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Carolina Maria de Jesus – Diário de uma Favelada

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Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977), foi mais uma das escritoras que conheci durante minha graduação, especificamente durante uma disciplina que estudava a relação de identidade e diários. É estranho tentar entender como uma das escritoras mais importantes de nossa história, reconhecida mundialmente, só me foi apresentada na graduação, no auge dos meus vinte e poucos anos.

Quarto de despejo se tornou o livro que a fez ser conhecida, as palavras que juntas compõe esse livro, se tornam importantes para podermos entender a sociedade da década de 50, pela perspectiva de Carolina, uma catadora de lixo, mulher negra, periférica e mãe solteira, que dia a dia matava seus leões dentro e fora das vielas paulistana.

Sofreu violência de gênero, social e racial, suas linhas não nos fazem sorrir, não nos iludem, são duras, é a realidade e não a fantasia, não teve bolo de aniversário na festa de sua filha, porque não se tinha dinheiro nem para o pão.

Carolina retratou em seu diário muito mais do que ela imaginou, escreveu como quem conta um segredo a um amigo, confessou suas angustias diante a fome de seus filhos e os julgamentos de seus vizinhos, ela questionou, não se calou e gritou para que a ouvissem.

Não queria se submeter a homem algum, era mãe solteira, foi mãe de filhos que nem eram seus para os proteger dos julgamentos que ela tão bem conhecia, se preocupou quando eles demoravam a voltar, abraçou apertado, tão apertado que quase se tornou possível deslumbrar do momento enquanto se lia.

Quarto de despejo foge dos padrões da nossa literatura, ou melhor foge dos padrões da nossa norma culta da linguagem, sua protagonista é negra, pobre e desbocada, trabalhava de sol a sol e lutava para que sua vida não se resumisse a sua casa de madeira, Carolina não era só escritora também era uma leitora que também lia o mundo.

Literatura Marginal, é assim que se chama essa escrita, livre das tradicionais amarras que costumamos ser apresentados na escola, a forma como falamos e escrevemos também é motivo de exclusão, a normatização da linguagem é um instrumento de dominação, onde só se valida o que uma pessoa fala se “sua fala” condizer com as regras de linguagem. Normatizar a linguagem, é excluir outras formas de expressão, outras culturas.

Estudei em escola pública durante minha vida inteira, salvo na educação infantil, eu sei a importância que a literatura de Carolina tem para alunos periféricos assim como tem para mim. Carolina escrevia sobre a sua vida, seus dilemas, sobre mais de cinquenta décadas atrás, quando o Brasil começa a se desenvolver economicamente, e ainda assim nós encontramos tantas semelhanças.

Carolina não se resumiu a quarto de despejo, que era bem mais do que sua casa de madeira, quarto de despejo era a cidade de São Paulo, a sociedade que a excluía de todas as formas possíveis, como se gritasse a todo instante que o lugar dela e de seus filhos não fosse no asfalto.

Quarto de despejo não foi seu único livro, na verdade foi seu diário, antes dele ela havia tentado publicar crônicas e poemas, mas só com seu diário, que ela passou a ser notada e justamente pelo motivo que era excluída. Apesar do livro de rendido bem, Carolina viu pouco desse dinheiro, na verdade ela viu o suficiente para que saísse da favela e fosse morar em um pequeno sítio na periferia de São Paulo.

Outros Livros:

Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963), Provérbios (1963). O volume Diário de Bitita (1982) (Publicação Póstuma).

Links Literalmente Legais (L³):

Documentário

Conversa com Bial

Literafro

QUARTO DE DESPEJO – MANIFESTAÇÃO DO DISCURSO FEMININO NA
LITERATURA BRASILEIRA

Recomendação de Leitura: Preconceito Linguístico de Marcos Bagno

 

Amor, Crônica, Feminismo, Minhas Crônicas, Opinião, Poesia, Preconceito, Sem categoria

Cora Coralina – Aninha e suas pedras

coracoralina

Não sei…

se a vida é curta

ou longa demais para nós.

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas.

(Não sei)

Cora Coralina (1889-1985),  morreu quando eu ainda nem era nascida, em 1985 meus pais nem sonhavam em se conhecer. Quando conheci seus versos, eu já havia me tornado adulta, quase tão adulta quanto Aninha em algumas daquelas linhas.

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha um poema

(Aninha e suas Pedras)

Me encantei por Cora entre os corredores frios e cinzas da UERJ, os versos pareciam ecoar por cada canto daquele lugar. Suas confissões de menina, faziam eco ao meu coração, suas linhas não eram nem versos e nem poesia, “era um jeito diferente de contar história”. Por mais que ela falasse dela, e eu soubesse disso, parecia que falava de mim, ao mesmo tempo que parecia falar de outras, sua voz não era singular, era plural. Era a voz de quem havia se deparado com muitas pedras e as transformado em poesia.

“Entre pedras

cresceu a minha poesia

Minha vida…

Quebrando pedras

e plantando flores”

(Das Pedras)

Ana Lins dos Guimarães Peixoto, era Cora e Cora era Ana, Aninha, a terceira das quatro filhas, orfã de pai praticamente ao nascer, estudou até a terceira série, teceu ainda na infância seus primeiros versos sem vírgulas, palavras ou linhas, mas que tinham cheiro de mato, de terra molhada, de bolo recém assado pelo vó.

“Era só olhos e boca e desejo

daquele bolo inteiro”

(Antiguidades)

Escreveu suas linhas para fugir de tudo que a machucava, eram sobre o que sentia, sobre o que viveu, e sobre o que ainda queria viver, eram lembranças de uma menina, contadas por uma senhora que continuava a devorar o mundo e a mostrar a ele todas as suas pedras, todas as suas lutas.

Aos 70 anos aprendeu datilografia para que suas poesias pudessem ser enviadas aos editores, aos 75 anos publicou seu primeiro livro, morreu aos 95 anos… Drummond dizia que ela era: “uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção, e identificada com a vida como é”.

“Sendo eu mais doméstica do
Que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionalizada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a consciência
de ser autêntica.
Nasci para escrever, mas o meio,
o tempo,as criaturas e fatores
outros contramarcaram minha vida.
Sou mais doceira e cozinheira
do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes………
Nunca recebi estímulos familiares para ser literata
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.”

(Cora Coralina, quem é Você?)

Cora assinava aquilo que Aninha vivia, se tornou poesia em meio a resistência, era tão única quanto o nome inventado, fugiu, amou, vendeu livros, lavou roupa, sofreu a dor da perda, mais de uma vez, se fez doceira que conservava histórias, foi mulher rendeira que teceu seu próprio destino. Dentro de si, existiam tantas e tantas vozes, que ler suas linhas é como caminhar na corda que tece a vida, não só a de Aninha, mas a de Cora e também a minha.

Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,

sem preconceitos,

de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

Links Literalmente Legais (L³):

Documentário Cora Coralina – todas as vidas

4 poemas de Cora Coralina 

A sabedoria de Cora Carolina em 4 poemas

Enciclopédia Itaú Cultural 

Cora Coralina – por Elder Rocha Lima

15 Poemas de Cora Coralina

 

 

Ansiedade, cartas, Crônica, Crianças, depressão, escolhas, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, silêncio

Pequeno Viajante

Gostaria de compartilhar mais um texto que fiz para mais um dos meus amigos. Uma mesma palavra pode ser usada de muitas formas….

arvoresabedoria
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Um dia conheci um menino meio perdido por esse mundo…

Pequeno,

Ele era pequeno na forma de agir,

tinha um sorriso gigante mas que quase ninguém via,

mãos curiosas que viviam agindo escondido,

passos tão curtos quanto os de um idoso.

Seus olhos pequenos eram atentos aos pequenos detalhes.

Suas palavras eram curtas e seus silêncios longos;

As vezes ele se perdia,

se perdia no tempo,

se perdia nos lugares,

se perdia até dele mesmo,

as vezes ele se encontrava em meio a uma bagunça que ele nem lembrava ter feito.

As vezes ele arrumava a bagunça,

outras tantas não…

ele precisava da bagunça para poder viajar…

Ele gostava de viagens longas e intermináveis;

Seus lugares preferidos não estavam no mapa,

eram lugares tão secretos, mas tão secretos, que as vezes ele esquecia de como se chegava lá,

as vezes ele lembrava: tudo que precisava era se perder nas entrelinhas do silêncio.

Ele se perdia,

se perdia

e se perdia,

era naquele silêncio tão barulhento que suas aventuras aconteciam,

derrotar vilões, salvar pessoas, invadir planetas,…

eram aventuras tão mágicas que ele se esforçava ao máximo para não esquecer,

as vezes ele esquecia, e aí ele tinha que viajar novamente,

talvez por isso ele goste tanto de colecionar lugares inesperados:

ilhas perdidas,

países nunca descobertos,

planetas fora do sistema solar,

abraços intergalácticos.

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Dor

passarinho

Passarinho vivia preso, não sabia voar;

Suas asas se embolavam nas entrelinhas dos seus livros preferidos;

Passarinho fazia ninho com aquilo que não queria ler;

Passarinho se perdia naquilo que não conseguia entender;

Passarinho se perdia entre os versos que ele cantava e ninguém entendia;

Passarinho queria voar, mas não podia.

Escrito para á pessoa que tropeçou com os seus sentimentos em mim….

Dor,

sentiu dor, mas não havia nada físico que lhe causasse aquilo que sentia.

Seu peito subia e descia, tudo doía, era angustiante, amedrontador.

É sentiu medo, o medo que ele sempre sentia mas ninguém sabia;

Tentou se distrair, mas miseravelmente falhou, se perdeu com facilidade em sua próprias palavras, não as entendia e já nem sabia porque antes ria;

Não se lembrava, não respirava, não enxergava;

Ele ouvia, ouvia tudo que não queria ouvir, queria que parassem, mas não paravam, isso o assustava.

Tentou dar um passo caiu;

Tentou escapar se descobriu preso;

Todas as portas estavam fechadas, trancadas, ele estava trancado, seus suspiros estavam trancados, suas dores estavam trancadas o rasgando por dentro.

Tudo cheirava a sangue, inclusive o tempo que não passava.

Sangue, ele sangrava.

Ele sangrava sem derramar uma gota de sangue, uma hora ou outra todo aquele sangue inundaria aquele lugar.

Doía e ninguém ligava, ninguém perguntava, ninguém se importava;

Doía tanto que ele tentou parar a dor e não conseguiu, aceitou que era castigo pelos pecados que ele nem sabia haver cometido;

Tentou achar o ar e não o sentiu, doeu, acelerou, ele não estava correndo, mas acelerou;

Seu coração acelerou, sentiu ainda mais medo;

Doeu,

Doeu,

Doeu;

O ar não saía, a dor não passava, ele tropeçava.

Chorou, se afogou nas próprias lágrimas, quis gritar, mas estava perdendo o ar;

As palavras não saíam, os versos não mais floresciam, tudo era momento e ele só queria que aquele momento acabasse;

Queria que parassem de gritar, que o ouvissem e o retirassem daquele lugar;

Que parassem os medos, que tudo parasse, que o tempo parasse, que o barulho parasse, que ele parasse.

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Muito pouco, (IN)sanidade.

loucuraa

Pronto

Agora que voltou tudo ao normal

Talvez você consiga ser menos rei

E um pouco mais real

 (Muito pouco, Moska)

Olhou…, não reconheceu aquele espaço, era tudo tão igual a antes, mas ainda assim tão diferente, como não percebeu que tudo mudou?

Seus sonhos não estavam no lugar certo, estavam todos encaixotados, empoleirados, deixados de lado no canto de um quarto empoeirado.

Andou por todos os cantos, mas nenhum canto era o seu. Olhou-se no espelho e não se reconheceu, as roupas, o cabelo, o tênis, era o seu corpo, mas não era ele. Escorregou os dedos no espelho e sentiu o toque gelado, não havia diferença no reflexo e em si. Quando ficou assim?

Afastou a mão e levou ao rosto, não sentiu o habitual sorriso, nem se lembrava quando aquele canto dos lábios deixou de abrigar sua alegria.

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

Gritando pra não ficar rouco

Em guerra lutando por paz

Seus pés não estavam descalços mais ainda assim doíam como se estivesse andando a horas em círculos, era tudo sempre igual, deslizou-se por qualquer parede, respirou fundo e se sufocou com as lembranças.

A música que tocava era a mesma de ontem, e de todos os dias anteriores, era um disco repetido que o lembrava que o condenaram por não seguir a um mesmo ritmo, por não andar na linha, por não seguir à realidade dos fatos.

Era tudo tão chato, era sempre mais do mesmo. Era insuportável ver a mesma paisagem da janela, ter seus passos milimetricamente controlados, se sufocar dentro da roupa e de si mesmo. O suspiro sobrepôs à música, foi alto e desesperador, era um grito sem palavras que ecoou por todos os cantos.

Fechar os olhos não adiantava, ele não esqueceria, mas não reconhecia aquela certeza que tantos tinham como absoluta.

Pesos e medidas não servem

Pra ninguém poder nos comparar

Porque

Eu não pertenço ao mesmo lugar

Viver…, quando viver passou a ser sinônimo de “não viver”? Seus dias eram eternas tempestades, tropeçava nos próprios pés, eram os mesmos gostos, os mesmos caminhos, e aquilo, aquilo não bastava.

Era tudo tão cinza, uma eterna neblina que escondia tudo inclusive a si.

Sentiu saudades dos seus sonhos e abriu uma das caixas, eram tantos, lembrava-se de quando eles transbordavam de dentro de si e inundavam o mundo. Respirou fundo, sentiu todo aquele aroma de liberdade, quando havia se contentado em aprisionar seus sonhos?

Mal percebeu quando suas mãos rasgaram cada uma das caixas, o perfume da liberdade inundava a casa, as roupas estavam o sufocando, ele não era o mesmo, preferia transbordar a se conter.

Deixou-se transbordar enquanto respirava cada sonho, cada lembrança, cada parte daquela realidade particular, que criou para sobreviver dentro da “verdadeira” realidade tão insana.

E muito pra mim é tão pouco

E pouco é um pouco demais

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

  • Música utilizada
  • Muito Pouco – Paulinho Moska
Capitalismo, Crônica, escolhas, Padrão, Sem categoria

Apenas 1, 2, 3,… escolhas.

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Começo escrevendo esse texto dizendo que gostaria que o tema desse fosse outro, mas estou em uma semana muito complexa por causa de uma prova, que não, não é o ENEM, já passei dessa fase, agora estou naquele limbo eterno a procura de emprego e estabilidade.

Como eu ia falando gostaria que o tema desse texto fosse algo político, queria escrever a respeito da PEC241, da Medida Provisória que altera o Ensino, da Escola sem Partido, queria escrever a respeito de tudo isso, e de como tentam nos amordaçar enquanto nos tiram direitos, mas infelizmente não posso. Não que eu não consiga falar dessas monstruosas alterações, que tem como princípio básico diminuir o número de acessos a Universidade Pública, assim como parar o crescimento capital da população em prol de um crescimento econômico ilusório pautado na privatização.

Não eu definitivamente não vou falar disso, nem muito menos do fato do Prefeito da Minha Cidade ter sido eleito com um número inferior ao número de votos de pessoas que se pautaram na abstenção, muito menos comentarei ao fato desse candidato apoiar a PEC241. Não, eu definitivamente não quero falar mal da população que se absteve ao voto e agora fica reclamando da decisão de se ter como prefeito um senhor que diversas vezes deixou claro seus atos de intolerância.

Sabem durante boa parte da minha vida escolar me foi empregado que eu deveria escolher algo que eu gostasse para seguir como profissão, sabem qual é problema disso, eu nunca soube escolher. NUNCA!

Quando pequena eu amava rasgar os sacos plásticos da minha mãe e me imaginar uma estilista famosa que desenhava em todos os cantos seus planos para dominar o mundo da moda, minha vó até falava que um dia iria me levar no barracão da Portela para eu me enfiar no meio de toda aquela pluma e paetês que eu tanto amava, afinal quando ia na casa dela adorava ficar brincando com as fantasias velhas do meu primo. Bem ela nunca me levou na Portela, nunca conheci o processo de confecção de fantasias e não sei bem se a culpa foi dos meus pais que não deixaram ela alimentar essa “fantasia infantil”. De fato, eu ainda curto desenhar roupas para passar o estresse, assim como “as vezes” costuro algumas coisas na máquina que fica no meu quarto.

Às vezes eu fico pensando como seria se de fato eu tivesse conhecido o barracão da Portela, talvez minha vida fosse ser igual, ou talvez diferente, nunca saberei. Nessa época eu tinha umas primas que brincavam comigo, entre eu ser bruxa e modelo pop star, descobria que não existe “bruxa boazinha”, e meninas tinham que ser “boazinhas” e nem “modelo gordinha”, eu realmente preferia os sacos plásticos ao menos eles não me diziam que “eu não podia ser”. Mas nem tudo são flores, principalmente quando brincava de “lutinha” com meu irmão mais novo, altos golpes que me fizeram ganhar o rótulo de “garota-moleque”, nossa eu fui bastante rotulada quando pequena, me pergunto porque não fiz judô, boxe, karatê, sei lá, eu curtia e ainda curto esse tipo de esporte, acho que a grana na época era pouca e eu agora não tenho tempo.

O mais engraçado é que eu nunca fui uma coisa só, desde pequena, cresci entre as panelas da minha mãe e entre as ferramentas do meu pai, minha mãe é ciumenta com as panelas dela, então quando pequena eu a esperava sair, para poder inventar algo na cozinha, é claro que raramente dava certo, e mais claro ainda que isso de certa forma fez ela me manter muito longe das panelas, eu queria ser chefe de cozinha e hoje apesar de ainda colecionar receitas ainda não me sinto confiante perto das panelas.

Conforme fui crescendo fui me interessando ainda mais por uma série de coisas diferentes, ajudar meu pai tinha suas vantagens, aprender sobre carros, obras e fiação elétrica me fizeram questionar se eu deveria fazer alguma engenharia, física, sei lá alguma coisa de exatas. Mas eu não fiz, na verdade meu ensino médio, foi bem humano, fiz formação de professores em uma escola Normal Estadual, um pacote completo que me fizeram questionar como o Estado pretendia formar professores da Educação Básica, sem que o currículo fosse rico em disciplinas essenciais…?

Talvez esse fosse meu primeiro passo em humanas, se eu tive poucas disciplinas de exatas não posso dizer o mesmo a respeito das disciplinas da área da psicologia, todo ano era uma nova e isso de fato fazia meu ID enlouquecer querendo prestar vestibular para psicologia. Eu não tentei, fiz para pedagogia, a verdade é que apesar de eu amar educação, o motivo foi bem menos nobre, admito, a relação candidato vaga, era mais atraente do que em Psicologia.

Minha vida inteira eu gostava de várias coisas ao mesmo tempo e na hora do vestibular não poderia ser diferente, eram tantas questões com respostas parecidas que eu vivia um caso de amor em completa bigamia enquanto escolhia a resposta. Isso ainda acontece, nem sei como eu passo nas provas, escolher realmente é um problema grave que eu tenho.

Quando passei para Pedagogia, me vi mais uma vez filha da pública, só que dessa vez longe de todo o glamour do Ensino Médio, nesse meio tempo acabei alimentando algumas paixões antigas, a psicologia foi uma delas com toda certeza, vocês não têm ideia de como um amor mal resolvido pode acabar te machucando, você acha que sabe de tudo e quando vê, não sabe de nada. Muitos dos meus problemas, de não ter feito psicologia, foi que eu de fato, tenho um “dom” de ouvir o outro, e isso me frustra bastante, as pessoas me procuram, eu ouço e depois somem.

Me tornei o que meus amigos definem de “esquerdopata relax”, curtia defender todas as causas em todos os momentos, ao mesmo tempo em que brigava com os grupos quando agiam com infantilidade e egoísmo. Virei representante, conhecida entre os alunos, e me metia em confusões por conta disso, cogitei me mudar para as Ciências Sociais em uma visita ao 9º andar da UERJ, confesso que me ludibriei mais por causa da barba do rapaz do que as 10.000 palavras de ordem, que ele cuspia por minuto enquanto bebia um café no Centro Acadêmico, provavelmente foi nesse momento em que descobri minha vocação para “vender miçanga”.

Entre coordenar as disputas pelo Centro Acadêmico do 12º andar, que muitas vezes melavam, e uma resenha crítica eu acabei iniciando um curso técnico de Eletrotécnica, desisti do curso uns dois meses depois, os estágios da Pedagogia não me deixaram concluir, nossa doeu me despedir dos meus colegas de curso. Mas entre tantas desistências de fazer ou não fazer o processo de transferência interna na Universidade, meu computador acabou dando pau e eu descobri uma nova paixão entre tutoriais e sites com dicas de informática eu ia fazendo pequenos reparos no meu computador e nos computadores dos coleguinhas. Nada melhor do que uma nova paixão…

Cursar Pedagogia me fez nesses quatro anos perceber que eu quero dar aula, mas talvez eu não queira só isso, foi difícil admitir isso, principalmente porque segundo as leis da humanidade “você só deve ser uma única coisa nessa vida”. Cara, nem quando me relaciono eu consigo me relacionar apenas com uma pessoa, eu amo várias vezes ao mesmo tempo e é amor mesmo.

Esse ano resolvi fazer um curso de Informática com ênfase em programação, estou amando descobrir que “no mundo existem 10 tipos de pessoas, as que entendem binário e as que não entendem”, entendedores entenderam, de fato estou me divertindo enquanto armo na minha cabeça uma forma de “dominar” o mundo e ganhar uns trocados enquanto não passo em concurso público.

Por falar em concurso público tenho que admitir a ideia de passar, e fazer a mesma coisa durante longos 30 anos da minha vida vem me aterrorizando, eu quero, mas não sei se consigo, assim como não sei se consigo terminar algum dos meus intermináveis livros presos nas pastas do meu computador, nunca entenderei minha dificuldades de escrever finais, de concluir histórias, provavelmente isso deva ter alguma relação com o fato de eu muitas vezes ter dificuldade de enxergar o futuro, enxergar além pode ser bem assustador, então viva o agora.

O motivo de eu ter escrito isso é para mostrar quantas vezes cerceamos nossos próprios desejos, ou somos cerceados por nossos pais e até mesmo pelo Estado. Sabem o que me dá o maior medo nas reformas que acontecem no Ensino Médio, além de claro ter minha voz vigiada e castrada como professora? O fato de que cada vez mais os jovens têm uma leitura do mundo hipertextualizada, eles fazem muitas coisas ao mesmo tempo, de muitas formas.

Eu não fui a única a enfrentar esses dilemas, provavelmente não serei a última, se meu ensino médio fosse ainda mais restritivo em disciplinas eu seria ainda mais podada. Quanto mais se separa e desassociam as disciplinas, mas nos distanciamos do objetivo principal de ensinar. Não temos que racionalizar o ensino temos que o tornar atraente para que todos sintam que são capazes de se tornarem aquilo que quiserem, de desistirem e fazerem o que sentirem vontade.

Afinal não se ama uma única vez, se ama de várias formas, então se encantar por muitas coisas não é loucura, é só sua mente te dizendo que para você ser feliz, você tem que seguir aquilo que acredita. E daí se os números que usamos para programar não cabem dentro dos PDFs sociais que tanto lemos. O importante é viver longe das prisões que criamos para podar nossos desejos.

No fim acho que minha poligamia se estende a tudo em mim…

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O desconhecido engano…

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Ilustração: Zansky

O choro angustiante e incessante foi ouvido no alto do morro, o baque fatal levava a mulher com as mãos ensanguentadas ao chão, agarrada ao corpo do filho, mãos firmes tentavam violentamente a afastar, era apenas mais um corpo, eles a arrastaram dali a jogaram com tamanha brutalidade para longe enquanto colocavam o corpo no carro.

Quem ligaria? Quem se importaria? Era só mais um, mais um número, mais um pobre, mais um morador daquele morro, antes dele já foram tantos…

O braço estendido para o lado de fora do camburão aumentava ainda mais a dor, ele não era um objeto, era seu filho, era um ser humano que estava sendo tratado como um pedaço de qualquer coisa.

Os coturnos marcados pelo barro caminhavam de um lado para o outro, o céu antes quente se tornava frio, era noite, uma noite fria e tenra, os homens inquietos olhavam furiosos para todos os pares de olhos direcionados a si, as mãos por cima do uniforme tocando levemente a arma esperando em ansiedade pelo reforço, o choro permanecia do outro lado, logo surgia o aglomerado, ninguém andava ou se mexia, eles eram os monstros ali.

Apontaram as armas na direção dos punhos cravados e das pedras não lançadas.

A mulher ainda com as mãos manchadas tentava compreender a onde estava o erro, como aquilo poderia ocorrer? Trabalhou mais de oito horas diárias para que aquele menino chegasse aonde ela nunca chegou. Trocou plantões, fez horas extras, deixou de comer, dormiu em pé e tudo terminou assim, dessa forma, com um tiro no peito, um engano.

Uma agonia lhe consumiu mais do que em qualquer outro dia, uma agonia maior do que a de não saber como sobreviveria com aquela criança, mal tinha como se sustentar sozinha…, ironicamente, anos depois, a agonia é por não saber como sobreviverá sem aquela criança.

Mãe solteira, filha sem pais, irmã sem irmãos, mãe sem filhos, ela que era sozinha ganhou alguém e o perdeu assim dessa forma tão perversa, talvez, só talvez ela tivesse pensado que todo aquele esforço tivesse valido apena se ela o visse formado, segurando o diploma e a abraçando no fim da cerimônia, mas nada disso deixou de ser uma lembrança inexistente a sua memória, um sonho…

Os homens fardados ainda encaravam aquele corpo, mais um corpo, mais um, entre tantos números, a incerteza de não se saber quando um dia estiveram certo, fez um deles se questionar quando deixaram de se importar, quando deixaram de sentir, quando deixaram de respirar enquanto suas mãos puxavam o gatilho e davam fim a vidas.

Vidas, ela sempre chorou pelos filhos de outros, agradecia que em meio a tantas complexidades sociais, ele não ter se rendido a um sistema meritocratico que dava mais a quem já tinha muito. Ela achava que apesar de tudo ele iria reverter o sistema, que iria entrar com a cabeça erguida em alguma das empresas na qual já trabalhou pela porta da frente, que iria defender os pobres e ajudar os que necessitavam a chegar onde ele chegou, era o que ele sempre falou, era o que ele sempre fez, foi o que ela ensinou.

Engoliu todas as lembranças para se colocar de pé, caminhou com os pés apressados, ela já estava habituada a isso, sempre correndo, criou seu filho no mundo, um mundo incerto que sempre a dizia que ela não conseguiria, criou seu filho com os relógios dos patrões, com a solidão e com o medo, um medo que a fazia o esperar todos os dias acordada, um medo que não a deixava sair dos seus olhos sem um “eu te amo”, um medo que não esteve presente quando caminhou até aqueles homens.

Os encarou com um olhar devorador, eles conheciam aquele olhar, conheciam aquela fúria, por esse fato desviaram, desviaram seus olhos dos dela, pediram que ela recuasse, que se afastasse, mas ela não o fez, não teve medo, era seu filho ali, eram seus sonhos, era um pedaço de si abandonado como uma grande merda. Ela se colocou na frente deles, justamente daquele que se questionou quando eles deixaram de sentir, as mãos tremulas enluvadas não entendeu o que aquelas mãos tão calejadas faziam ao segurar sua mão e apontar a arma para o próprio peito.

Logo o tempo começou a estacionar, o silencio deu lugar a gritaria, outras armas foram direcionadas a si.

No chão estavam as horas de sono inexistentes de uma mãe que esperava acordada o filho voltar da Faculdade, estavam as lágrimas de comemoração pela Faculdade Pública, estavam os sonhos, todos os sonhos, juntos com horas de estudo e as xícaras de café, junto com o trabalho de meio período para pagar os livros, junto com o tênis furado e os bolsos vazios.

E em um mero espaço de tempo entre toda a correria que se fez junto aos gritos dos moradores locais tudo se perdeu, nada mais importava, não importa se por um engano eles atingiram seu filho ou a ela, continuaria a ser um engano se eles tivessem acertado outro, seria outra mãe ali em seu lugar, seriam outros sonhos enterrados junto a um corpo, seria outra vida perdida no alto do morro, outro completaria as estatísticas nas folhas de domingo.

Foi se perguntado por um desconhecido, que espreitava tudo por trás de uma coluna de concreto, o que eram sonhos? Justiça? Vida? Enganos?

Ele viu a hora do tiro, não foi um engano, a tal atividade suspeita do tal rapaz era dar ao morador de rua um dos sanduiches que ele vendia na Faculdade. O tal pacote, não era nada. A mãe estava lá do outro lado, como de costume, o esperando descer do ônibus para juntos irem para casa. Ela não viu carros, ela não viu nada a não ser seu filho, caído, jogado e abandonado no chão.

O desconhecido se perguntava o que dava a aqueles homens fardados o poder de se fazer justiceiro, de podar vidas, de escolher e condenar pessoas por sua classe social, por sua cor, por escolhas que não tiveram?

A pena de Morte existe nesse País, ela condena sem julgamento cada um que está fora do círculo, que se encontra fora dos padrões, que por não ter uma escolha encontra um outro caminho, condena as mães, os pais e os filhos, condena os órfãos de um Estado omisso que se esconde atrás de um de sistema excludente.

Feminismo, Filme, Filmes, Homofobia, Preconceito, Resenha, X-MEM

Uma louca analise de X-MEN Apocalipse

xmenapocalypseimaxAssistir X-MEN é sempre interessante, você nunca sabe o que te espera, eu prefiro começar esse texto não sabendo sobre como vou falar do filme. Começo dizendo que essa não era a minha primeira opção, mas a sala que exibiria Warcraft estava quebrada então X-MEN era o que tinha para hoje.

Vou dizer que o filme acabou me fazendo refletir mais sobre como as pessoas são hipócritas do que com o próprio filme, explicarei os motivos que me levaram a essa conclusão em instantes, para não tirar o foco da crítica, aliás se tiver com dinheiro sobrando não assista em 3D principalmente se for no Cinesystem do Shopping Via Brasil no RJ. Aliás essa rede de cinema possui ótimas promoções aproveitem, principalmente com a pessoa amada.

Por falar em pessoa amada, estamos a quatro dias do “Dia dos Namorados” e tinha um casal que iria assistir X-men na mesma sala que eu, e o que tem de anormal nisso? O casal não segurava nas mãos, apenas conversavam juntos, alguns sorrisos, brincadeiras, conversas nerdes sobre o enredo dos outros filmes de heróis que estreariam, mas nada de beijos e nem relação de afeto. Isso é muito estranho!

Imaginem-se nessa situação, você ir assistir um filme que fala basicamente sobre  Lutas contra qualquer tipo de preconceito existente no Mundo e você não poder demonstrar amor com uma pessoa por ela ser do mesmo sexo que você. Realmente é de se dá um nó em qualquer garganta.

A bilheteria de X-MEN alcança milhões de pessoas assim como as Hqs e séries animadas, mas as pessoas ironicamente são impedidas pelos mesmos fãs de demonstrar seu amor em público, de dizer um “eu te amo” de abraçar e se beijar, os dois meninos, que sentaram na mesma fileira que eu e meu irmão acabaram por finalmente se renderem ao amor, no escuro, longe dos olhos julgadores e inquisitórios, seria irônico se não estivéssemos a 53 anos do primeiro lançamento de X-MEN, as pessoas ainda são obrigadas a se esconderem em máscaras para não serem julgadas e condenadas a exclusão por outros que as veem diferentes.

Vamos ao filme meu povo!

Para os amantes de efeitos especiais a FOX não fez lá um trabalho grandioso nível Disney, mas deu para o gasto, o roteiro ao contrário do que eu pensava que seria foi bem elaborado, o que não significa que existiu sentido nele, já que se quebrou completamente a ordem cronológica da história, e se você for um amante da série tanto quanto eu, abstraia de sua mente tudo que sabe e conheceu sobre os X-MEN, sente na cadeira e assista, apenas assista e procure os símbolos comunistas embutidos pelo filme! Sim, possuem muitos, incluindo frases! Aproveite e procure também Stan Lee, quem sabe ele te convoca para a escola de Superdotados!

Alguém que vocês não devem procurar nesse filme é Wolverine, vocês só vão conseguir encontrar Logan e uma breve referência aos dias de seu passado antes de encontrar o professor Xavier.

Aos fãs que tinham alguma ilusão de vestígios da história original do Apocalipse, ou para os íntimos, En Sabah Nur, percam a esperança, não rolou as explicações esperadas para o viajante no tempo convertido em faraó, vulgo mentor de Nur, e muito menos para as primeiras manifestações de poderes do mutante, ao menos deixaram um vestígio de traição, mas sem o traidor.

Aos que sempre se perguntaram como Charles finalmente perderia os cabelos? Eles deram um jeito, no filme existiu um sentido não se preocupe, mas que passou bem longe da história original (a calvície do professor X nada mais é que, consequência de seus poderes). Mas nem só de cabelo vive nosso professor depressivo, Moira também estava presente nessa guerra, sem memória, com um filho e divorciada… ao menos no filme ela não deu “Adeus Charles, preciso de alguém como eu”.

Moira pode até preferir os carecas, mas eu curto os barbudos, nosso amado irlandês Michael Fassbender, o Magneto, agora é pai de família, amoroso e dedicado. (Roteiristas são tão criativos!) Infelizmente sabemos que a vida de Magneto não é fácil e não importa a merda que ele faça você vai querer o abraçar no final.

Já falei dos carecas, barbudos, falta os cabeludos, Alex Summers, o erro vivo (ou não) em continuidade, o Destrutor deveria ser o irmão mais novo de Scott e não o mais velho, mas veja pelo lado positivo o rapaz continua divinamente no vinho, mesmo após dez anos.

Mas se não curtir nenhum desses podem tentar o azuzinho, Noturno, aquela coisinha fofa filho da Mística, aliás isso fica subentendido, é aos que não conhecem a origem de Noturno (e gostaram do que foi dito no filme), não tentem conhecer porque vai bugar o celebro, roteiristas são pessoas malignas com papel e caneta na mão…

Falando em Mística, o que falar da Bela Raven Darkholme, (a personagem é tão maravilhosa quanto a atriz) nossa terrorista preferida que sempre salva o Mundo, seria interessante um filme que contasse a história dela, aliás Raven é Bi e isso explica o futuro envolvimento dela e da Tempestade que ficou subentendido nas cenas finais do filme, isso sim vai ser maneiro.

Se você é Fã da Ororo Munroe, vai ficar feliz, das histórias contadas a que mais coincide com os fatos mencionados na Hq é a dela, já que você verá muitas fases de Tempestade em um único filme, mostrando o quão ruim é a cronologia desse troço, então não se anime muito, só o suficiente para não chorar de raiva ao perceber os erros básicos que qualquer fã descobriria. Dica do dia foque em Nur a chamando de Deusa e fique muito feliz.

Super topo um filme dela com Pantera Negra!!!

Sabem o que eu gostei nesse filme além das mensagens de Comunismo e das mensagens de “seja você mesmo independente do que os outros pensam”? Eu gostei do protagonismo feminino! Tirando Mercúrio fruto de uma rapidinha do Magneto, todas as ações positivas do filme decorrem graças as heroínas e vilãs. O ideal de mulher é a Mística azul, que salvou humanos e mutantes, aquela que Raven tenta sempre esconder.

Mas falando sério agora, tirando “Dias de Um Futuro Esquecido” nenhum desses filmes de fato deveriam fazer parte da franquia, eles não seguem cronologia e muito menos o enredo das histórias originais, sinceramente eu acho desrespeitoso com os fãs que de certa forma cresceram lendo essas Hqs e aprendendo com elas. A impressão que dá é que eles jogam os personagens lucrativos nas histórias, capricham no surrealismo para justificar o gasto nos efeitos especiais.

Agora fiquei até com vontade de falar sobre os X-men! Aguardem!

*AH!!!! Se a pergunta que paira em sua cabeça é se esse filme faz sentido sem os outro? Sim faz sentido, não se sinta obrigado a assistir aos anteriores, porque esse roteiro é praticamente independente, ele possui sentido mesmo não tendo sentido. Mas se quiser assistir, assista aos dois últimos, principalmente ”Dias de Um Futuro Esquecido”.

* Aos que ficaram curiosos recomendo que procure por, “A era do Apocalipse”, vai te deixar com vontade de chorar quando se lembrar do filme, e olha que essa é a aparição dele no Universo Alternativo.

Opinião

Aos vinte….

aos vinte e poucos

Ando meio desligado

Eu nem sinto meus pés no chão

Olho e não vejo nada

Eu só penso se você me quer

( Rita Lee / Arnaldo Baptista / Sérgio Baptista)

 

 

 

 

O tempo realmente é algo muito relativo, o ciclo de vinte quatro horas passa tão rápido que se quer tenho coragem de continuar a olhar o relógio em meu pulso, nunca compreendi essa medida tão irracional de se contar a vida, tenho medo de que no próximo ciclo eu permaneça aqui parada, sem entender, sem me descobrir, sem terminar tantas das muitas coisas que eu prometi a mim mesma…

O eco do relógio, tic tac, parece me dizer o quão tarde está para novas escolhas, tenho medo que tudo tenha sido errado, abandono pela metade tudo que já comecei simplesmente para o desafiar, a impressão de que o tempo não significa nada se enraíza em nossos corações ao mesmo tempo em que o medo que tudo que fizemos não signifique nada.

Aos vinte nos escondemos, corremos, desafiamos o mundo sem nem sair do lugar, o mais importante se torna fincar raízes mesmo sabendo que você não permanecerá ali para sempre, você tem objetivos, quer ser lembrada pelo que você se tornou, o medo do esquecimento nunca pairou em sua mente quanto nessa época, você tem vinte só vinte, mas já depositaram sobre si tantas metas que tudo que deseja é que não caia pelo meio do caminho, mas se cair espera que tenha ao menos um alguém ali do seu lado.

Quando se chega aos vinte, você não compreende metade do mundo, nada é tão simples do que um dia foi aos dez, sua ansiedade dobrou, sua impaciência perante ao mundo se tatuou nos seus pés inquietos, sua mochila de viajem está sempre pronta para novas aventuras, mas você não tem mais tempo, você corre sem nem ao menos sair do lugar, aos vinte você já cansou de tentar ser aquilo que não era, aos vinte metade de você já foi inventada, a outra metade continua te dizendo que falta muito, que tá tudo errado, que é necessário construir algo novo.

Os gritos que ecoavam em sua mente desde que se era criança, não se encontram mais ali, você não os deixa se fazer presente, você encara o mundo por si mesmo pois já cresceu e por isso não os ouve, quando se chega aos vinte você percebe que a pior burrada que se fez, foi se tornar surdo…

Aos vinte você percebe o verdadeiro significado da palavra década, você passa a odiá-la, você diz constantemente que as pressões do mundo caíram sobre você, que sua perfeição na verdade é imperfeição, você se olha mil vezes no espelho antes de sair de casa.

Aos vinte percebemos o quão crianças ainda somos e o peso de nossas responsabilidades, e pela primeira vez em duas décadas você não quis ser adulto. Seu único sonho nesse momento era se deparar com a máquina do tempo, voltar aos anos 2000 e se esconder embaixo da cama dos seus pais…

Aos vinte eu comecei a olhar o relógio não como um inimigo, mas como um aliado, minha rotina atarefada contava os minutos para o fim daquele turno, não conseguia contar as constantes vezes em que rasguei os rótulos de menina boazinha e mesmo assim ainda precisava correr para o colo dos meus pais, como se o tempo nunca tivesse passado.

Quanto se chega as duas décadas você acha que já viveu de tudo e ao mesmo tempo acha que não viveu nada, você percebe suas imperfeições e suas qualidades, você quer jogar tudo para o alto mas tem medo de o fazer, quando se tem vinte anos você percebe que nada é para sempre, você se olha no espelho e percebe o quanto cresceu e que nada disso foi suficiente para se sentir inteiro.

Aos vinte o mundo é pequeno demais para você, existem muitas pessoas, mas nenhuma delas parece te compreender, aos vinte você grita sem soltar um ruído, tudo que você precisa é que alguém te ouça no seu silêncio que diga para não desistir, que se cair vão te apoiar, tudo que você precisa é não estar sozinho no meio da multidão…

Texto de Juliana Marques (publicado no dia 05 de agosto de 2015)

Opinião, Sem categoria

Aos 18 anos

 

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Quando se tem dezoito anos, você pensa que tudo que quer é ganhar o mundo, viajar com uma mochila nas costas, desbravar rotas até então desconhecidas além da casa da sua avó em outro estado, mas ai…, bem ai você descobre que você tem que fazer o vestibular…, fazer uma opção sobre o que você quer ser quando crescer…, alguém sabe o que essa escolha significa?

Quando se tem dezoito anos tudo que você menos quer é se vê preso a uma rotina, você quer sair, namorar, beijar na boca, ir pra festas, ou só sentar no sofá e assistir aos clássicos no telecine, mas as coisas não eram bem assim, tinha que existir esse tal vestibular, que segundo o MUNDO, decidiria o que eu tinha que ser quando crescesse, eu já me sentia crescida, eu já tinha escolhas, eu tinha dezoito anos.

Fala sério, eu queria ser tanta coisa ao mesmo tempo:

Ser modista, mesmo detestando moda.

Ser Gastrônoma, mesmo minha mãe não deixando eu chegar perto das panelas.

Ser matemática, mesmo não lidando muito bem com os números.

Ser engenheira, como eu amo embrenhar entre os fios e peças, mesmo que as vezes, só as vezes eu me perca no meio deles e perca eles no meio da bagunça.

Ser mochileira e me perder no mundo, conhecer mil lugares, dormir olhando pro céu, mesmo sabendo que terei que voltar no dia seguinte…

Queria ser tanta coisa, e mesmo assim aos dezoito anos escolhi ser pedagoga, não me arrependo da escolha, mas não foi uma escolha única, acabei percebendo que queria ser mais coisas do que eu realmente poderia ser, queria ser escritora, psicóloga, roteirista, cronista. Queria fazer minhas escolhas e não deixar ninguém fazer por mim…

Quando se tem dezoito anos você acha que todas as escolhas têm que ser a certa, acabando por não perceber que errar é a coisa mais formidável de nossa existência, quando erramos conhecemos caminhos, conhecemos pessoas, conhecemos o que não queremos!

Quando se erra, estamos derrubando todos os pinos do boliche, estamos vivendo, estamos caindo e correndo ao mesmo tempo, o erro vem junto com todas aquelas emoções contraditórias que não devemos sentir, mas acabamos sentindo:

O medo de não agradar alguém,

A vontade de fugir de uma realidade,

A pressa em ser alguma coisa,

A curiosidade de se alcançar um caminho,

A insistência em apenas querer vencer uma corrida interminável contra a vida.

Não importa o motivo, o erro vai sempre existir, principalmente quando se tem dezoito anos, a vida é tão ambígua que o maior erro dela se torna não errar.

Mas o quê isso tudo tem a ver com o fim da minha graduação? É simples as inúmeras perguntas que fiz entre o primeiro e o oitavo período, me fizeram ter a consciência que eu era completamente inacabada, coisa de Pedagoga…

Quando estava na metade do curso, estava louca para me livrar daquilo tudo, esquecer as paredes cinzas da minha floresta de pedra, mas me lembro que alguém me falou que aquela de longe era a pior sensação, a pior de todas é quando você termina, você termina e aí? O que acontece? O que você vai fazer?

Você se sente perdido, bate um medo inexplicável, um medo de errar e não conseguir fazer metade das coisas que você pensou em fazer ao longo da graduação, você tem medo de se prender, de crescer, de virar adulta finalmente, tem medo da liberdade, tem medo de cair e não ter quem te levante…

E o medo, o mesmo medo de antes da faculdade, o medo que me levou a cursa-la é o mesmo medo que eu sinto quando tudo terminou…

Texto de Juliana Marques (originalmente postado no Meu Inexplicável Mundo em 31/07/2015)