Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão

I’m only human after all

Para todos que necessitam traduzir o que sentem enquanto se machucam quando o mundo dentro de si começa a desabar.

Preciso te contar uma coisa, eu sei que você disse que iria ficar mesmo se eu te expulsasse, que foi você que bateu na porta, mas não é tão fácil assim, eu sou complicado, na maioria das vezes eu faço escolhas ruins, ainda assim te deixar ficar me pareceu uma boa escolha. 

Desculpe-me por abrir a porta, por ter aceitado sua ajuda e por ter permanecido ao seu lado mesmo quando eu deveria ter te mandado embora 

Eu gosto do seu sorriso enquanto me conta coisas bobas sobre o seu dia, para me entreter e mesmo que pareça que você sabe tão pouco sobre as estrelas, ficar do seu lado, é como me sentir aquecido pelo sol, eu gosto disso, pode não parecer mas eu gosto. Me desculpe por gostar. 

Às vezes eu me perco por lugares frios demais… Preciso te contar que às vezes eu demoro para voltar desses lugares, que caminho até meus pés doerem porque quando sinto dor, não me lembro do que aconteceu. 

Quando não sinto dor as coisas tendem a ficar complicadas, tudo parece turbulento demais, mil palavras vem de encontro a mim, muitas vezes desejo ser surdo para não as ouvir. Eu me machuco para não lembrar do quão machucado já fui, é estúpido, eu sei, mas é a forma que encontrei para sobreviver. 

As vezes eu sinto dúvida se você se preocupa de verdade, eu tenho dúvidas se você é real, se só é uma alucinação criada por mim em meio ao desespero, eu não sei, costumo não saber de muitas coisas quando estou assim. Você disse que ficaria, você ficou, sem fazer perguntas e isso nunca aconteceu. 

Preciso te contar que eu queria que você perguntasse como vão as coisas, como estou e onde estou, você disse que ficaria e isso deveria me bastar, mas pela primeira vez eu sinto falta das perguntas, das suas perguntas.

Me pergunto se te pagaram? Será que foi o suficiente para ficar? Será que vai durar para sempre…?

Preciso te contar que você tem cheiro de saudade, tem cheiro de infância, de carinho e de medo, eu tenho medo de você, isso me machuca, tenho medo de você não voltar, tenho medo do que vai restar de mim, eu enxergo o mundo do alto do precipício e isso é sempre assustador, não há nada para olhar, tudo tá sempre apagado, tenho medo, tenho medo desse sentimento aumentar. 

Preciso te contar que é sempre bem frio na beirada do precipício, eu nunca sei como cheguei até lá, mas acontece quase sempre que algo foge do meu controle, é frio e solitário, não importa o que façam nada parece me alcançar nesses momentos. 

Desculpe-me por ser tão quebrado, eu gosto da sua companhia, gosto de sentar do seu lado e da forma como você me faz rir enquanto tenta me entender no silêncio. Mas daqui onde estou eu sei que se você ficar não vai ser para sempre, olhar para o futuro é sempre desesperador, é vazio, incerto e perturbador. 

O futuro é inebriante, uma cortina espessa de fumaça que cobre meu corpo e me impede de respirar.

Eu sei. Não importa o que digam você não tem culpa, não importa o que eu diga você não tem culpa, só me desculpa por te fazer chorar, por ser assim tão quebrável, você pode desistir, pode me deixar em silêncio, mas promete que volta para me abraçar, eu gosto do seu abraço, gosto de me aquecer no seu silêncio.

Promete?

Me pergunto caso você não volte se serei capaz de continuar lembrando do seu sorriso, da sua voz calma me acalmando e do seu abraço tão solar. Eu não queria sentir o que sinto, ou ter meus olhos inundados a cada pequeno desastre que eu mesmo cometo, mas eu sou assim. 

Tenho que te contar que eu não sei quem é você, mas você parece saber tanto sobre mim que tenho medo do que pode fazer comigo, tenho medo de você me jogar daqui de cima e eu me perder na escuridão. 

Respirar é sempre mais complicado quando isso acontece, minhas decisões são impulsivas, eu escolho sentir dor a pensar de forma repetitiva nas coisas que fiz. Tenho medo de me esquecer de quem eu sou, de me perder no meio dos meus escombros e ninguém me encontrar, tenho medo de você não me encontrar, de desistir, de fechar a porta e me trancar aqui dentro, de ir embora assim como chegou.