Ansiedade, Cronicas 24/25

Nada ficou no lugar

Aos corações que necessitam de saudade para continuar a bater, dedico esse texto, que dezembro termine sereno como a brisa de um verão no fim de tarde, mas se houver tempestade que haja também quem não te deixa sozinho. Eles entendem e eles vão ficar…

Sobrevivo do caos de não saber quem eu sou, não consigo descrever tudo que sinto e meu coração se aperta diante de gatilhos que eu não sei identificar. Quando percebo lágrimas já inundam meus olhos o que torna turva minha visão, eu não consigo ver e entender o que acontece, eu só sei que continua a acontecer independente da minha existência.

Às vezes eu volto para casa, eu preciso me sentir parte de algo, preciso que entendam o que eu sinto e eu sinto saudade de quando me bastava existir sem dar nada em troca. Tudo continua no mesmo lugar, em cada cômodo uma saudade diferente, ao mesmo tempo que nada permanece igual e por mais que digam que existe saudade, tudo que sinto é saudade de quando tudo isso era de verdade. 

De forma ínfima percebo que o tempo passou e me deixou todas as lembranças que eu não sabia existir, tudo que antes parecia tão pequeno agora parece me causar uma dor desproporcional, eu revisito cada diálogo, cada sentença, cada erro cometido por mim e por outros, é como rebobinar uma fita mofada de forma insistente, é assim que me sinto.

Eu choro mesmo sem lágrimas, eu grito sem nenhum som, eu não entendo o que eu fui e se um dia eu fui algo diferente, sinto saudade de quando respirar não me causava tanta dor, a cada novo suspiro é como se algo me machucasse por dentro, dói, dói tanto que eu não consigo explicar o tamanho dessa dor.

Eu me escondo em lugares desconhecidos, eu invado espaços que não me pertencem, às vezes tudo que sinto é saudade mas tudo que me resta é a lembrança do cheiro de mofo nas paredes, o tempo é cretino, ele leva tudo até mesmo os sonhos…

Constantemente eu preciso de ajuda para organizar meus pensamentos, tudo me foge, me perco nas horas, tudo é muito rápido, é como se eu constantemente estivesse em uma corrida na última posição, me sinto ofegante, trêmulo e solitário. Me afogo todos os dias nos meus pensamentos, é um mergulho sem volta em uma piscina sem borda. Eu quero fugir, mas me sinto preso sem ter para onde ir.

Agora mesmo que só tenha passado pouco tempo, parece que tudo me cansa, tudo por mais conhecido que possa ser, se torna desgastante demais  para lidar sozinho, sem ajuda, eu não queria precisar dessa ajuda, mas eu me perco até mesmo por caminhos conhecidos, eu me escondo de tudo que não conheço e eu tento me fazer presente para que não me esqueçam, não esqueçam o que eu fui e não percebam o que me tornei.

Sinto saudade de quando a solidão não era um problema, agora por mais que eu ame, eu não consigo me manter presente mesmo que eu queira, mesmo que eu insista, eu me sinto como um eterno visitante nos corações que eu julguei que fossem casas. Eu não consigo evitar essa sensação, eu me tornei um desencaixe em um mundo de peças perfeitamente polidas, me tornei aquele que deixam de lado mesmo quando sou convidado. 

Sinto vontade de chorar, sinto que me esconder é necessário, eu sinto como se todos os abraços que me acolhem fossem vazios, como se eles não quisessem realmente estar ali, me ouvindo, não sei como reagir, quando me perguntam como me sinto, eu não sei responder, quando respondo ou tento responder, todas as vozes se calam e somem… 

Não acho que isso é culpa de alguém além de mim, talvez eu tenha me tornado uma pessoa desinteressante, um rastro interminável de saudade do que um dia eu fui, talvez só isso mantenha a porta aberta para essas pessoas se manterem aqui, inclusive eu. Talvez seja eu que esteja empurrando essa porta para ser fechada. 

Eu vivo de saudade, de tudo que um dia eu fui, de acompanhar o riso, de andar entre os sonhos, de não me perder com facilidade nas conversas e de não ligar para o meu desencaixe, eu sinto saudade de quando tudo que me bastava era o encaixe dos braços envolta do meu coração. 

Sinto saudade de quando minhas decisões bastavam, de quando eu não me importava com as palavras, com os olhares ou os suspiros. Apesar de não me arrepender das minhas decisões eu sinto saudades de quando tudo era mais simples, de quando isso tudo não causava tanta dor, de quando eu não tinha que engolir tudo que sentia para permanecer ali. 

Sinto saudade de quando meu soluço não precisava ser contido, de quando minhas palavras não precisavam ser escondidas e de quando eu sabia me encontrar mesmo nas maiores tempestades, sinto saudade de quando eu não sentia dor por cair e me machucar, agora tudo dói demais, minha presença não é mais tão importante, meus abraços já não são necessários e meu medo de desaparecer se torna cada dia mais frequente. 

Talvez tudo que reste seja o cheiro da inconstante saudade de tudo que fui, de tudo que vivi em cada canto desta casa. Nunca senti que desapareceria realmente, mas se eu pensar bem o desaparecimento é tudo que me resta, tudo se foi mesmo que todos ainda estejam aqui, de todas as tempestades que eu poderia enfrentar essa sem dúvida é a pior. 

Sugestão de escrita diária
Quais são seus maiores desafios?

 

Ansiedade, Cronicas 24/25, silêncio

Suficiente

Eu ainda não entendi muito bem como a morte do Liam bateu em mim, não era fã da banda, não acompanhei a carreira solo, eu seguia umas páginas de fãs, mas era só isso. De alguma forma a morte me pegou de um jeito diferente do habitual e isso foi muito estranho, talvez eu esteja ficando velha demais para olhar para o mundo da mesma forma e dizer “tá tudo bem”.

Quanto mais eu curtia coisas sobre ele, mais apareciam, então mesmo que eu não soubesse nada sobre suas relações, amigos, ou do tempo de banda, agora eu literalmente estou inundada de informações que não me fazem bem.  

Eu sou uma pessoa que apesar de bem racional, consigo ser sensível à dor dos outros e perceber que esse rapaz se doava tanto e tinha tantas dores é algo complicado de assimilar. Meu pensamento mais irracional do dia foi: “Caraca, alguém podia ter aparecido, será que ele sabia que era tão amado?”

Dedico esse texto aos corações que sentem e se doam demais, que precisam gritar para serem ouvidos… vocês foram suficientes e necessários…


De repente tudo desabou, 

não houve um único aviso de que as paredes iriam ruir. 

Eu realmente queria receber um aviso sobre isso, foram tantos dias de paz, foram realmente bons, pude respirar sem engasgar com todos os meus pensamentos. 

Às vezes me pergunto o quão fraco eu fui, eu não corri quando percebi que tudo desabaria, eu não gritei alto suficiente por socorro, será que alguém realmente ouviu? Será que se ouvissem viriam me socorrer? Eu não sei, nada parece fazer sentido no momento, eu desabei junto com essas paredes e agora só posso esperar pelo fim. 

Não queria que o meu mundo fosse um grande álbum de fotografia, onde reviro as páginas e percebo mudanças em todos menos em mim. Eu passei a colecionar sorrisos, que não eram meus. 

Eu me importo demais, me importo com o tamanho dos sorrisos, com o aperto do abraço, com as palavras soltas, eu queria não ser egoísta, mas eu queria que houvessem feito o mesmo por mim. Queria saber gritar na direção certa, queria entender como o mundo funciona, queria não me sentir como me sinto, queria não ter confiado tanto e ter dito mais não do que sim, eu não me arrependo, eu tentei, eu acho que tentei…

Não acho que o mundo é justo, me desculpem mas não acho. Acho que eu vivi bons momentos com pessoas boas, durante um tempo as fazer sorrir me bastava para ter felicidade, mas depois passou a não ser suficiente, tudo parecia doer demais, fazer sorrir era tudo que me restava para ser visto. Ainda não sei se isso foi suficiente para ser lembrado, mas foi suficiente para me fazer dormir. 

Queria ter lido todos os livros da minha estante, ou ter ligado para todos que me falaram “eu te amo”, queria que a sensação de que tudo ficaria no lugar fosse verdadeira, mas ela durou tão pouco que me sinto preso dentro da minha cabeça, dentro de todas as expectativas que eu quebrei, não sei de devo me desculpar, não sei se me sinto culpado, eu não sei de nada.

Não entendo porque a paz não pode durar por mais tempo, por qual motivo tudo não pode ficar como era antes. Eu nunca fiz o suficiente para evitar que tudo desabasse, talvez eu realmente fosse fraco, talvez eu devesse parar de tentar ser suficiente, talvez eu devesse me conformar com tudo que o mundo me oferece, mesmo sendo tão pouco. Será que eu não mereço sorrir por conta própria? Será que tudo que me basta é tão pouco? 

Antes de tudo ruir eu senti o cheiro do cimento misturado a água e um vazio alcançou meu peito, era o início de tudo que eu nunca terminei. Eu detesto que tudo tenha que ser tão melancólico, mas eu realmente sinto falta de tudo que um dia eu fui. 

Mesmo quando me falam que eu continuo o mesmo, eu não acredito, não posso acreditar, o mundo mudou, as pessoas mudaram, nada ficou no lugar, incluindo meus pensamentos, meus sonhos e meus medos, tudo se intensificou. 

Eu queria alcançar a lua e conquistar o mundo, um dia eu realmente achei que isso seria possível, eu queria parar guerras e fazer lágrimas se transformarem em sorrisos, sério, pode parecer infantil, mas eu sempre quis ser lembrado por tudo que fiz, não importa se tudo desabar, mesmo não tendo conquistado planetas, alcançado a lua ou desarmado o mundo, pelo menos consegui secar algumas lágrimas. Isso agora parece bem pouco. 

Ouvi o primeiro “crec”, o segundo, e o terceiro, foi rápido, certeiro, tudo veio a baixo, senti que meu coração parou, ficou escuro, foi difícil respirar. Não me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu, mas toda vez que acontece parece que fica mais forte e mais difícil de levantar, sempre acho que vai ser a última vez. 

Quanto mais eu me afundava, mais eu desacreditava de mim mesmo e acreditava nas coisas que diziam sobre mim. Os sorrisos já não me bastavam, os abraços me faltavam e tudo que queria era me esconder; 

Eu não deveria estar aqui, não deveria sorrir ou me aproveitar desse lugar. 

Eu não queria ouvir, eu quero me desculpar por toda preocupação causada, pelas ligações não atendidas, por todo o silêncio causado, eu queria me desculpar por tudo que eu quis ser e não fui.

Eu não consigo acreditar quando dizem que sou bom, que sou realmente bom, porque tudo que ecoa, é que não sou suficiente. Eu constantemente me pergunto por qual motivo insisto. 

Quando tudo fica escuro, quando todas as paredes parecem pesadas demais eu me esforço para escutar, para procurar o mínimo sussurro de “eu te amo”, para sentir os abraços e enxergar os sorrisos, e isso me basta, não sei por quanto tempo, mas me basta. 

**Eu escrevi esse texto ouvindo One Direction, eu nunca ouvi de forma consciente essa banda…

Amor, Ansiedade, Crônica, Minhas Crônicas, silêncio

Ansiedade: Solidão

Gatilho: Crise de ansiedade.


ho’oponopono, sinto muito, me perdoe, te amo e sou grato

O amor é um Deus de palavras profanas, que embala nossos sonhos e acalenta nossos corações. – Juliana M.


Ele proferiu palavras mundanas e se desesperou com o que sentiu, o ar que se alojava em seu ventre o impedia de respirar, era um peso que o paralisava no lugar.

Suas mãos tremulas manchavam sua pele, elas tracejavam caminhos incertos, ele se sentiu incapaz de controlar qualquer ato de seu próprio corpo, os primeiros soluços vieram de forma sôfrega, mas não tinham a intensidade de quando o ar finalmente saiu.

Quando o ar fugiu por seus lábios, ele sentiu que trouxe junto toda a sua vida, seu mundo desabou ali naquele instante, ele nem ao menos controlou tudo que saiu de dentro de si, os soluços já não cabiam dentro dele.

Quis se manter de pé, mas no momento que tudo aquilo saiu de dentro de si, saiu também seu equilíbrio, ele foi ao chão e não conseguiu mais se reerguer. É difícil para uma pessoa adulta admitir que seu chão tinha ruído e que ele tinha desabado, mas esse era o fato.

Repentinamente tudo pareceu escurecer e ele que já se via tão sozinho, se sentiu ainda mais vazio. Não conseguia sentir nada além de uma dor intensa, que se fazia presente em todo seu corpo.

Então ele resolveu mentir, mas não tinha ninguém além dele para enganar, ele mentiu para si mesmo, “vai ficar tudo bem”, ele sabia que era mentira, mas mesmo assim repetiu incansavelmente na frustrante missão de fazer tudo aquilo passar.

Não tinha mais nada para sair, tudo que restou dentro dele era o silêncio, que fazia questão de ocupar cada espaço do seu corpo. Seu silêncio era pesaroso e cheio de rancor, ele era frustrante.

Ele deu tanto de si para todos e tudo que recebeu foi o silêncio como recompensa, o peso das palavras que ele nunca falou e de todas as que já ouviu, chegaram a sua garganta e mais uma vez seu peito se encheu de uma dor, uma dor pequena que estava guardada dentro de si e que se inflamou com o seu silêncio.

O silêncio era tão assustador que ironicamente se tornava ensurdecedor, ele sentia seu peito arder e quando menos percebeu o barulho ritmado de seu coração invadiu seus ouvidos, era ainda mais assustador, era uma batida sem ritmo que se atropelava e levava junto seu corpo já tão frágil.

Ele tentou se encolher em meio a toda aquela tempestade que ele havia se tornado, sentiu o vento frio mais uma vez invadindo seu corpo, era um vento tão forte que levava a cada sopro um pouco do que restava de sua existência.

Ele não queria desistir, mas ele se sentiu encharcado pela tempestade, seus pés não tinham força para se levantar, seu peito queimava, sua garganta ardia, não restava quase nada de si, mas ainda assim ele não queria ir, ele queria ficar e sentir cada parte de tudo aquilo que ele já havia sido, ele queria que pedissem para que ele ficasse.

Em meio a inconsciência que tomava conta de todo o seu ser, ele pediu para que ao menos uma pessoa em meio a tudo aquilo o entendesse, uma, só uma. Ele implorou em meio ao devastador silêncio que o engolia.

O tempo parecia perdurar por uma eternidade, estava cansado, cansado de tudo, cansado de todos os que diziam falsamente se importar, a mágoa a todo instante crescia em meio ao seu desespero.

Sentiu um toque frio lhe apertando os braços, usou a pouca força que lhe restava para tentar se desvencilhar, era como gelo, tão frio que queimava sua pele, ele se debatia tentando se afastar.

Sentiu-se ser agarrado de forma abrupta, o corpo estava imobilizado e tudo que ele sentia era dor, era sufocante e por instantes era como estar prestes a morrer afogado, era como se ele não conseguisse alcançar a borda, era desesperador.

Ele já não tinha forças, já não tinha mais noção de tempo, só sentia dor, ele desistiu, não se debateu, se rendeu ao silêncio. O aperto não diminuía pelo contrário aumentava, ele sentiu um leve acalento em seus cabelos, era quase como se o silêncio o ninasse finalmente.

De repente seu preciso silêncio teve-se invadido por uma ritmada combinação de palavras, achou que era sua mente tentando-o enganar novamente. Deixou-se enganar, seu peito inflamado começou a seguir o ritmo daquela combinação de palavras.

“Isso, devagar…”, ele começou a entender o que significavam as palavras, o toque ainda apertado continuava, mas não era frio como o gelo, agora era quente, e ele se encolheu ali, tentando a todo custo se esquentar.

Sentiu um leve toque em seu peito lhe ajudando a guiar seu ritmo, era um toque quente, ele se agarrou desesperadamente a aquilo.

“Eu estou aqui, tá tudo bem”, ele repetiu, ele repetiu internamente que não estava sozinho, ele queria que aquilo não fosse uma mentira e por isso chorou, chorou desesperadamente porque não acreditava mais nisso, ele se engasgou novamente e tudo que saiu de seus lábios era que aquilo era uma mentira, ele estava sozinho.

“Eu estou aqui, tá tudo bem”, a voz era insistente mas sua mente também era, tudo que sua voz já enfraquecida respondia era que era mentira, pois ele estava sozinho.

Em meio a todo aquele insistente diálogo ele ouviu aquilo que precisava ouvir “eu não vou sair daqui, porque eu te amo”. Então ele chorou, chorou sua tempestade caótica e se agarrou a aquela esperança de que ao menos um alguém havia se importado e o amado.

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Armário bagunçado

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Para uma outra criança que encontrei por aí… talvez ela seja tão bruxa quanto eu.

Tudo era uma confusão.

Não sabia o que sentia, não entendia nada que acontecia, as vezes tudo que sabia era que a incerteza eram sua única certeza;

Não contava mais quantas vezes seu riso escapou ou quantas vezes suas lágrimas surgiam sem motivo aparente.

Não entendia como respirar podia ajudar, sentir a vida se esvaindo entre sua corrente respiratória nunca ajudou.

Era pesado sentir tudo aquilo entrando e saindo de dentro de si…

Contou todas as vezes que deixou cair algo importante enquanto respirava:

Deixou cair seu coração…

Deixou cair seu equilíbrio…

Deixou cair o que acreditava ser certo.

Tudo escapou naquele espaço tão pequeno que existia entre os sentimentos e o vazio.

Sentir…

Era bom sentir, sabia que vivia assim dessa forma: sentindo.

Era ruim sentir, era devastador não poder controlar o que sentia.

Tentou guardar tudo no armário, mas era muita coisa e quase nada cabia naquele espaço tão pequeno, as portas logo cederam e tudo desmoronou em cima de si.

O ar fugiu, e tudo ficou mais turvo do que costuma ser.

Se deparou com coisas que nem ousava pensar ter guardado, havia guardado realmente muita coisa.

Encontrou seus gritos escondidos no fundo do armário.

Encontrou as palavras carregadas de sentimentos que guardou por baixo de todas as tralhas desimportantes.

Encontrou as vozes, aquelas que queria esquecer, mas que não podia negar a existência, elas se multiplicavam.

Se culpou, afinal não soube guardas as coisas dentro do armário.

Se culpou porque quando olhavam para si viam aquela bagunça toda que escapava daquele espaço tão pequeno.

Se culpou porque supostamente sua bagunça havia respingado em outras pessoas.

Era estranho, complicado e inteiramente desconfortante.

Tudo que sentia era rápido e não podia controlar, não entendia muito bem como as outras pessoas escondiam tão bem tudo dentro de seus armários.

Não entendeu quando quis se enfiar por inteiro dentro daquele espaço tão pequeno e quebrado.

Respirar doía e ninguém deveria sentir dor enquanto respirava, mas nem sempre era assim.

As vezes respirar era bom, sentir todo aquele ar correndo dentro de si era confortante, era sinal de liberdade, de vida, de história.

Queria ser como o vento, livre, entrar e sair sem pedir licença.

Queria sair sem que perguntassem o motivo, queria sentir que era vida, que era a vida que existia nos outros e em si.

Queria sentir e saber o que sentir.

Preferia pontos finais á vírgulas, não gostava de criar continuação para nada, até gostava, mas se preocupada demais com tudo, pontos finais eram rápidos emergências e não precisavam de explicação.

Era difícil entender que tudo que sentia era seu, eram suas angustias, seus medos, suas alegrias e amores, tudo era seu e de mais ninguém.

Ninguém poderia engavetar o que sentia, ou guardar nos cantos do armário aquilo que não agradava por muito tempo.

Era difícil, era dolorido, era confuso, mas também era bom, afinal as vezes é bom no meio de toda aquela bagunça que desaba sobre nós descobrirmos que lá dentro também está guardado o que somos.

É bom nos reencontrarmos, redescobrirmos o que sentimos e entender ou desentender o que nos faz chorar e sorrir.

 

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Respirar

Tente passar pelo que estou passando
Tente apagar este teu novo engano
Tente me amar pois estou te amando

-Pérola Negra

Composição: Luiz Carlos Dos Santos

Certo dia senti vontade de voltar a escrever e senti preguiça, o texto morreu antes mesmo de nascer. Mas hoje em meio a meditação ao som de Caetano e os livros de engenharia de requisito que eu deveria ler, resolvi me arriscar a escrever sobre o que mais amo amar, pessoas.

Ao irmão extraterreno.

Era confuso, muito confuso.

Ninguém entendia, nem quem estava perto e muito menos quem estava longe. Nem ele se entendia.

A respiração pesava, e parecia acumular um bolo no meio do peito, era pesado, estava cansado, a dor não era explicável e nem tinha remédio, era angustiante e tudo que queria era se encostar em algum lugar, onde a dor tão inexplicável pudesse ser sentida.

Respirar, respirar era tudo que queria. Fechar os olhos e ouvir o som das ondas batendo nas pedras, como ninguém jamais o ouviu.

Não gostava de responder perguntas, porque geralmente não tinha respostas. Não gostava de não ter explicações para as lágrimas ou para o acumulo no peito que o impedia de encontrar palavras e tentar se explicar.

Ele nem sabia os motivos de tentar se explicar, mas era como se a todo instante lhe cobrassem isso. Era dolorido, denso e perverso, não tinha explicação.

Respirar, tudo que restava era respirar e sentir todo aquele ar invadindo seu corpo. Respirar era se sentir pesado pelo que não conseguia colocar para fora.

Era estranho como todos achavam que o conheciam, e que tinham a solução para o que estava sentindo. No meio de todo aquele caos que eram seus sentimentos, tudo que conseguiam era que ele achasse que seus sentimentos eram o problema.

Ele respirava forte e engolia o que queria sair, respirar as vezes era se sentir fora do próprio corpo. Respirar era dolorido, machucava e rasgava. O que não podia sair transbordava e inundava quando menos esperava.

Respirar, respirar e fechar os olhos, tudo escuro, tudo que se ouve são gotas caindo no nada, vazio sufocante. Respirar era viver em um silêncio barulhento.

Era difícil se ouvir em meio a todo aquele barulho que vivia sua mente, não eram frases fáceis de serem compreendidas, era tanto barulho que lhe dava vertigem e facilmente ele se perdia principalmente pelos caminhos fáceis.

Era mais fácil aceitar que seus passos jamais seriam retos.

Respirar, respirar as vezes era pesado, mas também era leve. Respirar era ter calma, para não se engasgar com si mesmo.

As vezes ele conseguia se entender, não era tão fácil, mas se contentava em chegar mesmo que por caminhos tortos nos lugares que deveria.

Respirar enquanto caía e se machucava era uma especialidade, o ato de respirar era longo, denso e solitário a espera que no final alguém o enxergasse e o ajudasse a levantar, alguém que o ajudasse a respirar.

Ansiedade, cartas, Crônica, depressão, Minhas Crônicas, Opinião, silêncio, Violência

Dor

passarinho

Passarinho vivia preso, não sabia voar;

Suas asas se embolavam nas entrelinhas dos seus livros preferidos;

Passarinho fazia ninho com aquilo que não queria ler;

Passarinho se perdia naquilo que não conseguia entender;

Passarinho se perdia entre os versos que ele cantava e ninguém entendia;

Passarinho queria voar, mas não podia.

Escrito para á pessoa que tropeçou com os seus sentimentos em mim….

Dor,

sentiu dor, mas não havia nada físico que lhe causasse aquilo que sentia.

Seu peito subia e descia, tudo doía, era angustiante, amedrontador.

É sentiu medo, o medo que ele sempre sentia mas ninguém sabia;

Tentou se distrair, mas miseravelmente falhou, se perdeu com facilidade em sua próprias palavras, não as entendia e já nem sabia porque antes ria;

Não se lembrava, não respirava, não enxergava;

Ele ouvia, ouvia tudo que não queria ouvir, queria que parassem, mas não paravam, isso o assustava.

Tentou dar um passo caiu;

Tentou escapar se descobriu preso;

Todas as portas estavam fechadas, trancadas, ele estava trancado, seus suspiros estavam trancados, suas dores estavam trancadas o rasgando por dentro.

Tudo cheirava a sangue, inclusive o tempo que não passava.

Sangue, ele sangrava.

Ele sangrava sem derramar uma gota de sangue, uma hora ou outra todo aquele sangue inundaria aquele lugar.

Doía e ninguém ligava, ninguém perguntava, ninguém se importava;

Doía tanto que ele tentou parar a dor e não conseguiu, aceitou que era castigo pelos pecados que ele nem sabia haver cometido;

Tentou achar o ar e não o sentiu, doeu, acelerou, ele não estava correndo, mas acelerou;

Seu coração acelerou, sentiu ainda mais medo;

Doeu,

Doeu,

Doeu;

O ar não saía, a dor não passava, ele tropeçava.

Chorou, se afogou nas próprias lágrimas, quis gritar, mas estava perdendo o ar;

As palavras não saíam, os versos não mais floresciam, tudo era momento e ele só queria que aquele momento acabasse;

Queria que parassem de gritar, que o ouvissem e o retirassem daquele lugar;

Que parassem os medos, que tudo parasse, que o tempo parasse, que o barulho parasse, que ele parasse.

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Carta para a minha ansiedade

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É estranho escrever uma carta para a minha ansiedade, nunca pensei que fosse fazer algo assim, mas me sinto levemente tentada a te contar como são meus dias em sua, nada, doce companhia, ou ao menos um dos dias.

Quando estava na calçada esperando todos os carros pararem eu encarei um ponto qualquer, era uma loja de roupas masculinas, estava exposto uma calça jeans muito bonita e ao lado dela tinha um vendedor com belas pernas, tinha perdido o sinal verde para atravessar. Desviei meu olhar das pessoas que me encaravam e quando o sinal abriu atravessei correndo, peguei o ônibus e me concentrei nas palavras cruzadas, eram tantas em tantas linhas que não pude me impedir de divagar entre os milhares de significados e como cada um deles se encaixava em minha vida.

Lá estava você, com seu sorriso sacana, me fazendo bater a perna esquerda desesperadamente no assoalho, enquanto marcava aquelas letras no papel, minha mente divagava pela letra de uma música qualquer de algum desconhecido, enquanto tentava a entender, escrevia as tais frases no papel que só deveria escrever letras. Minha garganta secou repentinamente quando no meio de uma outra música, uma frase me fez lembrar de algo que eu preferia esquecer, fiquei meio sem ar, e minhas mãos nervosas quase sem querer começaram a dobrar as folhas da revistinha.

Estava transpirando sem nem estar calor, sequei minhas mãos na camisa amarrota, e apertei a caneta…

Você é definitivamente muito sacana, guardei a revistinha antes que eu a rasgasse, revirei meus olhos enquanto procurava por meu celular para ouvir minha própria música, o fone estava embolado, desesperadamente, tentei desatar aquele nó tão simples, mais foi complicado e entre um bufar e outro acabei acidentalmente arrebentando um dos fones, fiquei frustrada, a música de outrem continuava a tocar, ela não acabava, não me deixou me concentrar na minha própria música.

Quando mal percebi já estava perto da minha descida, tive que correr para dar sinal, não que eu estivesse atrasada, desci com calma, enquanto caminhava para casa a cada passo, a cada detalhe, pensava em algo diferente, parecia que pisava na minha própria mente, era uma bagunça particular que ninguém era capaz de entender, mais uma vez absorta em meus próprios pensamentos cheguei em casa, fui direto para o banho para esfriar a mente, não adiantou, comi qualquer coisa enquanto pensava que não podia perder tempo. Eu já tinha perdido demais.

Qual o motivo de você sempre me visitar quando tenho que resolver algo sério, quando tenho que fazer algo que já deveria ter feito? Qual a porcaria do motivo de você aparecer, e como quem não quer nada, compilar em uma seleção premiada, todos os meus erros e medos, enquanto eu desesperadamente tento sair da minha encruzilhada pessoal?

Você continuou lá assombrando minha mente enquanto eu digitava os parágrafos do artigo que deveria estar pronto a muito tempo, lá estava você me encarando, me fazendo revisar aquelas linhas em meio a culpa de não ter feito antes, de não conseguir fazer mais rápido, de não conseguir me inspirar para escrever. Parei, respirei, pensei em tudo que planejo, tantas vezes com altos detalhes e não consigo realizar, me contorço na cadeira e tento alcançar um dos livros para o referencial, me pergunto quando marquei aquelas frases…?

Você continuou ali, enquanto eu aumentava o som nos meus fones, e lia as linhas dos livros que eram minhas referências, minha mente estava tão bagunçada ao seu lado que eu mal percebia quando saia de um texto e entrava em outra leitura, mas eu não conseguia transcrever todos aqueles pensamentos para o papel, não, quanto mais eu lia, quanto mais eu refletia, mais eu me perdia, tudo era muito rápido e eu não conseguia me acalmar para conseguir transcrever, quando eu comecei finalmente a escrever meus olhos cravaram no relógio, e mesmo que ele não fizesse o famoso TIC TAC, minha mente fazia, meus dedos não acompanhavam o tempo, ele era mais rápido, então um bolo subia na minha garganta e eu o tossia.

A tosse era quase uma forma de colocar aquele bolo invisível para fora, você sabe, eu sei, todo mundo sabe, não tinha nada subindo do meu peito para minha garganta, até porque o caminho percorrido era algo biologicamente impossível, biologicamente não é mentalmente, não adiantava eu saber, aquela bola que queimava por onde passava continuava a subir e a descer, eu não conseguia expelir, ela se dissipava na minha barriga, e eu a ignorava, continuava escrevendo, a essa altura qualquer ruído me trazia desconforto.

Entre o desligar ou não a música, meus dedos batiam freneticamente na mesa eu encarava as unhas malfeitas, eu deveria ter mais vaidade, minhas mãos instintivamente vão aos meus cabelos, me lembrando que eu não tinha nem penteado decentemente antes de sair de casa, eu começo a coça-los enquanto fico nervosa e penso em todas as vezes que fiz isso, quem liga? Eu não ligo, não eu não ligo, não eu achava que não ligava até a hora que você apareceu na minha vida, e me fez pensar esse monte de coisas, maldita ansiedade, eu penso na minha idade, no meu dinheiro, nas idas e vindas que não tive… Droga, eu não aguento mais essa música, eu não consigo escrever, eu tenho 25 anos e não tenho a menor ideia do que fazer…

Enquanto parava o maldito “play” meus olhos desviaram para a barra de pesquisa, e mesmo que a música tenha parado ela continua a tocar repetidamente na minha mente enquanto transito pelas redes sociais, pessoas, barra de pesquisa, curtir, comentar, desviar, compartilhar, quando olhei novamente o relógio, tinha perdido muito tempo, minhas pernas balançavam freneticamente na cadeira, para um lado e para o outro, me perdi naquele movimento incansável enquanto me desesperava por todas as linhas que não escrevi.

Tentei me concentrar novamente mas tudo que consegui fazer foi pensar na sobremesa que não comi, ela ainda estava esperando por mim, estava lá, na geladeira, mal percebi quando minhas mãos alcançaram aquele pote, caminhei com ele para o quarto novamente, sentei, respirei, comi, digitei, digitei, digitei, e quando finalmente só faltava a conclusão, ouço o apito de mensagens do smartphone soar, tento continuar digitando, ele soa novamente, ele soa freneticamente, busco com os olhos a onde o deixei e o encontro ali, jogado ao lado da pilha de livros de distintos assuntos, que eu deveria ter lido e não li.

Olhei as mensagens, respirei, me frustrei, falei sozinha, briguei sozinha, ameacei digitar, digitei, apaguei, digitei, não revisei, enviei, me arrependi. Droga! Me responderam, continuaram a responder, enviei, enviei novamente, desisti de enviar porque perdi o interesse na conversa, ri revirando os olhos, me sentei no chão enquanto buscava algo legal para ouvir enquanto ignorava as mensagens, descobri um texto legal, legal mesmo, muito legal, me deu ideia do que escrever.

Me sentei na cadeira e li meu texto de cabo a rabo fazendo novos apontamentos, me perdi na hora, na música, no texto, nas minhas divagações, mal percebi quando terminei, parecia que tinha demorado mais do que realmente tinha, não quis revisar, não sou obrigada a revisar, eu sou obrigada a revisar, mas enviei mesmo assim, a orientadora revisa, o mundo revisa e eu durmo, ou não…

Tomei um banho quente, e cai na cama, olhei para as paredes estava escuro mal dava para ver os rabiscos que tinha feito, respirei tentando fechar os olhos e dormir, não consegui, contei até cem, não dormi, imaginei mil e uma coisas, me arrependi de comer o doce, bebi agua, li as mensagens, pensei em responder, me arrependi, pensei no rapaz sexy que não sabia o nome, endereço ou que rosto tinha, mas sabia como eram suas pernas, que pernas, queria ter visto seu rosto, minha mente voou, voou longe me fazendo pensar que deveria ter entrado naquela loja, ter perguntado alguma coisa, me frustrei, tentei fechar os olhos e o nervosismo voltou a aparecer, eu deveria ter revisado o texto, e se não gostarem, e se tiver muitos erros, e se…, droga!