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Drão: Amor de Gilberto Gil morreu para germinar

Almanaque Brasil

Gilberto Gil estava triste com o iminente divórcio de Sandra Gadelha, apelidada por Maria Bethânia de Drão, mãe de três de seus filhos (Pedro, Maria e Preta). Era começo dos anos 1980. Depois de aceitar ser jurado de um programa de rádio no interior de Minas Gerais, tomou um susto ao ler o nome da empresa de ônibus que o levaria à cidade: Viação Sandra.

No caminho, Gil foi reparando nas pessoas simples, nos personagens pitorescos que surgiam. Pensou nos filhos e na efemeridade da vida. Chegou ao fim do trajeto revigorado e aceitando a separação. E também com a letra de um de seus maiores sucessos num pedaço de papel: Drão, o amor da gente é como um grão / Uma semente de ilusão / Tem que morrer pra germinar

Para Sandra, a canção foi se tornando cada vez mais tocante. “A música fala exatamente de um tipo…

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Ansiedade, Crônica, depressão, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, Sem categoria, silêncio

Barulhento e silencioso

Escute-o-silêncio

Acho que eu me envolvo muito com as pessoas, tenho certeza disso. Escrevi isso pensando em como um dos meus novos amigos estava se sentindo, é uma daquelas coisas que não sabemos como escrevemos, mas sabemos sentir em cada abraço silencioso e apertado em meio aos soluços…

Tudo dói, o silêncio, a angustia, a vontade, tudo.

Já faz um tempo que eu não sei explicar essa dor e o motivo dela residir em mim, tudo dói e parece que vai sempre doer.

Nada faz sentido, não sei se estou lento demais ou se o tempo passou a se arrastar, só sei que cada um daqueles minutos parecem horas. As unidades de medidas medem o tempo que essa dor mora em mim. Eu queria que elas não medissem nada.

Eu queria gritar de dor, mas minha voz não sai, eu tento não ouvir, mas parece impossível, preferia o silêncio eterno a sentir cada uma daquelas palavras dentro de mim, elas doem.

A dor é parecida com aquela dor de quando nos perdemos no meio da chuva na infância, ficamos sozinhos, os trovões parecem bombas e nos deixam ainda mais indefesos do que já estamos.

O som ecoado pelo trovão com tempo, pouco tempo, vai deixando a distorção, palavras conhecidas vão surgindo, tudo é tão barulhento em meio ao vazio.

Parece que a cada segundo fica mais e mais escuro, tudo parece ser tão longe, e não se vê nada, só se ouve cada som ecoando em meio ao vazio em meio ao meu silêncio.

 

Amor, Ansiedade, Crônica, escolhas, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, Sem categoria

Muito pouco, (IN)sanidade.

loucuraa

Pronto

Agora que voltou tudo ao normal

Talvez você consiga ser menos rei

E um pouco mais real

 (Muito pouco, Moska)

Olhou…, não reconheceu aquele espaço, era tudo tão igual a antes, mas ainda assim tão diferente, como não percebeu que tudo mudou?

Seus sonhos não estavam no lugar certo, estavam todos encaixotados, empoleirados, deixados de lado no canto de um quarto empoeirado.

Andou por todos os cantos, mas nenhum canto era o seu. Olhou-se no espelho e não se reconheceu, as roupas, o cabelo, o tênis, era o seu corpo, mas não era ele. Escorregou os dedos no espelho e sentiu o toque gelado, não havia diferença no reflexo e em si. Quando ficou assim?

Afastou a mão e levou ao rosto, não sentiu o habitual sorriso, nem se lembrava quando aquele canto dos lábios deixou de abrigar sua alegria.

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

Gritando pra não ficar rouco

Em guerra lutando por paz

Seus pés não estavam descalços mais ainda assim doíam como se estivesse andando a horas em círculos, era tudo sempre igual, deslizou-se por qualquer parede, respirou fundo e se sufocou com as lembranças.

A música que tocava era a mesma de ontem, e de todos os dias anteriores, era um disco repetido que o lembrava que o condenaram por não seguir a um mesmo ritmo, por não andar na linha, por não seguir à realidade dos fatos.

Era tudo tão chato, era sempre mais do mesmo. Era insuportável ver a mesma paisagem da janela, ter seus passos milimetricamente controlados, se sufocar dentro da roupa e de si mesmo. O suspiro sobrepôs à música, foi alto e desesperador, era um grito sem palavras que ecoou por todos os cantos.

Fechar os olhos não adiantava, ele não esqueceria, mas não reconhecia aquela certeza que tantos tinham como absoluta.

Pesos e medidas não servem

Pra ninguém poder nos comparar

Porque

Eu não pertenço ao mesmo lugar

Viver…, quando viver passou a ser sinônimo de “não viver”? Seus dias eram eternas tempestades, tropeçava nos próprios pés, eram os mesmos gostos, os mesmos caminhos, e aquilo, aquilo não bastava.

Era tudo tão cinza, uma eterna neblina que escondia tudo inclusive a si.

Sentiu saudades dos seus sonhos e abriu uma das caixas, eram tantos, lembrava-se de quando eles transbordavam de dentro de si e inundavam o mundo. Respirou fundo, sentiu todo aquele aroma de liberdade, quando havia se contentado em aprisionar seus sonhos?

Mal percebeu quando suas mãos rasgaram cada uma das caixas, o perfume da liberdade inundava a casa, as roupas estavam o sufocando, ele não era o mesmo, preferia transbordar a se conter.

Deixou-se transbordar enquanto respirava cada sonho, cada lembrança, cada parte daquela realidade particular, que criou para sobreviver dentro da “verdadeira” realidade tão insana.

E muito pra mim é tão pouco

E pouco é um pouco demais

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

  • Música utilizada
  • Muito Pouco – Paulinho Moska
Cozinha, Entrevistas, escolhas, Feminismo, Sem categoria

Entrevistando Elas I… O fantástico mundo das panelas de Andrenize.

Dias desses me questionei se eu realizei alguns dos projetos de 2017, entrevistar mulheres desconhecidas era uma desses projetos, no fim, esse foi um dos projetos que não vingaram por conta de uma preguiça inegável. Que 2018 se torne o ano das realizações e para dar início a essas realizações, vamos começar com uma entrevista realizada em agosto.

Conheço Andrenize, a entrevistada, a mais ou menos quinze anos, cursamos a segunda parte do fundamental juntas, e eu nunca a imaginei cursando gastronomia, a imaginava como advogada (altas tretas com resoluções nada suaves). Eu também não me imaginava cursando uma segunda faculdade, ainda mais uma de T.I. Quem somos e quem imaginamos ser na adolescência são duas coisas distintas.

Ela entregou seu projeto final em dezembro de 2017 e eu achava que devia no mínimo a publicação dessa entrevista para a homenagear.

Quando eu pensei nessa série de entrevistas, pensei em entrevistar mulheres desconhecidas, que eram estudantes ou haviam deixado de ser a pouco tempo, com o objetivo de mostrar esses variados ambientes de trabalho, suas visões de mundo, suas perspectivas tanto como estudantes tanto como parte do mercado de trabalho.

Andrenize que na época cursava gastronomia nos trás aquele meio termo entre o sonho e a realidade. Ela é competente, trabalha desde cedo, se encantou pela cozinha e por lá ficou (mas ela, ela não é só isso). Em meio a uma conversa nada convencional no aplicativo de mensagens, ela respondeu minhas perguntas, revelando parte do seu cotidiano como cozinheira e parte dos seus sonhos como ainda estudante.

Se deliciem com essa entrevista que deixa evidente os sonhos de todo e qualquer estudante e a realidade fática dos primeiros empregos antes do sucesso esperado. Onde se descobre que além do amor, da competência e do esforço dentro da cozinha é necessário conviver com aqueles pequenos incômodos como o machismo, a hierarquia e o jogo de poder… Cozinhar é complexo jovens, trabalhar na cozinha é ainda mais…

Nize
Acervo pessoal de Andrenize
  1. Fazer gastronomia foi uma escolha difícil? Quando você fala o que faz, a reação das pessoas é diferente do que imaginava?

sim. Pois eu imaginava ser outra pessoa, e ter outra profissão. Sonhei na adolescência ser contadora. Sim, as pessoas “julgam ” pela aparência talvez, e sim me dão outra profissão e não a minha de fato, cozinheira.  Acredito que a imagem de cozinheiro, seja uma vozinha gorducha, fofa, que cozinha muito para sua família, ou “uma mulher relaxada ” sem vaidades. E por isso talvez surpreenda as pessoas quando digo ser cozinheira rs…

  1. Você já trabalhou em alguns lugares, você acha que existe muita diferença entre o que você aprende nas aulas e a realidade de uma cozinha profissional?

Completamente diferente. Na faculdade aprendemos as técnicas, estudamos na teoria tudo típico de tal país (lugar) para conhecer profundamente aquela cultura e/ou história, para que possamos entender o prato quando for feito. Na prática (em sala de aula), fazemos tudo em pequenas quantidades para somente aprender as técnicas e como deve ser feito, seguindo as fichas técnicas e as ordens do professor. Sempre com muitos detalhes para ser perfeitos tanto cortes quanto sabor, com ingredientes originais para poder assim conhecer e levar no decorrer de sua carreira.

No mercado de trabalho, é correria, é grande quantidade, os alimentos feitos no seu preparo *mise en place . Tudo tem tempo de corte, é preciso agilidade, pensamentos rápidos, ter foco, ser objetivo se algo por um acaso der errado tem que existir um plano B de imediato.

  1. Um chef no qual você se espelha? Qual o motivo?

Não sigo, nem quero ser igual a nenhum chef. Na verdade, procuro disputar para ser a melhor. Não busco e nem tenho nenhum como exemplo.  Tenho uma inspiração, meu professor Ugo Werneck, ele é muito sábio e admiro a inteligência dele, ele possui doutorado em gastronomia. Na cozinha, o cara é quase um terrorista… Tudo e muito bem calculado, nada de desperdícios, tudo limpo. Essa é a inspiração que eu busco. Quero me formar, e ter mais a frente doutorado, e ser uma *gastróloga, que sempre terá as respostas da realidade de cada prato mundialmente falando e cultural.

  1. O que “todo mundo imagina”, mas não ocorre na cozinha profissional? O que “ninguém imagina” mais ocorre?
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Baião de dois feito por Andrenize

Todo estudante imagina que será chef de cozinha, na verdade “chef” e só um cargo normal, como engenheiro, administrador…  Imaginam que quando for para um hotel 6 estrelas ou restaurante vão direto para o fogão colocar em pratica o que aprendeu. E não. Não é assim, primeiro você é *Steward, lava a louça, lava o chão, pica os alimentos, corta os dedos, calos nas mãos, pele frágil…

O que ninguém imagina, mas ocorre, é que por mais que seja uma cozinha e tenha comida, na maioria das vezes o cozinheiro não come. Ou por falta de tempo, ou por ficar atarefado, ou por degustar tanto que se enjoa da comida.

Ninguém imagina que alimentos tão simples se tornam mágicos no prato e não acreditam simplesmente quando provam, pois sua técnica de *cocção faz muita diferença.  Ha disputa de cozinheiros para ver quem sobe primeiro para ser sub chef e querer mandar.

  1. O que te tira do sério, te desmotiva no ambiente de trabalho?

O que me desmotiva é não ter *mise en place, todo pré-preparo. O que me tira do sério é ver a cozinha um caos, bagunçada me irrita, assim como vê tudo sujo e/ou pessoas que fazem corpo mole.

  1. Já sentiu diferença no tratamento dos seus colegas por você ser mulher?

Sim a várias diferenças, porém difere de acordo com o local de trabalho. Já deram muito em cima (de mim) quando eu trabalhava em hotel, e em algumas tarefas também (sentia a diferença), por exemplo quando não aguentava pegar uma panela “meeega” grande o cozinheiro vinha e me dava aquela “mãozinha”. O machismo existe sim, e é muito chato lidar com isso, mas eu tento mostrar o meu melhor já que: “o cara se acha melhor por ser homem”. 

  1. Você acha que a ideia de que “Chefs são homens” e “cozinheiras são mulheres” existe no imaginário de muitas pessoas? Como você acha que essa ideia surgiu?

andrenizeeaspanelas.jpgEssa ideia é na verdade um mito. Chef pode ser mulher ou homem. Os homens que são machistas, não aceitam que uma mulher possa ser melhor, e que na verdade é.  Mulheres são mais rápidas e muito mais em ordem com o cumprimento de cada tarefa (risos).

Esse mito surgiu em 1756, desde a história dos padeiros, apesar de homens e mulheres fazerem pães em suas casas. Tendo relação também com a pré-história, quando o homem ia em busca da caça, e a mulher cuidava dos filhos ou plantava… Tem muito assunto dentro desse conceito, desse mito… Vários fatos do passado que contribuíram para essa cultura machista de hoje dentro das cozinhas ou em outros cargos..

  1. Existe diferença entre Chef e cozinheiro?

Chef é um cozinheiro que conseguiu o cargo “de chef”, então ele pode administrar as pessoas da/na cozinha como ele bem quiser, montar cardápio, retirar e colocar receitas.

Caso haja chef executivo, “ele manda o cardápio para o chef, e assim o chef para o sub chef, e o sub chef para o cozinheiro líder, e esse para os auxiliares (risos) ” , o cozinheiro executa as tarefas pedidas pelo seu sub chef. Isso vai depende do tamanho da cozinha, e quantas pessoas têm a sua volta.

Eu sou cozinheira (no local de trabalho) e acima de mim só tem o sub chef e abaixo de mim 2 estagiarias. (risos)… Cozinha de pequeno porte. E se fosse em um hotel eu seria a bactéria novata na brigada de cozinha mandada por todos.

  1. Qual a pior sensação que você já sentiu na cozinha? Em algum momento você já se questionou, se fez a escolha certa?

A pior sensação é com toda certeza é quando dá a hora da saída e chega aquele cliente chato, pede um prato, nesse prato ele pede um monte de frescura, “sem isso, sem aquilo, quero trocar isso por aquilo”. E ataca seriamente minha paciência.

Já me questionei se fiz a escolha certa sim, mas já trabalhei em outras profissões, tanto como vendedora ou na área da administrativa, e isso, me ataca muito mais os nervos, do que estar dentro de uma cozinha, onde eu me divirto com os cozinheiras e cozinheiros. Fogão não fala, panela também não, então não me irrita, gosto de montar pratos… É bom, legal e bonito (risos)…

  1. Qual a sensação mais compensadora de se fazer um prato?
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Arroz Maria Izabel feito por Andrenize.

Nossa, me sinto muito bem quando dizem: “Está lindo e gostoso”. A pouco tempo, lá onde eu trabalho, uma mesa com 6 pessoas, todos levantaram e bateram palmas para mim, no meio do salão, onde haviam outras mesas e outros clientes… Me elogiaram, fiquei muito feliz.

Outro dia, subiu (para o local onde fica a cozinha), um pai com o filho pequeno e curioso para conhecer a cozinha, ai o menino me viu e disse: “seu papa e muito gostoso” (risos)… E eu subi igual balão na Turquia. Criança não mente e quando gosta é porquê é bom mesmo rs…

  1. Qual a frase que você mais ouve enquanto cozinha?

“Prova aí, vê se tá bom de sal e pimenta.” Essa frase escuto mais de 100 vezes ao dia. (risos)

  1. Uma frase que tem um significado especial para seus dias na cozinha?

Nossa essa me pegou!!! “Pensar, planejar e executar.”                       

  1. Um conselho para quem escolheu essa área?

Não desista se errar, tudo se aprender se torna melhor. Viva com foco na cozinha e sempre seja realista. 

Glossário:   

*Mise en place – é uma expressão em francês, que significa “colocar no lugar”. É o ato de  deixar todos ingredientes e elementos utilizado na receita, ali do lado, prontos para serem utilizados.

*Gastróloga – Aquela que estuda ou é conhecedora da arte e da ciência culinária.

*Steward – aquele que conforme as normas do ambiente de trabalho, limpa, higieniza e organiza utensílios.

*cocção – Ato ou efeito de cozer, cozinhar.

 

Amor, Minhas Crônicas, Padrão, Sem categoria, Sexo

Corpos sem Rima….

As mãos trafegam o corpo,

Na pele, nas curvas, no leito suspiros,

O desejo entre os arranhões e gemidos,

Apertou o lençol, arqueou-se, mordeu os lábios,

Suspirou mais de uma vez enquanto encarava o corpo marcados por si,

O beijou,

Se beijaram, entre os gemidos e as confissões do acaso,

Era só prazer e por isso era intenso,

Era casual,

Eram dois e não um.

O compromisso ficou do lado de fora, junto com os problemas e as desavenças, lá dentro só cabia os dois corpos e a intensidade entre eles.

O cheiro de sexo,

A inexistência da obrigação, a existência do acaso, do único, das pernas, das suas pernas em outra cintura que não a conhecida.

A bagunça dos lençóis que quase inexistiam na cama.

A cor inexistente dos pares de olhos inexplicavelmente fechados, para não guardar as memórias,

Para não criar desejos, para não desejar histórias, para as histórias não serem lidas novamente.

Mas era ilusório, a ilusão era prazerosa…

Suspiraram,

Desejaram,

Odiaram a colocação necessária de seus corpos naquele ambiente tão pequeno.

Uma das mãos derrubou a lata de cerveja e a ilusão de que não estavam sóbrios.

Estavam cientes, sóbrios e queriam.

A nicotina trafegou mais do que os lábios, desceu pelos seios, e chegou no ventre, entre os suspiros e as lembranças surgiu o aperto nos cabelos curtos que mal cabiam entre seus dedos, se confundiu entre o prazer e a culpa.

Culpou-se no momento em que se sentiu livre, seus dedos apertaram-se, e os gemidos saiam, a culpa voltava, mas era tão momentânea quanto a fumaça do cigarro, só restou o aroma.

Puxou o rosto para si e provou seu próprio gosto enquanto encarava os olhos que agora sabia que teria que se despedir, antes do banho frio, dos sonhos furtivos, ou dos famosos “até a próxima”, ela saiu.

Saiu sem deixar nome, endereço ou telefone, apenas deixou seu cheiro entre a bagunça do quarto e os travesseiros jogados no chão.

Saiu deixando tudo que não queria deixar, lembranças…

 

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Entre a certeza e a incerteza

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Ocultou sua loucura com outras loucuras, disfarçou seus tombos com risos, e transformou os barulhos ensurdecedores em música, tentou respirar, tentou se acalmar, tentou parar, mas tudo fugiu do controle enquanto ele tentava fugir…

Se abrigou entre a certeza e a incerteza, se resfriou em meio a tempestade, chiou, molhou os pés, perdeu o tênis, mas estava sol…, Tentou entender, tentou respirar mas se sentiu sufocado, estava perdido e se perdeu ainda mais quando o interminável barulho começou à soar em seus ouvidos, era realmente ensurdecedor…

As mãos tentavam se livrar daquele barulho, mas ele não vinha de fora, vinha de dentro, era angustiante, era sufocante, ele cravou seus pés no chão paralisando, não conseguiu andar, não conseguia se concentrar, as mãos inquietas continuavam a tentar fazer parar, mas não adiantava, não parava, não parava, ele só teve forças para cair, caiu em um único baque por cima dos joelhos, doeu, doeu tanto que ele chorava como uma criança.

Ele não conseguia, não conseguia parar de ouvir todos aqueles sons, seu fone, sua música que o acalmou durante anos, agora não mais adiantava, era assustador, era devastador, era como se um grande buraco tivesse sido cavado dentro de si, e era isso, era um buraco que tinha sido aberto e que ele não conseguia mais fechar…

Buscou a sua volta quem poderia o ajudar, mas todos pareciam não o perceber ali, ele não existia, tentou se levantar, mas não conseguia, tentou gritar mas não tinha voz. Parecia estar sendo torturado por algo que ele nem sabia ter cometido. Se sentiu aprisionado, uma prisão sem grades, todos pareciam o vigiar, o viam sofrendo e não faziam nada, pareciam se divertir em meio aos seus gritos inaudíveis.

Ele não conseguia entender, ele não conseguia se entender tudo estava uma bagunça, seus olhos perdidos começaram a reconhecer o tal lugar, mas ainda não entendia como foi parar lá, desistiu de fazer com que eles o enxergassem, preferiu se esconder, se encolheu, eles não podiam o encontrar, já estavam o machucando o suficiente. Chorou, chorou tão forte que suas lágrimas pareciam trazer de volta a tempestade que nunca existiu.

Tudo era confusão, e quanto mais ele tentava entender mais ele se agoniava, o coração parecia pular, as mãos abandonaram os ouvidos, tinha desistido de fazer parar, apenas se encolhia, tinha perdido praticamente as forças em meio aos soluços, a respiração completamente descompensada logo provocava engasgos desesperadores. Não o viam, não o escutavam, não faziam nada, mas pareciam o machucar, parecia que o simples olhar daqueles desconhecidos era suficiente para fazer sua pele queimar.

Entre um soluço e um respirar a ardência em seu corpo aumentava, não tinha mais forças para tentar ao menos amenizar a pele, tentou entender como as manchas que nem notará que tinha, se multiplicavam, ampliavam…, não se reconhecia, respirou e fechou os olhos tentando limpar a visão, mas a escuridão ela ainda era mais assustadora, era no escuro que todos os seus pesadelos viviam, foi lá que tudo começou.

Entre um fechar de olhos e outro, percebeu que tudo ficou escuro, se bateu se culpando, sabia que não podia ter piscado, mas estava tão cansado, nada adiantava, nada, tentava se convencer que aquilo tudo não era nada, mas era tão real, apertou as mãos, os olhos, franziu o cenho, o barulho finalmente parou, a escuridão ganhou forma, ele não conseguia gritar, estava sozinho.

Esperou desesperadamente para que aquela escuridão o consumisse logo, ele não aguentava mais, ele queria que tudo acabasse, mas não acabava, o escuro era tão apavorante quanto lembrava, era gelado, era sozinho, era um grito em meio ao seu silêncio, e foi em meio a todas as formas que ele reconheceu dos seus pesadelos de infância o medo angustiante de não existir mesmo existindo.

Foi em meio a tantos medos que seu coração acelerado começou a ganhar seus ouvidos, o barulho que surgia era assustador, se ouvir era assustador, estava com medo, estava sozinho, estava onde não queria estar, mal sentiu quando o ritmo começou a cair, se sentiu leve e foi como se tivessem tirado um peso de suas costas. Estava tão cansado que mal percebeu quando mãos começaram a o tocar, ele foi se acalmando em meio a confusão a luz foi novamente invadindo seu campo de visão mas não durou muito, dormiu…

Quando acordou não reconheceu as paredes, a tinta, os pôsteres, era tudo como antes, mas mesmo assim diferente, tocou a porta e se sentiu preso novamente, se perguntou se um dia já esteve longe daquele quarto.

 

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Carta para a minha ansiedade

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É estranho escrever uma carta para a minha ansiedade, nunca pensei que fosse fazer algo assim, mas me sinto levemente tentada a te contar como são meus dias em sua, nada, doce companhia, ou ao menos um dos dias.

Quando estava na calçada esperando todos os carros pararem eu encarei um ponto qualquer, era uma loja de roupas masculinas, estava exposto uma calça jeans muito bonita e ao lado dela tinha um vendedor com belas pernas, tinha perdido o sinal verde para atravessar. Desviei meu olhar das pessoas que me encaravam e quando o sinal abriu atravessei correndo, peguei o ônibus e me concentrei nas palavras cruzadas, eram tantas em tantas linhas que não pude me impedir de divagar entre os milhares de significados e como cada um deles se encaixava em minha vida.

Lá estava você, com seu sorriso sacana, me fazendo bater a perna esquerda desesperadamente no assoalho, enquanto marcava aquelas letras no papel, minha mente divagava pela letra de uma música qualquer de algum desconhecido, enquanto tentava a entender, escrevia as tais frases no papel que só deveria escrever letras. Minha garganta secou repentinamente quando no meio de uma outra música, uma frase me fez lembrar de algo que eu preferia esquecer, fiquei meio sem ar, e minhas mãos nervosas quase sem querer começaram a dobrar as folhas da revistinha.

Estava transpirando sem nem estar calor, sequei minhas mãos na camisa amarrota, e apertei a caneta…

Você é definitivamente muito sacana, guardei a revistinha antes que eu a rasgasse, revirei meus olhos enquanto procurava por meu celular para ouvir minha própria música, o fone estava embolado, desesperadamente, tentei desatar aquele nó tão simples, mais foi complicado e entre um bufar e outro acabei acidentalmente arrebentando um dos fones, fiquei frustrada, a música de outrem continuava a tocar, ela não acabava, não me deixou me concentrar na minha própria música.

Quando mal percebi já estava perto da minha descida, tive que correr para dar sinal, não que eu estivesse atrasada, desci com calma, enquanto caminhava para casa a cada passo, a cada detalhe, pensava em algo diferente, parecia que pisava na minha própria mente, era uma bagunça particular que ninguém era capaz de entender, mais uma vez absorta em meus próprios pensamentos cheguei em casa, fui direto para o banho para esfriar a mente, não adiantou, comi qualquer coisa enquanto pensava que não podia perder tempo. Eu já tinha perdido demais.

Qual o motivo de você sempre me visitar quando tenho que resolver algo sério, quando tenho que fazer algo que já deveria ter feito? Qual a porcaria do motivo de você aparecer, e como quem não quer nada, compilar em uma seleção premiada, todos os meus erros e medos, enquanto eu desesperadamente tento sair da minha encruzilhada pessoal?

Você continuou lá assombrando minha mente enquanto eu digitava os parágrafos do artigo que deveria estar pronto a muito tempo, lá estava você me encarando, me fazendo revisar aquelas linhas em meio a culpa de não ter feito antes, de não conseguir fazer mais rápido, de não conseguir me inspirar para escrever. Parei, respirei, pensei em tudo que planejo, tantas vezes com altos detalhes e não consigo realizar, me contorço na cadeira e tento alcançar um dos livros para o referencial, me pergunto quando marquei aquelas frases…?

Você continuou ali, enquanto eu aumentava o som nos meus fones, e lia as linhas dos livros que eram minhas referências, minha mente estava tão bagunçada ao seu lado que eu mal percebia quando saia de um texto e entrava em outra leitura, mas eu não conseguia transcrever todos aqueles pensamentos para o papel, não, quanto mais eu lia, quanto mais eu refletia, mais eu me perdia, tudo era muito rápido e eu não conseguia me acalmar para conseguir transcrever, quando eu comecei finalmente a escrever meus olhos cravaram no relógio, e mesmo que ele não fizesse o famoso TIC TAC, minha mente fazia, meus dedos não acompanhavam o tempo, ele era mais rápido, então um bolo subia na minha garganta e eu o tossia.

A tosse era quase uma forma de colocar aquele bolo invisível para fora, você sabe, eu sei, todo mundo sabe, não tinha nada subindo do meu peito para minha garganta, até porque o caminho percorrido era algo biologicamente impossível, biologicamente não é mentalmente, não adiantava eu saber, aquela bola que queimava por onde passava continuava a subir e a descer, eu não conseguia expelir, ela se dissipava na minha barriga, e eu a ignorava, continuava escrevendo, a essa altura qualquer ruído me trazia desconforto.

Entre o desligar ou não a música, meus dedos batiam freneticamente na mesa eu encarava as unhas malfeitas, eu deveria ter mais vaidade, minhas mãos instintivamente vão aos meus cabelos, me lembrando que eu não tinha nem penteado decentemente antes de sair de casa, eu começo a coça-los enquanto fico nervosa e penso em todas as vezes que fiz isso, quem liga? Eu não ligo, não eu não ligo, não eu achava que não ligava até a hora que você apareceu na minha vida, e me fez pensar esse monte de coisas, maldita ansiedade, eu penso na minha idade, no meu dinheiro, nas idas e vindas que não tive… Droga, eu não aguento mais essa música, eu não consigo escrever, eu tenho 25 anos e não tenho a menor ideia do que fazer…

Enquanto parava o maldito “play” meus olhos desviaram para a barra de pesquisa, e mesmo que a música tenha parado ela continua a tocar repetidamente na minha mente enquanto transito pelas redes sociais, pessoas, barra de pesquisa, curtir, comentar, desviar, compartilhar, quando olhei novamente o relógio, tinha perdido muito tempo, minhas pernas balançavam freneticamente na cadeira, para um lado e para o outro, me perdi naquele movimento incansável enquanto me desesperava por todas as linhas que não escrevi.

Tentei me concentrar novamente mas tudo que consegui fazer foi pensar na sobremesa que não comi, ela ainda estava esperando por mim, estava lá, na geladeira, mal percebi quando minhas mãos alcançaram aquele pote, caminhei com ele para o quarto novamente, sentei, respirei, comi, digitei, digitei, digitei, e quando finalmente só faltava a conclusão, ouço o apito de mensagens do smartphone soar, tento continuar digitando, ele soa novamente, ele soa freneticamente, busco com os olhos a onde o deixei e o encontro ali, jogado ao lado da pilha de livros de distintos assuntos, que eu deveria ter lido e não li.

Olhei as mensagens, respirei, me frustrei, falei sozinha, briguei sozinha, ameacei digitar, digitei, apaguei, digitei, não revisei, enviei, me arrependi. Droga! Me responderam, continuaram a responder, enviei, enviei novamente, desisti de enviar porque perdi o interesse na conversa, ri revirando os olhos, me sentei no chão enquanto buscava algo legal para ouvir enquanto ignorava as mensagens, descobri um texto legal, legal mesmo, muito legal, me deu ideia do que escrever.

Me sentei na cadeira e li meu texto de cabo a rabo fazendo novos apontamentos, me perdi na hora, na música, no texto, nas minhas divagações, mal percebi quando terminei, parecia que tinha demorado mais do que realmente tinha, não quis revisar, não sou obrigada a revisar, eu sou obrigada a revisar, mas enviei mesmo assim, a orientadora revisa, o mundo revisa e eu durmo, ou não…

Tomei um banho quente, e cai na cama, olhei para as paredes estava escuro mal dava para ver os rabiscos que tinha feito, respirei tentando fechar os olhos e dormir, não consegui, contei até cem, não dormi, imaginei mil e uma coisas, me arrependi de comer o doce, bebi agua, li as mensagens, pensei em responder, me arrependi, pensei no rapaz sexy que não sabia o nome, endereço ou que rosto tinha, mas sabia como eram suas pernas, que pernas, queria ter visto seu rosto, minha mente voou, voou longe me fazendo pensar que deveria ter entrado naquela loja, ter perguntado alguma coisa, me frustrei, tentei fechar os olhos e o nervosismo voltou a aparecer, eu deveria ter revisado o texto, e se não gostarem, e se tiver muitos erros, e se…, droga!

Capitalismo, escolhas, Filmes, NETFLIX, Opinião, Sem categoria

Consumindo reflexões…

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Fonte na capa da revista…

Eu tinha dezenas de textos para terminar, mas nenhum com toda certeza me colocou tanto para pensar quanto esse, sério… Sábado em meio a oxitocina e o sono, em uma conversa que não consigo exatamente dizer como começou, eu acabei percebendo, mais uma vez, quão impulsiva sou.

Eu tenho muitos amigos/irmãos por essa vida, isso não é segredo para quase ninguém, e esse meu irmão/amigo em questão estava conversando sobre o seu futuro TCC, sabe quando você escuta tudo atentamente para não perder nenhuma palavra, foi esse o caso, um pouco por causa do sono e outro tanto porque era realmente interessante, o cara quer falar de consumo, os motivos de comprar e os motivos para as coisas existirem, ele faz curso designe, gente eu nunca pensei nisso e eu obviamente devaneei sobre isso com ele, possivelmente ele não me entendeu, eu falo meio desordenadamente quando estou animada e mais ainda quando estou com sono.

Desculpa!!!!

Em meio a muitas frases sem sentido, ditas por mim claro, eu acabei refletindo que eu sou muito impulsiva em muitos fatores, sério quando minha irmã/amiga vem assistir algum filme aqui em casa ela faz diversas anotações a respeito do filme, eu faço as sociais ou as não-convencionais, enfim, eu raramente quero saber o motivo de ter se feito aquilo, sou a “consumidora que só consome e não pensa”, Céus…, que vergonha…

Sou impulsiva,

se eu quero eu compro, se sinto fome como, se estou entediada assisto algo, se quero pensar ouço música, é simples… ou não.

Provavelmente por esse fato de só consumir sem refletir, eu realmente seja bem ruim em fazer resenhas, por mais que eu faça as devidas críticas sócias, as quais fui treinada durante quatro anos de graduação para fazer, eu ainda assim não reflito o suficiente para me sentir motivada a escrever, mesmo com os muitos links criados na minha mente durante o filme.

Não tenho a menor ideia se esse fato devesse a eu não ter paciência de assistir filmes, e menos ainda de assistir séries, e o pior é que eu admiro a forma como são produzidos o envolvimento e o comprometimento, mas quando assisto é para basicamente consumir, alimentar o lucro alheio e obviamente me divertir.

Em meio a muitas reflexões ao longo desses dias, eu acabei percebendo que para minha total felicidade eu gosto de ler, leio realmente muito rápido, porém só se a leitura me agradar, do contrário eu não consigo ler e isso me bloqueia, é isso aconteceu com alguns textos da faculdade. Mas voltando ao momento em que eu curto a leitura, quando eu gosto eu me vício, a leitura se torna uma droga tão prazerosa que eu começo a pesquisar a respeito do que eu li, ao menos isso…

Meu momento de felicidade repentina acabou no instante em que percebi, que só pesquiso a respeito do que gosto, não estou me culpando, é uma análise momentânea, afinal qual o motivo de eu querer saber a história por trás do móvel na loja? Então…, por mais que eu não tenha dinheiro para comprar o tal móvel exposto ali, eu ainda assim deveria fazer os questionamentos plausíveis para a existência dele, ou no mínimo deveria me questionar os motivos dele não estar ao meu alcance financeiro, e de não ser uma prioridade?

Quando minha irmã/amiga, Isa, assiste comigo algum filme de animação, e fala sem vírgulas, a respeito dos aspectos técnicos e criativos que cercam a obra, eu deveria me questionar o que aquilo influencia no meu entendimento da obra por inteiro, mas não, é mais fácil questionar e buscar aquilo que se encontra mais perto, ser consumidor é muito mais fácil.

Acho que quase todo mundo hoje é capaz de fazer uma crítica a Disney, mas essas críticas são por fatores diferentes, temporalidade, características sociais, características físicas e emocionais, questões de gênero, direção, fotografia, trilha sonora, dublagem, roteiro, e um monte de outras coisas, cada pessoa tem seu próprio universo dentro de si. Cada pessoa tem sua bolha que dificilmente vai ser estourada, cada vez que essa bolha estoura é um pequeno ato de revolução.

Quando começamos a questionar assuntos que antes só consumíamos, em atos impulsivos e desnorteados, deixamos de ser egoístas, ouvir os motivos do poeta para escrever a poesia, questionar o trabalho escravo na confecção do vestido, observar atentamente o desenho do diretor, contemplar a loucura do artista, questionar os testes feitos em animais.

Em meio a tudo isso eu acabei me deparando com a seguinte conexão, 13 Reasons Why é uma série produzida pela Netflix, cujo o suposto objetivo é levar ao questionamento do poder das ações de outrem em uma pessoa, são treze ações que levaram uma adolescente a cometer suicídio, é muito interessante? É, e continuaria sendo se eu não tivesse lido o livro em que a série se baseia e se não tivesse descoberto que a direção da série de forma bem desgovernada, introduziu uma série de fatores inexistentes no livro à série.

A série, antes de eu descobrir o livro já não era apenas uma série, era um produto, milimetricamente calculado e que tinha como objetivo atingir um público, mas também era uma ação pessoal e impessoal da direção, pesquisa, arte e fotografia, é uma decorrência de fatores e planejamentos, ações importantíssimas para um desenvolvimento que raramente são questionadas.

Eu não consegui assistir 13 Reasons, e quando falo isso as pessoas começam a questionar se ela é muito pesada, se eu tive algum problema emocional, começam a me olhar preocupadas, essas coisas…, mas a resposta é bem mais simples, a série que a princípio deveria promover o questionamento, anda fazendo bem mais do que isso, ela não segue o enredo do livro, tem suas próprias curvas, me feriu como leitora, e comecei a questionar os motivos, mudar um enredo para atingir um maior número de pessoas para o bem e para o mal.

É inquestionável os gatilhos que a série tem, vulgo o próprio número de telefonemas para o CVV(Centro de Valorização da Vida), afinal se houveram ligações é porque houveram gatilhos que levaram a determinados pensamentos. Não posso afirmar se o livro seria capaz de ter esses mesmos gatilhos, ou outros gatilhos, até porque eu acho o tom usado pelo autor no livro um pouco mais suave do que o que ouvi e li sobre (a série), mas é uma opinião pessoal de alguém que não é profissional da área (aliás de nenhuma área além da educação).

Fato é que metade desses questionamentos não seriam capazes se eu não tivesse questionado os motivos de tanta gente falar da série. Aliás a minha reflexão a respeito dessa como produto de consumo e lucro, em muito se dá pela própria direção, o que é um erro, eu sei…

Ser consumidor é mais fácil pelo simples motivo de sermos egoístas, só buscamos aquilo com que temos relação, eu me importo mais com pessoas do que com coisas, mas pessoas consomem e produzem coisas, se eu não penso logo não existo. Eu passo a não existir como indivíduo e passo a existir como massa, aquela que segue o fluxo, que não pensa e que compra.

Eu já disse que sou impulsiva, hiperativa e que tenho TOC, então…

Grata ao irmão reflexivoooooo

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Entre amores e egoísmo.

soneto[1]
Soneto de Fidelidade – Vinícius de Moraes

Eu já dissertei mais de uma vez a respeito da minha minha capacidade de “supostamente” amar demais, resumindo eu não consigo desenvolver um relacionamento sério com quase ninguém pelo simples fato de não conseguir me ver amando uma pessoa minha vida inteira. Sim, esse é o mesmo problema quando penso em concursos públicos e na possibilidade de me ver prisioneira de um mesmo emprego por longos anos da minha vida. Deve ser por isso que penso tanto em tantas coisas diferentes para fazer.

Eu sempre fico muito aflita quando penso na minha poligamia, eu amo muitas pessoas, eu amo muitas profissões, eu amo de muitas formas, eu amo de forma errada muitas coisas, eu tenho muitos medos com relação ao futuro, meus medos consequentemente me fazem errar muito. Eu sempre me pego pensando quando digo que minha vida é uma eterna relação de poligamia, eu de fato preferiria mil vezes ser monogâmica não só com relação a afetividade mas com relação a vida profissional.

A vida seria bem mais fácil se todos fossem formatados na mesma forma, olha que chato e interessante, ao menos ninguém te julgaria pelas supostas escolhas que você não teve escolha, pelas orientação pré estabelecidas antes do meu nascimento, pelos gostos duvidosos em relação aos meus amores.

“Que seja eterno enquanto dure”, essa frase tá tatuada no meu coração, não aquele que bate mas o que ama, o que ama desesperadamente cada coisa e depois “desama” com a mesma intensidade. Eu sinto amor, e amo o sentir, eu amo cada peça dessa composição esquizofrênica do meu coração, mas queria não amar, veja bem toda vez que escolhemos entre uma coisa e outra nós impusemos nossos sentimentos pessoais acima de qualquer coisa, nós fazemos algo egoísta.

Ser egoísta não é pensar em si, é pensar em si acima do outro. O quão egoísta eu sou? Eu torno meus relacionamentos abertos por medo de não amar eternamente uma única pessoa, ou melhor, por medo de protagonizar a famosa cena de filme em que “a mocinha se vê apaixonada pelo vizinho e abandona a parceira de anos por quem se apaixonou perdidamente enquanto estava noiva do namorado de infância”, difícil? Nem tanto.

Sejamos sinceros eu não me sinto confortável com a estabilidade de um relacionamento, então eu o abro prevendo a possível outra pessoa invadindo minha vida, quase sempre acontece, as vezes não comigo, mas é a vida…, e eu no fim das contas tenho total direito de não me sentir completa estando com uma única pessoa.

Uma das coisas mais engraçadas quando se é naturalmente poligâmica é que quando você entra em um “suposto” relacionamento aberto com uma outra pessoa, você se torna uma certa referencia de um relacionamento opressor, principalmente se o relacionamento seguir a heteronormatividade e você for a mulher, é claro que se descobrirem que você é percursora da ideia do “relacionamento aberto”, você será promovida de submissa à puta. Um brinde a nossa sociedade machista.

Minha ideia de relacionamento poligâmico ideal é eu e a outra pessoa nos apaixonarmos igualmente pela terceira pessoa, utopia? Quem sabe…

Relacionamentos monogâmicos podem ser bem opressores e bem machistas tanto quanto qualquer relação de poligamia, nossa sociedade nos prova isso nos discursos do golpista, mulheres só servem para a economia quando verificam os preços no supermercado. Uma mulher não pode ter mais de um parceiro, ganhar mais, decidir sobre o próprio corpo, querer trabalhar tendo um filho, não pode querer terminar o relacionamento, decidir a própria carreira, uma mulher não pode saber sobre números, não pode comandar, não pode ser presidente, uma mulher tem que seguir um parâmetro para ser uma mulher.

E sim, eu tenho a certeza que boa parte das mulheres já sentiram seus desejos castrados por boa parte de seus parceiros, não na cama enquanto ele se negava a fazer um oral, ou enquanto ela emitia um falso gemido porque o pinto torto dele não atingia o local certo, estou me referindo a uma coisa bem mais simples na verdade, sentir desejo por outros corpos e não poder falar, pelo simples fato de que a sociedade nos diz que mulheres não sentem desejos por outros homens que não são seus parceiros, aliás a sociedade nos diz que se não sentimos desejos na relação a culpa é nossa e não dele.

Calma aí sociedade, se eles se sentem atraídos por outros corpos eu também posso me sentir atraída!

Mas tecnicamente falando, eu sou contra traição, e é por esse fato que eu sempre termino algo antes mesmo de começar, a simples ideia de que um outro corpo, uma outra composição de corpo e alma esta me atraindo me faz sentir culpada, mesmo que o desejo não legitime o ato.

Resumidamente falando, existem várias formas de relacionamentos poligâmicos, os mais conhecidos são: A terceira pessoa, em que a terceira pessoa se relaciona com ambos; o que cada um tem um parceiro e as vezes eles se encontram em uma suruba, temos o que eu o que eu mais entro mais sou reticente, que é o famoso relacionamento aberto, “eu te amo, mas pego outras pessoas”, e claro temos o que o querido macho alfa tem suas várias mulheres, vugo nosso querido Catra, queria eu ter vários maridos com tanto acolhimento pela sociedade.

Existem várias formas de se iniciar um relacionamento poligâmico com uma outra pessoa, mas a forma mais errada é impondo isso a alguém que não quer um relacionamento dentro desse parâmetro, e isso é um egoísmo, é a imposição do seu bem estar, sem preservar o bem estar do outro.

Não se impõe nada a uma outra pessoa, a pessoa tem que querer estar nessa relação, e principalmente se sentir desejada e desejar dentro dessa relação, e se a relação é aberta, todos os dois têm os mesmos direitos, a sua liberdade não pode castrar a liberdade de uma outra pessoa, não pode castrar os sentimentos. E é bem nesse ponto em que finalmente chegamos, qual o significado de “abrir um relacionamento”, serei sincera eu sinto muito preguiça para sair por aí beijando bocas durante a balada, então abrir o meu relacionamento só significa para mim me relacionar com uma outra pessoa que me atraía em todos os sentidos, mas para outra pessoa abrir o relacionamento pode significar a reafirmação do ego, “quero um compromisso, mas quero continuar com minha vida de solteiro”, abrir um relacionamento tem tantos significados mas a maioria deles é focada só no “eu”, “eu não consigo amar só uma pessoa”, “eu não sou feliz em uma vida a dois”, “eu não quero me prender a uma única pessoa”. É tanto “eu” sem “nós”, que nos esquecemos de um erro que é irreparável, sozinho nenhuma relação existe.

Estar em um relacionamento monogâmico ou poligâmico, não tem nada relacionado com ser ou não egoísta. Tudo bem se a pessoa for uma pessoa que gosta de compartilhar isso ajuda bastante em um relacionamento poligâmico, o que não a impede de ter comportamentos obsessivos. Cada pessoa é de um jeito, cada pessoa tem sua forma de amar, e essa forma é algo único que é incapaz de se descrever, o fato de você estar em uma relação poligâmica não quer dizer que você não sinta ciúme, que você não sinta, que você não ame, que você não impeça suas ações para ver a felicidade de outra pessoa. O fato de você se encontrar em um relacionamento monogâmico não te impede de não sentir, de não se sentir, de amar desesperadamente, de se sentir insegura.

Se sua relação não te faz feliz, você simplesmente não vive uma relação, vive algo condicionado, muito parecido com uma prisão sem grades.

Quando amamos inegavelmente flertamos com a insegurança, porque se uma pessoa ama automaticamente ela quer ser correspondida com a mesma intensidade, só que pessoas adultas sabem que o mundo adora quebrar nossas expectativas. Exitem tantas formas de amar que seria impossível realmente as descrever, se você ama a dois, a três, a quatro, se você ama, se ama e é amado é tudo que deveria ser importante. 

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Compositor de destinos

coracao-e-vida
Disponível em Pinterest

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo

(Caetano Veloso)

Dedico esse texto aos meus amigos, irmãos, por me ensinarem que viver é florescer entre a tempestade. Dedico esse texto aos amores incondicionais que conjugam o verbo amar da maneira mais intensa possível. Eu amo vocês por me ensinarem tanto de tantas formas.

Em meio a aquele silêncio, ouvia-se um choro,

tão íntimo,

tão pequeno,

tão vulnerável,

Era o primeiro encontro de ambos, seu olhar o encontrou de forma que soubesse que mesmo naquele primeiro momento, aprenderia bem mais do que o ensinaria.

Sorriu, sorriu de maneira tão inusitada ao o segurar, que se esqueceu de como estava sensível, não ligou, continuou a segura-lo de maneira meio torta, meio incerta, de maneira certa, bem ao lado do seu coração, o som estranhamente descompensado acalmava aquele ser tão pequeno, o choro cessava enquanto seguia o embalo daquela voz rouca e dos soluços.

O ninou em seus braços, com toda a experiência que lhe faltava.

Se perguntou desde quando o conhecia? O olhou novamente como se tentasse se lembrar, fechou os olhos e sentiu aquele cheiro meio seu, meio dele, era algo tão improvável, mas sentia, era como se reconhecer ali. Não, com toda certeza não era o primeiro encontro de ambos, soube disso quando o tiraram de seus braços pela primeira vez, sabia que não existia lugar melhor do que ali nos seus braços, e mesmo assim o levaram.

Sentiu o aperto, e reconheceu a saudade imensurável que nunca havia sentido.

Dormiu de cansaço, mesmo não querendo dormir.

Se preocupou, mesmo sabendo que não deveria se preocupar.

Disse que estava tudo bem, apenas para que se preocupassem com ele e não com si.

Por mais que soubesse o que era amar o outro, não sabia descrever aquela sensação, não era racional, era como se a sua dor não existisse, então soube o que era verdadeiramente se doar pelo outro, sentiu necessidade de protege-lo, de o guardar em seus braços, aprendeu um outro significado de amar, bem mais intenso, bem mais voraz, um amor incondicional e sem respostas.

Quando acordou não se importou com as olheiras, ou com qualquer coisa que foi lhe perguntado, esperou ansiosamente para o encontrar novamente, ainda não sabia lidar com tudo aquilo, era tudo meio novo, e nada correspondia a suas expectativas, era tudo mais intenso, antes mesmo de o acolher em seus braços já sentia seu calor tão peculiar.

Independente de todas as crenças que poderia ter, sabia que daquele momento em diante todas as suas preces seriam para ele, para seus sorrisos, para seus machucados, para seus sonhos, para seus abraços.

O alimentar era como regar um pequeno broto, sorria com esse leve pensamento, era como se aquilo os ligasse eternamente, era como se sua vida regasse aquele ser tão pequenino, enquanto ele despreocupadamente sugava cada gota. Não conseguia pensar em mais nada enquanto o encarava.

Era o seu pequeno pedaço do mundo, era o seu mundo, nunca o imaginou tão pequeno, nunca imaginou que algo tão grande pudesse caber nos seus braços, mas cabia, sabia que não caberia para sempre e inquestionavelmente sentiu um súbito medo dos dias tão distantes em que não bastaria o seu amor, seus braços, suas palavras, respirou fundo e ignorou todos esses pensamentos, por enquanto ele ainda era o seu pequeno pedaço do mundo, tão pequeno que cabia nos seus braços.

Se pegou rindo para o nada, respondendo perguntas inexistentes, inventando músicas sem refrão, era tudo tão único que nem ligava para que os outros diziam, nem todos os manuais de instruções poderiam sugerir como seria seus dias agora.

O cansaço batia, o choro surgia, e o único verbo que conseguia conjugar era o amar, o conjugava das maneiras mais improváveis e impossíveis.

Meu canto hoje dobra as tuas notas
Me olhas como se fosse normal
Me coro ao seguir a tua rota
Meu abraço te amarrota
Meu estranho natural

_Maria Gadú_