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Navillera – sonhar é preciso

Eu voltei, bem mais cedo do que esperávamos…

Sinopse oficial de Navillera:

Navillera acompanha Shim Deok-chul (Park In-hwan), um carteiro aposentado de 70 anos que decide realizar seu sonho de aprender balé. Sua família, incluindo sua esposa e filhos adultos, não está feliz com sua escolha, mas Deok-chul não parece inclinado a desistir. Na academia de dança, ele conhece Lee Chae-rok (Song Kang), um bailarino de 23 anos que se interessou pela modalidade depois de experimentar diferentes esportes – desde beisebol até natação, passando por futebol. Chae-rok também não foi talentoso em nenhuma dessas atividades e acabou seguindo os passos da falecida mãe, que também era bailarina. Agora enfrentando dificuldades financeiras e completamente afastado do pai, o jovem pensa em abandonar o balé, até que seu caminho se cruza com o de Deok-chul. Um encontro que vai mudar a vida dos dois para sempre.

Navillera é uma série Original Netflix, Sul- Coreana, criada pelo Studio Dragon, se baseia no webtoon de mesmo nome dos autores Hun e Ji-min. Sendo dirigido por Han Dong-Hwa e escrito por Lee Eun Mi, possui um total de 12 episódios. 

Esse dorama me arrancou lágrimas nos momentos finais, para quem se pergunta de onde surgiu o nome, se aquiete até o final você descobre que o nome veio da relação do bater das asas das borboletas com a suavidade dos passos de balé e que também nomeia uma das peças do drama. 

Eu gosto de dramas não convencionais, que não envolvem um triângulo amoroso, e fogem da mocinha indefesa que necessita ser salva por alguém. Em Navillera os dois personagens principais têm idades muito extremas, Sim Deok-Chool (Park In-Hwan) acabou de completar 70 anos e revive de forma acidental sua paixão pelo balé ao esbarrar com o estúdio de dança no qual Lee Chae-rock (Song Kang), um jovem e talentoso bailarino treina. 

Após Sin Deok-Chool encontrar o bailarino pela primeira vez, ele revive suas motivações para seguir adiante, o que esperar da vida aos setenta anos? Um pai de família, um homem aposentado, casado, encontra de forma poética e quase que de repente um novo significado para a palavra sonho, e ele lutou para seguir com esse sonho, lutou de forma quase insistente contra a opinião da família, a idade e a mente, ele lutou contra si próprio. 

Quando Lee Chae-rok se torna o professor de Sin Deok-Chool não esperava que fosse aprender mais do que ensinar, depois de uma crise de pânico e de fugir de uma competição importante para ir esperar o pai sair da prisão, ele sentiu seus sonhos se esvaindo pelos dedos, o que esperar, quando não se tem o que esperar? Sin Deok-Chool foi a razão de Lee Chae-rok continuar a sonhar, da mesma forma Lee Chae-rok trouxe de volta os sonhos do mais velho, ele se tornou uma espécie de caixa de pandora que quando aberta libertava as memórias.

Navillera é uma história sobre sonhar e desistir dos sonhos, um pai que deixa de seguir seus sonhos para que os filhos possam ter uma vida melhor, um irmão mais velho que deixa de viver seu sonho para que os irmãos mais novos e os pais não passem por mais dificuldades, uma mãe que passa a ver na felicidade dos filhos o seu objetivo ou desiste de uma futura carreira porque sua filha necessitava de si, um médico que desiste da carreira por perder um paciente,… Não importa por qual motivo, Navillera prova de maneira muito doce que às vezes por uma força maior somos impedidos de sonhar, e às vezes não importa a nossa idade só precisamos de alguém para nos ajudar a lembrar de quão bom é lutar por nossos sonhos … As vezes tudo que precisamos quando caímos é de alguém para nos ajudar a levantar.

Durante cada episódio cada personagem de alguma forma revisita seus objetivos, os motivos de suas desistências, seus medos e angustias, Sin Deok-chool passa a ser uma fonte de motivação e por mais que insistam em dizer que ele não vai conseguir, ele insiste em dizer que esse é o tempo dele sonhar, e que ninguém deveria se sentir inibido a fazer o mesmo, ele passa então a ser um apoio para os que estavam à sua volta. 

Com bilhetes na geladeira Lee Chae-rok nos lembra a todo instante que nos escondemos em máscaras para nos defender, coube aos seus dois mentores a tarefa de achar uma motivação, sentimentos e uma ambição para ele. Quando se é jovem todos insistem em dizer que os sonhos podem ser adiados e conforme o tempo vai passando com a mesma insistência nos falam que não se pode mais sonhar.

Conforme os episódios vão decorrendo percebemos que a relação dos dois personagens principais ultrapassam a de um professor e um aluno, à medida que o tempo passa a relação construída de forma tão linear e síncrona é a de um jovem que precisa se sentir cuidado com a de um idoso que passa a necessitar de alguns cuidados, ao mesmo tempo que não deixa de cuidar dos outros. Os dois facilmente transmitem a quem assiste a relação é a de um avô com seu neto.

Assista e se emocione.

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Rebelde: Lo que no fue no será

Logo da série da Netflix/2021

Eu não sou boa em escrever resenha, porém após assistir a primeira e a segunda temporada de Rebelde(2022/Netflix), isso me fez ficar um tanto quanto reflexiva sobre o que é considerado qualidade nos dias atuais, e sim eu gostei da construção da história, as atuações foram impecáveis (um salve para a talentosa Giovanna Grigio), a escalação de um elenco tão diversificado é um acerto essencial no século XXI, sem dúvida é uma série que cativa, apesar de pecar na superficialidade que trata suas tramas.

Eu sempre fui fascinada pelas artes cênicas, o poder de transmitir ao outro uma informação/sentimento apenas com o corpo sem dizer uma única palavra vivendo algo que não faz parte de você, criando sensações em desconhecidos que te assistem, é sim algo fascinante e ainda assim perturbador.

elenco principal da série

Pensando em metas e objetivos, quais são os dessa versão de Rebelde? Particularmente eu responderia que é apresentar alguns talentos que não eram tão conhecidos (não para um público Netflix) dentro de um ambiente nostálgico, afinal inegavelmente mesmo que a trama se torne atual ainda assim se mistura com as narrativas da versão Mexicana de 2004/2006

Adolescentes complicados, relações familiares complexas sempre deram um bom enredo e geraram uma certa identificação, mesmo que a maioria dos personagens venham de uma realidade social diferente da do público que está assistindo. Voltando a série, eu achei formidável a ideia de recriar o EWS, quase 17/18 anos depois, foi espetacular mostrar o que aconteceu com a instituição em consequência da ação da criação da banda Rebelde, a nova versão é mais sobre o EWS do que sobre Rebelde, o ambiente ganhou um programa de excelência musical considerado o melhor pelo público latino, mas não é só isso, ganhou também outros programas como o de administração e robótica, estudar lá ou em qualquer outra filial é se encontrar entre os melhores.

Primeiro dia de aula Emilia (Giovanna Grigio) apresentando o EWS

Se considerarmos então o foco da série como o EWS e o desenvolvimento dos personagens dentro dessa instituição podemos então considerar que ter apenas dez episódios por temporada, se torna algo impossível explorar todas as narrativas expostas ali, e limita os enredos a ficarem dentro do ambiente do EWS. Se têm personagens principais e uma penca de personagens secundários que possuem narrativas que mereciam ser trabalhadas com mais afinco, em uma novela com toda certeza seriam bem mais exploradas.

Pôster Rebelde 2004/2006 – México

A versão Mexicana (2004/2006) que a maioria de nós conhece possui 440 episódios e 3 temporadas, manter o sucesso e a qualidade durante tanto tempo e de forma tão linear fez com que a novela, mesmo sendo uma obra inspirada em uma versão argentina chamada de Rebelde Way (Cris Morena/2002-2003), se tornasse então a mais conhecida das versões. A versão Mexicana se tornou a fórmula do sucesso, as adaptações que vieram depois se baseiam no sucesso da versão Mexicana para assim tentar alcançar seu próprio sucesso, a versão atual de Rebelde (2021-2022/Netflix) deixa isso muito claro, ela traz elementos de nostalgia ao público a todo instante, os uniformes, a rivalidade entre as personagens principais, Colucci, Celina, Pilar e as histórias dos seis membros da Rebelde que rondam a trama como um fantasma

Pilar e Celina

Esse revival mantém viva a história de 2004 como se nada tivesse terminado, mantendo acesa a chama de todo fã do RBD que sonha com a volta do grupo e novas turnês, foi uma jogada muito inteligente, mesmo que os membros do grupo sejam apenas mencionados, ainda assim eles se encontram presentes nas narrativas, mas isso é suficiente?

Mesmo com episódios relativamente longos é muito fácil em um fim de semana de folga maratonar as duas temporada, se é fácil maratonar, significa que tem potencial para ser um viral. É uma história com enredo próprio, que mistura os problemas atuais com narrativas já conhecidas, e para mim o problema é exatamente esse, são tantas histórias para cada personagem que dez episódios se torna muito pouco tempo para as explorar, as histórias não tem continuidade, tudo é tão rápido, que até as músicas ganham uma interpretação rápida, e é por isso que para mim o personagem principal é o EWS, todas as narrativas morrem fora da instituição. 

Vou dar um exemplo da minha interpretação favorita, Franco Masini para mim ganhou o personagem com mais potencial para ter uma trama explorada, entretanto não foi o que aconteceu. São tantas ramificações para serem exploradas que ao longo da primeira temporada eu fiquei esperando esse desenvolvimento que não aconteceu de forma tão profunda assim, afinal são dezenas de histórias, dez episódios e entorno de 35 minutos em cada episódio, particularmente eu esperava mais conflitos entre Luka Colucci e Marcelo (o pai), por exemplo o mecanismo de defesa de Luka, é ter um comportamento vilanesco com o resto do mundo, tá sempre atacando para não ser atacado, se alia a seita, e essa aliança com um grupo suspeito só porque ele quer vencer e se mostrar o melhor, não faz sentido, ele tinha uma banda que estava vencendo e por mais que ele não gostasse da Jana, ainda assim eles eram um grupo com muito potencial, no primeiro episódio Luka tem uma das interpretações mais tocantes do episódio, a cena em que ele canta “Lo que no fue no será” para o pai, é algo tão carregado de emoção que merecia um desenvolvimento tão maior do que teve…

Franco Masini como Luka (Rebelde/2021-2022)

Mas por qual motivo Luka se torna o meu personagem preferido? Simples, Franco interpreta Luka com tamanha perfeição que até mesmo os olhos falam por ele, isso compensa a falta de desenvolvimento do enredo, se houvesse um pouco mais de tempo de tela para esse desenvolvimento poderíamos ver um pouco do emocional de um adolescente que quer o amor e aceitação do pai, que não consegue estabelecer vínculos de amizade, que teve sua sexualidade exposta contra a sua vontade, que demonstra uma afeição com o álcool para fugir dos problemas e que se apega a qualquer possibilidade de mostrar o seu valor e realizar suas ambições, mesmo que isso o machuque ou machuque outros e se somar tudo isso ao fato de que ele traiu os amigos e depois os ajudou e ainda ganhou um irmão bastardo que é filho da sua ex professora de piano, o personagem seria uma grande bomba relógio, no mínimo ele deveria ter tido uma crise de ansiedade, mas não é o que acontece, o rapaz é inabalável, cabendo a Franco Masini interpretar Luka até com o último fio de cabelo do corpo, diminuindo o tom de voz, brincando com o olhar, ora reprimido, curioso e revelador.

Se levarmos em conta que toda história é como uma grande árvore, Rebelde é uma árvore com um tronco gigante e muitos galhos e ramificações, se tivessem podado alguns galhos do enredo, aprofundado a emoção e as relações dos personagens nos galhos que sobraram, mostrando a consequência de cada reação a história se tornaria ainda melhor e até mesmo um pouco mais contínua.