Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas, Opinião, silêncio

Detalhes ínfimos

ínfimos: Excessivamente pequeno; diminuto; diz-se do tamanho, dimensão, força, quantidade, volume ou peso muito pequeno

Não existe nada pior do que cheiro de saudade, respirar em meio a certeza de que nada vai dar certo, era assim que se sentia, respirar era como retirar pedras atoladas do pulmão, dói, é tudo tão desesperador que se demora a entender que aquele é de fato o fático fim, chorar não adianta, gritar também não, você não consegue se esconder porque em todos os lugares tudo te lembra dessa dor eminente que se alojou em seu peito e te faz sentir como em um desmoronamento. 

Você viu os sinais de que tudo iria desabar, primeiro viu as rachaduras, depois o rastro de terra nos cantos das paredes, mas se sentiu paralisado e apenas assistiu a tudo ruir, tentou manter os olhos fechados, mas era impossível, o barulho, os gritos, o desespero e o cheiro de terra molhada invadiram seus sentidos e te sufocaram, era como ter uma vida inteira passando diante dos seus olhos enquanto tentava buscar por ar. Era difícil ver o mundo se esvaindo diante dos seus olhos, era difícil ver um mundo de amor ser transformado em saudade. 

Amar sempre foi um verbo conjugado de forma tão plural por você, amava a ilusão que construiu, tudo era estável, tinha para onde fugir mas sempre tinha para onde voltar. Amava a confusão, o barulho e as certezas de que tudo sempre ficaria bem, às vezes desejava silêncio, mas ainda assim, mesmo nesses momentos amava estar por ali, em meio a toda confusão que te tirava o ar e arrancava risos de desespero. Essa era sua vida, era uma boa vida. 

Você que sempre soube o que era amor, que sempre soube ser abrigo, agora não sabia como agir, era uma chuva torrencial que inundava seu peito com uma única certeza, nada iria restar e se sentir dessa forma era uma sensação desesperadora, de quem perdeu tudo e agora precisava de ajuda para recomeçar a catar seus pedaços pelo meio do caminho.

Depois de tantos risos ao pé do ouvido, depois das noites mal dormidas, e de todas as histórias construídas, tudo que vai restar é uma saudade vazia. Uma saudade que começou a ser construída antes do ponto final, uma saudade construída no meio de um parágrafo repleto de situações inusitadas. 

O silêncio que você tanto buscava, foi tudo que restou, mas ele foi reconfortante, o silêncio era perverso, torturante e angustiante, ficar sozinho e imaginar os milhares de finais era desesperador. Pensar que aquele silêncio pode se tornar definitivo e aquela voz tão conhecida que te acompanhou por anos pode finalmente cansar e descansar, era inevitável, no início ela tentou se fazer presente, esconder o desespero de não conseguir saber o que falar, o que deixar, mas depois tudo deu lugar a um pranto contido que se tornou um desespero dolorido, que ansiava por um tempo que sabia que não tinha. 

Não havia nada que pudesse fazer para sanar aquelas lágrimas ou para parar o tempo, não havia um ritmo a ser seguido, e todos os dias te lembravam de que não havia tempo a ser perdido, ele não parava e levava aos poucos um pedaço da sua história, não havia nada a ser desfeito e só restava esperar, esperar e desfazer seu pranto enquanto acalenta em seus braços os soluços sôfregos de quem já te deu tanto amor, sente a fragilidade daquele coração que tinha um ritmo tão peculiar de te encantar e mover seu mundo. 

Não há como nada ficar bem, não há… E constatar isso era a pior coisa a ser feita, não havia esperança, conforto ou afeto, havia apenas mágoa, dor e sofrimento. Era tudo tão latente e aumentava conforme o ponteiro do relógio findava, em um primeiro momento você achou que dava conta, abraçou o mundo como sempre fazia, se concentrou em não se concentrar na dor, ela existia, mas você não queria lembrar. Depois ficou impossível disfarçar e dar respostas prontas, a mente vagava e te roubava as palavras. 

As lembranças antes esquecidas invadiam seus dias, o cheiro do alvorecer e o medo do amanhã passaram a ter fazer companhia até mesmo nos momentos mais ínfimos, era uma lembrança constante de que tudo que restava era isso, um porta retrato sem cheiro, sem toque e quebrado. A saudade passou a ser uma amiga constante, não era confortável olhar para trás e observar todos os erros, acertos e afagos, na verdade era torturante, era desesperador sentir saudade do que ainda se tinha, mas sabia que iria perder.

Você se engasgava constantemente pensando em tudo que poderia ser feito e desfeito, se havia ou não tempo, tudo é tão subjetivo que te paralisa, não há como voltar no tempo, não há como parar o tempo, não há possibilidades, não há nada a não ser a estranha certeza de que qualquer coisa seria melhor do que o que estava acontecendo, você se culpava por isso, mas já carregava tanta culpa que essa era só mais uma …

Respirar é como se despedir segundo a segundo de quem nós somos, é como gritar em desespero em um navio que afunda. Eu sei, às vezes te falta ar, te falta ânimo para falar sem se engasgar com o ar que te sufoca, mas você continua porque sabe que se desistir vai ser pior, você sente medo do fim, mas sente mais medo do que vai acontecer depois do fim, depois que toda a tempestade passar, depois que a água que te sufoca baixar e você contabilizar o estrago…

Depois de tudo, tudo que vai restar é a estranha saudade, o constante desespero de não saber como continuar e a certeza de que você vai finalmente poder se consolar sem sentir culpa.