Capitalismo, Crônica, Minhas Crônicas, Opinião, Preconceito, Proletariado, Racismo, Sem categoria, Violência

“As vezes eu falo com a vida”

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Foto de Tércio Teixeira, Morro da Mangueira, RIO, durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas

Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo (domingo!)

O Rappa

A forma como o olhavam dizia muito mais do que qualquer palavra pronunciada, era como um mar de história, história escrita a muitas décadas. Era uma epidemia que se espalhava como a agonia que subia em sua garganta, ele queria gritar, mas não podia.

Revirou os olhos, ignorou “os canas” do outro lado da rua, apertou o passo, endireitou a mochila, mas antes mesmo de atravessar a segunda esquina ele ouviu o primeiro aviso, o som dos tiros ecoaram, as crianças se abrigaram nos braços da mãe, baixaram as portas do comércio, ele apenas olhou para o relógio enquanto fazia mais uma vez o sinal da “cruz”, que “ele o protegesse”.

Entre o silêncio gritante que se instaurou naquelas ruas sem asfalto, ele tropeçou nas pedras, enquanto via as portas sendo arrombadas, sentiu novamente os olhares, baixou a cabeça ao passar bem perto de uma das crianças que praticamente viu crescer, o tiro tinha sido para ele, jogado ao chão, como tantas outras, podia ouvir o grito silencioso daquela mãe.

“Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!”

_Tá olhando o quê? – Perguntavam, ignorou. Apertou o passo, cravou os olhos ignorando as lágrimas, “podia ter sido eu!”, ele sempre pensava.

Enquanto se perdia nos seus pensamentos, ouviu mais tiros, viu os carros pretos, os homens armados, estavam invadindo novamente, adentrando as vielas onde a “Segurança” nunca entrou.

“Qual a paz que eu não quero conservar
Pra tentar ser feliz?”

Se abrigou no bar de esquina. O tal português não gostava muito de si, torceu o nariz antes dele entrar e pedir uma garrafa d’água, viu a mulher correndo, ofereceu-lhe água e ela negou. Se sentou no chão mesmo, ouviu a gritaria, o choro, podia imaginar o sangue, todos ali eram seus conhecidos, a dor era algo eminente.

_Já acabou? – Nem percebeu quando o dono do bar o olhou de cima para baixo, o medindo, olhou suas roupas, sua mochila e finalmente seus olhos. Se negou a responder, ele não podia o expulsar e tão pouco ele poderia sair dali, limpou os olhos e continuou a ouvir todas aquelas vozes que vinham de tão longe e ainda assim tão perto.

Pegou os cadernos na mochila, e resolveu se perder por ali, era assim que sua mãe tinha o ensinado. Sempre se acalmava e se lembrava dela enquanto pegava os cadernos no meio de todo aquele barulho. Ainda podia a escutar brigando consigo, tentando o distrair, o mandando estudar, dizendo que “aquele lugar” não era para si. Nunca entendeu aquela frase, aquela era sua casa, ela deveria ser segura.

“Eu não quero ficar
esperando
o tempo passar, passar”

Não percebeu quando suas lágrimas voltaram a cair e muito menos quando suas mãos automaticamente passavam as folhas, o dono do bar mais uma vez o encarava, um olhar descrente em negação, um suspiro e mais uma pergunta.

_Difícil né? – não era difícil, talvez até fosse, mas não aquilo, se limitou a responder um “unhum” e voltou sua atenção para o livro, o fechou finalmente, haviam cessado a guerra, se levantou calmamente, arrumou novamente a mochila e esperou o homem finalmente abrir a porta do bar, saiu, estava chovendo, apressou o passo até finalmente chegar no ponto de ônibus, suspirou apertado, quando viu as crianças saindo da escola, corriam desesperadas pela rua, as imaginou encontrando tudo aquilo do qual estava fugindo.

O ônibus finalmente apareceu, não parou, o motorista tinha sido alertado a não parar ali, caminhou até mais a frente, andou por toda aquela avenida a pé, olhou os carros apressados, ouviu as buzinas, observou o rio começando a encher, sabia que quando chegasse teria que escoar a água, ficou frustrado pensando se havia lembrando de retirar tudo do chão.

“Não dava tempo de voltar”, o relógio mais uma vez o dizia que estava atrasado, apressou o passo, mas o manteve cauteloso, não podia e nem queria ser “confundido” novamente, “atividade suspeita”, ele era uma “atividade suspeita” desde que nascerá.

“Oh! Meu Deus
Se eu não rezei direito
A culpa é do sujeito
Desse pobre que nem sabe fazer a oração”

Ignorou os pensamentos, e enxergou o ponto de ônibus, correu um pouco a fim de chegar mais rápido, viu que recuaram a sua presença, se arrumou um pouco, limpou um pouco a roupa e evitou mexer nos bolsos e na mochila, tudo que ele menos queria era parecer uma atividade suspeita estando atrasado.

Embarcou no ônibus lotado, colocou a mochila pra frente, e fechou os olhos, teria que encarar mais alguns bons minutos em pé se nada estivesse alagado, ignorou toda a confusão dos bancos preferenciais, enquanto voltava sua concentração para se lembrar dos artigos, falou em silêncio, e percebeu que arrancou a curiosidade de um menino sentado no colo da mãe, mexeu um pouco o cabelo enquanto observava que ela brigava com ele por algum motivo, não entendeu muito bem, mas viu o menino rindo e resolveu acompanhar aquele riso sapeca destinado a si.

Observou quando a moça entrou, ela também estava molhada e apresada, chegou a trocar olhares com ela, principalmente quando ela esbarrou em si propositalmente, ela o conhecia, já o tinha visto outras vezes ali, naquele mesmo ônibus, trocaram algumas poucas palavras e logo depois cada um voltou a se enterrar em seu próprio mundo.

Ela era linda, mas não tinha nome”.

Apertou o ferro de apoio do ônibus quando o motorista freou, alguém tinha acabado de ser atropelado, o trânsito tinha parado de vez. Ficaram bons minutos esperando tudo se resolver, viu o homem levantar apressadamente, pegar suas coisas do chão, falar que “estava tudo bem” e adentrar a condução apressadamente, tempo era dinheiro…

O ônibus voltou a andar, acelerou, ouviu alguns xingamentos do motorista enquanto ele cortava alguns outros carros na avenida, era sempre assim, deixou alguns no ponto, outros fora até finalmente chegar aquele que todos já conheciam, “Olha a bala, a paçoca, o amendoim, tudo baratinho só na mão do amigo, lá fora é mais caro”, ele já havia decorado o discurso, os rostos eram diferentes, mas a oratória era a mesma.

_Ajuda o parceiro aqui, irmão. – sentiu o toque nos braços, mostrou os bolsos vazios e o sorriso de canto, o homem entendeu, sempre entendiam, no fundo rolava sempre aquela identificação, viu o homem caminhando dentro do coletivo e por fim jogando um pacote de amendoim para o motorista, desceu e agradeceu.

A viagem seguiu tranquila até o seu destino, desceu naquele bairro diferente, prédios altos, poucas pichações, o olhavam de cima sempre, abaixou o olhar enquanto apertou o passo, evitou encarar, atravessou a rua olhando apenas para os lados, desviou das pessoas e antes que o parassem por algum motivo ele descruzava os caminhos, o céu ali estava limpo.

“As grades do condomínio
São pra trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão”

Encarou os morros que cercavam aquele local, ainda estava chovendo daquele lado, mas ali não, o comercio estava aberto, as crianças andavam tranquilamente, caminhou pela calçada, admirou o asfalto liso e não encarou aquelas pessoas, viu de relance um carro passando, os homens armados passando por ele, deu uma breve olhada para dentro do “camburão”, o suficiente para reconhecer um rosto, a mão caída para o lado de fora, o corpo jogado, com toda certeza ainda chovia no morro.

Atravessou a última rua até finalmente entrar naquele lugar, ainda tinha prova, estava atrasado e tinha certeza que havia perdido todo o primeiro tempo, correu apresado, não esperou o elevador, correu desesperadamente no único lugar em que se sentia à-vontade para correr, escorregou um pouco, admirou a vista enquanto tinha pressa, olhou o entorno e observou tamanha contradição, prédios, casas, medo, lágrimas, morro, asfalto.

Estacionou seus passos, colocou a mão na porta, observou o olhar repreensivo do professor enquanto ele desviava pelo canto dos olhos ele caminhar até seu lugar, permaneceu calado, fez algumas anotações e trocou alguns olhares com os colegas enquanto ouvia as indiretas a respeito dos atrasos.

Recebeu a prova, secou as mãos, bateu na testa ao perceber que havia esquecido o estojo, pegou emprestado o material, refletiu, leu, respondeu, demorou mais do que deveria, fez a prova, saiu correndo voltaria mais tarde, estava atrasado para o trabalho, olhou o relógio, andou até o trabalho, vestiu o uniforme, atendeu, atendeu, atendeu, foi ignorado quando falou que algo estava errado, “ele estava errado”, esqueceu do almoço, correu para a próxima aula, bateu a cabeça de cansaço, se forçou a ouvir o que tanto falavam naquela aula, olhou pela janela, para o relógio, bateu os dedos na mesa.

_Está com pressa? – Era claro que estava, estava chovendo, ele podia ouvir bem longinquamente que estava se tendo um tiroteio por algum lugar, mas mesmo assim respondeu que não, encarou os malditos três tempos finais de uma quarta feira como se fossem os últimos, faltavam só mais alguns meses para tudo terminar, só mais alguns meses.

“Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões”

10 horas, correu até o ponto, algumas luzes piscavam, estava deserto o suficiente para ele pensar em pegar dois ônibus ao invés de um, mas percebeu que se fizesse isso possivelmente ficaria sem dinheiro no final da semana, apressou os passos, limpou os olhos pelo sono e por sorte o ônibus já estava lá quanto chegou, o motorista o conhecia, o esperou.

Finalmente estava sentado, encarava a noite chuvosa que pincelava aquele lugar tão contraditório, fechou os olhos inalando a fina brisa, podia ter certeza que ficaria doente, tentou evitar esses pensamentos e voltou a pensar em coisas banais, desejou que a tal moça de todas as manhãs entrasse no ônibus, ele não sabia quem ela era, nem para onde ia, mas gostava de imaginar coisas sobre ela, mesmo que no fundo ele soubesse serem impossíveis de acontecer.

Não deu sinal, estava cansado demais para se lembrar do ponto, mas por muita sorte o motorista o conhecia bem o suficiente para saber que ele havia esquecido, deu um grande sorriso enquanto descia as escadas e desejava “boa noite” e agradecia, correu para casa, lembrou-se da chuva pela manhã, olhou o rio e como de esperado ele havia subido, podia ver a marca d’agua na parede assim como as ondas de terra no chão.

As ruas estavam silenciosas, vazias, algumas fracas luzes iluminavam seu caminho, podia ver alguns homens fardados o seguindo com os olhares, entrou em casa, pegou o rodo escoou a água, se jogou no chão, cansado, se arrastou até o banheiro, ligou a água fria, ainda não podia dormir, se sentou no corredor, onde não haviam janelas, ascendeu a fraca luz, e voltou a sua leitura…

Mal percebeu quando seus olhos finalmente fecharam…

A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!(Medo!)
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero conservar
Pra tentar ser feliz?
– O Rappa-

Músicas Utilizadas:

Minha Alma,

Pescador de Ilusões,

Súplicas  cearenses,

Lei da sobrevivência,

Rodo cotidiano.

Racismo

Que Mimi é esse Dona Isabel?

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Dona Isabel que história é essa de ter feito abolição,
De ser princesa boazinha que libertou a escravidão
Tô cansado de conversa, tô cansado de ilusão
Abolição se fez com sangue que inundava este país
Que o negro transformou em luta cansado de ser infeliz
(Mestre Toni Vargas)

Amados Leitores, voltei após o carnaval e aniversário sobrevivi a ambos e continuarei tentando sobreviver até segunda feira, mas vamos ao assunto.

Tive muitas inspirações para esse texto uma delas meu próprio grupo de amigos que desconheciam haver racismo, que atos de racismo são só um grande mimi e que adivinhem só, de acordo com eles as oportunidades são as mesmas para todos, conseguir ou não algo vai depender da força de vontade da pessoa, afinal ano passado tivemos aquele senhor que concluiu a faculdade de direito com mais de cinquenta anos pedalando de bicicleta todos os dias… (HAHAHA senta lá Cláudia!)

Grande exemplo com toda certeza, mas o interessante a se pensar é porque esse senhor só voltou a estudar depois de tanto tempo? Pobre, negro, pedalando quilômetros com uma bicicleta… Qual o motivo dele ter abandonado os estudos? As oportunidades são as mesmas para todos? Porque ele só voltou agora e porque mesmo com essa idade avançada ele continuou trabalhando como pedreiro, pedalando ao invés de viajar de ônibus? Amados se vocês acham que isso é mimi, é bom parar a leitura por aqui!

É inevitável olhar para a rede pública de ensino dos grandes centros urbanos, no meio das grandes favelas é caracteriza-la como um lugar de gente pobre e/ou negra, é interessante você vê uma constante de pessoas com menos de 18 anos tendo que trabalhar para alcançar sua liberdade, para ajudar em casa, para ter o que nunca possuiu… Algumas dessas pessoas em algum momento de suas vidas vão optar pelo trabalho aos estudos, vão estudar a noite, vão chegar atrasados, vão dormir no último tempo e reprovar nos primeiros… Igualdade…?

Quando essas pessoas alcançarem a Universidade vão perceber que a Universidade Pública não é para pessoas pobres, não, realmente não é. Professores inflexíveis que se acham os reis por terem um Concurso Público, um horário que mesmo não sendo integral se torna integral, e coleguinhas de outros cursos que se acham superiores a você só por não possuírem cota, por não precisarem trabalhar para se sustentar e muito menos enfrentar o transporte público para se chegar a Universidade e consequentemente não contar as moedas.

Não, eu não era cotista, levei marmita, contei moeda, repeti a roupa, não comprei a xerox, já pensaram que eu fosse, digo com muito orgulho que se eu fosse seria muito feliz, alguém tem noção de quão difícil é passar por cota? É, é muito difícil, fora o fato de você conseguir manter o lindo benefício que não dá para nada no fim no mês. Minha total admiração aos cotistas que por muitos anos foram e são melhores que muitos não cotistas… Digo mais, o número de Cotas não sustenta o número de gente que precisa dela em uma Universidade Pública…

Refletindo aqui sobre todo esse mimi que me acusam, percebo que boa parte das minhas amigas não me consideram negra…, meio difícil eu sei, mas quem não se lembra do caso da ex-Globeleza Nayara Justino, a acusaram de ser negra demais para o padrão estético da Globeleza (UAI????), a mulher foi substituída do nada. E aí eu percebo pela segunda vez o quão o FDP é o Racismo, nós negros não nos consideramos negros no Brasil porque sentimos medo da repressão que o “ser negro” representa e por vezes denominações como, moreninha, mulata, morena, são melhores do que se ouvir falar que é negra…

Para não esquecer galera sou contra a Globeleza e toda a ideia da erotização do corpo da mulher negra, principalmente no carnaval, comerciais de cerveja com toda aquela ideia do corpo do pecado, pouca roupa, quero descobrir porque nesses momentos não vejo a coleguinha loira, alta e branca? Sem falar claro nas fantasias sem noção de Nega Maluca, a história em torno de tal fantasia é que ela era uma escrava que foi abusada e engravidou do rapaz branco, cara isso não é engraçado é cruel, é abusivo, é machismo a mulher não era maluca…

Eu me considero negra, meu pai é negro, meu avô era negro e por ter a pele um tom mais claro que a deles, muitas das amigas me acham “morena” e por eu ser “morena” admito que tenho certos privilégios que nem meu pai e nem meu avô tiveram, sou consciente disso pois já cansei de ter que sair do carro do meu pai para revistarem, da última vez rolou até uma ameaça com arma… Uma arma a menos ou a mais quem liga? (é só mimi galera, vitimismo!)

Preta, pobre e favelada é assim que eu me considero, mesmo com o privilégio (perante a sociedade) de eu nascer com um tom de pele mais claro (“moreninha”) eu sou constantemente vigiada quando vou a shoppings na Zona Sul, lá eu não tenho privilégios, eu sou negra (sério, mesmo?), minha roupa não é de marca, meu sapado não é importado, meu óculos de sol é da SAARA e bem meu Cabelo é meu Cabelo livre, leve e cheio, lá eu sou negra, pobre e favelada e em alguns momentos descabelada.

Um dos detalhes que eu constantemente toco no assunto é que eu sou Pedagoga, recém formada, e isso me permite ver por muitos ângulos uma mesma situação, eu tinha uma amiga que fazia estágio em um renomado colégio da Zona Sul do Rio, ela é negra e em um determinado momento do estágio ela trançou os cabelos, adivinhem o que aconteceu? Sim começaram a reclamar disso, (reclamaram do Black também)… Mas gente é só um cabelo… Um cabelo que para muitos é simbolismo da resistência, da cultura, da sobrevivência de uma raiz… Dou um doce para quem adivinhar se o quantitativo de crianças negras nessa escola era proporcional? Não, não era, aliás nem na escola que eu fiz estágio na Tijuca, (Considerada alternativa!) mas fato é que algumas dessas crianças não se identificavam com o cabelo da minha amiga e achavam o próprio cabelo feio.

Vou aproveitar todo esse papo com a escola e vou falar sobre um assunto que essa semana me teve entalado na garganta…

Deparei-me com aquela imagem do menino negro vestido de Abu (o macaco de Aladim) demorei bastante tempo para conseguir assimilar o acontecimento, confesso meus sentimentos foram deverás ambíguos, de acordo com os pais não foi intencional e não iriam expor a criança a isso. Fato é que tal foto gerou polêmica principalmente pelo fato da criança ser adotada, e eu de verdade prefiro acreditar no amor desses pais que não se identificaram com as lutas que futuramente seu filho enfrentará apenas por ser negro. (APENAS!)

Que o diga Kaike Pereira de 13 anos, ator da Rede Record!

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Mas vamos debater esse assunto de forma social? Uma criança negra vestida de macaco? Meus amores o macaco poderia até ser o King Kong ainda assim em uma sociedade como a nossa isso é racismo sim! Crianças negras independente da classe social são constantemente chamadas de Macacas, nós vivemos em uma sociedade que faz questão de lembrar que os negros descendem de escravos e que faz questão de dizer que por esse fato merecem estar subjugados aos piores empregos, as piores condições, aos piores tratamentos, por esse fato merecem continuar na senzala, na cozinha da casa grande cuidando dos filhos dos patrões. Muita gente prefere se esconder atrás do rótulo de morena, parda, mulata pelo simples fato de não quererem estar subjugados ao estigma social que o branco impôs ao ser negro.

Não se conta toda a história de quando foram escravizados, retirados de suas casas, de quando arrancaram seus filhos dos braços, destituíram seus líderes, queimaram suas lembranças, mataram seus homens, abusaram de suas filhas e mulheres… Os Deuses, a Cultura os sonhos foram esquecidos, aniquilados e convertidos no que o Ocidente chama de pecado, misticismo, crença!

O menino em questão foi adotado por um casal de poses, vai morar em um bairro legal e conforme for crescendo vai perceber que o fato de ele ter sido adotado por um casal branco não o protegeu dos desatinos da vida, ele não é branco, ele é um negro em um local de branco e constantemente vai ser encarado como o “coitadinho que foi adotado” e/ou “eterno menor abandonado”…, vai enfrentar os coleguinhas brancos na escola que o consideram diferente, vai vê aquela foto sua da infância vestido de Abu sendo usada como justificativa para os xingamentos, não vai se identificar com seu cabelo, com sua cor e vai crescer sobre constantes olhares estigmatizadores, principalmente quando começar a frequentar os lugares chiques da Zona Sul ou encarar a polícia subversiva que aponta a arma, bate e depois pergunta.

Vivemos em um país que diz que “o Racismo está nos olhos de quem vê”, “O mundo tá chato”, “se a criança fosse branca não teria esse problema” “isso é drama é se fazer de coitado”… E esse é o grande Xis da questão, a criança branca não vai crescer estereotipada com milhares de preconceitos e olhares tortos em sua direção enquanto entrar em uma loja, a criança branca não vai ser chamada de macaca pela simples comparação de sua cor, com atos referentes a líderes religiosos que diziam na época da escravidão que negros eram animais e não tinham alma.

Que fique bem claro caro leitor, se vocês acham que só porque uma pessoa é de classe média ou da rica, milionária, ela não irá sofrer preconceito, não eu não digo isso, isso é uma inverdade… A prova disso são os Artistas globais nacionais e internacionais que vira e mexe são vítimas de injúrias raciais, a prova disso são os pesquisadores negros que são constantemente barrados nos eventos em que são palestrantes. A prova disso são aos donos de carros, de prédios, de lugares que são confundidos ou com o motorista, com o vendedor ou com o assaltante, A prova disso são os moradores dos condomínios de dois elevadores (o de serviço e o convencional) que constantemente recebem um olhar devastador, aquele olhar, de que o lugar deles não é ali, não é naquele elevador, naquele condomínio, naquele bairro, naquele carro, naquela novela, naquela universidade….

É e se no fim você continuar vendo tudo como um grande MIMI de gente que só que se vitimizar, seja feliz pois você é um grande privilegiado socialmente!

(Texto bisoiado pela Alyne Ferreira, a amiga das trancinhas que eu citei!)

Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo?

Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele a tal ponto que você alveja para ficar mais branco.

Quem te ensinou a odiar a forma do seu nariz e lábios?

Quem te ensinou a odiar você mesmo da cabeça aos pés?

Quem te ensinou a odiar os seus iguais?

Quem te ensinou a odiar a sua raça tanto que vocês não querem estar perto uns dos outros?

É bom que você começar a se perguntar quem te ensinou a odiar o que Deus te deu.”

 – Malcolm X – Por qualquer meio necessário.

Texto de Juliana Marques postado em 15/02/2016