Amor, Ansiedade, Crônica, Minhas Crônicas, silêncio

Ansiedade: Solidão

Gatilho: Crise de ansiedade.


ho’oponopono, sinto muito, me perdoe, te amo e sou grato

O amor é um Deus de palavras profanas, que embala nossos sonhos e acalenta nossos corações. – Juliana M.


Ele proferiu palavras mundanas e se desesperou com o que sentiu, o ar que se alojava em seu ventre o impedia de respirar, era um peso que o paralisava no lugar.

Suas mãos tremulas manchavam sua pele, elas tracejavam caminhos incertos, ele se sentiu incapaz de controlar qualquer ato de seu próprio corpo, os primeiros soluços vieram de forma sôfrega, mas não tinham a intensidade de quando o ar finalmente saiu.

Quando o ar fugiu por seus lábios, ele sentiu que trouxe junto toda a sua vida, seu mundo desabou ali naquele instante, ele nem ao menos controlou tudo que saiu de dentro de si, os soluços já não cabiam dentro dele.

Quis se manter de pé, mas no momento que tudo aquilo saiu de dentro de si, saiu também seu equilíbrio, ele foi ao chão e não conseguiu mais se reerguer. É difícil para uma pessoa adulta admitir que seu chão tinha ruído e que ele tinha desabado, mas esse era o fato.

Repentinamente tudo pareceu escurecer e ele que já se via tão sozinho, se sentiu ainda mais vazio. Não conseguia sentir nada além de uma dor intensa, que se fazia presente em todo seu corpo.

Então ele resolveu mentir, mas não tinha ninguém além dele para enganar, ele mentiu para si mesmo, “vai ficar tudo bem”, ele sabia que era mentira, mas mesmo assim repetiu incansavelmente na frustrante missão de fazer tudo aquilo passar.

Não tinha mais nada para sair, tudo que restou dentro dele era o silêncio, que fazia questão de ocupar cada espaço do seu corpo. Seu silêncio era pesaroso e cheio de rancor, ele era frustrante.

Ele deu tanto de si para todos e tudo que recebeu foi o silêncio como recompensa, o peso das palavras que ele nunca falou e de todas as que já ouviu, chegaram a sua garganta e mais uma vez seu peito se encheu de uma dor, uma dor pequena que estava guardada dentro de si e que se inflamou com o seu silêncio.

O silêncio era tão assustador que ironicamente se tornava ensurdecedor, ele sentia seu peito arder e quando menos percebeu o barulho ritmado de seu coração invadiu seus ouvidos, era ainda mais assustador, era uma batida sem ritmo que se atropelava e levava junto seu corpo já tão frágil.

Ele tentou se encolher em meio a toda aquela tempestade que ele havia se tornado, sentiu o vento frio mais uma vez invadindo seu corpo, era um vento tão forte que levava a cada sopro um pouco do que restava de sua existência.

Ele não queria desistir, mas ele se sentiu encharcado pela tempestade, seus pés não tinham força para se levantar, seu peito queimava, sua garganta ardia, não restava quase nada de si, mas ainda assim ele não queria ir, ele queria ficar e sentir cada parte de tudo aquilo que ele já havia sido, ele queria que pedissem para que ele ficasse.

Em meio a inconsciência que tomava conta de todo o seu ser, ele pediu para que ao menos uma pessoa em meio a tudo aquilo o entendesse, uma, só uma. Ele implorou em meio ao devastador silêncio que o engolia.

O tempo parecia perdurar por uma eternidade, estava cansado, cansado de tudo, cansado de todos os que diziam falsamente se importar, a mágoa a todo instante crescia em meio ao seu desespero.

Sentiu um toque frio lhe apertando os braços, usou a pouca força que lhe restava para tentar se desvencilhar, era como gelo, tão frio que queimava sua pele, ele se debatia tentando se afastar.

Sentiu-se ser agarrado de forma abrupta, o corpo estava imobilizado e tudo que ele sentia era dor, era sufocante e por instantes era como estar prestes a morrer afogado, era como se ele não conseguisse alcançar a borda, era desesperador.

Ele já não tinha forças, já não tinha mais noção de tempo, só sentia dor, ele desistiu, não se debateu, se rendeu ao silêncio. O aperto não diminuía pelo contrário aumentava, ele sentiu um leve acalento em seus cabelos, era quase como se o silêncio o ninasse finalmente.

De repente seu preciso silêncio teve-se invadido por uma ritmada combinação de palavras, achou que era sua mente tentando-o enganar novamente. Deixou-se enganar, seu peito inflamado começou a seguir o ritmo daquela combinação de palavras.

“Isso, devagar…”, ele começou a entender o que significavam as palavras, o toque ainda apertado continuava, mas não era frio como o gelo, agora era quente, e ele se encolheu ali, tentando a todo custo se esquentar.

Sentiu um leve toque em seu peito lhe ajudando a guiar seu ritmo, era um toque quente, ele se agarrou desesperadamente a aquilo.

“Eu estou aqui, tá tudo bem”, ele repetiu, ele repetiu internamente que não estava sozinho, ele queria que aquilo não fosse uma mentira e por isso chorou, chorou desesperadamente porque não acreditava mais nisso, ele se engasgou novamente e tudo que saiu de seus lábios era que aquilo era uma mentira, ele estava sozinho.

“Eu estou aqui, tá tudo bem”, a voz era insistente mas sua mente também era, tudo que sua voz já enfraquecida respondia era que era mentira, pois ele estava sozinho.

Em meio a todo aquele insistente diálogo ele ouviu aquilo que precisava ouvir “eu não vou sair daqui, porque eu te amo”. Então ele chorou, chorou sua tempestade caótica e se agarrou a aquela esperança de que ao menos um alguém havia se importado e o amado.

Amor, Ansiedade, Capitalismo, cartas, Crônica, depressão, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, Poesia, Sem categoria, silêncio

Armário bagunçado

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Para uma outra criança que encontrei por aí… talvez ela seja tão bruxa quanto eu.

Tudo era uma confusão.

Não sabia o que sentia, não entendia nada que acontecia, as vezes tudo que sabia era que a incerteza eram sua única certeza;

Não contava mais quantas vezes seu riso escapou ou quantas vezes suas lágrimas surgiam sem motivo aparente.

Não entendia como respirar podia ajudar, sentir a vida se esvaindo entre sua corrente respiratória nunca ajudou.

Era pesado sentir tudo aquilo entrando e saindo de dentro de si…

Contou todas as vezes que deixou cair algo importante enquanto respirava:

Deixou cair seu coração…

Deixou cair seu equilíbrio…

Deixou cair o que acreditava ser certo.

Tudo escapou naquele espaço tão pequeno que existia entre os sentimentos e o vazio.

Sentir…

Era bom sentir, sabia que vivia assim dessa forma: sentindo.

Era ruim sentir, era devastador não poder controlar o que sentia.

Tentou guardar tudo no armário, mas era muita coisa e quase nada cabia naquele espaço tão pequeno, as portas logo cederam e tudo desmoronou em cima de si.

O ar fugiu, e tudo ficou mais turvo do que costuma ser.

Se deparou com coisas que nem ousava pensar ter guardado, havia guardado realmente muita coisa.

Encontrou seus gritos escondidos no fundo do armário.

Encontrou as palavras carregadas de sentimentos que guardou por baixo de todas as tralhas desimportantes.

Encontrou as vozes, aquelas que queria esquecer, mas que não podia negar a existência, elas se multiplicavam.

Se culpou, afinal não soube guardas as coisas dentro do armário.

Se culpou porque quando olhavam para si viam aquela bagunça toda que escapava daquele espaço tão pequeno.

Se culpou porque supostamente sua bagunça havia respingado em outras pessoas.

Era estranho, complicado e inteiramente desconfortante.

Tudo que sentia era rápido e não podia controlar, não entendia muito bem como as outras pessoas escondiam tão bem tudo dentro de seus armários.

Não entendeu quando quis se enfiar por inteiro dentro daquele espaço tão pequeno e quebrado.

Respirar doía e ninguém deveria sentir dor enquanto respirava, mas nem sempre era assim.

As vezes respirar era bom, sentir todo aquele ar correndo dentro de si era confortante, era sinal de liberdade, de vida, de história.

Queria ser como o vento, livre, entrar e sair sem pedir licença.

Queria sair sem que perguntassem o motivo, queria sentir que era vida, que era a vida que existia nos outros e em si.

Queria sentir e saber o que sentir.

Preferia pontos finais á vírgulas, não gostava de criar continuação para nada, até gostava, mas se preocupada demais com tudo, pontos finais eram rápidos emergências e não precisavam de explicação.

Era difícil entender que tudo que sentia era seu, eram suas angustias, seus medos, suas alegrias e amores, tudo era seu e de mais ninguém.

Ninguém poderia engavetar o que sentia, ou guardar nos cantos do armário aquilo que não agradava por muito tempo.

Era difícil, era dolorido, era confuso, mas também era bom, afinal as vezes é bom no meio de toda aquela bagunça que desaba sobre nós descobrirmos que lá dentro também está guardado o que somos.

É bom nos reencontrarmos, redescobrirmos o que sentimos e entender ou desentender o que nos faz chorar e sorrir.

 

Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas, Sem categoria, silêncio

Respirar

Tente passar pelo que estou passando
Tente apagar este teu novo engano
Tente me amar pois estou te amando

-Pérola Negra

Composição: Luiz Carlos Dos Santos

Certo dia senti vontade de voltar a escrever e senti preguiça, o texto morreu antes mesmo de nascer. Mas hoje em meio a meditação ao som de Caetano e os livros de engenharia de requisito que eu deveria ler, resolvi me arriscar a escrever sobre o que mais amo amar, pessoas.

Ao irmão extraterreno.

Era confuso, muito confuso.

Ninguém entendia, nem quem estava perto e muito menos quem estava longe. Nem ele se entendia.

A respiração pesava, e parecia acumular um bolo no meio do peito, era pesado, estava cansado, a dor não era explicável e nem tinha remédio, era angustiante e tudo que queria era se encostar em algum lugar, onde a dor tão inexplicável pudesse ser sentida.

Respirar, respirar era tudo que queria. Fechar os olhos e ouvir o som das ondas batendo nas pedras, como ninguém jamais o ouviu.

Não gostava de responder perguntas, porque geralmente não tinha respostas. Não gostava de não ter explicações para as lágrimas ou para o acumulo no peito que o impedia de encontrar palavras e tentar se explicar.

Ele nem sabia os motivos de tentar se explicar, mas era como se a todo instante lhe cobrassem isso. Era dolorido, denso e perverso, não tinha explicação.

Respirar, tudo que restava era respirar e sentir todo aquele ar invadindo seu corpo. Respirar era se sentir pesado pelo que não conseguia colocar para fora.

Era estranho como todos achavam que o conheciam, e que tinham a solução para o que estava sentindo. No meio de todo aquele caos que eram seus sentimentos, tudo que conseguiam era que ele achasse que seus sentimentos eram o problema.

Ele respirava forte e engolia o que queria sair, respirar as vezes era se sentir fora do próprio corpo. Respirar era dolorido, machucava e rasgava. O que não podia sair transbordava e inundava quando menos esperava.

Respirar, respirar e fechar os olhos, tudo escuro, tudo que se ouve são gotas caindo no nada, vazio sufocante. Respirar era viver em um silêncio barulhento.

Era difícil se ouvir em meio a todo aquele barulho que vivia sua mente, não eram frases fáceis de serem compreendidas, era tanto barulho que lhe dava vertigem e facilmente ele se perdia principalmente pelos caminhos fáceis.

Era mais fácil aceitar que seus passos jamais seriam retos.

Respirar, respirar as vezes era pesado, mas também era leve. Respirar era ter calma, para não se engasgar com si mesmo.

As vezes ele conseguia se entender, não era tão fácil, mas se contentava em chegar mesmo que por caminhos tortos nos lugares que deveria.

Respirar enquanto caía e se machucava era uma especialidade, o ato de respirar era longo, denso e solitário a espera que no final alguém o enxergasse e o ajudasse a levantar, alguém que o ajudasse a respirar.

Ansiedade, cartas, Crônica, depressão, Minhas Crônicas, Opinião, silêncio, Violência

Dor

passarinho

Passarinho vivia preso, não sabia voar;

Suas asas se embolavam nas entrelinhas dos seus livros preferidos;

Passarinho fazia ninho com aquilo que não queria ler;

Passarinho se perdia naquilo que não conseguia entender;

Passarinho se perdia entre os versos que ele cantava e ninguém entendia;

Passarinho queria voar, mas não podia.

Escrito para á pessoa que tropeçou com os seus sentimentos em mim….

Dor,

sentiu dor, mas não havia nada físico que lhe causasse aquilo que sentia.

Seu peito subia e descia, tudo doía, era angustiante, amedrontador.

É sentiu medo, o medo que ele sempre sentia mas ninguém sabia;

Tentou se distrair, mas miseravelmente falhou, se perdeu com facilidade em sua próprias palavras, não as entendia e já nem sabia porque antes ria;

Não se lembrava, não respirava, não enxergava;

Ele ouvia, ouvia tudo que não queria ouvir, queria que parassem, mas não paravam, isso o assustava.

Tentou dar um passo caiu;

Tentou escapar se descobriu preso;

Todas as portas estavam fechadas, trancadas, ele estava trancado, seus suspiros estavam trancados, suas dores estavam trancadas o rasgando por dentro.

Tudo cheirava a sangue, inclusive o tempo que não passava.

Sangue, ele sangrava.

Ele sangrava sem derramar uma gota de sangue, uma hora ou outra todo aquele sangue inundaria aquele lugar.

Doía e ninguém ligava, ninguém perguntava, ninguém se importava;

Doía tanto que ele tentou parar a dor e não conseguiu, aceitou que era castigo pelos pecados que ele nem sabia haver cometido;

Tentou achar o ar e não o sentiu, doeu, acelerou, ele não estava correndo, mas acelerou;

Seu coração acelerou, sentiu ainda mais medo;

Doeu,

Doeu,

Doeu;

O ar não saía, a dor não passava, ele tropeçava.

Chorou, se afogou nas próprias lágrimas, quis gritar, mas estava perdendo o ar;

As palavras não saíam, os versos não mais floresciam, tudo era momento e ele só queria que aquele momento acabasse;

Queria que parassem de gritar, que o ouvissem e o retirassem daquele lugar;

Que parassem os medos, que tudo parasse, que o tempo parasse, que o barulho parasse, que ele parasse.

Ansiedade, cartas, Crônica, escolhas, Opinião, Saúde, Sem categoria

Carta para a minha ansiedade

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É estranho escrever uma carta para a minha ansiedade, nunca pensei que fosse fazer algo assim, mas me sinto levemente tentada a te contar como são meus dias em sua, nada, doce companhia, ou ao menos um dos dias.

Quando estava na calçada esperando todos os carros pararem eu encarei um ponto qualquer, era uma loja de roupas masculinas, estava exposto uma calça jeans muito bonita e ao lado dela tinha um vendedor com belas pernas, tinha perdido o sinal verde para atravessar. Desviei meu olhar das pessoas que me encaravam e quando o sinal abriu atravessei correndo, peguei o ônibus e me concentrei nas palavras cruzadas, eram tantas em tantas linhas que não pude me impedir de divagar entre os milhares de significados e como cada um deles se encaixava em minha vida.

Lá estava você, com seu sorriso sacana, me fazendo bater a perna esquerda desesperadamente no assoalho, enquanto marcava aquelas letras no papel, minha mente divagava pela letra de uma música qualquer de algum desconhecido, enquanto tentava a entender, escrevia as tais frases no papel que só deveria escrever letras. Minha garganta secou repentinamente quando no meio de uma outra música, uma frase me fez lembrar de algo que eu preferia esquecer, fiquei meio sem ar, e minhas mãos nervosas quase sem querer começaram a dobrar as folhas da revistinha.

Estava transpirando sem nem estar calor, sequei minhas mãos na camisa amarrota, e apertei a caneta…

Você é definitivamente muito sacana, guardei a revistinha antes que eu a rasgasse, revirei meus olhos enquanto procurava por meu celular para ouvir minha própria música, o fone estava embolado, desesperadamente, tentei desatar aquele nó tão simples, mais foi complicado e entre um bufar e outro acabei acidentalmente arrebentando um dos fones, fiquei frustrada, a música de outrem continuava a tocar, ela não acabava, não me deixou me concentrar na minha própria música.

Quando mal percebi já estava perto da minha descida, tive que correr para dar sinal, não que eu estivesse atrasada, desci com calma, enquanto caminhava para casa a cada passo, a cada detalhe, pensava em algo diferente, parecia que pisava na minha própria mente, era uma bagunça particular que ninguém era capaz de entender, mais uma vez absorta em meus próprios pensamentos cheguei em casa, fui direto para o banho para esfriar a mente, não adiantou, comi qualquer coisa enquanto pensava que não podia perder tempo. Eu já tinha perdido demais.

Qual o motivo de você sempre me visitar quando tenho que resolver algo sério, quando tenho que fazer algo que já deveria ter feito? Qual a porcaria do motivo de você aparecer, e como quem não quer nada, compilar em uma seleção premiada, todos os meus erros e medos, enquanto eu desesperadamente tento sair da minha encruzilhada pessoal?

Você continuou lá assombrando minha mente enquanto eu digitava os parágrafos do artigo que deveria estar pronto a muito tempo, lá estava você me encarando, me fazendo revisar aquelas linhas em meio a culpa de não ter feito antes, de não conseguir fazer mais rápido, de não conseguir me inspirar para escrever. Parei, respirei, pensei em tudo que planejo, tantas vezes com altos detalhes e não consigo realizar, me contorço na cadeira e tento alcançar um dos livros para o referencial, me pergunto quando marquei aquelas frases…?

Você continuou ali, enquanto eu aumentava o som nos meus fones, e lia as linhas dos livros que eram minhas referências, minha mente estava tão bagunçada ao seu lado que eu mal percebia quando saia de um texto e entrava em outra leitura, mas eu não conseguia transcrever todos aqueles pensamentos para o papel, não, quanto mais eu lia, quanto mais eu refletia, mais eu me perdia, tudo era muito rápido e eu não conseguia me acalmar para conseguir transcrever, quando eu comecei finalmente a escrever meus olhos cravaram no relógio, e mesmo que ele não fizesse o famoso TIC TAC, minha mente fazia, meus dedos não acompanhavam o tempo, ele era mais rápido, então um bolo subia na minha garganta e eu o tossia.

A tosse era quase uma forma de colocar aquele bolo invisível para fora, você sabe, eu sei, todo mundo sabe, não tinha nada subindo do meu peito para minha garganta, até porque o caminho percorrido era algo biologicamente impossível, biologicamente não é mentalmente, não adiantava eu saber, aquela bola que queimava por onde passava continuava a subir e a descer, eu não conseguia expelir, ela se dissipava na minha barriga, e eu a ignorava, continuava escrevendo, a essa altura qualquer ruído me trazia desconforto.

Entre o desligar ou não a música, meus dedos batiam freneticamente na mesa eu encarava as unhas malfeitas, eu deveria ter mais vaidade, minhas mãos instintivamente vão aos meus cabelos, me lembrando que eu não tinha nem penteado decentemente antes de sair de casa, eu começo a coça-los enquanto fico nervosa e penso em todas as vezes que fiz isso, quem liga? Eu não ligo, não eu não ligo, não eu achava que não ligava até a hora que você apareceu na minha vida, e me fez pensar esse monte de coisas, maldita ansiedade, eu penso na minha idade, no meu dinheiro, nas idas e vindas que não tive… Droga, eu não aguento mais essa música, eu não consigo escrever, eu tenho 25 anos e não tenho a menor ideia do que fazer…

Enquanto parava o maldito “play” meus olhos desviaram para a barra de pesquisa, e mesmo que a música tenha parado ela continua a tocar repetidamente na minha mente enquanto transito pelas redes sociais, pessoas, barra de pesquisa, curtir, comentar, desviar, compartilhar, quando olhei novamente o relógio, tinha perdido muito tempo, minhas pernas balançavam freneticamente na cadeira, para um lado e para o outro, me perdi naquele movimento incansável enquanto me desesperava por todas as linhas que não escrevi.

Tentei me concentrar novamente mas tudo que consegui fazer foi pensar na sobremesa que não comi, ela ainda estava esperando por mim, estava lá, na geladeira, mal percebi quando minhas mãos alcançaram aquele pote, caminhei com ele para o quarto novamente, sentei, respirei, comi, digitei, digitei, digitei, e quando finalmente só faltava a conclusão, ouço o apito de mensagens do smartphone soar, tento continuar digitando, ele soa novamente, ele soa freneticamente, busco com os olhos a onde o deixei e o encontro ali, jogado ao lado da pilha de livros de distintos assuntos, que eu deveria ter lido e não li.

Olhei as mensagens, respirei, me frustrei, falei sozinha, briguei sozinha, ameacei digitar, digitei, apaguei, digitei, não revisei, enviei, me arrependi. Droga! Me responderam, continuaram a responder, enviei, enviei novamente, desisti de enviar porque perdi o interesse na conversa, ri revirando os olhos, me sentei no chão enquanto buscava algo legal para ouvir enquanto ignorava as mensagens, descobri um texto legal, legal mesmo, muito legal, me deu ideia do que escrever.

Me sentei na cadeira e li meu texto de cabo a rabo fazendo novos apontamentos, me perdi na hora, na música, no texto, nas minhas divagações, mal percebi quando terminei, parecia que tinha demorado mais do que realmente tinha, não quis revisar, não sou obrigada a revisar, eu sou obrigada a revisar, mas enviei mesmo assim, a orientadora revisa, o mundo revisa e eu durmo, ou não…

Tomei um banho quente, e cai na cama, olhei para as paredes estava escuro mal dava para ver os rabiscos que tinha feito, respirei tentando fechar os olhos e dormir, não consegui, contei até cem, não dormi, imaginei mil e uma coisas, me arrependi de comer o doce, bebi agua, li as mensagens, pensei em responder, me arrependi, pensei no rapaz sexy que não sabia o nome, endereço ou que rosto tinha, mas sabia como eram suas pernas, que pernas, queria ter visto seu rosto, minha mente voou, voou longe me fazendo pensar que deveria ter entrado naquela loja, ter perguntado alguma coisa, me frustrei, tentei fechar os olhos e o nervosismo voltou a aparecer, eu deveria ter revisado o texto, e se não gostarem, e se tiver muitos erros, e se…, droga!