Amor, Crônica, Feminismo, Sexo

The End…

TheEnd-01-thumb-800x600-97034.jpg

Recentemente me vi no meio de turbilhões de emoções que não eram minhas, eu não lido muito bem com perdas, ironicamente, eu nunca tive um grande termino, os que eu tive eu soube superar teoricamente bem, mas resolvi buscar nos anexos dos meus sórdidos pensamentos algo para escrever sobre esse momento tão profanamente inevitável:

O mundo vai continuar a ser o mundo, mesmo se amanhã eu não estiver ao seu lado, a inexplicável rotação da Terra continuará a acontecer, o Sol ainda estará iluminando nossas manhãs, e o frio da noite ainda nos fará desejar alguém ao nosso lado, não por amor, mas por egoísmo, vamos querer o corpo alheio para aquecer o nosso, e nos envolver em uma camada de braços e abraços, sussurrando palavras indecifráveis em meio ao sono, enquanto ouvimos o batucar do coração alheio, que não nos pertence…

O vazio na cama se torna maior, o espaço antes tão pequeno se tornou uma cratera, não existe bagunça, não existe risos, não existe… Mas o correto seria que isso tudo continuasse a existir, afinal, continuamos a viver e somos a parte inteira de tudo que restou, a matéria orgânica, presente nesse corpo, ainda é a mesma de antes de tudo acontecer, o que prova que ainda é possível respirar, suspirar, andar, viver…

Encarar a vida pode ter se tornado um pouco mais difícil, afinal quando se termina com algo de forma tão abrupta e inesperada você fica sem reação, não sabe que rumo tomar, que caminho seguir, e um medo transborda nos seus olhos, sim nos seus olhos, afinal todas as possibilidades que esbarram com você naquele primeiro momento não fazem sentido algum, você ainda continua se sentindo incompleto, mesmo com todos os seus pedaços no lugar, você adquire um medo absurdo de que tudo sempre seja assim, sempre…, sempre.

A solidão parece ser um eco no meio do seu peito. As letras de música parecem ecoar na sua mente “é impossível ser feliz sozinho”, quem disse isso? Quem nos ensinou a pensar assim? Infelizmente quando se está com todos esses sentimentos “a flor da pele e qualquer beijo de novela nos faz chorar”, não conseguimos enxergar um erro mortal nessa frase, só é possível ser feliz sozinho, quando dependemos de outros para fazer/trazer nossa felicidade transformamos isso em dependência. Amar não é criar dependência, amar é ser livre é viver independente do outro, partilhando o “nós”, junto com todos os sorrisos e lágrimas, mas sem esquecer do “eu”.

E nesse desespero em que me vejo

Já cheguei a tal ponto

De me trocar diversas vezes por você

Só pra ver se te encontro

_Caetano Veloso – Você não me ensinou a te esquecer.

Dizem que os seres humanos se distinguem dos demais animais por sua racionalidade, mentira, não somos racionais principalmente quando isso envolve sexo e amor. A grande verdade é que a maioria de nós busca no outro aquilo que deveríamos encontrar em nós, sabem aquela velha frase de contos de fadas: e se tornaram um só”? Essa frase deveria ser banida de qualquer história para ninar crianças, não deveríamos as ensinar que o amor é egoísmo, deveríamos ensinar que o amor é compartilhado.

Amar é a conjugação do verbo no plural, “amamos”. Mas e quando um dos dois não ama mais, ou esse amor não é suficiente? A hora em que o fim chega, é sempre a pior hora…

É meus caros, o fim é algo tão intenso que raramente acontece por decisão inteira, não há conversas, abraços ou beijos, tudo que resta é uma série de soluços e questionamentos sobre os motivos que levaram a àquele ponto final. É claro que tiveram motivos, mas quando é você que ouve o último adeus, é você que se acha culpado, é você que se esconde, é você que não sabe responder àquela fática pergunta: “por que terminaram? ” Meia hora após essa pergunta, um filme roda na sua mente, seus olhos transbordam e seu mundo desaba, a pergunta que deveria ter sido feita é “você está bem? ’’

Afinal ainda ontem seus corpos estavam juntos, em meio ao suor, os beijos, os afagos e os sussurros de prazer ao pé do ouvido. “Você tem certeza que está bem?” Não, não está, eu sei que não, isso tudo foi ainda ontem…

Essa sem dúvida é a pergunta mais correta, não existem motivos plausíveis o suficiente para um termino, não para quem recebe o ponto final, tudo que essa pessoa precisa nesse momento é compreender que ela não foi culpada, que o mundo vai continuar girando e que ela vai ter um abraço silencioso para aquele momento, que aquele só foi “um momento” e que vão existir inúmeros outros momentos. Afinal não importa os motivos, todos eles não vão fazer sentido algum para os corpos aquém de toda aquela história.

Não importa se foram, dias, meses ou anos, não importa e nem nunca vai importar, no momento em que o ponto final é colocado no meio de uma frase, ele corta todas as possibilidades de se saber o final da história, ele causa angústia por tudo que poderia acontecer e nunca aconteceu, ele causa medo, desespero, tristeza, ele transforma em lágrimas todas as boas lembranças e palavras.

O irônico disso tudo é que esse ponto final só se transforma em vírgula quando os dois lados dessa frase se permitem conversar, não existe relação de um só, a vida não é um monólogo, é um incansável diálogo onde criamos inúmeras conversas ao pé das amendoeiras imaginárias.

“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval

E isso explica por que o sexo é assunto popular.”

_ Zé Ramalho, Chão de Giz

No fim tudo que resta é uma dor inconstante no meio do seu peito e por mais que se diga, “eu entendo”, tudo vai parecer não ter sentido nos próximos minutos. Sabiam que somos bem mais egoístas no “fim” do que no início? Sim, somos egoístas, aliás no “fim” ambas as partes são egoístas, ambas querem continuar e terminar aquela história por motivos individuais e que nem sempre condizem com a realidade.

No fim, o poeta realmente estava certo.

“Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.”

_Vinicius de Moraes – soneto de Fidelidade

 Era frio,

Era noite,

Era o fim,

Estávamos felizes, sentados, conversando ao pé da amendoeira, os carros passavam, as crianças corriam pelo parque, e você estava ali, me olhando, como quem olha pela última vez alguém.

O beijo de despedida aconteceu,

O último selar de lábios,

O último toque.

Eu não estava morrendo e nem você indo para outro planeta, era um adeus tão vulnerável em termos explicativos, que cheguei a me perguntar se ele realmente chegou a existir.

Toquei meus lábios,

Ouvi meu coração bater,

Respirei freneticamente,

Minha garganta secou,

Você não estava ali…

No fim tudo ficou a como sempre esteve,

Você não existia antes e nem vai existir depois…

Demorou um certo tempo para eu perceber que tudo continuava em ordem a minha volta, não me acalmei e nem quis me acalmar, busquei na ânsia de um desejo voraz outros braços para te encontrar, mas inevitavelmente me vi perdida.

Parei,

Respirei,

Percebi, não era você que eu buscava, nunca foi, sorri enquanto observava as folhas da amendoeira se espalharem por aquele parque…

Me encontrei.

*Escrito em homenagem aos meus amigos…