Atenção: esse texto contém menção a depressão, abuso e suicídio. Se achar que isso pode ser um gatilho, por favor não continue essa leitura.
Nó: Enlaçamento de fios, de linhas, de cordas, de cordões, fazendo com que suas extremidades passem uma pela outra, amarrando-as. [Figurado] Vínculo; ligação estreita entre pessoas por afeição ou parentesco. [plural] nós.
Nós:Pessoa que fala e mais uma ou várias;
Dicionário: dicio
Quando a criança falou, eles não ouviram;
Quando tropeçou enquanto tentava fugir, ninguém estava na sua frente para frear seus passos;
Quando disse “não”, ninguém desconfiou que era medo.
Quando disse “sim”, ninguém percebeu que ele gritava por dentro dizendo não.
Fugiu, ninguém percebeu;
Gritou, falaram que era birra, “coisa de criança”;
Seu corpo não parava quieto, mas “era o efeito da hiperatividade”;
Roeu as unhas, puxou os cabelos, mordeu os lábios, “era de ansiedade”;
Cresceu, e quanto mais crescia mais remédios de nomes complicados conhecia;
Não gostava de chorar, de falar, de respirar, “o nomearam como depressivo”;
Não queria engolir a comida, já engolia muitas palavras enquanto diziam ser só mais “alguns de seus delírios”.
Se retraía, tentou se esconder, encolheu seu corpo e tremeu, “não suportou tudo que teve que segurar”. Não estava frio, mas tremeu.
Chorou como chorava quando era criança, não adiantou, ninguém veio em seu socorro, tudo continuava no mesmo lugar, a cama, o chão, as paredes, e os gritos que com o tempo aprendeu a conter.
No fim de tudo, nada restou, as lágrimas caiam, e a dor que o dilacerava era mais cortante que o objeto que ele usou para dar fim a tudo.
Não se despediu, não disse “eu te amo”, não mandou sinais de aviso. Ele apenas foi, foi ser livre enquanto deixava suas verdades finalmente saírem e como se não se importasse se iriam ou não acreditar nelas depois de tanto tempo. Ele apenas foi, sem se importar com tudo que podiam dizer.