Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, depressão, escolhas, Minhas Crônicas, Opinião, Saúde, silêncio

Filme antigo.

Ainda é cedo amor

Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora de partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

(Cartola)

Aos que se perdem no tempo e perdem tempo…

Algumas vezes seu relógio não marca as horas da forma correta, é como se o seu tempo não fosse cronológico, tem dias que seus minutos duram mais do que horas e outros tantos, suas horas passam mais rápido do que os segundos. É como olhar o mundo, seu mundo, sentado diretamente na cadeira de um cinema vazio, sem ninguém do seu lado, é como ser um espectador da própria vida. 

De repente não mais do que de repente, sua vida antes tingida de tantas cores parece ter virado um eterno filme em preto e branco, sem som, sem direção, a imprevisibilidade passou a fazer parte dos seus dias, você deseja que aquele longo e cansativo filme acabe mas ele não acaba ele se arrasta. Às vezes você assiste ao filme, outras tantas você se transforma em uma personagem coadjuvante que ninguém percebe por ali, uma personagem que arrasta uma longa corrente por todo o filme, é esse seu único enredo, ninguém repara nela, ninguém para, e todos os outros personagens evoluem, mas ela não.

Você percebe que parou e o mundo continuou a girar, todos a sua volta continuam da mesma forma seguindo com suas vidas, tropeçando em você e seguindo sem perguntar se estava tudo bem. As pessoas não param, não perguntam, apenas seguem, elas não querem perder tempo, elas não querem ter suas vidas estacionadas apenas por tropeçar em você. Quando você finalmente consegue se mexer, você percebe que o tempo passou, que ele correu e você nem percebeu. 

É uma batalha perdida, não tem como lutar contra o tempo, de alguma forma você não sabe como começou a se sentir assim, se foi algo de agora ou de muito antes de você se tornar adulto, mas aconteceu e agora tudo que você consegue fazer é assistir a esse filme que se repete dia após dia, você às vezes ri de forma involuntária, as piadas são sem graça mas você apenas faz, para não perder o costume, para que não percebam que as coisas mudaram. 

Algumas vezes é difícil manter o disfarce, e você desaba, e é como se aquele filme desastroso estivesse em um aparelho quebrado, ele é rebobinado várias e várias vezes para que você pudesse lembrar suas derrotas, seus medos e seus erros. Você desaba e se afoga naquele sentimento, não consegue escapar daquela correnteza, se sufoca, se esconde e se machuca. 

Seus suspiros são de desespero, afinal durante tantos anos o medo era tudo que você queria evitar e agora parece que de forma inevitável tudo que você tem pela frente é isso, o medo, o medo constante de se afogar e não ter ninguém ao seu lado, o medo de se tornar um eterno espectador da sua vida. O medo finalmente bateu à sua porta e se mostrou um hóspede bastante exigente, faz festas assustadoras que te tiram o sono, involuntariamente você tenta o expulsar, mas é como se aquela casa não fosse sua e você não tivesse direito a opiniões sobre quem vai ou quem fica. É um medo frio, vazio e silencioso, que te faz ficar doente. 

Viver se tornou sinônimo de esperar, você espera de forma impaciente para que aquela sensação vá embora e seus anseios que antes eram minimizados, se tornam cada vez mais presentes em sua vida. Você questiona o que faria se não tivesse tantos medos.

Dúvidas realmente pairam sobre a sua cabeça, será que as coisas mudaram e deixaram de ser tão prazerosas? Será que um dia elas foram realmente prazerosas? Constantemente sua cabeça roda e você se esquiva de dar respostas para perguntas que sabe que deveriam ser feitas. 

É complicado, seu tempo que antes era só seu, agora pertence a outras pessoas e você não sabe lidar bem com isso, sua cabeça entra em uma guerra constante para conseguir estabelecer objetivos. Tudo parece um eterno conta gotas de um remédio de gosto amargo, as gotas caem devagar e parece que nunca vai chegar a contagem final, você se angustia com aquela sensação de espera eterna. Você tenta ter paciência, tenta esperar, tenta desacelerar sua vida, mas se irrita fácil com o ritmo das gotas, elas caem devagar e parecem te machucar sempre. 

Não existe uma posologia para viver a vida, e por isso você se irrita constantemente pelo ritmo como as gotas caem, é vagaroso demais e você não se concentra naquilo, perde o foco, a contagem e não lida com o erro causado pelo seu cansaço de viver esse filme tão solitário. 

Constantemente você se força a dizer “tenho que continuar”, mas é um mantra falho, seu tempo que por vezes passa tão arrastado parece te impedir de continuar, parece te impedir de assistir esse filme solitário ao lado de outras pessoas, você anseia pelo final sem perspectiva de que ele se torne feliz, afinal você ultimamente dúvida do que é realmente felicidade. 

Por qual motivo você continua? Por qual motivo você não consegue ir por outro caminho, seguir por outra curva? Você se sente perseguido de forma constante pelo medo de errar… 

Sua mente tem muitos barulhos que não são seus, você diz sim quando sabe que deveria dizer não, utiliza vírgula onde deveria haver um ponto final, você escreve parágrafos novos para um assunto que já deveria ter terminado. 

Reinicia, olha para trás e respira, respira forte e tenta fazer o melhor que pode fazer, não o que você acha que as pessoas esperam que seja o melhor. A vida não vai parar, os minutos não vão voltar, mas você pode revisitar seus bons momentos, eles houveram, pode rir dos erros, comemorar as pequenas vitórias, mas não ultrapasse seus limites a vida é como um filme muito antigo, se você rebobinar ou avançar muito rápido, a fita agarra, o filme embola e tudo que vai restar é um drama mexicano como uma recordação que você não vai querer lembrar.

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A tempestade e o tempo

Tempestade: substantivo feminino Temporal; perturbação atmosférica violenta, geralmente associada à chuva forte, ao granizo, ao vento, aos trovões, raios ou nevascas: tempestade de neve

Sabe uma vez eu ouvi que não há nada mais egoísta do que pedir para uma pessoa que não quer ficar permanecer… Permanecer em um lugar onde nada basta, para que o silêncio e a dor acumulada passe, é algo que não deveria ser cogitado. É preciso ter algo, ou alguém que amenize essa tempestade que acontece aí dentro e você nem sabe explicar.

Todos te pedem para ficar, 

todos te pedem para sorrir, 

todos te pedem para continuar a caminhar…

Mas você não consegue permanecer, não consegue ouvir, não consegue se encontrar ali, das primeiras vezes que ouviu esses clamores você quis acreditar que eles compreenderam, que estariam ao seu lado e que amenizariam a sua dor. Você sorriu, secou suas lágrimas e deitou em sua cama, as promessas de que “estariam com você” serviram para te ninar naquela noite. 

Os dias que se seguiam eram sempre vazios, sem sons, em completa anestesia, não havia barulho que amenizasse o que você sentia, nada te fazia sair do lugar, era tudo tão vago e raso que as palavras deles pararam de fazer sentido, no início o vazio dava espaço a uma quietude que vez ou outra era inundada por afagos rápidos e falsas promessas de que tudo ficaria bem, mas depois se cansaram, foi rápido, foram dias e não semanas… E toda aquela sensação repentinamente afastada dava espaço para uma muito pior, a de se afogar na própria angústia. 

Os dias de tempestade sempre aparecem quando você sente que decepcionou alguém, que não foi suficiente e que não fez o suficiente para que eles permanecessem, era uma inundação que surgia de dentro de você e tomava seu ar, te fazia não respirar ou encontrar palavras, era como se a todo instante você estivesse lutando em ondas revoltas tentando buscar por alguém que segurasse sua mão e te tirasse daquele lugar. Te tirasse de você, afinal você era o mar.

De início tentou se conformar em ficar, mesmo com todo o frio que sentia, tentou permanecer da mesma forma, anestesiada com a própria dor, olhando para um horizonte que parecia não existir, esperava constantemente pelos seus momentos de afogamentos diários, se concentrar em algo já não era suficiente, desviar o foco também não, se sentiu imobilizada, nada do que fazia era dentro do planejado. 

Os passos tortos, os bocejos constantes e os tropeços em palavras era uma rotina que casualmente todos passaram a perceber sem questionar, era como se você constantemente tivesse acabado de passar por uma sessão de mergulho que deu muito errado. No fundo você os entendia, era mais fácil não questionar, suspirava de angústia em meio aos olhares tortos, quanto mais olhares recebia mais parecia não caber dentro de si mesma, era como se constantemente estivesse vestindo uma roupa muito menor que si. 

Recebia algumas mensagens vagas, assim como alguns silêncios, dormia e acordava da mesma forma, continuava a sentir o cansaço, durante as noites pensava em todos os “se” que poderiam ter ocorrido, durante os dias pensava no futuro e em tudo que poderia ter feito para que o futuro não fosse um lugar tão frio e tão desinteressante. Encarar o futuro era como encarar um mar sem saber onde encontrar terra firme. O futuro era como uma noite fria e vazia, onde não existia porto para ancorar seu navio, apenas a promessa de ondas revoltas que te iria afastar da ancoragem. 

Não é como se realmente não quisesse ficar, mas era como se não tivesse motivos para permanecer, o tempo passa diferente na sua cabeça, às vezes os dias são mais curtos do que alguns minutos.  Você repete a mesma cena algumas vezes, e tudo parece uma prisão, alguns dias são melhores do que outros, e alguns outros são como grandes tempestades. 

Nos dias de tempestade você escolhe seu abrigo, e tenta amenizar o barulho dos trovões causados pelos seus pensamentos, se recolhe da forma como aprendeu a fazer desde que descobriu sobre o silêncio que te acompanhava, você respira e o único barulho que realmente escuta é o do seu coração. Não é como se não quisesse ficar, é como se fosse uma eterna tempestade que você não tivesse controle para onde ela vai te levar. 

Nos dias de sol, você continua a respirar fundo e vê todo o estrago da tempestade, seu ânimo não é dos melhores, e angústia volta, só que dessa vez não é por decepcionar os outros, mas sim por decepcionar a si mesmo. O chão parece ser um ótimo abrigo nos dias de sol, você repassa cada passo que deu dentro da tempestade, verifica os joelhos ralados, procura por mensagens de preocupação e encara o silêncio de não saber para onde ir. 

Nunca foi sobre querer ficar ou não, mas sempre foi sobre quem quer que você permaneça, mesmo que nos dias de tempestade, onde tudo que você precisa é de um bote salva vidas que te leve para terra firme e fique com você até todos os barulhos sanarem, até o sol aparecer.

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Castelo de cartas

Aos amigos que em silêncio pedem socorro…

Se sintam abraçados.

Eu sei que você queria entender essa dor, que brotou dentro do seu peito de forma tão assustadora que é incapaz de dizer quando começou, foi tudo tão de repente…, um dia você dormiu, colocou a cabeça no travesseiro tranquilamente, e no outro, no outro seu coração parou repassando passo a passo de cada erro seu, de cada sorriso não correspondido, foi tudo abrupto demais, até para você que parecia pensar tão rápido.

Era como se lhe arrancassem o ar e retirassem junto às entranhas, a súbita vontade de gritar tomava conta de sua garganta, mas não saía som, não saía lágrima, não saía nada a não ser a dor, aquela maldita dor que te impedia de ter qualquer reação. 

Seus olhos pareciam doer mais do que o normal, sua vontade de permanecer de pé parecia desaparecer, o choro se tornou tão latente que a cada soluçar você parecia se despedaçar, não existia “eu te amo” que te fizesse sair daquele espaço onde se sentia seguro, enrolou-se nos lençóis e sufocou o primeiro grito enquanto se encolhia esperando por uma ajuda que nunca veio.

De forma súbita você ia desaparecendo, seu sorriso ia se esvaindo e deixava no lugar um leve levantar de lábios que dói cada vez que você tenta mascarar sua dor. De certa forma suas palavras também desapareciam, suas certezas iam embora a cada pequena tempestade dentro de si e aquelas malditas lembranças se tornavam tudo que restou.

Tentou engolir o choro e não adiantou, tentou esconder suas palavras e tudo que conseguiu foi às deixar sair de forma torta, era quase como se rosnasse, se defender do mundo foi a forma que encontrou para minimizar os ferimentos que ninguém enxergava, você focou naquilo que achava que era bom, que não podia criar decepções e se afundou ali, naquele lugar tão desproporcional a você, você começou a sentir que nem ali você cabia, mas era só aquilo que lhe cabia. 

Você já não se reconhecia, seu silêncio silenciava suas verdades, deixava sair apenas aquilo que queriam ouvir, respirava fundo buscando o ar, tentando se reconhecer em meio a toda aquela fantasia que criava, minimizou sua dor, estancou seus medos e se segurou em meio a incertezas, seu frágil coração vez ou outra demonstrava que aquilo não era certo, deixava cair a cada dia um pedaço do que um dia foi.

Se olhar no espelho se tornou tão complicado quanto olhar para as roupas abandonadas no fundo do armário, roupas que não lhe servem, mas que você deixava ali, se recusando a se desfazer daquelas lembranças. 

Você se encarava e não se reconhecia, o tempo passava, o choro te afogava, o soluço te impedia de respirar, era como encarar o passado e se perguntar o que ele tinha feito com você, a tortura permeava seus dias e você sentia vontade de esmigalhar aquele maldito vidro. Você repelia toda e qualquer circunstância que pudesse abalar o mundo frágil construído por você.

Olhar o relógio era uma lembrança constante que o tempo não voltava, os ponteiros não andavam na direção contrária, respirar fundo se fazia cada dia mais presente, e você não sabia se queria que o tempo passasse mais rápido ou mais devagar, afinal você parecia se afogar dentro de si mesmo, todo dia que amanhecia parecia um convite para ancorar sua vida em outro porto e modificar seu percurso. 

Era um convite constante que passava por sua cabeça, um convite que você nunca seguia, um convite repleto de incertezas em um mundo construído com cartas tortas que a qualquer vento poderia derrubar, era um mundo repleto de lembranças que iam e voltavam com a mesma velocidade que os ponteiros do relógio andavam. 

Você queria aceitar, eu sei que queria, mas era tão difícil, você tinha medo de tudo desabar com tamanha velocidade que seria impossível as colocar no lugar sozinho, afinal você realmente se achava sozinho, seu choro não era ouvido, e seus medos pareciam te trancar em uma sala deserta e escura sem portas ou janelas, ninguém parecia te ouvir, ninguém parecia ligar, era doloroso demais se encontrar sozinho em um mundo onde verdades são silenciadas e sorrisos falsos se tornam verdadeiros, você se engasgava forte com suas dores, e se despedaçava sem ninguém perceber, ancorar em outro porto exigia uma coragem que você não sabia ter. 

Você respirava fundo buscando soluções para tudo que sua mente tão ágil reproduzia de forma tão insana, não sentiu o abraço, ignorou os pedidos de calmaria e correu em direção contrária ao mundo, mentiu quando perguntaram qual era o problema, disse não quando queria dizer sim, a sensação de casa cheia e coração vazio nunca deixou você. 

Se eu fosse te dar um conselho seria para se ouvir e desabar você mesmo esse castelo de cartas tortas, desaba, ele já tá bambo a muito tempo, deixa cair as lágrimas, o medo e as incertezas, se já não te cabe mais por qual motivo continuar no mesmo lugar?

Respira devagar, você vai conseguir. Olha para trás e vê tudo que você já construiu, você tem sorte, tem mãos que vão te reerguer quando cair, pode ancorar em qualquer porto que você não vai deixar para trás suas conquistas, mas também vai levar junto suas lembranças, lembranças boas e ruins, elas são parte de quem você é, se o castelo realmente desabar, você vai juntar carta a carta e remontar aquele castelo, montar de uma forma que te agrade, que você se encaixe e se reconheça ali dentro. Vai construir e reconstruir esse castelo até você se reconhecer como parte dele.

Abuso, Crônica, Crianças, depressão, Minhas Crônicas, Violência

Um Ponto sem Final

Alerta de Gatilho

O texto de Hoje é motivado por uma reportagem antiga da CNN, nós precisamos deixar de achar que só crianças do sexo feminino são abusadas.

“Um levantamento da pasta, feito em 2021, mostrou que dos 18.681 registros, em quase 60% dos registros, a vítima tinha entre 10 e 17 anos e cerca de 74%, a violação era contra meninas.

Os dados também apontaram que em 8.494 dos casos, a vítima e o suspeito moravam na mesma residência. Outros 3.330 casos aconteceram na casa da vítima e 3.098 na casa do suspeito.

Entre os suspeitos, em 2.617 dos casos estavam o padrasto e a madrasta, 2.443 o pai e em 2.044 denúncias, a mãe era acusada.”

(CNN – Das 4.486 denúncias de violação infantil em 2022, 18,6% estão ligadas a abuso sexual, 18/05/2022)

(Crônica ficcional) Alerta de Gatilho no texto abaixo, o texto não tem final feliz, na verdade nem final ele tem, contém momentos de sofrimento, menção a abusos e tentativa de suicídio:

Eu fui abusado.

Sim, eu fui abusado.

Quando ela o conheceu eu só tinha dez anos, ele prometeu que cuidaria de nós dois e que não deixaria nada de ruim acontecer conosco, ele cumpriu essa promessa e por um tempo eu gostei de o ter por perto, mas o tempo foi passando, o tempo que mamãe passava em casa foi ficando cada vez mais escasso em contrapartida o tempo dele em casa foi aumentando.

Logo tudo que se referia a mim, era resolvido por ele. Eu não sei se eu de fato culpo minha mãe, as vezes eu me pego pensando que ela poderia ter reduzido as horas de trabalho no hospital, que ela poderia ter esperado até o conhecer melhor, que ela poderia ter reparado que minhas mudanças de comportamento não aconteceram de forma tão repentina assim.

Eu tinha 11 anos quando reparei que os toques de carinho que ele me dava tinham mudado completamente, a primeira vez que ele abusou de mim, não foi à noite, ele não estava irritado e mamãe tinha ido passar o fim de semana com os meus avós, eu não entendia o que estava acontecendo, eu só sei que doía, doía tanto.

Não consegui contar para minha mãe, não consegui contar para nenhum dos meus professores ou amigos, eu só conseguia ficar com medo das pessoas, eu gritava e me assustava se alguém chegasse perto demais, eu perdi completamente o foco das minhas tarefas escolares, minhas notas caíram e mamãe se irritava com isso, ela não aceitava “gastar dinheiro atoa”.

Um dia mamãe teve a brilhante ideia de me levar ao médico, eu me lembro claramente que depois do clínico geral veio o psiquiatra, os remédios, eu ainda tomo os remédios, mas agora eu sou um adulto com muita coisa acumulada, naquela época eu era uma criança, uma criança que não conseguia colocar para fora tudo que sentia. Minha mãe deveria ter se recusado a me dar remédios e não ter desistido tão fácil de mim.

Não era como se eu realmente quisesse ser um aluno ruim, um péssimo filho, ou perder todos os meus amigos, eu não conseguia controlar minhas crises de ansiedade eu era só uma criança com medo de a qualquer instante alguém fazer aquilo novamente, eu chorava e gritava e as pessoas achavam que era coisa de criança, mesmo eu nem sendo tão criança assim, eu me coçava constantemente porque lembrava de cada toque daquele homem.

Eu realmente acho que ela desistiu porque quando ele sugeriu que resolveria, ela agradeceu, ela agradeceu porque não dava mais conta de mim. Eu sentia medo dele e raiva da minha mãe, quando ele começou a conversar comigo eu só conseguia concordar sem o encarar, o que era para ser uma conversa tranquila terminou com uma sessão de abusos que agora sei que não eram só físicos, mas também psicológicos.

Depois daqueles dias eu me sentia pressionado a me focar nos estudos, então eu tinha crises e mais crises enquanto tentava acompanhar as matérias, eu quase não saía do quarto, minhas notas subiram, as pessoas não entendiam aquela mudança brusca, eu ainda me assustava com certa facilidade, ainda sentia muita vontade de gritar, mas com o tempo passei a tentar me controlar mordendo os lábios, passei a me arranhar com muito mais frequência, os abusos passaram a ser frequentes e ninguém percebeu.

O tempo foi passando e junto minha angustia ia crescendo, vovó constantemente me chamava para passar os fins de semana na casa dela, eu recusava, mas conforme eu fui crescendo e aprendendo que minha casa não era um lugar seguro eu passei a aceitar, e não, não significa que aquele homem deixou de tocar o meu corpo, pelo contrário, ele passou a ameaçar não só a mim como minha mãe e avó, eu não conseguia reagir.

Eu sabia o nome do que ele fazia comigo, é claro que eu sabia, eu tinha 12 anos quando a professora de ciências falou sobre o corpo, desejos e abusos, eu senti vontade de falar alguma coisa, mas na aula toda a ênfase era para abusos sofridos por meninas, o efeito daquela aula em mim, foi pela primeira vez eu trocar minhas unhas pela ponta do lápis, aquilo que ele fazia comigo ganhou um nome e tudo que eu sentia era nojo de mim por não conseguir pedir ajuda.

Eu fui crescendo retraído e angustiado, não conseguia estabelecer vínculos de amizades com ninguém, quando eu passei aos 16 anos a controlar meus próprios remédios eu passei a os usar de forma pouco ortodoxa, eu tomava mais de um na hora de dormir e assim eu passei a não ver o que ele fazia com meu corpo.

Minha mãe foi ficando cada vez mais sem paciência comigo, ela não entendia minha falta de apatia, minha falta de vontade em estabelecer diálogos grandes com eles, minhas explosões repentinas de humor, ela não entendia e as vezes eu acho que ela não queria tentar me entender.

Tudo passou a piorar quando ele me obrigou a parar de tomar os remédios na hora de dormir, se eu achava que era ruim tomar os remédios eu percebi naquele instante que era muito pior ficar sem eles, ele passou a me chantagear, a trocar os favores pelos remédios, eu não tinha escolha a não ser fazer o que ele queria, eu comecei a ficar paranoico, a ter crises de ansiedade e de pânico, eu mal conseguia formular frases inteiras.

Quando minha vó faleceu meu mundo desabou, mesmo que eu já tivesse 17 anos, eu ainda me sentia uma criança sozinha, eu não tinha mais ninguém para me dar amor, para me proteger, eu não tinha para onde fugir, então eu fiz a única coisa que eu poderia fazer, eu tentei me matar, eu tomei todos os comprimidos que eu consegui juntar, eu premeditei, quando meu corpo ficou mole e minha mente foi ficando em neblina eu achei que tudo finalmente tinha acabado, eu não consigo me lembrar de nada além de gritos.

Eu acordei dois ou três dias depois com minha mãe sentada na cadeira ao lado da minha cama e meu padrasto trazendo café para ela. Minha mãe é médica pediatra, eu estava no hospital em que ela trabalhava e ela parecia não dormir a muitos dias, eu não consegui a encarar, eu senti um misto de vergonha e raiva.

Eu virei meu rosto de lado para evitar o olhar recriminatório dela, eu tentei tapar meus ouvidos para não ouvir o que ela falava, mas eu não consegui. Eu ainda lembro de cada palavra e da forma como foram pronunciadas.

_Você tem ideia do que eu estou sentindo? – eu não tinha ideia do que ela sentia, mas eu também não entendia o que eu sentia, eu não respondi e ela continuou a falar:

_Você não sabe como eu me senti quando te vi jogado naquele corredor, você não tem ideia do medo que eu senti quando eu achei que fosse te perder. – ela gritava, gritava cada vez mais perto de mim, até que me segurou os ombros me obrigando à encara-la.

Eu também estava com raiva, não era como se ela fosse realmente uma boa mãe e ela podia ver isso nos meus olhos.

_Você não tem ideia das noites que eu não dormi para poder te sustentar, eu te dei tudo que era o melhor, tudo, e você me retribuí assim, tentando se matar? – ela secou as lágrimas sem tirar seu olhar acusatório de mim, eu não sabia o que responder, eu já disse eu sentia muita raiva dela então eu apenas forcei meu corpo para que ela me soltasse e virei de lado.

_Tá todo mundo comentando que você tentou se matar, todos agora sabem dos seus cortes, das marcas em seu corpo, todos agora sabem que meu filho é um suicida. – ela gritava e aquela frase me fez a encarar, minha fúria se esvaiu e eu só conseguia sentir vontade de chorar, ela não se preocupou comigo.

_Você tem marcas de abuso por todo o seu corpo. Eu não sabia que você era gay e muito menos que estava envolvido com alguém, me diz o que aconteceu…, me diz quem te machucou, você precisa dizer alguma coisa!!! – Ela parecia tentar se acalmar, mas eu ainda conseguia sentir o barulho da respiração dela, estava eufórica, raivosa, seus rosnados se misturavam ao barulho dos aparelhos médicos ligados ao meu corpo.

_Você precisa me contar o que aconteceu…, eu preciso saber… – ela sentenciava a última frase tão baixo que se eu não estivesse perto não ouviria, parecia querer dizer que necessitava saber se era culpa dela ou não.

_Eu não…não… – eu não conseguia saber o que responder, aquele homem ainda estava no quarto encostado no batente da porta, eu desviei meu olhar do dele e comecei a entrar em crise, minha mãe se sentou na cama e me abraçou, mesmo que eu lutasse para que ela se afastasse, eu não queria aquele abraço, eu não queria aquele toque, eu queria poder falar.

_Filho…

Enquanto eu estava naquele quarto de hospital eu perdi a noção de tempo, quando eu voltei para casa parecia que finalmente eu teria um pouco de paz, era meu último ano no ensino médio e eu sabia que minha chance de sair de casa seria fazendo um curso superior, eu não sabia o que eu queria fazer, mas tinha que fazer algo que me permitisse sair daquele lugar.

Eu estudei, estudei mais do que o necessário, não só para me livrar do colégio mas para passar na faculdade, minha mãe me ajudou, depois de tudo que havia acontecido, ela de certa forma tentou ficar ao meu lado, eu ainda estava um tanto quanto reticente, mas não tive muita escolha, ela se sentava ao meu lado e me fazia mil perguntas para as quais eu não tinha respostas.


Canais de denuncia:

Disque 100 – O Disque Direitos Humanos (Disque 100) é um serviço que funciona 24 horas e ajuda na disseminação de informações sobre direitos de grupos vulneráveis e de denúncias de violações de direitos humanos.

Delegacia – Unidade policial fixa para atendimento ao público. Algumas regiões possuem delegacias especializadas como a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), ou apenas ligue 190

Conselho Tutelar – O Conselho Tutelar (CT) é um órgão administrativo municipal, autônomo, responsável pelo atendimento de crianças ameaçadas ou violadas em seus direitos.

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Armário bagunçado

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Para uma outra criança que encontrei por aí… talvez ela seja tão bruxa quanto eu.

Tudo era uma confusão.

Não sabia o que sentia, não entendia nada que acontecia, as vezes tudo que sabia era que a incerteza eram sua única certeza;

Não contava mais quantas vezes seu riso escapou ou quantas vezes suas lágrimas surgiam sem motivo aparente.

Não entendia como respirar podia ajudar, sentir a vida se esvaindo entre sua corrente respiratória nunca ajudou.

Era pesado sentir tudo aquilo entrando e saindo de dentro de si…

Contou todas as vezes que deixou cair algo importante enquanto respirava:

Deixou cair seu coração…

Deixou cair seu equilíbrio…

Deixou cair o que acreditava ser certo.

Tudo escapou naquele espaço tão pequeno que existia entre os sentimentos e o vazio.

Sentir…

Era bom sentir, sabia que vivia assim dessa forma: sentindo.

Era ruim sentir, era devastador não poder controlar o que sentia.

Tentou guardar tudo no armário, mas era muita coisa e quase nada cabia naquele espaço tão pequeno, as portas logo cederam e tudo desmoronou em cima de si.

O ar fugiu, e tudo ficou mais turvo do que costuma ser.

Se deparou com coisas que nem ousava pensar ter guardado, havia guardado realmente muita coisa.

Encontrou seus gritos escondidos no fundo do armário.

Encontrou as palavras carregadas de sentimentos que guardou por baixo de todas as tralhas desimportantes.

Encontrou as vozes, aquelas que queria esquecer, mas que não podia negar a existência, elas se multiplicavam.

Se culpou, afinal não soube guardas as coisas dentro do armário.

Se culpou porque quando olhavam para si viam aquela bagunça toda que escapava daquele espaço tão pequeno.

Se culpou porque supostamente sua bagunça havia respingado em outras pessoas.

Era estranho, complicado e inteiramente desconfortante.

Tudo que sentia era rápido e não podia controlar, não entendia muito bem como as outras pessoas escondiam tão bem tudo dentro de seus armários.

Não entendeu quando quis se enfiar por inteiro dentro daquele espaço tão pequeno e quebrado.

Respirar doía e ninguém deveria sentir dor enquanto respirava, mas nem sempre era assim.

As vezes respirar era bom, sentir todo aquele ar correndo dentro de si era confortante, era sinal de liberdade, de vida, de história.

Queria ser como o vento, livre, entrar e sair sem pedir licença.

Queria sair sem que perguntassem o motivo, queria sentir que era vida, que era a vida que existia nos outros e em si.

Queria sentir e saber o que sentir.

Preferia pontos finais á vírgulas, não gostava de criar continuação para nada, até gostava, mas se preocupada demais com tudo, pontos finais eram rápidos emergências e não precisavam de explicação.

Era difícil entender que tudo que sentia era seu, eram suas angustias, seus medos, suas alegrias e amores, tudo era seu e de mais ninguém.

Ninguém poderia engavetar o que sentia, ou guardar nos cantos do armário aquilo que não agradava por muito tempo.

Era difícil, era dolorido, era confuso, mas também era bom, afinal as vezes é bom no meio de toda aquela bagunça que desaba sobre nós descobrirmos que lá dentro também está guardado o que somos.

É bom nos reencontrarmos, redescobrirmos o que sentimos e entender ou desentender o que nos faz chorar e sorrir.

 

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“Não me toca, por favor não me toca”,

Têm dias que é difícil se concentrar no mundo, têm dias que é difícil se entender e entender o outro.

Teve dias que eu me perguntei como seriam aquelas crianças quando crescessem. Teve dias em que eu as reencontrei.

Por favor, não me toca.

Eu sei que parece estranho, mas isso me machuca.

Dói quando você me toca, quando se aproxima demais e quando me abraça assim tão apertado. Às vezes parece que está tudo queimando aqui dentro.

Eu queria ficar para sempre no seu abraço, mas isso me machuca, e eu nem sei explicar o que sinto, então eu só espero que seja rápido e que você entenda o quanto isso me machuca.

Eu não consigo explicar, eu não consigo entender, as vezes você me faz sentir em casa, mesmo quando eu não consigo entender o que é uma casa de verdade.

Às vezes eu não sei o que falar, e falo desordenadamente sobre qualquer assunto, mas é que poucas vezes alguém tenta me ouvir.

Às vezes eu troco de assunto sem nem perceber, eu não faço de propósito, é só que é difícil pensar tão rápido e não conseguir controlar o que surge na minha cabeça, eu não consigo me controlar, eu só queria seguir em um único caminho, mas vez ou outra me perco por tantos lugares que nem sei onde estou.

Às vezes eu preciso falar comigo e não gosto que me interrompam, não gosto que não entendam que essa é minha forma de me entender. Eu até tento agir naturalmente, mas nem sempre dá, tem dias que não dá para controlar e parece que tudo que acontece faz tudo ficar ainda mais complicado.

Às vezes eu não quero falar, mas não é que eu não tenha o que dizer, é só que eu não consigo falar. NÃO CONSIGO, por favor entende. Eu só quero ficar quieto, em silêncio, sem todo esse barulho que eu causo e sem todo esse barulho que me causam.

Eu não sei se você entende, ou quão estranho deva ser você para tentar me entender, mas tudo que eu queria era não ser eu e não sentir tudo que eu sinto.

Às vezes eu não sei o que fazer, é complicado ter tantas opções e não saber para onde ir. Tudo dentro de mim parece apertar, minha cabeça fica tão bagunçada que as palavras somem e eu não consigo entender para onde vou.

Eu não gosto de aglomerações, não gosto quando tudo que tenho que fazer é conviver com um monte de gente que não fala comigo, que não me conhece, que encosta em mim sem me avisa, isso faz meu coração acelerar, eu fico atônito tentando fugir, minha garganta arde, meu corpo queima. Parece que tá todo mundo olhando para mim, eu não gosto de ser o centro de toda a atenção.

Tem dias que eu não sei o que sinto por você, não sei se gosto ou não de você, não gosto de como você insiste em ficar perto de mim, não gosto de gostar de ficar perto de você.

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Mentiras sobre “nós”

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Atenção: esse texto contém menção a depressão, abuso e suicídio. Se achar que isso pode ser um gatilho, por favor não continue essa leitura.

Nó: Enlaçamento de fios, de linhas, de cordas, de cordões, fazendo com que suas extremidades passem uma pela outra, amarrando-as. [Figurado] Vínculo; ligação estreita entre pessoas por afeição ou parentesco. [plural] nós.

Nós:Pessoa que fala e mais uma ou várias;

Dicionário: dicio

Quando a criança falou, eles não ouviram;

Quando tropeçou enquanto tentava fugir, ninguém estava na sua frente para frear seus passos;

Quando disse “não”, ninguém desconfiou que era medo.

Quando disse “sim”, ninguém percebeu que ele gritava por dentro dizendo não.

Fugiu, ninguém percebeu;

Gritou, falaram que era birra, “coisa de criança”;

Seu corpo não parava quieto, mas “era o efeito da hiperatividade”;

Roeu as unhas, puxou os cabelos, mordeu os lábios, “era de ansiedade”;

Cresceu, e quanto mais crescia mais remédios de nomes complicados conhecia;

Não gostava de chorar, de falar, de respirar, “o nomearam como depressivo”;

Não queria engolir a comida, já engolia muitas palavras enquanto diziam ser só mais “alguns de seus delírios”.

Se retraía, tentou se esconder, encolheu seu corpo e tremeu, “não suportou tudo que teve que segurar”. Não estava frio, mas tremeu.

Chorou como chorava quando era criança, não adiantou, ninguém veio em seu socorro, tudo continuava no mesmo lugar, a cama, o chão, as paredes, e os gritos que com o tempo aprendeu a conter.

No fim de tudo, nada restou, as lágrimas caiam, e a dor que o dilacerava era mais cortante que o objeto que ele usou para dar fim a tudo.

Não se despediu, não disse “eu te amo”, não mandou sinais de aviso. Ele apenas foi, foi ser livre enquanto deixava suas verdades finalmente saírem e como se não se importasse se iriam ou não acreditar nelas depois de tanto tempo. Ele apenas foi, sem se importar com tudo que podiam dizer.

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Pequeno Viajante

Gostaria de compartilhar mais um texto que fiz para mais um dos meus amigos. Uma mesma palavra pode ser usada de muitas formas….

arvoresabedoria
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Um dia conheci um menino meio perdido por esse mundo…

Pequeno,

Ele era pequeno na forma de agir,

tinha um sorriso gigante mas que quase ninguém via,

mãos curiosas que viviam agindo escondido,

passos tão curtos quanto os de um idoso.

Seus olhos pequenos eram atentos aos pequenos detalhes.

Suas palavras eram curtas e seus silêncios longos;

As vezes ele se perdia,

se perdia no tempo,

se perdia nos lugares,

se perdia até dele mesmo,

as vezes ele se encontrava em meio a uma bagunça que ele nem lembrava ter feito.

As vezes ele arrumava a bagunça,

outras tantas não…

ele precisava da bagunça para poder viajar…

Ele gostava de viagens longas e intermináveis;

Seus lugares preferidos não estavam no mapa,

eram lugares tão secretos, mas tão secretos, que as vezes ele esquecia de como se chegava lá,

as vezes ele lembrava: tudo que precisava era se perder nas entrelinhas do silêncio.

Ele se perdia,

se perdia

e se perdia,

era naquele silêncio tão barulhento que suas aventuras aconteciam,

derrotar vilões, salvar pessoas, invadir planetas,…

eram aventuras tão mágicas que ele se esforçava ao máximo para não esquecer,

as vezes ele esquecia, e aí ele tinha que viajar novamente,

talvez por isso ele goste tanto de colecionar lugares inesperados:

ilhas perdidas,

países nunca descobertos,

planetas fora do sistema solar,

abraços intergalácticos.

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Dor

passarinho

Passarinho vivia preso, não sabia voar;

Suas asas se embolavam nas entrelinhas dos seus livros preferidos;

Passarinho fazia ninho com aquilo que não queria ler;

Passarinho se perdia naquilo que não conseguia entender;

Passarinho se perdia entre os versos que ele cantava e ninguém entendia;

Passarinho queria voar, mas não podia.

Escrito para á pessoa que tropeçou com os seus sentimentos em mim….

Dor,

sentiu dor, mas não havia nada físico que lhe causasse aquilo que sentia.

Seu peito subia e descia, tudo doía, era angustiante, amedrontador.

É sentiu medo, o medo que ele sempre sentia mas ninguém sabia;

Tentou se distrair, mas miseravelmente falhou, se perdeu com facilidade em sua próprias palavras, não as entendia e já nem sabia porque antes ria;

Não se lembrava, não respirava, não enxergava;

Ele ouvia, ouvia tudo que não queria ouvir, queria que parassem, mas não paravam, isso o assustava.

Tentou dar um passo caiu;

Tentou escapar se descobriu preso;

Todas as portas estavam fechadas, trancadas, ele estava trancado, seus suspiros estavam trancados, suas dores estavam trancadas o rasgando por dentro.

Tudo cheirava a sangue, inclusive o tempo que não passava.

Sangue, ele sangrava.

Ele sangrava sem derramar uma gota de sangue, uma hora ou outra todo aquele sangue inundaria aquele lugar.

Doía e ninguém ligava, ninguém perguntava, ninguém se importava;

Doía tanto que ele tentou parar a dor e não conseguiu, aceitou que era castigo pelos pecados que ele nem sabia haver cometido;

Tentou achar o ar e não o sentiu, doeu, acelerou, ele não estava correndo, mas acelerou;

Seu coração acelerou, sentiu ainda mais medo;

Doeu,

Doeu,

Doeu;

O ar não saía, a dor não passava, ele tropeçava.

Chorou, se afogou nas próprias lágrimas, quis gritar, mas estava perdendo o ar;

As palavras não saíam, os versos não mais floresciam, tudo era momento e ele só queria que aquele momento acabasse;

Queria que parassem de gritar, que o ouvissem e o retirassem daquele lugar;

Que parassem os medos, que tudo parasse, que o tempo parasse, que o barulho parasse, que ele parasse.

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Barulhento e silencioso

Escute-o-silêncio

Acho que eu me envolvo muito com as pessoas, tenho certeza disso. Escrevi isso pensando em como um dos meus novos amigos estava se sentindo, é uma daquelas coisas que não sabemos como escrevemos, mas sabemos sentir em cada abraço silencioso e apertado em meio aos soluços…

Tudo dói, o silêncio, a angustia, a vontade, tudo.

Já faz um tempo que eu não sei explicar essa dor e o motivo dela residir em mim, tudo dói e parece que vai sempre doer.

Nada faz sentido, não sei se estou lento demais ou se o tempo passou a se arrastar, só sei que cada um daqueles minutos parecem horas. As unidades de medidas medem o tempo que essa dor mora em mim. Eu queria que elas não medissem nada.

Eu queria gritar de dor, mas minha voz não sai, eu tento não ouvir, mas parece impossível, preferia o silêncio eterno a sentir cada uma daquelas palavras dentro de mim, elas doem.

A dor é parecida com aquela dor de quando nos perdemos no meio da chuva na infância, ficamos sozinhos, os trovões parecem bombas e nos deixam ainda mais indefesos do que já estamos.

O som ecoado pelo trovão com tempo, pouco tempo, vai deixando a distorção, palavras conhecidas vão surgindo, tudo é tão barulhento em meio ao vazio.

Parece que a cada segundo fica mais e mais escuro, tudo parece ser tão longe, e não se vê nada, só se ouve cada som ecoando em meio ao vazio em meio ao meu silêncio.