Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas, Sexo

Carta 2: Saudade

Felipe Catto – Saga

Confesso que tenho saudade do seu corpo,

Uma saudade tão palpável que quase posso te vê na minha frente, me falando de amor com os olhos, me devorando em palavras indecifráveis enquanto reconhecia meu corpo com sua boca.

Tenho saudade de como você enlaçava nossas mãos, enquanto fazíamos das paredes do velho apartamento nossa cama.

Eu ainda sinto teu gosto na minha boca, o gosto do teu pescoço, do teu suor, do teu prazer. Sinto teu gosto enquanto sinto a pressão da parede em minhas costas e tua pele em minhas unhas.

Ainda ouço teus gemidos, consigo ver seus lábios se abrindo enquanto sentia meus dentes na tua pele, seus olhos se fechavam quase que automaticamente, você me encarava rápido e depois voltava a se perder nos meus seios.

Sinto saudade de como seus lábios ficam vermelhos e inchados e de como as pontas dos meus dedos ficam vermelhas enquanto eu me perdia no seu cheiro e sua boca se perdia em meu corpo.

Sinto saudade da sua boca e de como ela dizia coisas que eu não sabia precisar ouvir enquanto me sugava em prazer.

Sinto saudade de te perder no meu corpo, de ficar cega de prazer e de só sentir teu rastro.

Sinto saudade de te ouvir dizendo que me amava enquanto me encarava timidamente esperando que eu te dissesse o mesmo.

Sinto saudade de como eu não precisava dizer com palavras o que eu sentia, sinto saudade de como minhas palavras mudas se faziam presente por minhas pernas encontrando as suas.

Sinto saudade dos seus beijos vorazes.

Sinto saudade do teu cheiro no quarto, dos lençóis amarrotados que não fazem mais parte de nossas bagunças.

Sinto saudade das nossas conversas repentinas no meio da noite, da nossa respiração apertada e dos barulhos produzidos por nossos corpos nos fazendo lembrar da insaciável vontade de matar nossa sede.

Sinto saudade de como tínhamos facilidade de criarmos um mundo desconhecido e de como nos conhecíamos no nosso silêncio.

Sinto saudade do céu que só existe enquanto estamos juntos, das estrelas que nomeamos com nomes estranhos e dos planetas que ainda vamos conhecer.

Sinto saudade daquilo que só nós sabíamos fazer, dos nossos abraços cúmplices em meio ao nosso verão nos dias de inverno.

Amor, Minhas Crônicas, Padrão, Sem categoria, Sexo

Corpos sem Rima….

As mãos trafegam o corpo,

Na pele, nas curvas, no leito suspiros,

O desejo entre os arranhões e gemidos,

Apertou o lençol, arqueou-se, mordeu os lábios,

Suspirou mais de uma vez enquanto encarava o corpo marcados por si,

O beijou,

Se beijaram, entre os gemidos e as confissões do acaso,

Era só prazer e por isso era intenso,

Era casual,

Eram dois e não um.

O compromisso ficou do lado de fora, junto com os problemas e as desavenças, lá dentro só cabia os dois corpos e a intensidade entre eles.

O cheiro de sexo,

A inexistência da obrigação, a existência do acaso, do único, das pernas, das suas pernas em outra cintura que não a conhecida.

A bagunça dos lençóis que quase inexistiam na cama.

A cor inexistente dos pares de olhos inexplicavelmente fechados, para não guardar as memórias,

Para não criar desejos, para não desejar histórias, para as histórias não serem lidas novamente.

Mas era ilusório, a ilusão era prazerosa…

Suspiraram,

Desejaram,

Odiaram a colocação necessária de seus corpos naquele ambiente tão pequeno.

Uma das mãos derrubou a lata de cerveja e a ilusão de que não estavam sóbrios.

Estavam cientes, sóbrios e queriam.

A nicotina trafegou mais do que os lábios, desceu pelos seios, e chegou no ventre, entre os suspiros e as lembranças surgiu o aperto nos cabelos curtos que mal cabiam entre seus dedos, se confundiu entre o prazer e a culpa.

Culpou-se no momento em que se sentiu livre, seus dedos apertaram-se, e os gemidos saiam, a culpa voltava, mas era tão momentânea quanto a fumaça do cigarro, só restou o aroma.

Puxou o rosto para si e provou seu próprio gosto enquanto encarava os olhos que agora sabia que teria que se despedir, antes do banho frio, dos sonhos furtivos, ou dos famosos “até a próxima”, ela saiu.

Saiu sem deixar nome, endereço ou telefone, apenas deixou seu cheiro entre a bagunça do quarto e os travesseiros jogados no chão.

Saiu deixando tudo que não queria deixar, lembranças…

 

Amor, Crônica, Feminismo, Sexo

The End…

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Recentemente me vi no meio de turbilhões de emoções que não eram minhas, eu não lido muito bem com perdas, ironicamente, eu nunca tive um grande termino, os que eu tive eu soube superar teoricamente bem, mas resolvi buscar nos anexos dos meus sórdidos pensamentos algo para escrever sobre esse momento tão profanamente inevitável:

O mundo vai continuar a ser o mundo, mesmo se amanhã eu não estiver ao seu lado, a inexplicável rotação da Terra continuará a acontecer, o Sol ainda estará iluminando nossas manhãs, e o frio da noite ainda nos fará desejar alguém ao nosso lado, não por amor, mas por egoísmo, vamos querer o corpo alheio para aquecer o nosso, e nos envolver em uma camada de braços e abraços, sussurrando palavras indecifráveis em meio ao sono, enquanto ouvimos o batucar do coração alheio, que não nos pertence…

O vazio na cama se torna maior, o espaço antes tão pequeno se tornou uma cratera, não existe bagunça, não existe risos, não existe… Mas o correto seria que isso tudo continuasse a existir, afinal, continuamos a viver e somos a parte inteira de tudo que restou, a matéria orgânica, presente nesse corpo, ainda é a mesma de antes de tudo acontecer, o que prova que ainda é possível respirar, suspirar, andar, viver…

Encarar a vida pode ter se tornado um pouco mais difícil, afinal quando se termina com algo de forma tão abrupta e inesperada você fica sem reação, não sabe que rumo tomar, que caminho seguir, e um medo transborda nos seus olhos, sim nos seus olhos, afinal todas as possibilidades que esbarram com você naquele primeiro momento não fazem sentido algum, você ainda continua se sentindo incompleto, mesmo com todos os seus pedaços no lugar, você adquire um medo absurdo de que tudo sempre seja assim, sempre…, sempre.

A solidão parece ser um eco no meio do seu peito. As letras de música parecem ecoar na sua mente “é impossível ser feliz sozinho”, quem disse isso? Quem nos ensinou a pensar assim? Infelizmente quando se está com todos esses sentimentos “a flor da pele e qualquer beijo de novela nos faz chorar”, não conseguimos enxergar um erro mortal nessa frase, só é possível ser feliz sozinho, quando dependemos de outros para fazer/trazer nossa felicidade transformamos isso em dependência. Amar não é criar dependência, amar é ser livre é viver independente do outro, partilhando o “nós”, junto com todos os sorrisos e lágrimas, mas sem esquecer do “eu”.

E nesse desespero em que me vejo

Já cheguei a tal ponto

De me trocar diversas vezes por você

Só pra ver se te encontro

_Caetano Veloso – Você não me ensinou a te esquecer.

Dizem que os seres humanos se distinguem dos demais animais por sua racionalidade, mentira, não somos racionais principalmente quando isso envolve sexo e amor. A grande verdade é que a maioria de nós busca no outro aquilo que deveríamos encontrar em nós, sabem aquela velha frase de contos de fadas: e se tornaram um só”? Essa frase deveria ser banida de qualquer história para ninar crianças, não deveríamos as ensinar que o amor é egoísmo, deveríamos ensinar que o amor é compartilhado.

Amar é a conjugação do verbo no plural, “amamos”. Mas e quando um dos dois não ama mais, ou esse amor não é suficiente? A hora em que o fim chega, é sempre a pior hora…

É meus caros, o fim é algo tão intenso que raramente acontece por decisão inteira, não há conversas, abraços ou beijos, tudo que resta é uma série de soluços e questionamentos sobre os motivos que levaram a àquele ponto final. É claro que tiveram motivos, mas quando é você que ouve o último adeus, é você que se acha culpado, é você que se esconde, é você que não sabe responder àquela fática pergunta: “por que terminaram? ” Meia hora após essa pergunta, um filme roda na sua mente, seus olhos transbordam e seu mundo desaba, a pergunta que deveria ter sido feita é “você está bem? ’’

Afinal ainda ontem seus corpos estavam juntos, em meio ao suor, os beijos, os afagos e os sussurros de prazer ao pé do ouvido. “Você tem certeza que está bem?” Não, não está, eu sei que não, isso tudo foi ainda ontem…

Essa sem dúvida é a pergunta mais correta, não existem motivos plausíveis o suficiente para um termino, não para quem recebe o ponto final, tudo que essa pessoa precisa nesse momento é compreender que ela não foi culpada, que o mundo vai continuar girando e que ela vai ter um abraço silencioso para aquele momento, que aquele só foi “um momento” e que vão existir inúmeros outros momentos. Afinal não importa os motivos, todos eles não vão fazer sentido algum para os corpos aquém de toda aquela história.

Não importa se foram, dias, meses ou anos, não importa e nem nunca vai importar, no momento em que o ponto final é colocado no meio de uma frase, ele corta todas as possibilidades de se saber o final da história, ele causa angústia por tudo que poderia acontecer e nunca aconteceu, ele causa medo, desespero, tristeza, ele transforma em lágrimas todas as boas lembranças e palavras.

O irônico disso tudo é que esse ponto final só se transforma em vírgula quando os dois lados dessa frase se permitem conversar, não existe relação de um só, a vida não é um monólogo, é um incansável diálogo onde criamos inúmeras conversas ao pé das amendoeiras imaginárias.

“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro

Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval

E isso explica por que o sexo é assunto popular.”

_ Zé Ramalho, Chão de Giz

No fim tudo que resta é uma dor inconstante no meio do seu peito e por mais que se diga, “eu entendo”, tudo vai parecer não ter sentido nos próximos minutos. Sabiam que somos bem mais egoístas no “fim” do que no início? Sim, somos egoístas, aliás no “fim” ambas as partes são egoístas, ambas querem continuar e terminar aquela história por motivos individuais e que nem sempre condizem com a realidade.

No fim, o poeta realmente estava certo.

“Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.”

_Vinicius de Moraes – soneto de Fidelidade

 Era frio,

Era noite,

Era o fim,

Estávamos felizes, sentados, conversando ao pé da amendoeira, os carros passavam, as crianças corriam pelo parque, e você estava ali, me olhando, como quem olha pela última vez alguém.

O beijo de despedida aconteceu,

O último selar de lábios,

O último toque.

Eu não estava morrendo e nem você indo para outro planeta, era um adeus tão vulnerável em termos explicativos, que cheguei a me perguntar se ele realmente chegou a existir.

Toquei meus lábios,

Ouvi meu coração bater,

Respirei freneticamente,

Minha garganta secou,

Você não estava ali…

No fim tudo ficou a como sempre esteve,

Você não existia antes e nem vai existir depois…

Demorou um certo tempo para eu perceber que tudo continuava em ordem a minha volta, não me acalmei e nem quis me acalmar, busquei na ânsia de um desejo voraz outros braços para te encontrar, mas inevitavelmente me vi perdida.

Parei,

Respirei,

Percebi, não era você que eu buscava, nunca foi, sorri enquanto observava as folhas da amendoeira se espalharem por aquele parque…

Me encontrei.

*Escrito em homenagem aos meus amigos…

Feminismo, Poliamor, Sexo

Solidão a dois… O poliamor e a complexidade de amar

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Imagem retirada do site: sucessonosrelacionamentos.com.br

 Solidão a dois de dia
Faz calor, depois faz frio
você diz: já foi
Eu concordo contigo
você sai de perto
Eu penso em suicídio
Mas no fundo eu nem ligo
Você sempre volta
com as mesmas notícias (Cazuza)

 

Eu sou uma escritora de coisas pesadas, poucas, pouquíssimas pessoas sabem desse meu lado mais caliente, mas não é para mostrar meus textos que eu vim aqui, na verdade os leitores do blog raramente vão descobrir esse meu lado, entretanto entrei nesse tema por um simples fato eu acredito no poliamor,  o amor além das convenções sociais, um amor que não se contenta em ser só a dois, mas eu sou um contraponto, minhas histórias continuam sendo monogâmicas e cedendo ao que a sociedade acredita ser o certo.

A sociedade nos diz ‘’e viveram felizes para sempre’’, que ‘’ele era o único e verdadeiro’’, que ‘’só existe um único amor’’, isso não é mentira, mas também não é verdade, existem pessoas que amam demais, que não se contentam em sentir um único olhar e que amam amar e não se sentirem presas a determinadas convenções. Existem pessoas que amam amar loucamente o mundo, que dizem “eu te amo” para o vento enquanto beijam o mar.

O poliamor não é um fetiche, veneração a masculinidade ou feminilidade, poliamor é assumir um amor além, com respeito, com diálogo, um amor partilhado e ao mesmo tempo ampliado, amar é se doar, estar em um relacionamento poligâmico é entender que todas as partes, tem voz, não existe líder, existe amor, não se ama sozinho, se ama sendo correspondido, partilhando e não se reprimindo, afinal poli no latím significa vários, amor entre várias pessoas.

Amar, amar e amar muito, isso é poliamor, é sentir e ser sentida entre os versos de mais de uma boca, entre os olhares horas tão calmos, horas devoradores, poliamor é desejo, tesão, carinho, atenção.

O fato de eu acreditar no poliamor não significa que eu não entre em um relacionamento a dois, significa apenas que eu aceite que existam enumeras chances de eu me pegar amando alguém que não é meu companheiro, significa que meu amor não cabe a nós dois, significa dizer que eu vou me sentir só em algum momento por não estar completa, significa dizer que eu provavelmente seja uma pessoa bem resolvida quanto a minha sexualidade e que não imponha sobre ela rótulos.

A forma mais conhecida de poliamor é a poligamia, essa forma na verdade é bem recriminada pelos que acreditam no poliamor, (tipo eu), a ideia da poligamia se encontra ligada a arem, a disputa ciúmes e muitas vezes ao não diálogo, em sua maioria não existe um convívio entre todos e só entre o casal, a figura central e seus ou suas parceiras, é um relacionamento a dois, baseado no controle e na afirmação de poder.

A polifidelidade como o nome diz preza a fidelidade dos membros daquele relacionamento, seguindo as regras da monogamia, eles se relacionam entre si e são felizes assim, se relacionando e se amando, todos ao mesmo tempo, ou não.

Existe ainda os famosos relacionamentos abertos, onde os dois parceiros ou apenas um tem relações extraconjugais, baseadas apenas no desejo, continuam tendo um relacionamento a dois, não considerando as relações extras como traição.

Eu só entro em relacionamentos quando eu amo, eu entro em um relacionamento conjugando o verbo amar, mergulho, solto de cabeça, mas eu saio com a mesma sintonia que entrei quando não me sinto inteira, correspondida, minha inconstância me permite amar até mesmo quando o relacionamento termina, o amor não acaba ele estaciona e fica ali no cantinho, escondido, paradinho naquele local tão pequeno, esperando para ser desperto ou apenas abandonado ali.

O maior erro dos términos é a doce e perversa ilusão de se esperar que tudo vai ser apagado, não vai, vai ficar tudo paradinho ali, então uma boa forma de se terminar uma coisa é aceitar que iniciar aquilo não foi um erro, foi apenas um desvio, houveram tropeços mas também felicidades, acabe algo compreendo que você não é culpada ou culpado, as coisas só não podiam ficar daquela forma, por vezes imutáveis e não satisfatórias a ambos.

Amar é isso e também aquilo, amar é dizer sim e dizer não, amar é dividir e agregar, amar é odiar a sensação de se te amor. Amar é um erro matemático onde dois mais dois nunca dá quatro, amar é compreender que só você amar não basta.

Não existe amar sozinho, existe amar e conjugar com outro, ou outros esse amor, amar é se olhar no espelho e falar que “eu posso ser feliz”, é acreditar que sua felicidade só depende de você, amar é fazer sua felicidade com o outro, amar é se completar com erros e acertos, amar é ri e dançar na chuva apenas encarando aquele riso te admirando enquanto se embalava ali nos seus passos tortos.

Amar é  encarar que esse relacionamento, seja ele qual for, pode não dá certo, pode ser mal interpretado, você pode não saber lidar, amar é compreensão entre todos, amar não  é subjugar. O poliamor tá bem longe de ser uma relação de controle e sim de respeito e liberdade.

Muita gente acha que liberdade sexual, é o sexo sem camisinha ou transar loucamente, na verdade a liberdade sexual é sim você ter o direito de fazer sexo com que bem entender, é você poder falar disso sem ser recriminada, é entender os seus desejos e os desejos do outro, com respeito e cuidado (usem camisinha povo!), a liberdade sexual é o caminho para aceitar que somos livres para sermos felizes e construir ou não relacionamentos.

Devia ter amado mais / Ter chorado mais / Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais/ E até errado mais/ Ter feito o que eu queria fazer (Titãs)

Construir um relacionamento não é pautar todos os seus sonhos no outro, longe disso, amar a dois, três, quatro, quantos forem é respeitar, dialogar e se tornar um sabendo que vocês não são só isso, é se amar, ter seus sonhos e sonhar com o outro. Amar se torna complexo quando se confunde com prisão, o amor não é feito de amarras… O amor deve se confundir com a loucura, com os desatinos, com a liberdade e com o respeito, não existe amar só com um.

Texto publicado por Juliana Marques no dia 22/01/2016

Feminismo, Sexo

Sexo, sexo, sexo e Mulheres

silhueta-adesivoE eu te farei as vontades

Direi meias verdades

Sempre à meia luz

E te farei, vaidoso, supor

Que és o maior e que me possuis

(Chico Buarque, Folhetim)

Atire o primeiro verso quem já não ouviu uma cantada na rua por causa da roupa que vestia, ou só por se mulher? Quem não se sentiu constrangida e até mesmo com medo por conta disso? A grande realidade é que nós, mulheres, apesar do século, ainda somos vistas como um pedaço de carne, uma prenda, uma caçada, algo que tem que ser alcançado. ‘‘Prendam suas cabras que meu bode está solto’’.

Não, eu não gosto de me ver comparada a um objeto sexual, e pior ser ligada a bebidas alcoólicas, ter meu corpo rotulado e comercias me dizendo que tenho que ser sexy e provocante. Posso até ser sexy e provocante, mas eu tenho o direito de não ser só isso, de ser mais do que simplesmente o meu corpo, de ser um pouco mais do que as curvas das modelos, das famosas grifes europeias, desculpe-me não sou Europeia e meu biótipo não me fez assim, não me prenderei a isso, julguem-me…

Atire o primeiro copo quem nunca se olhou no espelho e não se sentiu perfeita da forma que era, quis quebra-lo, taca-lo longe, esconde-lo com um pano preto, afinal a culpa era dele de não sermos como as moças dos comercias e as modelos, a imagem do feminino é inventada pela mídia que nos faz pensar que somos imperfeitas e comprar mais e mais a imagem da perfeição nas prateleiras de cosméticos. Tudo bem, gostamos de nos sentir bonitas, e por isso compramos, opa houve um erro nessa frase! Compramos para nos sentir bonitas, mas quem definiu esse padrão de beleza? Para quem queremos ser bonitas, para outros ou para nós?

E é nesse ponto que finalmente chegamos, o consumismo, o mercado, as prateleiras, as revistas, as academias, os produtos Detox, não vejo nenhum problema em nenhum desses itens. Mentira, eu vejo todos os problemas, incluindo no meu pote de sorvete e no chocolate que como para compensar minhas frustrações, eu sei que cada um deles vende uma imagem de mulher perfeita, que a sociedade espera que eu siga. Eu não sou perfeita, e pior não tenho a menor ideia, se a ideia de beleza que eu tenho foi algo que eu criei ou se me foi completamente induzida.

Simone de Beauvoir um dia falou que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Atire o primeiro vestido, de preferência o rasgue quem nunca se teve estigmatizada só por que preferiu os livros a balada, as lutas ao balé? A sensibilidade feminina é algo inventado, já houve um tempo em que as mulheres sequer criavam seus filhos, até mesmo o amor materno é uma invenção moderna para segurar as mulheres. O que são as bonecas, as casinhas, a divisão de brinquedos em azul e rosa, em brinquedos de menina e menino se não a rotulação do que as meninas podem e não podem ser…

Pensem amados leitores, mulheres foram presas apenas por dizer que amavam e que esse amor não eram por seus maridos aos quais foram obrigadas a se casar, ao longo dos séculos nossa liberdade foi fielmente castrada, nossos desejos extintos, nossas roupas redesenhadas não para nos agradar mas agradar aos olhares, calça não era coisa de mulher descente, nossos cabelos foram quimicamente tratados para ceder a um padrão de beleza que não era o nosso, nos foi ensinado a obedecer sem questionar, a não falar sobre determinados assuntos, a torna-los tabus e só serem tratados nas rodas de amigas.

O que somos, sobre o que falamos, o que vestimos, o tamanho da minha saia, meu jeans apertado, nossos gostos, curvas e desejos, não deveriam ser tabus. Somos seres humanos antes de tudo, não derretemos como açúcar na chuva, não necessitamos que alguém nos proteja, nossa roupa não deveria ser controlada, quem vai vesti-la somos nós e não eles, temos desejos e sentimos vontades, isso não é privilégio do sexo masculino. Atire o primeiro batom quem nunca deu aquela olhada na bunda do rapaz, sentiu um enorme desejo de gritar ‘’gostoso’’, ‘’ah lá em casa!’’, ou quem sabe ainda em um pensamento mais ousado sentiu vontade de passar aquela mão boba, “ops, escorregou! ’’. A verdade caros leitores é que nós mulheres não fazemos isso, não com frequência, se fazemos somos rotuladas de inúmeros adjetivos que não vale aqui mencionar, enquanto os rapazes são rotulados com adjetivos que exalam sua masculinidade. E só como ressalva a esta frase mal formulada os corpos sejam do sexo que for, devem ser respeitados e tocados apenas quando for do desejo e do consentimento de ambos, não somos objetos que são simplesmente manuseados a vontade alheia.

Meus caros leitores, porque essa introdução para falar de sexo? Simples, sexo não é algo simples, é algo que vai além dos desejos e das mãos nas inúmeras partes de dois corpos, ou dos inúmeros orgasmos em uma única noite, ou ainda dos gemidos naquele pequeno cômodo, sexo é isso, mas também é aquilo. E quando eu falo “aquilo”, refiro-me à liberdade de se fazer quando e a onde quiser, da forma que quiser, e principalmente com quem quiser, sexo é um tabu comercializável e rentável. E todas aquelas ideias da mulher perfeita se empregam finalmente a esse ponto, no sexo, nos orgasmos fingidos, em toda a ideia do corpo perfeito por baixo dos pedaços de pano que componha a fantasia, para quem nos vestimos nessa hora? Queremos muito mais do que apenas nos sentir desejada, queremos que seja bom, queremos o desejo e o prazer e não só simplesmente dar…, só uma ressalva nós olhamos e também comparamos, afinal é para isso que servem as famosas rodas femininas forjadas nos banheiros, mesas de bar, shopping, praia e salas de aula.

Me perguntei durante um bom tempo o motivo de cinquenta tons de cinza fazer tanto sucesso entre as mulheres, eu sinceramente não sei, já li livros mais interessantes, e que fique claro eu não li cinquenta tons, eu não consegui passar da página 15, gosto realmente é algo indiscutível.

A liberdade sexual feminina, a liberdade feminina no geral, foi algo que ocorreu muito recentemente, quem éramos nós para falar de sexo? Meros objetos que apenas davam prazer, que não recebiam e nem sentiam…, para mim esse é o X do sucesso de vendas, não que o livro seja bom, mas sim o fato dele ser escrito por uma mulher para mulheres, uma escrita que fez milhares de mulheres falarem indiretamente ou diretamente aos seus parceiros que não estavam satisfeitas na cama, que os gritos na hora H na verdade não existiam, que elas queriam inovar outras posições, que existiam outras formas de se fazer sexo oral que não fosse ela nele e sim ele nela. Eu particularmente faria o querido e problemático Gray, sentar no meu divã para curar o seu egocentrismo, obsessão e o machismo, mas não estamos falando dele no momento e sim no fato dele proporcionar prazer, a problemática, submissa e dependente Anastácia.

Como puderam perceber não sou muito fã do livro, na verdade a literatura erótica, e até mesmo na não erótica, no geral faz de nós mulheres objetos de prazer, algo a ser consumido e domesticado, algo frágil e que merece ser protegida a personagem principal que na verdade é mera figurante faz suas ações girarem entorno do galã másculo e viril, olhando por uma ótica generalizadora acaba por fazer o mesmo que o mercado de consumo nos vende a ideia de mulheres sem alma, prontas para o abate, mulheres perfeitas e quebráveis, mulheres de plástico sem desejo ou vontades, mulheres de papel completamente moldáveis.

Acho que vocês vão gostar de saber que estou sentada escrevendo esse texto completamente despenteada, pensando na garrafa de coca cola e na rabanada absolutamente gordurosa na geladeira, Minhas unhas pela metade do esmalte, e o lápis de olho borrado. Quem liga para isso afinal? E daí se estou assim? Meus pais sempre me dizem que se é para me arrumar que seja por mim e não por outros, acho que estou seguindo esse conselho…

Texto de Juliana Marques (publicado Originalmente no dia 31/08/2015)