Tudo é transmitido o tempo todo: o amor, a angústia, a traição. Logo as feridas ficam expostas e exigem de si uma reação imediata, como se sua dor fosse plástica, moldável aos anseios de quem te assiste.
Para todas as pessoas que atravessam o caminho de quem sofre com um término, fiquem, acolham e abracem, não julguem, nada termina ou começa naquele ponto final.
Terminar é um verbo muito difícil de ser conjugado sózinho e mesmo com a casa tão cheia eu ainda me sinto sózinho.
Ainda escuto o som daquela voz, me dando desculpas para conter meu riso, ainda sinto o toque de quem limpa minhas lágrimas após me fazer chorar, ainda o sinto por perto mesmo estando longe.
Antes do fim eu me questionava se eu deveria ou não desistir desse nó que éramos nós, mas tudo se apagava quando você aparecia, me trazendo flores, falando sobre como eu me sentia, me fazendo sentir, como se ninguém mais me entendesse.
Talvez ninguém realmente entenda!
Eu pensava que era minha culpa, achava que você me entendia, que todos os deslizes eram causados por meu desencaixe.
Tudo dentro de mim sempre doeu, você sabia disso, falava que tudo estava bem, que estaria sempre aqui, era uma mentira que eu precisava acreditar.
Agora dói ainda mais.
Tudo que sempre foi meio bagunçado, agora parece pior.
Fico revisitando cada palavra, cada gesto, cada ausência, não é que eu nunca soubesse, é só que era difícil aceitar.
Me sinto sozinho, mesmo com todos em minha volta.
Uma angústia sobe com os soluços, meu pranto me rasga por dentro, me engasgo, a garganta dói, o peito aperta, me sinto pequeno, sózinho, o medo aumenta, me culpo, me questiono:
Por que deixei isso acontecer?
Por que eu sou assim?
Por que é tão difícil esquecer?
Eu queria que me respondessem o que fiz de errado. Se eu fiz algo de errado.
As conversas de repente passaram a ser sobre mim, não gosto de ser assim, porque é tudo que sempre tentei evitar transparecer. Todos parecem saber tudo sobre mim, quando nem eu sei. Talvez possam me dizer onde errei, o que tenho que fazer para parar de doer.
Me sinto frágil, talvez eu tenha nascido quebrado, ou talvez tenham me quebrado tanto que agora pareço ser incapaz de remendar meus cacos. Será que existe uma super cola para isso?
Não sei onde comecei a estilhaçar-me, mas olhar para todos esse caos é como não me reconhecer.
Me machuco enquanto tento caminhar sozinho.
Não para de doer.
Eu sinto cada parte de quem eu sou fugir de mim, ficar pelo caminho.
Quero fugir, fugir de tudo, de todas as conversas, de todos os abraços, de todos os olhares…
Não quero ter que dizer coisas boas, eu não consigo, não há nada de bom para ver aqui.
Procurei minhas roupas e encontrei lembranças.
Minhas memórias não eram só minhas, e por mais que todos digam que é só apagar, é impossível.
Eu queria dizer que tudo sempre foi bom e que por isso não me importo com as lembranças, mas é mentira.
Talvez a maior mentira tenha sido escrita por mim, eu aceitei, sempre aceito.
Dizem que dentro de mim há muita intensidade, que não consigo controlar o que sinto, mas eu controlo, eu tento controlar, tudo fica aqui dentro, guardado, tenho medo que se cansem das minhas palavras.
Tudo ainda tem aquele cheiro, aquele gosto e ainda sinto aquele toque e isso é como caminhar em um campo minado, parece que tudo que sempre segurei vai explodir a qualquer instante. Não acho que alguém seja capaz de desarmar essa bomba que se encontra no meu peito.
Não quero conversar, não quero falar sobre aquilo que todos já sabem ou ter que contar o que não sabem, não quero ter que sair do lugar seguro que criei para não me machucar mais.
Me sinto uma criança fugindo da tempestade escondida dentro do armário, não quer ter que abrir essa porta.
Talvez isso seja só o reflexo do cansaço de quem se acostumou a sorrir em concordância, dizer sim mesmo querendo dizer não, não consigo esquecer e esse sempre foi o problema, eu deveria ter gritado quando tive chance.
Eu prometo que vou tentar apagar tudo, que vou tentar sorrir, que vou tentar fingir estar bem, mas por enquanto eu não consigo, tudo parece desmoronar aqui dentro e é só isso que tenho a oferecer por enquanto.