho, queria confiar nas minhas certezas. 

Não sei viver sem essa dor, não sei amar sem me machucar.

Talvez a culpa seja minha, talvez a culpa seja do outro, só sei que viver é como morrer um pouquinho a cada instante, e ninguém parece se importar com o quanto eu morro, com o quanto de mim se perde pelo meio do caminho. 

Costumo sonhar acordado enquanto tropeço em uma realidade que parece não me pertencer.

Queria que enxergassem meu pranto, ouvissem meu silêncio e alimentassem meus sonhos, mais do que os meus medos. É, eu tenho muitos medos, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo de não acordar, tenho medo que não me escutem e que tudo que faço se torne indiferente. 

Ainda não me acham quebrado, me olham e enxergam uma peça perfeita, completamente útil e disponível, às vezes eu queria que não me enxergassem, talvez eu finja bem, porque eu não me sinto assim.

Me sinto desalinhado com o mundo, mas se precisam de mim, eles me usam e alinham conforme suas necessidades, tenho medo de não ser mais útil e de me tornar descartável. 

Eu não enxergo nada além dos meus pés, o ar é rarefeito, cruel, machuca meu peito, quanto mais eu penso e tento descobrir o que me falta, mas me falta ar. 

Queria não ter encontrado tantas portas fechadas. Queria tentar buscar por ajuda da forma correta, de forma que me entendessem. 

Eu deixei tudo desarrumado para trás, fugi do que me dava medo e abandonei tudo que achei impossível, e ainda assim, tudo permaneceu ali.

Estava tudo jogado no tempo, uma bagunça repleta de entulhos, eu queria ter forças para arrumar sozinho, só que eu não sabia por onde começar, eram caixas e caixas, algumas pesadas e outras leves que eu tentei entender como pude deixar para trás. 

Me machuquei enquanto tentava desentulhar tudo aquilo, quis desistir, não queria estar sozinho. O choro que saiu era diferente, parecia descomprimir tudo que eu sentia e nunca tinha entendido. A dor era diferente, o medo parecia ter sentido, e tudo era barulhento demais para ser despercebido. 

Cronicas 24/25

Tente (me) amar…

Tente passar pelo o que estou passando
Tente apagar este teu novo engano

(Hildmar Diniz / Alcides Dias Lopes)

Para todos os adultos que se sentem tão perdidos quanto uma criança brincando nas areias de um grande deserto. Baby, se ame.

O céu era um grande deserto quando estávamos juntos. Era frio e imprevisível, tal qual uma grande tempestade de areia. Eu que geralmente era tão improvável e inalcançável me perdi em tudo que você representava. 

Talvez essa armadilha tenha sido criada por mim e não por você. 

Eu ansiava por sentir tudo que você podia me proporcionar, te idealizei antes mesmo de chegar.

Suas mãos tão caridosas desvendaram meu corpo com certa arrogância, aparentemente eu não parecia merecer seu cuidado. E isso me causou estranheza, logo você que sempre deu afago e afeto para desconhecidos, que usava as mãos como instrumento de cuidado, me causava dores que nem sempre eram físicas. 

Você gostava disso.

Nunca fui um céu perfeito, mesmo quando você contava as estrelas no meu corpo eu não era perfeito, você deixava isso claro, quando estávamos juntos eu também pensava sobre isso. 

Sua voz era como um martelo em uma casa vazia.

Você roubava todas as minhas palavras e me fazia sentir uma culpa que eu não conhecia. Era como mergulhar em um poço de areia e tentar sair, eu duvidava de todas as coisas que eu queria ser e ficaram entaladas na minha garganta. 

Eu tentei pedir ajuda e lidar com o que eu sentia, mas ninguém parecia me entender.

Me lembro vagamente de quando você não existia na minha vida e de como ser dessa forma me bastava. Depois de você, tudo que restou era uma dúvida constante sobre ser ou não suficiente, eu não conseguia mais caber nos lugares e um vazio estranho parecia me acompanhar, lembrando sempre de como eu era desencaixado no mundo.

Uma peça defeituosa e inacabada. 

Eu me sentia preso mesmo quando as portas estavam abertas, não conseguia falar ou respirar normalmente. Constantemente você brincava que eu era uma contradição estranha e inadequada ao mundo, alguém que atravessou o seu caminho no acaso. Me apresentou dessa forma, como um acaso na sua vida. 

Eu me culpava por todos os acasos que você havia me tornado, me perguntava se ser um acaso tão inadequado era tão ruim assim?

Eu te amava e te amar ainda dói. Ainda machuca, ainda me destrói, droga eu ainda sinto saudades. 

Eu ainda sinto saudades de todas as vezes que você brincava com suas pernas por cima de mim, me abraçando e falando ao pé do meu ouvido que me amava. Eu sabia que era mentira, mas eu gostava, ainda gosto.

Mentiras sempre me acalmavam. 

Ainda dói todas as vezes que você riu enquanto eu tentava alcançar seus lábios. Era como se eu só pudesse te ter, quando você quisesse se tornar acessível a mim. Você nunca escondeu isso de ninguém…

Eu me sentia exposto.

meus sentimentos sempre estavam no lado mais raso do rio, a sua mercê. 

Eu sempre achei que o que tivemos era mais do que um acaso, que só o meu amor bastava, mas não era… Acho que eu era viciado nessa sensação de querer me sentir parte de algo.

Não foi você que me fez sentir desencaixado, eu sempre me senti assim, era por isso que eu era muitos, mesmo sendo único.

Era uma forma de me proteger.

Eu aceitava seus lábios me contando em versos sem rima, todas as suas aventuras, enquanto me fazia sentir coisas inimagináveis, eu queria que todas elas fossem coisas boas. Eu me convenci a aceitar que isso era o que me bastava para movimentar o meu mundo, como se você fosse me fazer uma peça perfeitamente encaixável em qualquer lugar. 

Eu menti, menti para mim mesmo, nunca vou ser um encaixe perfeito. Nunca!

Eu menti quando disse que gostava do gosto do seu cigarro, das músicas que você ouvia e da comida congelada que você comprava. Eu menti sobre muitas coisas, mas não menti quando disse que te amava. 

Na verdade, talvez eu ame a ideia de que você é um bom mentiroso, que mentiu que me amava.

Ansiedade, Cronicas 24/25

Nada ficou no lugar

Aos corações que necessitam de saudade para continuar a bater, dedico esse texto, que dezembro termine sereno como a brisa de um verão no fim de tarde, mas se houver tempestade que haja também quem não te deixa sozinho. Eles entendem e eles vão ficar…

Sobrevivo do caos de não saber quem eu sou, não consigo descrever tudo que sinto e meu coração se aperta diante de gatilhos que eu não sei identificar. Quando percebo lágrimas já inundam meus olhos o que torna turva minha visão, eu não consigo ver e entender o que acontece, eu só sei que continua a acontecer independente da minha existência.

Às vezes eu volto para casa, eu preciso me sentir parte de algo, preciso que entendam o que eu sinto e eu sinto saudade de quando me bastava existir sem dar nada em troca. Tudo continua no mesmo lugar, em cada cômodo uma saudade diferente, ao mesmo tempo que nada permanece igual e por mais que digam que existe saudade, tudo que sinto é saudade de quando tudo isso era de verdade. 

De forma ínfima percebo que o tempo passou e me deixou todas as lembranças que eu não sabia existir, tudo que antes parecia tão pequeno agora parece me causar uma dor desproporcional, eu revisito cada diálogo, cada sentença, cada erro cometido por mim e por outros, é como rebobinar uma fita mofada de forma insistente, é assim que me sinto.

Eu choro mesmo sem lágrimas, eu grito sem nenhum som, eu não entendo o que eu fui e se um dia eu fui algo diferente, sinto saudade de quando respirar não me causava tanta dor, a cada novo suspiro é como se algo me machucasse por dentro, dói, dói tanto que eu não consigo explicar o tamanho dessa dor.

Eu me escondo em lugares desconhecidos, eu invado espaços que não me pertencem, às vezes tudo que sinto é saudade mas tudo que me resta é a lembrança do cheiro de mofo nas paredes, o tempo é cretino, ele leva tudo até mesmo os sonhos…

Constantemente eu preciso de ajuda para organizar meus pensamentos, tudo me foge, me perco nas horas, tudo é muito rápido, é como se eu constantemente estivesse em uma corrida na última posição, me sinto ofegante, trêmulo e solitário. Me afogo todos os dias nos meus pensamentos, é um mergulho sem volta em uma piscina sem borda. Eu quero fugir, mas me sinto preso sem ter para onde ir.

Agora mesmo que só tenha passado pouco tempo, parece que tudo me cansa, tudo por mais conhecido que possa ser, se torna desgastante demais  para lidar sozinho, sem ajuda, eu não queria precisar dessa ajuda, mas eu me perco até mesmo por caminhos conhecidos, eu me escondo de tudo que não conheço e eu tento me fazer presente para que não me esqueçam, não esqueçam o que eu fui e não percebam o que me tornei.

Sinto saudade de quando a solidão não era um problema, agora por mais que eu ame, eu não consigo me manter presente mesmo que eu queira, mesmo que eu insista, eu me sinto como um eterno visitante nos corações que eu julguei que fossem casas. Eu não consigo evitar essa sensação, eu me tornei um desencaixe em um mundo de peças perfeitamente polidas, me tornei aquele que deixam de lado mesmo quando sou convidado. 

Sinto vontade de chorar, sinto que me esconder é necessário, eu sinto como se todos os abraços que me acolhem fossem vazios, como se eles não quisessem realmente estar ali, me ouvindo, não sei como reagir, quando me perguntam como me sinto, eu não sei responder, quando respondo ou tento responder, todas as vozes se calam e somem… 

Não acho que isso é culpa de alguém além de mim, talvez eu tenha me tornado uma pessoa desinteressante, um rastro interminável de saudade do que um dia eu fui, talvez só isso mantenha a porta aberta para essas pessoas se manterem aqui, inclusive eu. Talvez seja eu que esteja empurrando essa porta para ser fechada. 

Eu vivo de saudade, de tudo que um dia eu fui, de acompanhar o riso, de andar entre os sonhos, de não me perder com facilidade nas conversas e de não ligar para o meu desencaixe, eu sinto saudade de quando tudo que me bastava era o encaixe dos braços envolta do meu coração. 

Sinto saudade de quando minhas decisões bastavam, de quando eu não me importava com as palavras, com os olhares ou os suspiros. Apesar de não me arrepender das minhas decisões eu sinto saudades de quando tudo era mais simples, de quando isso tudo não causava tanta dor, de quando eu não tinha que engolir tudo que sentia para permanecer ali. 

Sinto saudade de quando meu soluço não precisava ser contido, de quando minhas palavras não precisavam ser escondidas e de quando eu sabia me encontrar mesmo nas maiores tempestades, sinto saudade de quando eu não sentia dor por cair e me machucar, agora tudo dói demais, minha presença não é mais tão importante, meus abraços já não são necessários e meu medo de desaparecer se torna cada dia mais frequente. 

Talvez tudo que reste seja o cheiro da inconstante saudade de tudo que fui, de tudo que vivi em cada canto desta casa. Nunca senti que desapareceria realmente, mas se eu pensar bem o desaparecimento é tudo que me resta, tudo se foi mesmo que todos ainda estejam aqui, de todas as tempestades que eu poderia enfrentar essa sem dúvida é a pior. 

Sugestão de escrita diária
Quais são seus maiores desafios?

 

Ansiedade, Cronicas 24/25, silêncio

Suficiente

Eu ainda não entendi muito bem como a morte do Liam bateu em mim, não era fã da banda, não acompanhei a carreira solo, eu seguia umas páginas de fãs, mas era só isso. De alguma forma a morte me pegou de um jeito diferente do habitual e isso foi muito estranho, talvez eu esteja ficando velha demais para olhar para o mundo da mesma forma e dizer “tá tudo bem”.

Quanto mais eu curtia coisas sobre ele, mais apareciam, então mesmo que eu não soubesse nada sobre suas relações, amigos, ou do tempo de banda, agora eu literalmente estou inundada de informações que não me fazem bem.  

Eu sou uma pessoa que apesar de bem racional, consigo ser sensível à dor dos outros e perceber que esse rapaz se doava tanto e tinha tantas dores é algo complicado de assimilar. Meu pensamento mais irracional do dia foi: “Caraca, alguém podia ter aparecido, será que ele sabia que era tão amado?”

Dedico esse texto aos corações que sentem e se doam demais, que precisam gritar para serem ouvidos… vocês foram suficientes e necessários…


De repente tudo desabou, 

não houve um único aviso de que as paredes iriam ruir. 

Eu realmente queria receber um aviso sobre isso, foram tantos dias de paz, foram realmente bons, pude respirar sem engasgar com todos os meus pensamentos. 

Às vezes me pergunto o quão fraco eu fui, eu não corri quando percebi que tudo desabaria, eu não gritei alto suficiente por socorro, será que alguém realmente ouviu? Será que se ouvissem viriam me socorrer? Eu não sei, nada parece fazer sentido no momento, eu desabei junto com essas paredes e agora só posso esperar pelo fim. 

Não queria que o meu mundo fosse um grande álbum de fotografia, onde reviro as páginas e percebo mudanças em todos menos em mim. Eu passei a colecionar sorrisos, que não eram meus. 

Eu me importo demais, me importo com o tamanho dos sorrisos, com o aperto do abraço, com as palavras soltas, eu queria não ser egoísta, mas eu queria que houvessem feito o mesmo por mim. Queria saber gritar na direção certa, queria entender como o mundo funciona, queria não me sentir como me sinto, queria não ter confiado tanto e ter dito mais não do que sim, eu não me arrependo, eu tentei, eu acho que tentei…

Não acho que o mundo é justo, me desculpem mas não acho. Acho que eu vivi bons momentos com pessoas boas, durante um tempo as fazer sorrir me bastava para ter felicidade, mas depois passou a não ser suficiente, tudo parecia doer demais, fazer sorrir era tudo que me restava para ser visto. Ainda não sei se isso foi suficiente para ser lembrado, mas foi suficiente para me fazer dormir. 

Queria ter lido todos os livros da minha estante, ou ter ligado para todos que me falaram “eu te amo”, queria que a sensação de que tudo ficaria no lugar fosse verdadeira, mas ela durou tão pouco que me sinto preso dentro da minha cabeça, dentro de todas as expectativas que eu quebrei, não sei de devo me desculpar, não sei se me sinto culpado, eu não sei de nada.

Não entendo porque a paz não pode durar por mais tempo, por qual motivo tudo não pode ficar como era antes. Eu nunca fiz o suficiente para evitar que tudo desabasse, talvez eu realmente fosse fraco, talvez eu devesse parar de tentar ser suficiente, talvez eu devesse me conformar com tudo que o mundo me oferece, mesmo sendo tão pouco. Será que eu não mereço sorrir por conta própria? Será que tudo que me basta é tão pouco? 

Antes de tudo ruir eu senti o cheiro do cimento misturado a água e um vazio alcançou meu peito, era o início de tudo que eu nunca terminei. Eu detesto que tudo tenha que ser tão melancólico, mas eu realmente sinto falta de tudo que um dia eu fui. 

Mesmo quando me falam que eu continuo o mesmo, eu não acredito, não posso acreditar, o mundo mudou, as pessoas mudaram, nada ficou no lugar, incluindo meus pensamentos, meus sonhos e meus medos, tudo se intensificou. 

Eu queria alcançar a lua e conquistar o mundo, um dia eu realmente achei que isso seria possível, eu queria parar guerras e fazer lágrimas se transformarem em sorrisos, sério, pode parecer infantil, mas eu sempre quis ser lembrado por tudo que fiz, não importa se tudo desabar, mesmo não tendo conquistado planetas, alcançado a lua ou desarmado o mundo, pelo menos consegui secar algumas lágrimas. Isso agora parece bem pouco. 

Ouvi o primeiro “crec”, o segundo, e o terceiro, foi rápido, certeiro, tudo veio a baixo, senti que meu coração parou, ficou escuro, foi difícil respirar. Não me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu, mas toda vez que acontece parece que fica mais forte e mais difícil de levantar, sempre acho que vai ser a última vez. 

Quanto mais eu me afundava, mais eu desacreditava de mim mesmo e acreditava nas coisas que diziam sobre mim. Os sorrisos já não me bastavam, os abraços me faltavam e tudo que queria era me esconder; 

Eu não deveria estar aqui, não deveria sorrir ou me aproveitar desse lugar. 

Eu não queria ouvir, eu quero me desculpar por toda preocupação causada, pelas ligações não atendidas, por todo o silêncio causado, eu queria me desculpar por tudo que eu quis ser e não fui.

Eu não consigo acreditar quando dizem que sou bom, que sou realmente bom, porque tudo que ecoa, é que não sou suficiente. Eu constantemente me pergunto por qual motivo insisto. 

Quando tudo fica escuro, quando todas as paredes parecem pesadas demais eu me esforço para escutar, para procurar o mínimo sussurro de “eu te amo”, para sentir os abraços e enxergar os sorrisos, e isso me basta, não sei por quanto tempo, mas me basta. 

**Eu escrevi esse texto ouvindo One Direction, eu nunca ouvi de forma consciente essa banda…