Ansiedade, depressão, Minhas Crônicas

Sangrando

Dedico esse texto aos corações que se sentem desalinhados, que se sentem usados e observados, que deixam cair pelo caminho tudo que é desimportante e que não conseguem olhar para o passado sem se machucar.

Constantemente sangro por coisas que não entendo, eu quero gritar, mas minha voz não saí, minhas mãos tremem, meu coração dispara, o choro se entala na minha garganta e dificulta minha respiração.

Me sinto em uma rua deserta, com luzes apagadas de forma permanente, não há barulho, não há esperança, sinto um silêncio muito maior dentro de mim do que do lado de fora. 

Me sinto viciado nessa sensação, não que eu goste, mas não sei viver de outra forma, não sei não me proteger do mundo, é como se a todo instante alguém pudesse ascender as luzes e iluminar meus defeitos, me interrogando, me questionando, me apontando. 

Tudo dentro de mim parece desencaixado eu respondo sim, mesmo quando quero dizer não, eu faço graça, engulo meu choro e sorrio, propositalmente é mais fácil fingir ser quem eu não sou, do que deixar perceberem o quão perdido estou. 

Tropeço nos meus pés, sinto um incômodo no joelho, o choro por vezes escapa, procuro por abraços mas não há ninguém, parece que fugi durante tanto tempo que agora não há ninguém.

O escuro tão incômodo e silencioso me ajuda a sobreviver e a me camuflar, ajuda a esconder toda a dor que eu finjo não sentir, enquanto respondo de forma atravessada todas as perguntas incômodas…

Não sei se iriam entender toda a confusão que me tornei, não sei nada sobre mim, não sei o que quero e tenho medo do desconhecido, mas eu queria não estar sozinho, queria confiar nas minhas certezas. 

Não sei viver sem essa dor, não sei amar sem me machucar.

Talvez a culpa seja minha, talvez a culpa seja do outro, só sei que viver é como morrer um pouquinho a cada instante, e ninguém parece se importar com o quanto eu morro, com o quanto de mim se perde pelo meio do caminho. 

Costumo sonhar acordado enquanto tropeço em uma realidade que parece não me pertencer.

Queria que enxergassem meu pranto, ouvissem meu silêncio e alimentassem meus sonhos, mais do que os meus medos. É, eu tenho muitos medos, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo de não acordar, tenho medo que não me escutem e que tudo que faço se torne indiferente. 

Ainda não me acham quebrado, me olham e enxergam uma peça perfeita, completamente útil e disponível, às vezes eu queria que não me enxergassem, talvez eu finja bem, porque eu não me sinto assim.

Me sinto desalinhado com o mundo, mas se precisam de mim, eles me usam e alinham conforme suas necessidades, tenho medo de não ser mais útil e de me tornar descartável. 

Eu não enxergo nada além dos meus pés, o ar é rarefeito, cruel, machuca meu peito, quanto mais eu penso e tento descobrir o que me falta, mas me falta ar. 

Queria não ter encontrado tantas portas fechadas. Queria tentar buscar por ajuda da forma correta, de forma que me entendessem. 

Eu deixei tudo desarrumado para trás, fugi do que me dava medo e abandonei tudo que achei impossível, e ainda assim, tudo permaneceu ali.

Estava tudo jogado no tempo, uma bagunça repleta de entulhos, eu queria ter forças para arrumar sozinho, só que eu não sabia por onde começar, eram caixas e caixas, algumas pesadas e outras leves que eu tentei entender como pude deixar para trás. 

Me machuquei enquanto tentava desentulhar tudo aquilo, quis desistir, não queria estar sozinho. O choro que saiu era diferente, parecia descomprimir tudo que eu sentia e nunca tinha entendido. A dor era diferente, o medo parecia ter sentido, e tudo era barulhento demais para ser despercebido. 

Cronicas 24/25

Tente (me) amar…

Tente passar pelo o que estou passando
Tente apagar este teu novo engano

(Hildmar Diniz / Alcides Dias Lopes)

Para todos os adultos que se sentem tão perdidos quanto uma criança brincando nas areias de um grande deserto. Baby, se ame.

O céu era um grande deserto quando estávamos juntos. Era frio e imprevisível, tal qual uma grande tempestade de areia. Eu que geralmente era tão improvável e inalcançável me perdi em tudo que você representava. 

Talvez essa armadilha tenha sido criada por mim e não por você. 

Eu ansiava por sentir tudo que você podia me proporcionar, te idealizei antes mesmo de chegar.

Suas mãos tão caridosas desvendaram meu corpo com certa arrogância, aparentemente eu não parecia merecer seu cuidado. E isso me causou estranheza, logo você que sempre deu afago e afeto para desconhecidos, que usava as mãos como instrumento de cuidado, me causava dores que nem sempre eram físicas. 

Você gostava disso.

Nunca fui um céu perfeito, mesmo quando você contava as estrelas no meu corpo eu não era perfeito, você deixava isso claro, quando estávamos juntos eu também pensava sobre isso. 

Sua voz era como um martelo em uma casa vazia.

Você roubava todas as minhas palavras e me fazia sentir uma culpa que eu não conhecia. Era como mergulhar em um poço de areia e tentar sair, eu duvidava de todas as coisas que eu queria ser e ficaram entaladas na minha garganta. 

Eu tentei pedir ajuda e lidar com o que eu sentia, mas ninguém parecia me entender.

Me lembro vagamente de quando você não existia na minha vida e de como ser dessa forma me bastava. Depois de você, tudo que restou era uma dúvida constante sobre ser ou não suficiente, eu não conseguia mais caber nos lugares e um vazio estranho parecia me acompanhar, lembrando sempre de como eu era desencaixado no mundo.

Uma peça defeituosa e inacabada. 

Eu me sentia preso mesmo quando as portas estavam abertas, não conseguia falar ou respirar normalmente. Constantemente você brincava que eu era uma contradição estranha e inadequada ao mundo, alguém que atravessou o seu caminho no acaso. Me apresentou dessa forma, como um acaso na sua vida. 

Eu me culpava por todos os acasos que você havia me tornado, me perguntava se ser um acaso tão inadequado era tão ruim assim?

Eu te amava e te amar ainda dói. Ainda machuca, ainda me destrói, droga eu ainda sinto saudades. 

Eu ainda sinto saudades de todas as vezes que você brincava com suas pernas por cima de mim, me abraçando e falando ao pé do meu ouvido que me amava. Eu sabia que era mentira, mas eu gostava, ainda gosto.

Mentiras sempre me acalmavam. 

Ainda dói todas as vezes que você riu enquanto eu tentava alcançar seus lábios. Era como se eu só pudesse te ter, quando você quisesse se tornar acessível a mim. Você nunca escondeu isso de ninguém…

Eu me sentia exposto.

meus sentimentos sempre estavam no lado mais raso do rio, a sua mercê. 

Eu sempre achei que o que tivemos era mais do que um acaso, que só o meu amor bastava, mas não era… Acho que eu era viciado nessa sensação de querer me sentir parte de algo.

Não foi você que me fez sentir desencaixado, eu sempre me senti assim, era por isso que eu era muitos, mesmo sendo único.

Era uma forma de me proteger.

Eu aceitava seus lábios me contando em versos sem rima, todas as suas aventuras, enquanto me fazia sentir coisas inimagináveis, eu queria que todas elas fossem coisas boas. Eu me convenci a aceitar que isso era o que me bastava para movimentar o meu mundo, como se você fosse me fazer uma peça perfeitamente encaixável em qualquer lugar. 

Eu menti, menti para mim mesmo, nunca vou ser um encaixe perfeito. Nunca!

Eu menti quando disse que gostava do gosto do seu cigarro, das músicas que você ouvia e da comida congelada que você comprava. Eu menti sobre muitas coisas, mas não menti quando disse que te amava. 

Na verdade, talvez eu ame a ideia de que você é um bom mentiroso, que mentiu que me amava.

Amor, Cronicas 24/25

Amava?

Para todas as pessoas que já se viram presas em algo que chamavam de amor…

Quando a gente tava junto, você só vacilava, ah
E agora tá ligando essa hora pra dizer que me amava

Amava porra nenhuma, deixa de onda
Para com isso, não vai me enganar

(Dennis / Gabriel Cantini / Gabriel de Ângelo / Xamã)

Me chamou de “meu amor” no primeiro encontro. 

Falamos de tudo: dos planos, do passado, do presente e do futuro.

Talvez esse tenha sido o erro, te contei quem eu era, antes de realmente te conhecer.

Mas o que eu tinha a perder?

Você pediu para pagar a conta, e eu deixei. 

Escondeu algo no bolso e eu não reparei. 

Nos atrasamos no almoço, 

Trocamos telefones e salvamos nossos nomes.

Prometeu que tudo iria dar certo, eu acreditei.


Trocamos mensagens e declarações. 

Tudo era tão palpável que eu me apaixonei. 

Esperava ansiosamente por todos os plantões, corredores e escadas. 

Essa era minha certeza e mais nada. 


Era sábado…

Revirei a bolsa e encontrei  um papel, com uma declaração por escrito.

Botei o meu batom, salto alto e um vestido bonito. 

Mandei o horário e você não viu.

Te esperei para jantar e você não apareceu. 

Eu liguei, mas estava desligado.

Algo parecia muito errado.

Não vi que tudo aconteceu rápido demais. 

Eu não entendi os seus sinais. 


Sequei as minhas lágrimas e fui dormir, 

Acordei com uma mensagem avisando de um plantão. 

Alguma coisa me dizia que “não”.

Pediu desculpas, e eu não aceitei.

Você apareceu me trazendo flores.

Me pediu perdão e queria entrar,

Eu disse que não, você insistiu. 

Empurrei e você persistiu. 

O telefone caiu e você não viu.

Ele tocou e você não atendeu. 

No visor apareceu um “Meu Amor”, e esse “amor” não era eu. 

Descobri o que você escondia. 

Eu era o seu plantão, você mentia. 

Não tinha como ficar: gritei, te empurrei e me tranquei.


Mandei mensagem te chamando de covarde.

Te bloquei, apaguei todas as mensagens. 

Troquei o meu horário, mas não adiantou, no final daquele dia, você me encontrou.

Falou que era engano. 

Que já estava tudo acabado, que não tinha feito nada errado. 

E eu? Eu respirei, senti saudades e acreditei. 


Veio pra minha casa, deitou no meu sofá, disse que me amava e que iria ficar. 

Não me perguntou se eu estava disposta a te abrigar. 

Foi tudo tão abrupto que eu não conseguia acompanhar.

Um belo dia, limpou o meu batom, e eu estranhei. 

Depois disse que a roupa era curta, e tudo bem, tirei..

Me pediu o telefone, primeiro eu disse não, mas depois eu desbloquei…


Foi tudo muito rápido. 

Eu troquei minha roupa, 

não tomei minha bebida, 

comecei a escolher minhas palavras, descontava na comida, 

Não me reconhecia…

Mal percebi que havia algo muito errado, 

Será que estava me cansando de ficar do seu lado?

Emendei os plantões para não te encontrar, 

Dormia até mais tarde, para não conversar. 

Fiquei tentando entender onde tudo começou, o que aconteceu, o que desencaixou?


Tentei encontrar em você uma resposta. 

Eu não sabia o quanto de mim ainda restava.

O que sobraria de mim se você fosse embora.

Então não me fiz a pergunta que me entalava. 

Fiquei com medo de descobrir a resposta para o que me faltava. 

Apenas aceitei que era melhor te deixar ficar, enquanto eu me calava.

Afinal, já estava acostumada.


No meu aniversário você me fez promessas.

Eu não acreditei, mas ainda sim sorri, aceitei o presente, comi a comida e depois virei para o lado e fui dormir. 

Você me acordou no meio da noite, me beijou, e disse que me amava.

Pediu desculpas, por algo que eu nem lembrava. 

Começou a falar alto, enquanto também me culpava.

Nós brigamos, não foi a primeira vez. 

Me perguntei enquanto lavava o rosto e enxugava meu pranto: “O  que eu estava esperando?”

Você virou para o lado e voltou a dormir, eu fiquei acordada te xingando e querendo sumir.

 Quando você saiu eu me levantei, arrumei suas coisas.

Joguei as flores fora, queria ir embora.

Mas a casa era minha, você que caía fora.

Tirei os lençóis da cama, 

Deixei suas coisas na portaria, 

Troquei a fechadura, te avisei para não voltar. 

Mas você tentou, tentou insistentemente. 

Até que desistiu de tentar me convencer que me amava, que eu só o seu amor me bastava. 

Eu não sei o que me fez levantar, mas eu levantei. 

Vesti minha roupa, não troquei o meu horário, o meu andar ou o corredor.

Não desviei o meu olhar quando você passava.

Quanto mais eu te ignorava, mais eu me reencontrava. 

Ansiedade, Crônica, Cronicas 24/25, silêncio

Quando o carnaval passar…

Para todos aqueles que criam um outro “eu” para se protegerem das tempestades, eu sei que ai dentro é vazio e parece que ninguém entende, respira, tem sempre alguém que vai te reconhecer no meio da tempestade e abrigar teu coração em meio a um abraço acolhedor.

Quando o carnaval passar

Vamos dançar

qualquer coisa é melhor que tristeza

(Cícero – Laiá Laiá / Canções de Apartamento)

A purpurina se espalhou com tamanha facilidade, as serpentinas estavam por todo canto, as músicas saiam automaticamente enquanto você reconhecia outras línguas, mas estranhamente se sentiu vazio, as pernas se cansaram, se sentou no chão, tudo rodou, não conseguia sorrir, ninguém pareceu ligar, o bloco seguiu e você ficou. 

Ficou… 

O vazio parecia ecoar mais forte…

Doía o ouvido, a cabeça rodava, algo se entalava na garganta, um cheiro amargo incendiava suas narinas.

Ninguém parecia sentir aquilo…

Se sentiu deslocado, machucado, magoado. 

Queria entender o que faltava dentro de si. 

Tentou se levantar e caminhar, mas tudo parecia rápido demais, respirou como se seu mundo dependesse disso, mas algo dentro de si desencaixou, foi um desencaixe barulhento mas ainda assim oculto por todo barulho da cidade.

Um choro amargurado surgiu, os soluços saíam em meio a tempestade que parecia cair sobre você, era vazio mesmo com tanta gente ali, a purpurina escorria misturando-se ao suor, quis fugir, mas não conseguia saber como voltar.

Se sentiu perdido.

Os olhos pareciam não acompanhar toda aquela movimentação.

Atravessou a avenida colorida, tropeçou nas garrafas espalhadas, caiu entre os papéis coloridos.

Se machucou mais do que já estava machucado.

Não havia sangue ou algo que foi ralado, mas doía, doía tanto que a dor te guiou sem nem perceber, mesmo não reconhecendo o caminho, você chegou.

A porta parecia aberta, como se alguém tivesse abandonado o lugar às pressas.

Não reconheceu o lugar que deixou, mesmo que o endereço fosse o mesmo, mesmo que nada parecesse ter sumido.

Estava tudo fora do lugar, empoeirado, as certezas escondidas pareciam ainda mais escondidas dentro dos armários bagunçados. 

Sentiu o cheiro da saudade de um tempo que não voltava, comprimiu o ar, encolheu o corpo, sentiu frio.

Arrepiou a coluna, mordeu os lábios, engoliu as lágrimas. 

Não se lembrou da bagunça, não se lembrava de nada, o vazio aumentava, o choro ganhava força em meio ao silêncio que ecoava ali.

Era vazio, frio e silencioso, seus pensamentos pareciam dar eco.

Uma mistura de medo e agonia apoderou-se de você.

Tentou fechar os olhos, mas descobriu o medo de escuro e de toda a solidão ali representada. 

Tentou caminhar devagar entre os destroços, paralisou se dando conta de que não conseguia sozinho, era impossível se reconhecer ali, quis gritar, se desesperou, tudo estava diferente.

Se olhou no espelho, não reconheceu o reflexo ali, a dor aumentou, o vazio ecou e o espelho se quebrou. 

Eram tantos de você, ali espalhados naquele chão frio que você se escondeu. 

Tropeçou.

Se machucou.

Gritou.

Tentou se levantar e se perdeu em si mesmo, nas lembranças, nos sorrisos em lágrimas.

Lembrava-se vagamente que nas primeiras vezes tentou falar o que sentia, mas não foi suficiente, te pediram sorrisos e você sorriu, pediram para ficar e você ficou, te pediram para ser quem não era, e você fez. 

No começo não fazia tanta diferença, mas depois começou a caminhar no automático, respirou a fumaça dos seus sonhos incendiados entre as palavras não ditas e as lágrimas que secaram antes de cair. 

Você seguia por linhas retas mesmo que quisesse fazer curvas.

Seguia por caminhos conhecidos para não desconfiarem do que restou de si, para se proteger e manter aquela parte desconhecida protegida de tudo.

Mas não deu certo, você brincou durante tanto tempo de pique esconde com si mesmo que não se reconhecia, não entendia o choro, não conseguia guardar os sentimentos nos lugares, não acompanhava os próprios passos porque não tinha para onde ir ou para o que voltar, era como se embriagar na incerteza de nunca ser quem deveria ser. 

Não havia jeito de voltar a ser o que era e a você bastava apenas ser quem realmente era.

Ansiedade, Cronicas 24/25, silêncio

Suficiente

Eu ainda não entendi muito bem como a morte do Liam bateu em mim, não era fã da banda, não acompanhei a carreira solo, eu seguia umas páginas de fãs, mas era só isso. De alguma forma a morte me pegou de um jeito diferente do habitual e isso foi muito estranho, talvez eu esteja ficando velha demais para olhar para o mundo da mesma forma e dizer “tá tudo bem”.

Quanto mais eu curtia coisas sobre ele, mais apareciam, então mesmo que eu não soubesse nada sobre suas relações, amigos, ou do tempo de banda, agora eu literalmente estou inundada de informações que não me fazem bem.  

Eu sou uma pessoa que apesar de bem racional, consigo ser sensível à dor dos outros e perceber que esse rapaz se doava tanto e tinha tantas dores é algo complicado de assimilar. Meu pensamento mais irracional do dia foi: “Caraca, alguém podia ter aparecido, será que ele sabia que era tão amado?”

Dedico esse texto aos corações que sentem e se doam demais, que precisam gritar para serem ouvidos… vocês foram suficientes e necessários…


De repente tudo desabou, 

não houve um único aviso de que as paredes iriam ruir. 

Eu realmente queria receber um aviso sobre isso, foram tantos dias de paz, foram realmente bons, pude respirar sem engasgar com todos os meus pensamentos. 

Às vezes me pergunto o quão fraco eu fui, eu não corri quando percebi que tudo desabaria, eu não gritei alto suficiente por socorro, será que alguém realmente ouviu? Será que se ouvissem viriam me socorrer? Eu não sei, nada parece fazer sentido no momento, eu desabei junto com essas paredes e agora só posso esperar pelo fim. 

Não queria que o meu mundo fosse um grande álbum de fotografia, onde reviro as páginas e percebo mudanças em todos menos em mim. Eu passei a colecionar sorrisos, que não eram meus. 

Eu me importo demais, me importo com o tamanho dos sorrisos, com o aperto do abraço, com as palavras soltas, eu queria não ser egoísta, mas eu queria que houvessem feito o mesmo por mim. Queria saber gritar na direção certa, queria entender como o mundo funciona, queria não me sentir como me sinto, queria não ter confiado tanto e ter dito mais não do que sim, eu não me arrependo, eu tentei, eu acho que tentei…

Não acho que o mundo é justo, me desculpem mas não acho. Acho que eu vivi bons momentos com pessoas boas, durante um tempo as fazer sorrir me bastava para ter felicidade, mas depois passou a não ser suficiente, tudo parecia doer demais, fazer sorrir era tudo que me restava para ser visto. Ainda não sei se isso foi suficiente para ser lembrado, mas foi suficiente para me fazer dormir. 

Queria ter lido todos os livros da minha estante, ou ter ligado para todos que me falaram “eu te amo”, queria que a sensação de que tudo ficaria no lugar fosse verdadeira, mas ela durou tão pouco que me sinto preso dentro da minha cabeça, dentro de todas as expectativas que eu quebrei, não sei de devo me desculpar, não sei se me sinto culpado, eu não sei de nada.

Não entendo porque a paz não pode durar por mais tempo, por qual motivo tudo não pode ficar como era antes. Eu nunca fiz o suficiente para evitar que tudo desabasse, talvez eu realmente fosse fraco, talvez eu devesse parar de tentar ser suficiente, talvez eu devesse me conformar com tudo que o mundo me oferece, mesmo sendo tão pouco. Será que eu não mereço sorrir por conta própria? Será que tudo que me basta é tão pouco? 

Antes de tudo ruir eu senti o cheiro do cimento misturado a água e um vazio alcançou meu peito, era o início de tudo que eu nunca terminei. Eu detesto que tudo tenha que ser tão melancólico, mas eu realmente sinto falta de tudo que um dia eu fui. 

Mesmo quando me falam que eu continuo o mesmo, eu não acredito, não posso acreditar, o mundo mudou, as pessoas mudaram, nada ficou no lugar, incluindo meus pensamentos, meus sonhos e meus medos, tudo se intensificou. 

Eu queria alcançar a lua e conquistar o mundo, um dia eu realmente achei que isso seria possível, eu queria parar guerras e fazer lágrimas se transformarem em sorrisos, sério, pode parecer infantil, mas eu sempre quis ser lembrado por tudo que fiz, não importa se tudo desabar, mesmo não tendo conquistado planetas, alcançado a lua ou desarmado o mundo, pelo menos consegui secar algumas lágrimas. Isso agora parece bem pouco. 

Ouvi o primeiro “crec”, o segundo, e o terceiro, foi rápido, certeiro, tudo veio a baixo, senti que meu coração parou, ficou escuro, foi difícil respirar. Não me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu, mas toda vez que acontece parece que fica mais forte e mais difícil de levantar, sempre acho que vai ser a última vez. 

Quanto mais eu me afundava, mais eu desacreditava de mim mesmo e acreditava nas coisas que diziam sobre mim. Os sorrisos já não me bastavam, os abraços me faltavam e tudo que queria era me esconder; 

Eu não deveria estar aqui, não deveria sorrir ou me aproveitar desse lugar. 

Eu não queria ouvir, eu quero me desculpar por toda preocupação causada, pelas ligações não atendidas, por todo o silêncio causado, eu queria me desculpar por tudo que eu quis ser e não fui.

Eu não consigo acreditar quando dizem que sou bom, que sou realmente bom, porque tudo que ecoa, é que não sou suficiente. Eu constantemente me pergunto por qual motivo insisto. 

Quando tudo fica escuro, quando todas as paredes parecem pesadas demais eu me esforço para escutar, para procurar o mínimo sussurro de “eu te amo”, para sentir os abraços e enxergar os sorrisos, e isso me basta, não sei por quanto tempo, mas me basta. 

**Eu escrevi esse texto ouvindo One Direction, eu nunca ouvi de forma consciente essa banda…

Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Saúde

Dissociar

dissociar

desfazer uma associação; desunir(-se), separar(-se), dissolver(-se)…

Ao contrário de todas as outras vezes, dessa vez eu sei por qual motivo escrevo e para quem escrevo. Eu nunca acompanhei a banda One Direction, mas quando eu soube do falecimento do Liam Payne e vi as famosas homenagens, isso me afetou de alguma forma, nós tínhamos quase a mesma idade e mesmo eu não o acompanhando não consegui não me importar. 

Para todos que já se perderam de alguém que precisava ser encontrado…

Eu não me lembro quando você começou a gritar, quando suas lágrimas caíram pela primeira vez ou quando seu sorriso tão expansivo começou a se fechar. Eu me lembro do seu abraço apertado e de como você me acalmava em silêncio, mesmo quando tudo que eu queria era solidão.

Você sempre foi melhor lidando com dores, seu abraço sempre foi abrigo, suas palavras acalento, sua companhia sempre foi calmaria, você que sempre dizia o que sentia, repentinamente tinha ficado em silêncio antes mesmo de todo nosso mundo escurecer, não vai ter abraço, acalento e calmaria, tudo que vai ter é um silêncio ensurdecedor e soluçante. 

Eu queria ter te olhado da mesma forma como você sempre me olhou, queria ter percebido suas fugas, queria ter entendido o quão fragmentado você se fez para atender a tantas expectativas, eu queria ter te conhecido por inteiro, você se partiu em tantos para se proteger, separou seu tempo, seus limites, criou uma persona que aparecia sempre que preciso para te proteger de si mesmo, até que tudo se quebrou e você não voltou, nenhuma parte sua voltou… 

É tão desesperador que me sinto egoísta, eu te conhecia, sabia seus gostos, seu ritmo, suas manias, mas ainda assim não consigo pensar no que não conhecia você tão bem assim. Não me lembro quando suas pausas em nossas conversas começaram a ficar muito longas, você parecia pensar na vida, em uma vida que não tinha mais volta. Mas eu agora também queria que voltasse. 

Talvez eu tenha sido negligente, talvez eu tenha pensado que tudo era reflexo da nossa vida corrida e da nossa falta de tempo, talvez eu esteja tentando me enganar e sanar a culpa que eu sinto. São tantas alternativas que me sinto impotente, afinal não adianta pensar em tudo que nunca aconteceu, em algum momento eu me perdi de você, perdi seu choro, sua angústia, seu pedido de socorro. 

Eu fecho meus olhos e penso em tudo que passou na sua mente naquele momento, refaço seus passos milimetricamente; eu choro, sorrio e me culpo, é um loop que passou a me atormentar, você não me disse nada quando perguntei. Desculpa se parece que estou te culpando, mas você não disse e eu não soube interpretar seu silêncio, suas pausas e sua constante saudade. 

Eu me sinto culpado, e talvez tudo que eu faça seja para aliviar minha culpa, se tivesse te encontrado, ficado ao seu lado, te abraçado até tudo ficar bem, se eu soubesse te entender, como você me entendeu, talvez você ainda estivesse aqui.

Tudo que sinto agora é essa angústia que esmaga meu peito, é um acúmulo que dilacera o que sinto e me deixa sem saber como reagir. Eu fico pensando em como você estava, como se sentiu, se queria conversar, eu não consigo parar de pensar em tudo que eu sempre quis te dizer e nunca falei. 

A dor que sinto é dilacerante e parece retirar cada órgão do lugar, queima, confunde e se espalhar, tudo que resta são as lágrimas, é um choro que deixa de ser contido, que busca por consolo, que busca migalhas de entendimento, que busca respostas, respostas que nós sabemos que eu não terei. Eu me pergunto se essa dor que sinto chega perto da dor que você sentiu, se eu te fiz sentir algo parecido, se você me perdoou por tudo que eu deveria ter sido e não fui. 

Você partiu tantas vezes e de tantas formas que eu não acreditei que você realmente iria embora algum dia, deveria ter sido mais atento, ter te olhado como tantas vezes você me olhou, eu queria não ter que me despedir, não ter que acordar, não ter que dizer adeus ou acreditar que nosso último abraço foi tão rápido, que o até logo foi para sempre, que tudo se foi como o vento. 

Eu não me lembro a última vez que eu ouvi sua voz, não me me lembro quando escutei seu riso pela última vez, não me lembro se eu disse tudo que sentia sobre você, não sei se te agradeci por tudo que você fez, não sei se te abracei por tempo suficiente para que soubesse o quanto foi amado. 

Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão

Doce ou atroz

Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz
Eu, caçador de mim

(Luiz Carlos Sá / Sérgio Magrão)

Aos que sentem aquela sensação tão infame de casa cheia e coração vazio, deixo meu abraço, meu afeto e meu silêncio para que tudo fique bem….

Constantemente me faço uma pergunta, “o que me machuca?”, e não tenho uma resposta, não é como se eu fosse um super herói ou algo assim, na verdade estou bem longe disso, busco todos os dias por algo ou alguém que me salve. Não sei o que me machuca e nem como me machuca, e isso me faz viver em constante ansiedade esperando a próxima vez que uma agulha afiada irá perfurar minha pele. 

Vivo constantemente esperando por uma solução que a cada dia parece mais distante, sempre foi assim, desde pequeno meu choro sempre foi inexplicável, era mais fácil dizer que o joelho estava machucado do que tentar explicar a verdadeira razão do choro engasgado diante a tantos olhares que não me compreendiam, sempre foi complicado, só que antes era mais fácil criar desculpas. 

Fui crescendo, as desculpas acabando e a dor aumentando de forma tão escalonada que não conseguia me controlar, me machuco muito fácil, no início ninguém percebe, só percebem quando não dá mais para controlar, quando menos espero uma súbita dor atravessa o meu corpo, é como se um copo estivesse quebrado e eu pisasse nos estilhaços sem perceber, eu sou um desastre, por onde passo deixo as marcas da minha destruição, o sangue se espalha, são marcas difíceis de limpar e isso é perverso demais, se eu olho para trás eu ainda às encontro, me lembrando do tamanho da minha imperfeição. 

É fácil de me machucar, às vezes uma fala errada, um obrigado inexistente, um adeus que aconteceu rápido demais ou um até logo que nunca voltou, tudo e todos parecem como uma faca apontada para mim, pronta para vir em minha direção a cada falha. Eu não sei lidar com as minhas falhas, é como se tudo sempre fosse culpa minha, se não ficaram era porque eu não fui interessante ou suficiente, se não agradeceram é porque não fui essencial, se não se despediram é porque não farei falta, e assim por diante…

É sempre assim, não consigo me afastar dos gatilhos que me fazem sentir o que sinto, eu fico, eu simplesmente fico até não conseguir controlar tudo que sinto, até tudo transbordar de maneira irremediável, não queria ser assim, queria entender os motivos de as vezes parecer que faço de propósito, que insisto de propósito, que espero… Eu sempre espero, espero impacientemente por algo que não vou ter, que não vai voltar e que não vou tocar. Minhas mãos tremem a cada constatação das minhas certezas, eu não vou ter, mas ainda assim espero. 

Não queria ser assim, não queria ter que lidar com algo que não sei explicar, eu não sei explicar por qual motivo o mundo parece parar de girar toda vez que essa agulha perfura meu peito sem aviso prévio, ou por qual motivo parece que ela rouba meu ar e retira toda minha força, é solitário, ninguém parece ligar para essa dor que corta meu corpo. 

Por mais que eu procure pelo sangue eu não o encontro, não é algo físico, não existe machucado e eu sequer consigo enxergar essa agulha, mas ela existe, eu sinto o metal gélido no meu peito, é realmente frio, tão frio que sinto minhas mãos tremerem e meu peito comprimir enquanto busco abrigo em algum lugar seguro, longe de todo o barulho que faz minha mente se perder.

Eu busco na solidão o silêncio necessário para fazer a dor passar, mas não adianta, ela permanece, consigo sentir o cheiro do sangue, um cheiro enjoativo que me confunde e me causa ânsia, sinto nojo, confusão e medo, é como se todo e qualquer toque arrancasse um pedaço de mim, e fosse me causar ainda mais dor. Algo fica preso em minha garganta, me impede de gritar, de falar ou colocar para fora tudo que tá preso, é desesperador e sufocante, por um instante é como se alguém segurasse meu rosto com as mãos frias e tapasse todas as saídas de ar, eu tento sair daquele lugar frio, me desvencilhar do aperto inexistente que comprime meu corpo, mas não consigo, meus olhos não enxergam nada além de caos e desespero.

Meu corpo parece pegajoso demais para ser tocado, minhas mãos ficam frias, minha respiração ofegante, sinto repulsa por todos os olhares que podem me alcançar nesse momento, mas ainda assim eu sinto mais medo de não me encontrarem, de não me procurarem, de ficar ali perdido em meio a toda aquela dor que corta toda minha existência e que não consigo expelir para fora. 

Realmente não quero ser tocado nesse momento, mas ainda assim, por instantes eu desejo que alguém fique por perto, que me segure enquanto sangra toda minha dor, que não me deixe quebrar, mais do que já estou quebrado. 

É tão desesperador sentir o que sinto que às vezes faço graça em meio ao desespero, nada parece ser real o suficiente, não existe agulha, não existe sangue e possivelmente não existe frio, mesmo que eu sinta tudo isso, para todos é como se nada existisse realmente, é como se minha mente me pregasse uma peça toda vez que tudo parece ficar bem, é como se ela me lembrasse de tempos em tempos que se sentir feliz não é algo para mim, e mesmo eu não me lembrando de nada que eu possa ter feito de tão errado, ainda assim eu me sinto culpado.

A culpa vem logo depois que essa agulha saí, e toda vez que ela sai parece que causa ainda mais dor, é como se a arrancasse de forma tão brusca que leva junto minhas entranhas, e tudo que consigo fazer é tentar segurar a todo custo meu peito no lugar, junto com os soluços que me tiram do chão, dói, dói de uma forma inimaginável e mesmo que só eu saiba da existência dessa agulha, ainda assim dói e eu me sinto culpado. 

É uma culpa incontrolável por não saber explicar como que me coloquei nessa situação, eu não sei explicar o que sinto, o que me machuca ou o que quero, não sei, as vezes me pergunto por qual motivo respirar para mim se torna tão mais complicado, porque tudo na minha vida vem acompanhado de cheiro de saudade. 

Meu tempo parece tão escasso quanto o meu direito de viver sem dor, eu queria parar os segundos e devolver a agulha que insistentemente perfura meu peito para o relógio, eu queria que ele girasse sem me danificar, sem me fazer olhar para trás e observar todo o tempo que passou sem que eu conseguisse realmente viver, sem me fazer encarar todas as marcas que deixei, eu queria não ter que viver de forma tão rápida e poder apreciar cada acontecimento sem ser obrigado a sentir tudo a todo instante. 

Parece que tudo é tão fragmentado que não tenho tempo para saber de nada, tudo acontece muito rápido, quando eu pisco o mundo já se transformou e eu permaneci aqui olhando os ponteiros enquanto me fazem sangrar. 

Eu

Realmente

Queria… 

Ansiedade, Cronicas 24/25, depressão, silêncio

Certezas incertas

Eu escrevo sobre pessoas e silêncios, eu não sei para quem escrevo, mas fique bem. Que Gonzaguinha possa nos inspirar a seguir a vida, provando seus sabores, docês ou amargos…

Eu não sei quando começou, mas não sei se quero descobrir, não sei de muita coisa a muito tempo, é tudo muito confuso dentro de mim, não entendo como todas as minhas certezas se converteram tão rápido em dúvidas capazes de me tirar do chão e me arrancarem o sono… 

Não foi repentinamente, sei que não foi, mas eu conseguia esconder tão bem, conseguia ignorar tudo aquilo que me incomodava, conseguia esconder tudo que eu sentia, conseguia criar justificativas que aquietavam meu coração quando alguém me decepcionava, mas agora, agora parece que tudo transbordou de uma forma que eu não consigo explicar. 

A angústia e a incerteza tomaram conta de tudo em mim, minhas ações tão rotineiras passaram a me atormentar, passei a repassar cada passo do meu dia durante a noite. Eu tentava entender o que poderia ser feito para que aquela dor passasse, para que o sentimento de “faltar algo” fosse logo embora, mas nada adiantava. 

Nunca fui assim, sempre foi tão mais fácil separar tudo e colocar em caixas, eu nunca precisei de explicações e nunca me senti obrigado a dar explicações, mas de repente tudo pareceu desencaixar, e tudo ficou uma bagunça, eram sentimentos complicados, coisas que eu nunca precisei lidar agora pareciam me incomodar. 

Eu nunca precisei apagar o que eu sentia por conta de ninguém, mas agora não sabia lidar com tantos olhares, com tantos apontamentos, mesmo que eu parecesse certo, mesmo que minha verdade fosse algo tão lúcido, ainda assim, agora tudo parecia dúvida, e eu não conseguia lidar com aquela angústia que surgia sempre que algo por menor que fosse surgisse dentro de mim para me questionar.

As vezes realmente agradeço por não ligarem, mas outras vezes eu penso que seria tão melhor se perguntassem sinceramente o que acontece aqui dentro, sei lá, eu só queria ter uma resposta, eu só queria que alguém ficasse ao meu lado até eu finalmente ter essa resposta. 

Mas não acontecia, e eu precisava seguir sozinho, seguir meu caminho e me concentrar em meu silêncio, ir e voltar de lugares antes tão conhecidos começava a se tornar uma tarefa difícil, um medo surgia no meio do caminho e eu não conseguia me livrar dele até finalmente voltar para casa, era como respirar uma fumaça sufocante e ainda assim ter que continuar até encontrar uma saída.

Eu juro que não sei quando começou, mas tudo parecia sem graça e meu peito doía só de me imaginar ali, repetindo insistentemente algo que eu não queria, era como ser um robô, eu não me reconhecia ali, mas era incapaz de sair. Eu até queria fugir, me esconder como quando era criança, não entendo como começou, mas era como entrar em um transe e fazer tudo no automático, era como criar uma outra pessoa. 

Era como me travestir de medos para sair de casa, parecia que todos me conheciam, mas ninguém realmente sabia algo sobre mim, não sabiam meus gostos, meus medos e meus sonhos, tudo em mim é confusão mas ninguém parece ligar para isso. 

É, eu realmente criava uma outra pessoa, uma que não precisava lidar com tudo que sentia, com minhas dúvidas, com o choro engasgado na garganta, com medos… Essa pessoa que criei era feliz, e raramente expressava o que sentia, não me reconhecia ali, mas era tudo que me restava para manter a sanidade. 

Depois de tudo acabar, é como se um pedaço tivesse ido embora, um pedaço que leva junto toda a minha respiração. Um ar estranho ocupa minha garganta e me impede de falar, meu silêncio acontece quase que naturalmente, não sei como reagir, respondo o que querem ouvir, sorrio, um sorriso que não reconheço, é como se não percebesse o mundo à minha volta.

Cada passo que dava, era como cair na realidade, era um mergulho em um mar revolto, me afogava sem entender os motivos, os soluços vinham sem perceber e me lembrava de tudo que trazia angústia, eu não entendo como aconteceu, não mesmo, mas ainda assim aconteceu. 

Abuso, cartas, Cronicas 24/25, Preconceito, Violência

Sempre…

Aos desesperados …

Desespero

  1. estado de consciência que julga uma situação sem saída; desesperança.”no d. de reconciliar-se com seu antigo amor, entregou-se à bebida”
  2. .estado de profundo desânimo de uma pessoa que se sente incapaz de qualquer ação; desalento.

O barulho das sirenes continuavam a ecoar na minha mente, eu apertava meus pulsos para amenizar o peso de tudo aquilo em mim, a choro ficava preso na garganta enquanto eu me escondia em meus passos, era como se chorar já não bastasse. Queria que me esquecessem, queria esquecer, queria que tudo aquilo parasse, mas era um querer inútil…, o barulho incessante daquele aparelho de comunicação era irritante, me senti sob constante vigilância, me sentia inútil era como se quisessem apenas me controlar e não se preocupasse comigo.

Caminhar só pelas ruas sempre foi uma tarefa difícil, mas dessa vez parecia impossível, era como tropeçar nos próprios pés enquanto fugia de todos. 

Eu era um desastre, meus joelhos sangravam, minhas mãos ardiam, eu perdi todas as palavras enquanto gritava, não consegui assimilar a dor que sentia, não conseguia entender tudo que acontecia, chorei e gritei sob os olhares de desconhecidos, era tudo tão cruel, amanheci tarde demais, tudo em mim doía apenas por existir. 

Eu senti medo, senti vergonha, quis desaparecer, engoli minhas angústias e mordi meus lábios enquanto escondia meus soluços, era desesperador sentir aquilo… Era como se o mundo não me entendesse e me detestasse apenas por existir. Era como se minha respiração estivesse sendo abafada e eu tivesse que lutar desesperadamente por migalhas de ar. A esperança de que eu sobreviveria a mais um dia era escassa.

Ouvi o barulho do relógio enquanto tomava pílulas que desciam arranhando minha garganta, tudo parecia precipitar um desarranjo em meu cérebro, é agoniante, não consigo pensar em nada além do desespero. Respirar em meio a tantos pensamentos descompassados se torna um movimento difícil e sem ritmo definido. 

O chão não se abria e não tinha como se afogar no chuveiro, mas ainda assim o meu corpo parecia não me pertencer, ali no espelho estava alguém que não conhecia, o choro vinha mais forte conforme eu percebia que não adiantava me esconder, o sabão parecia não fazer um bom trabalho,  não adiantava correr eu não tinha hora marcada com ninguém, a água parecia limpa demais mas era uma ilusão. Os soluços vieram junto com o sangue recém adquirido enquanto me punia por algo que eu não sabia como consertar. 

Viver havia se tornado mais complicado, tudo parecia mais silencioso e solitário, não há nada que coloque ritmo em minha respiração ou que faça meus pensamentos se acalmarem. É desconcertante ouvir seu próprio grito, não há como buscar ajuda porque não há esperança, não há tempo e não há certezas de que aquela dor vai passar, ninguém parece realmente disposto a ouvir, tudo que resta é a vontade de que tudo se apague e desça pelo ralo junto com aquele sangue. 

Caminhar era uma tarefa difícil, era difícil se direcionar para qualquer canto, era sufocante tentar se concentrar em uma direção quando existem tantas vozes gritando, os pensamentos vão escalonando a cada alternativa, são muitos “e se”, são muitos medos, tudo sempre parece prestes a desabar, respirar enquanto pensamos em decisões é como se sentir sufocado por uma montanha de poeira. 

Se sentir assim era desconfortante, era como ser um estranho dentro do próprio corpo, como não ter controle das próprias emoções, o dia poderia estar lindo mas nesses dias tudo parecia uma grande tempestade, ouvir outras pessoas quebrando o silêncio e atravessando os nossos pensamentos era uma gota d’água que transbordava qualquer copo, era desgastante tentar assimilar todos aqueles ruídos que invadiam minha mente de forma tão frenética.

Chorar enquanto tentava sair do seu casulo e revisitar o mundo era desesperador, todos pareciam saber tudo sobre você, ninguém te ouvia, te faziam engolir sua verdade enquanto tentava fugir daquele espaço tão assustador, eu só queria sumir, desaparecer, esquecer aquela dor. Tudo faz lembrar o que queremos esquecer, o cheiro, o toque, as palavras, tudo faz com que aquela sensação de pavor e medo surja novamente. 

Por vezes não sei o que quero, se quero a companhia daqueles que supostamente tentam quebrar todas as barreiras e me alcançar ou se quero o afastamento,  não entendo o que sinto, não consigo me expressar, tudo que consigo fazer é desesperar conforme o mundo continua a girar, ele gira sem se importar se ainda estou aqui em constante estágio de estagnação, tal qual um carro parado no meio da linha do trem, sem saber como agir, sem saber se pulo carro ou espero o trem.

É uma sensação esquisita de constante desencontro, é uma indecisão que ocupa um espaço desnecessário em meu peito. É como não se reconhecer mesmo olhando no espelho, é como sufocar com suspiros de angústia em meio a um mar de desespero. É como achar que ninguém te entende, nem no silêncio e nem na constante bagunça que é minha existência. 


Essa semana foi complicada, além de toda bagunça no meu trabalho, em São Paulo uma quadrilha homofóbica anda colocando em risco a vida de jovens, isso não foi só essa semana, mas essa semana alguém morreu. Como se não bastasse, em nosso país o congresso quer legislar a favor do estuprador. Vocês tem noção de quantas crianças são vítimas de uma violência e não reconhecem os sinais de uma gravidez…?

 

Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas, Opinião, silêncio

Detalhes ínfimos

ínfimos: Excessivamente pequeno; diminuto; diz-se do tamanho, dimensão, força, quantidade, volume ou peso muito pequeno

Não existe nada pior do que cheiro de saudade, respirar em meio a certeza de que nada vai dar certo, era assim que se sentia, respirar era como retirar pedras atoladas do pulmão, dói, é tudo tão desesperador que se demora a entender que aquele é de fato o fático fim, chorar não adianta, gritar também não, você não consegue se esconder porque em todos os lugares tudo te lembra dessa dor eminente que se alojou em seu peito e te faz sentir como em um desmoronamento. 

Você viu os sinais de que tudo iria desabar, primeiro viu as rachaduras, depois o rastro de terra nos cantos das paredes, mas se sentiu paralisado e apenas assistiu a tudo ruir, tentou manter os olhos fechados, mas era impossível, o barulho, os gritos, o desespero e o cheiro de terra molhada invadiram seus sentidos e te sufocaram, era como ter uma vida inteira passando diante dos seus olhos enquanto tentava buscar por ar. Era difícil ver o mundo se esvaindo diante dos seus olhos, era difícil ver um mundo de amor ser transformado em saudade. 

Amar sempre foi um verbo conjugado de forma tão plural por você, amava a ilusão que construiu, tudo era estável, tinha para onde fugir mas sempre tinha para onde voltar. Amava a confusão, o barulho e as certezas de que tudo sempre ficaria bem, às vezes desejava silêncio, mas ainda assim, mesmo nesses momentos amava estar por ali, em meio a toda confusão que te tirava o ar e arrancava risos de desespero. Essa era sua vida, era uma boa vida. 

Você que sempre soube o que era amor, que sempre soube ser abrigo, agora não sabia como agir, era uma chuva torrencial que inundava seu peito com uma única certeza, nada iria restar e se sentir dessa forma era uma sensação desesperadora, de quem perdeu tudo e agora precisava de ajuda para recomeçar a catar seus pedaços pelo meio do caminho.

Depois de tantos risos ao pé do ouvido, depois das noites mal dormidas, e de todas as histórias construídas, tudo que vai restar é uma saudade vazia. Uma saudade que começou a ser construída antes do ponto final, uma saudade construída no meio de um parágrafo repleto de situações inusitadas. 

O silêncio que você tanto buscava, foi tudo que restou, mas ele não foi reconfortante, o silêncio era perverso, torturante e angustiante, ficar sozinho e imaginar os milhares de finais era desesperador. Pensar que aquele silêncio pode se tornar definitivo e aquela voz tão conhecida que te acompanhou por anos pode cansar, era inevitável, no início ela tentou se fazer presente, esconder o desespero de não conseguir saber o que falar, o que deixar, mas depois tudo deu lugar a um pranto contido que se tornou um desespero dolorido, que ansiava por um tempo que achava que não tinha. 

Não havia nada que pudesse fazer para sanar aquelas lágrimas ou para parar o tempo, não havia um ritmo a ser seguido, e todos os dias te lembravam de que não havia tempo a ser perdido, ele não parava e levava aos poucos um pedaço da sua história, não havia nada a ser desfeito e só restava esperar, esperar e desfazer seu pranto enquanto acalenta em seus braços os soluços sôfregos de quem já te deu tanto amor, sente a fragilidade daquele coração que tinha um ritmo tão peculiar de te encantar e mover seu mundo. 

Não há como nada ficar bem, não há… E constatar isso era a pior coisa a ser feita, não havia esperança, conforto ou afeto, havia apenas mágoa, dor e sofrimento. Era tudo tão latente e aumentava conforme o ponteiro do relógio findava, em um primeiro momento você achou que dava conta, abraçou o mundo como sempre fazia, se concentrou em não se concentrar na dor, ela existia, mas você não queria lembrar. Depois ficou impossível disfarçar e dar respostas prontas, a mente vagava e te roubava as palavras. 

As lembranças antes esquecidas invadiam seus dias, o cheiro do alvorecer e o medo do amanhã passaram a ter fazer companhia até mesmo nos momentos mais ínfimos, era uma lembrança constante de que tudo que restava era isso, um porta retrato sem cheiro, sem toque e quebrado. A saudade passou a ser uma amiga constante, não era confortável olhar para trás e observar todos os erros, acertos e afagos, na verdade era torturante, era desesperador sentir saudade do que ainda se tinha, mas sabia que iria perder.

Você se engasgava constantemente pensando em tudo que poderia ser feito e desfeito, se havia ou não tempo, tudo é tão subjetivo que te paralisa, não há como voltar no tempo, não há como parar o tempo, não há possibilidades, não há nada a não ser a estranha certeza de que qualquer coisa seria melhor do que o que estava acontecendo, você se culpava por isso, mas já carregava tanta culpa que essa era só mais uma …

Respirar é como se despedir segundo a segundo de quem nós somos, é como gritar em desespero em um navio que afunda. Eu sei, às vezes te falta ar, te falta ânimo para falar sem se engasgar com o ar que te sufoca, mas você continua porque sabe que se desistir vai ser pior, você sente medo do fim, mas sente mais medo do que vai acontecer depois do fim, depois que toda a tempestade passar, depois que a água que te sufoca baixar e você contabilizar o estrago…

Depois de tudo, tudo que vai restar é a estranha saudade, o constante desespero de não saber como continuar e a certeza de que você vai finalmente poder se consolar sem sentir culpa.