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Apenas 1, 2, 3,… escolhas.

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Começo escrevendo esse texto dizendo que gostaria que o tema desse fosse outro, mas estou em uma semana muito complexa por causa de uma prova, que não, não é o ENEM, já passei dessa fase, agora estou naquele limbo eterno a procura de emprego e estabilidade.

Como eu ia falando gostaria que o tema desse texto fosse algo político, queria escrever a respeito da PEC241, da Medida Provisória que altera o Ensino, da Escola sem Partido, queria escrever a respeito de tudo isso, e de como tentam nos amordaçar enquanto nos tiram direitos, mas infelizmente não posso. Não que eu não consiga falar dessas monstruosas alterações, que tem como princípio básico diminuir o número de acessos a Universidade Pública, assim como parar o crescimento capital da população em prol de um crescimento econômico ilusório pautado na privatização.

Não eu definitivamente não vou falar disso, nem muito menos do fato do Prefeito da Minha Cidade ter sido eleito com um número inferior ao número de votos de pessoas que se pautaram na abstenção, muito menos comentarei ao fato desse candidato apoiar a PEC241. Não, eu definitivamente não quero falar mal da população que se absteve ao voto e agora fica reclamando da decisão de se ter como prefeito um senhor que diversas vezes deixou claro seus atos de intolerância.

Sabem durante boa parte da minha vida escolar me foi empregado que eu deveria escolher algo que eu gostasse para seguir como profissão, sabem qual é problema disso, eu nunca soube escolher. NUNCA!

Quando pequena eu amava rasgar os sacos plásticos da minha mãe e me imaginar uma estilista famosa que desenhava em todos os cantos seus planos para dominar o mundo da moda, minha vó até falava que um dia iria me levar no barracão da Portela para eu me enfiar no meio de toda aquela pluma e paetês que eu tanto amava, afinal quando ia na casa dela adorava ficar brincando com as fantasias velhas do meu primo. Bem ela nunca me levou na Portela, nunca conheci o processo de confecção de fantasias e não sei bem se a culpa foi dos meus pais que não deixaram ela alimentar essa “fantasia infantil”. De fato, eu ainda curto desenhar roupas para passar o estresse, assim como “as vezes” costuro algumas coisas na máquina que fica no meu quarto.

Às vezes eu fico pensando como seria se de fato eu tivesse conhecido o barracão da Portela, talvez minha vida fosse ser igual, ou talvez diferente, nunca saberei. Nessa época eu tinha umas primas que brincavam comigo, entre eu ser bruxa e modelo pop star, descobria que não existe “bruxa boazinha”, e meninas tinham que ser “boazinhas” e nem “modelo gordinha”, eu realmente preferia os sacos plásticos ao menos eles não me diziam que “eu não podia ser”. Mas nem tudo são flores, principalmente quando brincava de “lutinha” com meu irmão mais novo, altos golpes que me fizeram ganhar o rótulo de “garota-moleque”, nossa eu fui bastante rotulada quando pequena, me pergunto porque não fiz judô, boxe, karatê, sei lá, eu curtia e ainda curto esse tipo de esporte, acho que a grana na época era pouca e eu agora não tenho tempo.

O mais engraçado é que eu nunca fui uma coisa só, desde pequena, cresci entre as panelas da minha mãe e entre as ferramentas do meu pai, minha mãe é ciumenta com as panelas dela, então quando pequena eu a esperava sair, para poder inventar algo na cozinha, é claro que raramente dava certo, e mais claro ainda que isso de certa forma fez ela me manter muito longe das panelas, eu queria ser chefe de cozinha e hoje apesar de ainda colecionar receitas ainda não me sinto confiante perto das panelas.

Conforme fui crescendo fui me interessando ainda mais por uma série de coisas diferentes, ajudar meu pai tinha suas vantagens, aprender sobre carros, obras e fiação elétrica me fizeram questionar se eu deveria fazer alguma engenharia, física, sei lá alguma coisa de exatas. Mas eu não fiz, na verdade meu ensino médio, foi bem humano, fiz formação de professores em uma escola Normal Estadual, um pacote completo que me fizeram questionar como o Estado pretendia formar professores da Educação Básica, sem que o currículo fosse rico em disciplinas essenciais…?

Talvez esse fosse meu primeiro passo em humanas, se eu tive poucas disciplinas de exatas não posso dizer o mesmo a respeito das disciplinas da área da psicologia, todo ano era uma nova e isso de fato fazia meu ID enlouquecer querendo prestar vestibular para psicologia. Eu não tentei, fiz para pedagogia, a verdade é que apesar de eu amar educação, o motivo foi bem menos nobre, admito, a relação candidato vaga, era mais atraente do que em Psicologia.

Minha vida inteira eu gostava de várias coisas ao mesmo tempo e na hora do vestibular não poderia ser diferente, eram tantas questões com respostas parecidas que eu vivia um caso de amor em completa bigamia enquanto escolhia a resposta. Isso ainda acontece, nem sei como eu passo nas provas, escolher realmente é um problema grave que eu tenho.

Quando passei para Pedagogia, me vi mais uma vez filha da pública, só que dessa vez longe de todo o glamour do Ensino Médio, nesse meio tempo acabei alimentando algumas paixões antigas, a psicologia foi uma delas com toda certeza, vocês não têm ideia de como um amor mal resolvido pode acabar te machucando, você acha que sabe de tudo e quando vê, não sabe de nada. Muitos dos meus problemas, de não ter feito psicologia, foi que eu de fato, tenho um “dom” de ouvir o outro, e isso me frustra bastante, as pessoas me procuram, eu ouço e depois somem.

Me tornei o que meus amigos definem de “esquerdopata relax”, curtia defender todas as causas em todos os momentos, ao mesmo tempo em que brigava com os grupos quando agiam com infantilidade e egoísmo. Virei representante, conhecida entre os alunos, e me metia em confusões por conta disso, cogitei me mudar para as Ciências Sociais em uma visita ao 9º andar da UERJ, confesso que me ludibriei mais por causa da barba do rapaz do que as 10.000 palavras de ordem, que ele cuspia por minuto enquanto bebia um café no Centro Acadêmico, provavelmente foi nesse momento em que descobri minha vocação para “vender miçanga”.

Entre coordenar as disputas pelo Centro Acadêmico do 12º andar, que muitas vezes melavam, e uma resenha crítica eu acabei iniciando um curso técnico de Eletrotécnica, desisti do curso uns dois meses depois, os estágios da Pedagogia não me deixaram concluir, nossa doeu me despedir dos meus colegas de curso. Mas entre tantas desistências de fazer ou não fazer o processo de transferência interna na Universidade, meu computador acabou dando pau e eu descobri uma nova paixão entre tutoriais e sites com dicas de informática eu ia fazendo pequenos reparos no meu computador e nos computadores dos coleguinhas. Nada melhor do que uma nova paixão…

Cursar Pedagogia me fez nesses quatro anos perceber que eu quero dar aula, mas talvez eu não queira só isso, foi difícil admitir isso, principalmente porque segundo as leis da humanidade “você só deve ser uma única coisa nessa vida”. Cara, nem quando me relaciono eu consigo me relacionar apenas com uma pessoa, eu amo várias vezes ao mesmo tempo e é amor mesmo.

Esse ano resolvi fazer um curso de Informática com ênfase em programação, estou amando descobrir que “no mundo existem 10 tipos de pessoas, as que entendem binário e as que não entendem”, entendedores entenderam, de fato estou me divertindo enquanto armo na minha cabeça uma forma de “dominar” o mundo e ganhar uns trocados enquanto não passo em concurso público.

Por falar em concurso público tenho que admitir a ideia de passar, e fazer a mesma coisa durante longos 30 anos da minha vida vem me aterrorizando, eu quero, mas não sei se consigo, assim como não sei se consigo terminar algum dos meus intermináveis livros presos nas pastas do meu computador, nunca entenderei minha dificuldades de escrever finais, de concluir histórias, provavelmente isso deva ter alguma relação com o fato de eu muitas vezes ter dificuldade de enxergar o futuro, enxergar além pode ser bem assustador, então viva o agora.

O motivo de eu ter escrito isso é para mostrar quantas vezes cerceamos nossos próprios desejos, ou somos cerceados por nossos pais e até mesmo pelo Estado. Sabem o que me dá o maior medo nas reformas que acontecem no Ensino Médio, além de claro ter minha voz vigiada e castrada como professora? O fato de que cada vez mais os jovens têm uma leitura do mundo hipertextualizada, eles fazem muitas coisas ao mesmo tempo, de muitas formas.

Eu não fui a única a enfrentar esses dilemas, provavelmente não serei a última, se meu ensino médio fosse ainda mais restritivo em disciplinas eu seria ainda mais podada. Quanto mais se separa e desassociam as disciplinas, mas nos distanciamos do objetivo principal de ensinar. Não temos que racionalizar o ensino temos que o tornar atraente para que todos sintam que são capazes de se tornarem aquilo que quiserem, de desistirem e fazerem o que sentirem vontade.

Afinal não se ama uma única vez, se ama de várias formas, então se encantar por muitas coisas não é loucura, é só sua mente te dizendo que para você ser feliz, você tem que seguir aquilo que acredita. E daí se os números que usamos para programar não cabem dentro dos PDFs sociais que tanto lemos. O importante é viver longe das prisões que criamos para podar nossos desejos.

No fim acho que minha poligamia se estende a tudo em mim…