Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, silêncio

Era uma vez eu no meio da vida

Para todas as pessoas que se sentem pequenas e perdidas em meio ao mundo. 

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, queria abraçar o mundo, gostava de abraço apertado e conversas no silêncio, sua existência era peculiar, tinha cheiro de saudade e abraços tão aconchegantes quanto a areia da praia. Às vezes ele era céu azul outras tantas tempestade… 

Dentro da sua cabeça existia uma guerra interminável, uma avalanche de palavras que vez ou outra causava um desmoronamento em suas certezas. Quanto mais ele corria, mas aquele eco lhe perseguia, ele tropeçava, caía e se machucava, se machucava sem ninguém ver, secava às lágrimas e continuava a seguir mesmo machucado. A guerra dentro da sua cabeça era barulhenta, e talvez por isso ele tenha aprendido a viver de silêncios. 

Não que ele gostasse do silêncio, pelo contrário, o silêncio incomoda e é dolorido, ele prefere a casa cheia, mesmo que isso também signifique ficar com seu coração vazio. Era uma sensação de ter o sol no inverno, não era suficiente, mas era o necessário, isso bastava. 

Talvez ele nunca tenha se achado suficiente, o que é muito estranho, afinal, ele sempre foi tão cheio de certezas, sempre foi colo e abrigo, como podia não se achar suficiente? É, mas ele não se achava, pelo contrário.

O mundo mundo parecia não o compreender e isso fazia com que aquele menino que parecia tão pequeno crescesse muito rápido, mas era momentâneo, logo ele se sentia pequeno novamente, as palavras doíam, ele não entendia, machucavam mesmo sendo desconhecidos, tudo se misturava dentro de si e ele se perdia em tudo que sentia sobre si mesmo.

Pequenas palavras sempre foram guardadas no dicionário da guerra que existia em sua cabeça, por isso ele detesta jogos de palavras, ele guardava cada verso fora do compasso, cada história mal contada e cada resposta atravessada, é nessas horas que sua cabeça iniciava a guerra, refazendo cada momento como se ele por milagre pudesse ser mudado, era torturante e desgastante. 

Se sentia perdido, brincava de pique sózinho na esperança de alguém o encontrar e ouvir tudo que ele tinha para contar. Ele queria gritar, queria explicar o que estava acontecendo, tudo parecia tão óbvio, mas não era, era difícil buscar tantas palavras, os desmoronamentos aconteciam com frequência dentro de si.

Constantemente respondia que sua cor preferida é a que o céu tem. O mesmo céu que ilumina as tardes frias, é o que causa tempestades devastadoras, e bem, esse menino tem tempestades devastadoras dentro de si, tempestades que ele nunca soube quando começavam ou terminavam. Nunca soube definir o que sentia, talvez se ele tivesse a cor do céu fosse mais fácil. 

Queria que soubessem que seus dias não são só de sol, nem sempre são quentes e aconchegantes, que seu sorriso às vezes é bem enevoado e que suas tempestades acontecem mesmo quando tudo é parecido com uma tarde de verão.

Não tinha como controlar, se sentia culpado por isso, ele passou a ensaiar sorrisos, não que ele não quisesse ficar ali perto de todos aqueles abraços e risos, se sentia triste por não se achar suficiente, passou a sufocar tudo que sentia e sorrir, um riso nublado e incômodo que lhe tira o ar. 

Talvez ele já não soubesse conjugar os verbos: amar, sorrir e viver. Ele apagava constantemente sua conjugação em nome do que ele achava ser o certo para os outros. 

Cultivava o amor, tal qual um florista que insiste em cuidar das rosas sem luvas, se espetava com espinhos e não cuidava dos machucados. Era a única forma de amar que ele conhecia, uma forma dolorida, que escondia o choro mesmo quando visivelmente estava magoado.

Tudo que restava a ele era a busca incansável por alguém que ficasse e entendesse seu silêncio, que não o fizesse sentir um incômodo, que afastasse de si todas as palavras que insistiam em ser repetidas na sua cabeça. 

O peito doía, o corpo amolecia, ele não conseguia sobreviver sem os abraços, tudo cheirava a saudade mesmo com todos ali, se sentia culpado por sua tempestade invadir outros abraços, sentia medo das pessoas cansarem e irem embora sem avisar. Era como ser um passarinho na gaiola, ele não podia voar e seu canto era limitado.

Sempre foi mais fácil lançar palavras para desconhecidos, eles vão embora e não significam nada, mas os conhecidos, esses, ele tem medo de perder, e por isso sobrevive de silêncio, falando o que querem ouvir, sorrindo quando queria se esconder.

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, sobrevivia das grandes tempestades que existiam dentro de si, vivia dos abraços no acaso e de risos tempestuosos, mas o que ele não sabia é que mesmo com toda a tempestade dentro de si, ele ainda é capaz de produzir dias quentes, quando ele descobrir isso, talvez o medo de deixar suas palavras voarem comece a ir embora…