It’s like the walls are caving in Sometimes, I feel like giving up But I just can’t
Para todos que fogem para encontrar algo melhor, que deixam um coração para trás, que não tem para onde voltar, que desabam sem ninguém ver…
Então eu finalmente consegui.
Cheguei.
Meus braços doem, meu corpo treme, eu não consigo olhar para trás e encarar tudo que deixei, não existe mais nada, não existe para onde voltar.
Ainda ouço os gritos, ainda sinto o cheiro salgado e metálico do sangue, ainda vejo os passos apressados, os tropeços, o medo estampado nos olhos daqueles com tão pouca idade que nada entendiam.
Cheguei só, mesmo que tenha tentado carregar outros comigo, eles não conseguiram, foram atravessados pela vida.
Haviam dias que o baque da perda doía mais do que outros, eu lembro de tudo que senti, da angústia que parecia comprimir meu peito como se fosse uma parede me esmagando. Eu escorregava em meus soluços, e tentava me esconder das lembranças, é assustador reviver tudo em detalhes tão ínfimos.
Quando cheguei não havia cama, abraços, ou pessoas para me receber, eu era um intruso protegido por uma fina burocracia social. Não me queriam, não me aceitavam, mas eu continuava aqui, preso, respirando de forma desesperada pronto para ser ouvido.
Sentia o cheiro da chuva que molhava a terra, e sentia saudades do tempo que dançava com ela, os cheiros, da chuva e da saudade, se misturavam aos meus sonhos dissipados, era isso que eu queria mas ainda assim nada é como eu pensei.
Nos primeiros dias eu não só sentia medo, mas também sentia frio, me senti desprotegido, mesmo que não houvesse motivo para isso. Era como me forçar a respirar mesmo me faltando ar, eu deixei que me levassem ao limite, que me testassem, que me tirassem o sono e que fizessem por mim planos, eu deixei pois não tinha mais forças para lutar…
Ainda tenho medo do escuro, tenho medo de não enxergar o que tá a minha frente, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo por não ter ninguém que procure por mim.
Se eu cair, será que vão sentir minha falta? Será que vão me ver desabar? Será que vão tentar me segurar, agarrar minhas mãos e me abraçar para não me deixar escapar? Será que eu vou continuar?
Tudo era diferente, até mesmo as minhas perguntas eram diferentes, o lugar era maior, mais frio, eram pessoas demais por perto e ainda assim todos pareciam bem distantes. Eu era invisível mesmo todos me conhecendo, senti vontade de anestesiar todas essas sensações.
Eu não consigo respirar direito, minhas mãos tremem e tudo aqui parece apertado demais, minha garganta seca, as palavras somem, não havia ninguém para ouvir meu lamento ou paredes para proteger o som do meu choro, um choro vazio e ardido que me afogava sem o mínimo esforço.
O cheiro do sangue misturado ao álcool parecem me completar. Juro que eu tentei evitar por muito tempo a ambos, mas depois de um tempo tudo parece meio impossível.
Queria correr, mas não havia para onde ir, eu não conseguia voltar, não conseguia fazer nada além de ficar travado ali, entre todos que me rodeiam, tentando inventar finais para aqueles que já deixei, tentando me imaginar em um futuro distante.
Vocês sabem que eu escrevo sobre coisas que sinto, na verdade não escrevo sobre o que sinto, mas sobre os sentimentos que não são meus e me atravessam em forma de escrita. Tem uns dias que os Fãs Clubes do Jão andam atravessando minhas redes sociais, e eu acabei mergulhando em informações sobre ele. Ele curte escrever cartas, então eu escrevi uma carta que até agora eu não entendi se é para ele ou não.
Oi,
Tenho um monte de perguntas para te fazer…, mas não sei se tenho esse direito.
Eu sumi…, e ao contrário dos contos de fadas não deixei pistas, me perdi no meio de uma floresta densa sem deixar lembranças ou migalhas para serem seguidas, me senti um pouco estúpido, não sei se alguém vai entender, mas eu precisava sentir tudo aquilo que tinha dentro de mim, precisava sentir tudo que eu era e parar de mentir, eu me escondi em um lugar que só eu conhecia, meu frágil castelo de cartas que me mantinha aquecido mesmo quando estava desabando.
Queria esquecer todas as coisas que me fazem chorar, queria dizer que tá tudo bem, mas ainda não tá, eu não sei se você vai entender, mas espero que entenda, aqui dentro de mim ainda passa um filme, um filme que quase ninguém conseguiu assistir, eu sempre me considerei um roteiro ruim de assistir de perto, faço coisas sem sentido, coisas que quase ninguém entende, sou um bom vilão das minhas histórias. Me falam isso quando apareço com algum machucado novo, eu sou realmente um bom vilão…
Às vezes me pergunto se eu me tornei tudo que queria…, me desenhei e redesenhei tantas vezes que me perco em que me tornei…
Desculpa se eu não fui um bom herói, mas eu não sei como arrumar esse roteiro, não sei o que tirar e o que colocar no lugar, ainda tenho medo de tudo que eu sinto e do que posso fazer com isso, eu ainda não me acho essa pessoa legal para qual você escreve cartas, mas eu juro que estou tentando me encontrar, tentando ser um pouquinho mais parecido com aquela criança que você conheceu…
Eu ando lendo, mesmo que em doses homeopáticas, o que escreveu para mim, eu sinto vontade de chorar, eu choro, e acho isso bom, você enxerga alguém que ainda não sei quem é, tenho que te agradecer por isso.
Queria te contar que aqui o tempo passa devagar e eu não sinto saudade de como o tempo passava rápido, ando chorando de saudade e também de medo, isso me machuca mais do que cura, não sei se no fim de tudo eu vou conseguir voltar e salvar o dia, ou se alguém vai vir e me salvar…
Talvez eu não precise ser salvo, mas eu ainda quero que alguém tente, ainda quero me sentir importante, desculpa pelo pensamento egoísta, mas eu espero que com o tempo me perdoe, espero que minhas palavras ainda possam ser importantes, e mesmo que eu não seja mais o herói na sua parede, espero que você ainda possa ter um tempo para me ouvir falar da vida, mesmo que de forma triste.
Eu queria ter tido mais tempo, ter construído uma fortaleza mais forte do que as cartas de baralho que cercam esse castelo, mas não deu tempo…, eu sempre achei que dava, e por isso demorei para voltar. Meses são anos, e eu aprendi isso enquanto desabava por tudo que perdi…
É estranho olhar para tudo que passou, ainda carrego todos os arranhões da minha última queda, não me lembro das noites mais divertidas, tudo parecia meio entorpecente, os cheiros eram ambíguos demais e de repente todo mundo pareceu gostar mais dessa minha versão, queria me tornar essa versão, eletrizante, apaixonante, fugaz…
Sempre fui bom em me remontar… Fugir era algo que eu era bom em fazer, as quedas não me machucavam, os medos não me assustavam, tudo parecia bem guardado aqui dentro.
Ainda sinto a adrenalina desses dias, ainda sinto os toques, mesmo não me lembrando dos rostos, eu não sei explicar quando tudo começou a desabar, foi rápido, uma montanha russa em queda livre, sem freio, sem aviso, me senti frágil demais, pequeno, inseguro, quebrado, culpado, era como se tudo tivesse voltado novamente, só que com mais intensidade. Tudo que eu sempre evitei apareceu ali diante de mim.
Meu peito apertava a cada palavra solta, os assuntos pareciam desinteressantes e tudo que vivi parecia uma lembrança distante do que eu não consegui viver, de repente tudo pareceu um erro maior do que um acerto, é estranho, era tudo que eu sempre quis, mas agora me faltavam palavras para entender o que eu havia me tornado…
Queria fugir novamente, mas minhas pernas pareciam presas, e eu fui obrigado a assistir tudo que eu sonhei passar em um filme bem diante dos meus olhos, senti dúvidas, senti culpa. Não consegui fugir para nenhum outro lugar que não fosse aqui…
Eu desejava desaparecer, assim como outras tantas vezes, então vim parar aqui, nesse lugar tão seguro e ainda assim tão frágil, me perguntei se o mundo era mais bonito do alto da torre de cartas, mesmo me achando incapaz de a escalar, sempre tive medo do que eu iria encontrar por lá, tive medo de gostar do silêncio, de desabar as cartas no meio do precipício e de gostar da queda.
Meu coração ainda dói, parece que caí de lugares ainda mais altos, tenho dias bons e dias nem tão bons assim, a vida de todos pareceu andar tão bem sem mim, sinto medo de voltar e não me encaixar mais naquele lugar, eu ainda lembro dos risos e dos abraços, das palavras e dos afagos, mas tudo parece tão distante, que já não sei quanto tempo passou. É, o tempo passa realmente devagar aqui.
Eu não sei se mudei, sei menos do que sabia sobre mim, eu ainda sinto vontade de me esconder, mas parece meio inevitável voltar, me olhar já não é algo tão assustador assim, já consigo me ouvir sem querer me esconder.
Os dias aqui tem cheiro de saudade, são quentes como um fim de tarde no Arpoador, às vezes são coloridos, barulhentos, mas outras tantas são cinzas, repetitivos, um loop enjoativo que me lembra de tudo que não volta mais. Nesses dias, a dor é mais forte e parece que nada vai fazer passar…, eu sei que vai passar, nesses dias eu não preciso de nada além de abraços quentes e silêncio.
Eu voltei a escrever igual quando eu era criança, sabe, me sinto feliz com isso, não é algo bonito de se ler, mas ainda assim me sinto feliz…
Me pergunto como o tempo anda por aí? se seu coração se acalmou ou se o tempo fez tudo ficar ainda pior?
Será que você sente o mesmo que eu senti?
Será que também já quis fugir no meio de uma tempestade?
Será que já se afogou enquanto chorava lembrando de tudo que passou. Será que correu descalço, pisando em pedras, enquanto ouvia o coração gritar que deveria ficar mesmo que em migalhas?
Se você me fizer essas perguntas, não saberei responder, aqui tudo tá igual, mas também tá diferente, acho que aprendi a respirar com um pouco mais de calma, aprendi a ouvir meus gritos e a aceitar ajuda para secar minhas lágrimas. Ainda dói enquanto corro e por vezes parece que não tem ninguém que me entenda, às vezes tenho vontade de fugir para mais longe, mas não posso.
Sentir é ruim para um caramba, dói, mas dói ainda mais não sentir nada. Continuo um filme bem ruim de assistir, mas agora ao menos eu ofereço pipoca para quem aceitar ficar, sei lá, pode parecer uma piada ruim, mas é quem eu sou e talvez eu não seja tão ruim assim.
Para todas as pessoas que se sentem pequenas e perdidas em meio ao mundo.
Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, queria abraçar o mundo, gostava de abraço apertado e conversas no silêncio, sua existência era peculiar, tinha cheiro de saudade e abraços tão aconchegantes quanto a areia da praia. Às vezes ele era céu azul outras tantas tempestade…
Dentro da sua cabeça existia uma guerra interminável, uma avalanche de palavras que vez ou outra causava um desmoronamento em suas certezas. Quanto mais ele corria, mas aquele eco lhe perseguia, ele tropeçava, caía e se machucava, se machucava sem ninguém ver, secava às lágrimas e continuava a seguir mesmo machucado. A guerra dentro da sua cabeça era barulhenta, e talvez por isso ele tenha aprendido a viver de silêncios.
Não que ele gostasse do silêncio, pelo contrário, o silêncio incomoda e é dolorido, ele prefere a casa cheia, mesmo que isso também signifique ficar com seu coração vazio. Era uma sensação de ter o sol no inverno, não era suficiente, mas era o necessário, isso bastava.
Talvez ele nunca tenha se achado suficiente, o que é muito estranho, afinal, ele sempre foi tão cheio de certezas, sempre foi colo e abrigo, como podia não se achar suficiente? É, mas ele não se achava, pelo contrário.
O mundo mundo parecia não o compreender e isso fazia com que aquele menino que parecia tão pequeno crescesse muito rápido, mas era momentâneo, logo ele se sentia pequeno novamente, as palavras doíam, ele não entendia, machucavam mesmo sendo desconhecidos, tudo se misturava dentro de si e ele se perdia em tudo que sentia sobre si mesmo.
Pequenas palavras sempre foram guardadas no dicionário da guerra que existia em sua cabeça, por isso ele detesta jogos de palavras, ele guardava cada verso fora do compasso, cada história mal contada e cada resposta atravessada, é nessas horas que sua cabeça iniciava a guerra, refazendo cada momento como se ele por milagre pudesse ser mudado, era torturante e desgastante.
Se sentia perdido, brincava de pique sózinho na esperança de alguém o encontrar e ouvir tudo que ele tinha para contar. Ele queria gritar, queria explicar o que estava acontecendo, tudo parecia tão óbvio, mas não era, era difícil buscar tantas palavras, os desmoronamentos aconteciam com frequência dentro de si.
Constantemente respondia que sua cor preferida é a que o céu tem. O mesmo céu que ilumina as tardes frias, é o que causa tempestades devastadoras, e bem, esse menino tem tempestades devastadoras dentro de si, tempestades que ele nunca soube quando começavam ou terminavam. Nunca soube definir o que sentia, talvez se ele tivesse a cor do céu fosse mais fácil.
Queria que soubessem que seus dias não são só de sol, nem sempre são quentes e aconchegantes, que seu sorriso às vezes é bem enevoado e que suas tempestades acontecem mesmo quando tudo é parecido com uma tarde de verão.
Não tinha como controlar, se sentia culpado por isso, ele passou a ensaiar sorrisos, não que ele não quisesse ficar ali perto de todos aqueles abraços e risos, se sentia triste por não se achar suficiente, passou a sufocar tudo que sentia e sorrir, um riso nublado e incômodo que lhe tira o ar.
Talvez ele já não soubesse conjugar os verbos: amar, sorrir e viver. Ele apagava constantemente sua conjugação em nome do que ele achava ser o certo para os outros.
Cultivava o amor, tal qual um florista que insiste em cuidar das rosas sem luvas, se espetava com espinhos e não cuidava dos machucados. Era a única forma de amar que ele conhecia, uma forma dolorida, que escondia o choro mesmo quando visivelmente estava magoado.
Tudo que restava a ele era a busca incansável por alguém que ficasse e entendesse seu silêncio, que não o fizesse sentir um incômodo, que afastasse de si todas as palavras que insistiam em ser repetidas na sua cabeça.
O peito doía, o corpo amolecia, ele não conseguia sobreviver sem os abraços, tudo cheirava a saudade mesmo com todos ali, se sentia culpado por sua tempestade invadir outros abraços, sentia medo das pessoas cansarem e irem embora sem avisar. Era como ser um passarinho na gaiola, ele não podia voar e seu canto era limitado.
Sempre foi mais fácil lançar palavras para desconhecidos, eles vão embora e não significam nada, mas os conhecidos, esses, ele tem medo de perder, e por isso sobrevive de silêncio, falando o que querem ouvir, sorrindo quando queria se esconder.
Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, sobrevivia das grandes tempestades que existiam dentro de si, vivia dos abraços no acaso e de risos tempestuosos, mas o que ele não sabia é que mesmo com toda a tempestade dentro de si, ele ainda é capaz de produzir dias quentes, quando ele descobrir isso, talvez o medo de deixar suas palavras voarem comece a ir embora…
Para todos que necessitam traduzir o que sentem enquanto se machucam quando o mundo dentro de si começa a desabar.
Preciso te contar uma coisa, eu sei que você disse que iria ficar mesmo se eu te expulsasse, que foi você que bateu na porta, mas não é tão fácil assim, eu sou complicado, na maioria das vezes eu faço escolhas ruins, ainda assim te deixar ficar me pareceu uma boa escolha.
Desculpe-me por abrir a porta, por ter aceitado sua ajuda e por ter permanecido ao seu lado mesmo quando eu deveria ter te mandado embora
Eu gosto do seu sorriso enquanto me conta coisas bobas sobre o seu dia, para me entreter e mesmo que pareça que você sabe tão pouco sobre as estrelas, ficar do seu lado, é como me sentir aquecido pelo sol, eu gosto disso, pode não parecer mas eu gosto. Me desculpe por gostar.
Às vezes eu me perco por lugares frios demais… Preciso te contar que às vezes eu demoro para voltar desses lugares, que caminho até meus pés doerem porque quando sinto dor, não me lembro do que aconteceu.
Quando não sinto dor as coisas tendem a ficar complicadas, tudo parece turbulento demais, mil palavras vem de encontro a mim, muitas vezes desejo ser surdo para não as ouvir. Eu me machuco para não lembrar do quão machucado já fui, é estúpido, eu sei, mas é a forma que encontrei para sobreviver.
As vezes eu sinto dúvida se você se preocupa de verdade, eu tenho dúvidas se você é real, se só é uma alucinação criada por mim em meio ao desespero, eu não sei, costumo não saber de muitas coisas quando estou assim. Você disse que ficaria, você ficou, sem fazer perguntas e isso nunca aconteceu.
Preciso te contar que eu queria que você perguntasse como vão as coisas, como estou e onde estou, você disse que ficaria e isso deveria me bastar, mas pela primeira vez eu sinto falta das perguntas, das suas perguntas.
Me pergunto se te pagaram? Será que foi o suficiente para ficar? Será que vai durar para sempre…?
Preciso te contar que você tem cheiro de saudade, tem cheiro de infância, de carinho e de medo, eu tenho medo de você, isso me machuca, tenho medo de você não voltar, tenho medo do que vai restar de mim, eu enxergo o mundo do alto do precipício e isso é sempre assustador, não há nada para olhar, tudo tá sempre apagado, tenho medo, tenho medo desse sentimento aumentar.
Preciso te contar que é sempre bem frio na beirada do precipício, eu nunca sei como cheguei até lá, mas acontece quase sempre que algo foge do meu controle, é frio e solitário, não importa o que façam nada parece me alcançar nesses momentos.
Desculpe-me por ser tão quebrado, eu gosto da sua companhia, gosto de sentar do seu lado e da forma como você me faz rir enquanto tenta me entender no silêncio. Mas daqui onde estou eu sei que se você ficar não vai ser para sempre, olhar para o futuro é sempre desesperador, é vazio, incerto e perturbador.
O futuro é inebriante, uma cortina espessa de fumaça que cobre meu corpo e me impede de respirar.
Eu sei. Não importa o que digam você não tem culpa, não importa o que eu diga você não tem culpa, só me desculpa por te fazer chorar, por ser assim tão quebrável, você pode desistir, pode me deixar em silêncio, mas promete que volta para me abraçar, eu gosto do seu abraço, gosto de me aquecer no seu silêncio.
Promete?
Me pergunto caso você não volte se serei capaz de continuar lembrando do seu sorriso, da sua voz calma me acalmando e do seu abraço tão solar. Eu não queria sentir o que sinto, ou ter meus olhos inundados a cada pequeno desastre que eu mesmo cometo, mas eu sou assim.
Tenho que te contar que eu não sei quem é você, mas você parece saber tanto sobre mim que tenho medo do que pode fazer comigo, tenho medo de você me jogar daqui de cima e eu me perder na escuridão.
Respirar é sempre mais complicado quando isso acontece, minhas decisões são impulsivas, eu escolho sentir dor a pensar de forma repetitiva nas coisas que fiz. Tenho medo de me esquecer de quem eu sou, de me perder no meio dos meus escombros e ninguém me encontrar, tenho medo de você não me encontrar, de desistir, de fechar a porta e me trancar aqui dentro, de ir embora assim como chegou.
Escrevo para todos que guardam a dor de ter seus corpos violados, que carregam uma culpa que não tem, que se desesperam com lembranças involuntárias. Desejo que que todos os silêncios possam ser ouvidos sem julgamentos.
Eu me lembro perfeitamente do dia que aconteceu e isso ainda faz meu estômago revirar, minhas pernas ainda doem e tudo a minha volta parece girar mais e mais rápido. Era uma quarta feira de cinzas, as ruas estavam lotadas, as serpentinas arrebentadas se espalhavam no chão, os cheiros se misturavam, bebida, urina, suor, era indecifrável e inebriante, meus olhos piscavam e minha cabeça parecia não pender no lugar, pequenos e involuntários espasmos se espalharam pelo meu corpo, enquanto tudo dentro de mim parecia vir para fora.
A esperança, o amor, o afeto, tudo parecia uma grande massa cinza que eu não conseguia conter que me engasgava e tirava o meu ar.
Não consegui compreender as mãos que me tocavam tentando me levantar, minhas mãos tentaram de forma desesperada afastar aqueles intrusos, tentei recolher meu corpo e me proteger, mas era impossível, tudo queimava, os toques, as palavras, meu corpo.
“CHAMEM AJUDA, UMA AMBULÂNCIA…” – alguém gritou, eu não conseguia dizer nada, os barulhos se intensificaram e isso fazia minha cabeça girar ainda mais. Quando dei por mim, já estavam me deitando em uma maca fria com um fino colchão, a coberta não saciava meu frio e nem escondia meu medo, meu corpo ainda tremia a cada olhar invasivo e toque indesejado.
Falhei quando tentei me reerguer, não queria ajuda, tranquei minhas portas e janelas, fechei meus olhos, me cobri para o mundo, não me importo deles saberem o que aconteceu, mas me importo deles me culparem, os olhares se repetem dia após dia, e é como se tudo se repetisse, passo horas sentindo aqueles toques, sentindo aqueles cheiros, vomitando aquela dor, todo dia é uma quarta feira de cinzas diferente.
Falhei em achar que ficar só me deixaria bem, o silêncio me lembra incansavelmente de todas as minhas faltas, de tudo que poderia ter feito e não fiz, o silêncio intensifica minha culpa e eu não consigo segurar os soluços advindos dela.
Eu tento gritar, mas sei que gritar não adianta mais, ninguém vai ouvir ou entender, ninguém vai ficar.
No meu mundo não existe estabilidade, tudo é instável, mesmo que eu tente esquecer, mesmo que as pessoas não saibam, sempre terá algo para reafirmar aquela quarta feira, aquele neblina no meio da purpurina, o caos pigmentado que pintava minha roupa naquele dia, fez com que cada cor carregasse um pedaço da dor que senti, um pedaço de mim que se tornou apenas uma mancha no passado.
E eu que tentei de tantas formas me transformar em muitos, agora estava me reduzindo a nada, a um pedaço de lamentação que não tinha onde esconder. Sinto falta do silêncio carregado de felicidade que era ter alguém ao meu lado, sinto falta dos pecados que cometia disfarçados de amor, sinto falta dos sorrisos que envolviam as pequenas histórias de fim de tarde. Sinto falta…
Dedico esse texto aos corações que se sentem desalinhados, que se sentem usados e observados, que deixam cair pelo caminho tudo que é desimportante e que não conseguem olhar para o passado sem se machucar.
Constantemente sangro por coisas que não entendo, eu quero gritar, mas minha voz não saí, minhas mãos tremem, meu coração dispara, o choro se entala na minha garganta e dificulta minha respiração.
Me sinto em uma rua deserta, com luzes apagadas de forma permanente, não há barulho, não há esperança, sinto um silêncio muito maior dentro de mim do que do lado de fora.
Me sinto viciado nessa sensação, não que eu goste, mas não sei viver de outra forma, não sei não me proteger do mundo, é como se a todo instante alguém pudesse ascender as luzes e iluminar meus defeitos, me interrogando, me questionando, me apontando.
Tudo dentro de mim parece desencaixado eu respondo sim, mesmo quando quero dizer não, eu faço graça, engulo meu choro e sorrio, propositalmente é mais fácil fingir ser quem eu não sou, do que deixar perceberem o quão perdido estou.
Tropeço nos meus pés, sinto um incômodo no joelho, o choro por vezes escapa, procuro por abraços mas não há ninguém, parece que fugi durante tanto tempo que agora não há ninguém.
O escuro tão incômodo e silencioso me ajuda a sobreviver e a me camuflar, ajuda a esconder toda a dor que eu finjo não sentir, enquanto respondo de forma atravessada todas as perguntas incômodas…
Não sei se iriam entender toda a confusão que me tornei, não sei nada sobre mim, não sei o que quero e tenho medo do desconhecido, mas eu queria não estar sozinho, queria confiar nas minhas certezas.
Não sei viver sem essa dor, não sei amar sem me machucar.
Talvez a culpa seja minha, talvez a culpa seja do outro, só sei que viver é como morrer um pouquinho a cada instante, e ninguém parece se importar com o quanto eu morro, com o quanto de mim se perde pelo meio do caminho.
Costumo sonhar acordado enquanto tropeço em uma realidade que parece não me pertencer.
Queria que enxergassem meu pranto, ouvissem meu silêncio e alimentassem meus sonhos, mais do que os meus medos. É, eu tenho muitos medos, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo de não acordar, tenho medo que não me escutem e que tudo que faço se torne indiferente.
Ainda não me acham quebrado, me olham e enxergam uma peça perfeita, completamente útil e disponível, às vezes eu queria que não me enxergassem, talvez eu finja bem, porque eu não me sinto assim.
Me sinto desalinhado com o mundo, mas se precisam de mim, eles me usam e alinham conforme suas necessidades, tenho medo de não ser mais útil e de me tornar descartável.
Eu não enxergo nada além dos meus pés, o ar é rarefeito, cruel, machuca meu peito, quanto mais eu penso e tento descobrir o que me falta, mas me falta ar.
Queria não ter encontrado tantas portas fechadas. Queria tentar buscar por ajuda da forma correta, de forma que me entendessem.
Eu deixei tudo desarrumado para trás, fugi do que me dava medo e abandonei tudo que achei impossível, e ainda assim, tudo permaneceu ali.
Estava tudo jogado no tempo, uma bagunça repleta de entulhos, eu queria ter forças para arrumar sozinho, só que eu não sabia por onde começar, eram caixas e caixas, algumas pesadas e outras leves que eu tentei entender como pude deixar para trás.
Me machuquei enquanto tentava desentulhar tudo aquilo, quis desistir, não queria estar sozinho. O choro que saiu era diferente, parecia descomprimir tudo que eu sentia e nunca tinha entendido. A dor era diferente, o medo parecia ter sentido, e tudo era barulhento demais para ser despercebido.
desfazer uma associação; desunir(-se), separar(-se), dissolver(-se)…
Ao contrário de todas as outras vezes, dessa vez eu sei por qual motivo escrevo e para quem escrevo. Eu nunca acompanhei a banda One Direction, mas quando eu soube do falecimento do Liam Payne e vi as famosas homenagens, isso me afetou de alguma forma, nós tínhamos quase a mesma idade e mesmo eu não o acompanhando não consegui não me importar.
Para todos que já se perderam de alguém que precisava ser encontrado…
Eu não me lembro quando você começou a gritar, quando suas lágrimas caíram pela primeira vez ou quando seu sorriso tão expansivo começou a se fechar. Eu me lembro do seu abraço apertado e de como você me acalmava em silêncio, mesmo quando tudo que eu queria era solidão.
Você sempre foi melhor lidando com dores, seu abraço sempre foi abrigo, suas palavras acalento, sua companhia sempre foi calmaria, você que sempre dizia o que sentia, repentinamente tinha ficado em silêncio antes mesmo de todo nosso mundo escurecer, não vai ter abraço, acalento e calmaria, tudo que vai ter é um silêncio ensurdecedor e soluçante.
Eu queria ter te olhado da mesma forma como você sempre me olhou, queria ter percebido suas fugas, queria ter entendido o quão fragmentado você se fez para atender a tantas expectativas, eu queria ter te conhecido por inteiro, você se partiu em tantos para se proteger, separou seu tempo, seus limites, criou uma persona que aparecia sempre que preciso para te proteger de si mesmo, até que tudo se quebrou e você não voltou, nenhuma parte sua voltou…
É tão desesperador que me sinto egoísta, eu te conhecia, sabia seus gostos, seu ritmo, suas manias, mas ainda assim não consigo pensar no que não conhecia você tão bem assim. Não me lembro quando suas pausas em nossas conversas começaram a ficar muito longas, você parecia pensar na vida, em uma vida que não tinha mais volta. Mas eu agora também queria que voltasse.
Talvez eu tenha sido negligente, talvez eu tenha pensado que tudo era reflexo da nossa vida corrida e da nossa falta de tempo, talvez eu esteja tentando me enganar e sanar a culpa que eu sinto. São tantas alternativas que me sinto impotente, afinal não adianta pensar em tudo que nunca aconteceu, em algum momento eu me perdi de você, perdi seu choro, sua angústia, seu pedido de socorro.
Eu fecho meus olhos e penso em tudo que passou na sua mente naquele momento, refaço seus passos milimetricamente; eu choro, sorrio e me culpo, é um loop que passou a me atormentar, você não me disse nada quando perguntei. Desculpa se parece que estou te culpando, mas você não disse e eu não soube interpretar seu silêncio, suas pausas e sua constante saudade.
Eu me sinto culpado, e talvez tudo que eu faça seja para aliviar minha culpa, se tivesse te encontrado, ficado ao seu lado, te abraçado até tudo ficar bem, se eu soubesse te entender, como você me entendeu, talvez você ainda estivesse aqui.
Tudo que sinto agora é essa angústia que esmaga meu peito, é um acúmulo que dilacera o que sinto e me deixa sem saber como reagir. Eu fico pensando em como você estava, como se sentiu, se queria conversar, eu não consigo parar de pensar em tudo que eu sempre quis te dizer e nunca falei.
A dor que sinto é dilacerante e parece retirar cada órgão do lugar, queima, confunde e se espalhar, tudo que resta são as lágrimas, é um choro que deixa de ser contido, que busca por consolo, que busca migalhas de entendimento, que busca respostas, respostas que nós sabemos que eu não terei. Eu me pergunto se essa dor que sinto chega perto da dor que você sentiu, se eu te fiz sentir algo parecido, se você me perdoou por tudo que eu deveria ter sido e não fui.
Você partiu tantas vezes e de tantas formas que eu não acreditei que você realmente iria embora algum dia, deveria ter sido mais atento, ter te olhado como tantas vezes você me olhou, eu queria não ter que me despedir, não ter que acordar, não ter que dizer adeus ou acreditar que nosso último abraço foi tão rápido, que o até logo foi para sempre, que tudo se foi como o vento.
Eu não me lembro a última vez que eu ouvi sua voz, não me me lembro quando escutei seu riso pela última vez, não me lembro se eu disse tudo que sentia sobre você, não sei se te agradeci por tudo que você fez, não sei se te abracei por tempo suficiente para que soubesse o quanto foi amado.
Por tanto amor, por tanta emoção A vida me fez assim Doce ou atroz, manso ou feroz Eu, caçador de mim
(Luiz Carlos Sá / Sérgio Magrão)
Aos que sentem aquela sensação tão infame de casa cheia e coração vazio, deixo meu abraço, meu afeto e meu silêncio para que tudo fique bem….
Constantemente me faço uma pergunta, “o que me machuca?”, e não tenho uma resposta, não é como se eu fosse um super herói ou algo assim, na verdade estou bem longe disso, busco todos os dias por algo ou alguém que me salve. Não sei o que me machuca e nem como me machuca, e isso me faz viver em constante ansiedade esperando a próxima vez que uma agulha afiada irá perfurar minha pele.
Vivo constantemente esperando por uma solução que a cada dia parece mais distante, sempre foi assim, desde pequeno meu choro sempre foi inexplicável, era mais fácil dizer que o joelho estava machucado do que tentar explicar a verdadeira razão do choro engasgado diante a tantos olhares que não me compreendiam, sempre foi complicado, só que antes era mais fácil criar desculpas.
Fui crescendo, as desculpas acabando e a dor aumentando de forma tão escalonada que não conseguia me controlar, me machuco muito fácil, no início ninguém percebe, só percebem quando não dá mais para controlar, quando menos espero uma súbita dor atravessa o meu corpo, é como se um copo estivesse quebrado e eu pisasse nos estilhaços sem perceber, eu sou um desastre, por onde passo deixo as marcas da minha destruição, o sangue se espalha, são marcas difíceis de limpar e isso é perverso demais, se eu olho para trás eu ainda às encontro, me lembrando do tamanho da minha imperfeição.
É fácil de me machucar, às vezes uma fala errada, um obrigado inexistente, um adeus que aconteceu rápido demais ou um até logo que nunca voltou, tudo e todos parecem como uma faca apontada para mim, pronta para vir em minha direção a cada falha. Eu não sei lidar com as minhas falhas, é como se tudo sempre fosse culpa minha, se não ficaram era porque eu não fui interessante ou suficiente, se não agradeceram é porque não fui essencial, se não se despediram é porque não farei falta, e assim por diante…
É sempre assim, não consigo me afastar dos gatilhos que me fazem sentir o que sinto, eu fico, eu simplesmente fico até não conseguir controlar tudo que sinto, até tudo transbordar de maneira irremediável, não queria ser assim, queria entender os motivos de as vezes parecer que faço de propósito, que insisto de propósito, que espero… Eu sempre espero, espero impacientemente por algo que não vou ter, que não vai voltar e que não vou tocar. Minhas mãos tremem a cada constatação das minhas certezas, eu não vou ter, mas ainda assim espero.
Não queria ser assim, não queria ter que lidar com algo que não sei explicar, eu não sei explicar por qual motivo o mundo parece parar de girar toda vez que essa agulha perfura meu peito sem aviso prévio, ou por qual motivo parece que ela rouba meu ar e retira toda minha força, é solitário, ninguém parece ligar para essa dor que corta meu corpo.
Por mais que eu procure pelo sangue eu não o encontro, não é algo físico, não existe machucado e eu sequer consigo enxergar essa agulha, mas ela existe, eu sinto o metal gélido no meu peito, é realmente frio, tão frio que sinto minhas mãos tremerem e meu peito comprimir enquanto busco abrigo em algum lugar seguro, longe de todo o barulho que faz minha mente se perder.
Eu busco na solidão o silêncio necessário para fazer a dor passar, mas não adianta, ela permanece, consigo sentir o cheiro do sangue, um cheiro enjoativo que me confunde e me causa ânsia, sinto nojo, confusão e medo, é como se todo e qualquer toque arrancasse um pedaço de mim, e fosse me causar ainda mais dor. Algo fica preso em minha garganta, me impede de gritar, de falar ou colocar para fora tudo que tá preso, é desesperador e sufocante, por um instante é como se alguém segurasse meu rosto com as mãos frias e tapasse todas as saídas de ar, eu tento sair daquele lugar frio, me desvencilhar do aperto inexistente que comprime meu corpo, mas não consigo, meus olhos não enxergam nada além de caos e desespero.
Meu corpo parece pegajoso demais para ser tocado, minhas mãos ficam frias, minha respiração ofegante, sinto repulsa por todos os olhares que podem me alcançar nesse momento, mas ainda assim eu sinto mais medo de não me encontrarem, de não me procurarem, de ficar ali perdido em meio a toda aquela dor que corta toda minha existência e que não consigo expelir para fora.
Realmente não quero ser tocado nesse momento, mas ainda assim, por instantes eu desejo que alguém fique por perto, que me segure enquanto sangra toda minha dor, que não me deixe quebrar, mais do que já estou quebrado.
É tão desesperador sentir o que sinto que às vezes faço graça em meio ao desespero, nada parece ser real o suficiente, não existe agulha, não existe sangue e possivelmente não existe frio, mesmo que eu sinta tudo isso, para todos é como se nada existisse realmente, é como se minha mente me pregasse uma peça toda vez que tudo parece ficar bem, é como se ela me lembrasse de tempos em tempos que se sentir feliz não é algo para mim, e mesmo eu não me lembrando de nada que eu possa ter feito de tão errado, ainda assim eu me sinto culpado.
A culpa vem logo depois que essa agulha saí, e toda vez que ela sai parece que causa ainda mais dor, é como se a arrancasse de forma tão brusca que leva junto minhas entranhas, e tudo que consigo fazer é tentar segurar a todo custo meu peito no lugar, junto com os soluços que me tiram do chão, dói, dói de uma forma inimaginável e mesmo que só eu saiba da existência dessa agulha, ainda assim dói e eu me sinto culpado.
É uma culpa incontrolável por não saber explicar como que me coloquei nessa situação, eu não sei explicar o que sinto, o que me machuca ou o que quero, não sei, as vezes me pergunto por qual motivo respirar para mim se torna tão mais complicado, porque tudo na minha vida vem acompanhado de cheiro de saudade.
Meu tempo parece tão escasso quanto o meu direito de viver sem dor, eu queria parar os segundos e devolver a agulha que insistentemente perfura meu peito para o relógio, eu queria que ele girasse sem me danificar, sem me fazer olhar para trás e observar todo o tempo que passou sem que eu conseguisse realmente viver, sem me fazer encarar todas as marcas que deixei, eu queria não ter que viver de forma tão rápida e poder apreciar cada acontecimento sem ser obrigado a sentir tudo a todo instante.
Parece que tudo é tão fragmentado que não tenho tempo para saber de nada, tudo acontece muito rápido, quando eu pisco o mundo já se transformou e eu permaneci aqui olhando os ponteiros enquanto me fazem sangrar.
Eu escrevo sobre pessoas e silêncios, eu não sei para quem escrevo, mas fique bem. Que Gonzaguinha possa nos inspirar a seguir a vida, provando seus sabores, docês ou amargos…
Eu não sei quando começou, mas não sei se quero descobrir, não sei de muita coisa a muito tempo, é tudo muito confuso dentro de mim, não entendo como todas as minhas certezas se converteram tão rápido em dúvidas capazes de me tirar do chão e me arrancarem o sono…
Não foi repentinamente, sei que não foi, mas eu conseguia esconder tão bem, conseguia ignorar tudo aquilo que me incomodava, conseguia esconder tudo que eu sentia, conseguia criar justificativas que aquietavam meu coração quando alguém me decepcionava, mas agora, agora parece que tudo transbordou de uma forma que eu não consigo explicar.
A angústia e a incerteza tomaram conta de tudo em mim, minhas ações tão rotineiras passaram a me atormentar, passei a repassar cada passo do meu dia durante a noite. Eu tentava entender o que poderia ser feito para que aquela dor passasse, para que o sentimento de “faltar algo” fosse logo embora, mas nada adiantava.
Nunca fui assim, sempre foi tão mais fácil separar tudo e colocar em caixas, eu nunca precisei de explicações e nunca me senti obrigado a dar explicações, mas de repente tudo pareceu desencaixar, e tudo ficou uma bagunça, eram sentimentos complicados, coisas que eu nunca precisei lidar agora pareciam me incomodar.
Eu nunca precisei apagar o que eu sentia por conta de ninguém, mas agora não sabia lidar com tantos olhares, com tantos apontamentos, mesmo que eu parecesse certo, mesmo que minha verdade fosse algo tão lúcido, ainda assim, agora tudo parecia dúvida, e eu não conseguia lidar com aquela angústia que surgia sempre que algo por menor que fosse surgisse dentro de mim para me questionar.
As vezes realmente agradeço por não ligarem, mas outras vezes eu penso que seria tão melhor se perguntassem sinceramente o que acontece aqui dentro, sei lá, eu só queria ter uma resposta, eu só queria que alguém ficasse ao meu lado até eu finalmente ter essa resposta.
Mas não acontecia, e eu precisava seguir sozinho, seguir meu caminho e me concentrar em meu silêncio, ir e voltar de lugares antes tão conhecidos começava a se tornar uma tarefa difícil, um medo surgia no meio do caminho e eu não conseguia me livrar dele até finalmente voltar para casa, era como respirar uma fumaça sufocante e ainda assim ter que continuar até encontrar uma saída.
Eu juro que não sei quando começou, mas tudo parecia sem graça e meu peito doía só de me imaginar ali, repetindo insistentemente algo que eu não queria, era como ser um robô, eu não me reconhecia ali, mas era incapaz de sair. Eu até queria fugir, me esconder como quando era criança, não entendo como começou, mas era como entrar em um transe e fazer tudo no automático, era como criar uma outra pessoa.
Era como me travestir de medos para sair de casa, parecia que todos me conheciam, mas ninguém realmente sabia algo sobre mim, não sabiam meus gostos, meus medos e meus sonhos, tudo em mim é confusão mas ninguém parece ligar para isso.
É, eu realmente criava uma outra pessoa, uma que não precisava lidar com tudo que sentia, com minhas dúvidas, com o choro engasgado na garganta, com medos… Essa pessoa que criei era feliz, e raramente expressava o que sentia, não me reconhecia ali, mas era tudo que me restava para manter a sanidade.
Depois de tudo acabar, é como se um pedaço tivesse ido embora, um pedaço que leva junto toda a minha respiração. Um ar estranho ocupa minha garganta e me impede de falar, meu silêncio acontece quase que naturalmente, não sei como reagir, respondo o que querem ouvir, sorrio, um sorriso que não reconheço, é como se não percebesse o mundo à minha volta.
Cada passo que dava, era como cair na realidade, era um mergulho em um mar revolto, me afogava sem entender os motivos, os soluços vinham sem perceber e me lembrava de tudo que trazia angústia, eu não entendo como aconteceu, não mesmo, mas ainda assim aconteceu.
No mês do orgulho, dedico esse texto para todos que se sentem presos de alguma forma.
Tem pessoas que doam dinheiro, outras doam amor, tempo, paciência e você doou tudo que podia para fazer parte de algo que não te cabia.
Você escutou durante tanto tempo que não cabia nos lugares e ainda assim queria continuar a tentar caber, seus sonhos não cabiam ali, e por isso você aos poucos foi se esquecendo deles, sorria quando riam dos seus sonhos, foi se desfazendo deles pouco a pouco até não restar mais nada.
Eu não sei se é possível viver sem sonhos, mas para você bastava caber ali naquele espaço que tudo já era suficiente, esse era seu sonho, caber ali naquele lugar tão irregular e desproporcional, por isso tentou, por isso se despedaçou até caber naquela forma tão desconfortável.
Quando sua forma de agir passou a também não caber, aos poucos foi se aprisionando, podando seus gestos, sua voz, sua forma de existir. Foi se moldando para ainda assim caber naquele lugar apertado, você era maior do que aquele espaço frio e repleto de solidão.
Foi doando cada parte sua para caber em um espaço que só te fazia chorar, era como ser um passarinho dentro de uma gaiola, passou a ver o mundo pelas grades, passou a retrair suas asas e a falar só o que queriam ouvir, era domesticado e não se importava com isso, aos poucos foram arrancando suas penas, uma a uma elas iam embora enquanto suas lágrimas caiam e ninguém parecia ligar.
Todos pareciam gostar do que estava se tornando, olhavam para dentro da gaiola e sorriam, você se sentia desnudo diante a tantos olhares, eles jogavam migalhas como recompensa, no começo achou ser suficiente, mas depois, depois elas foram se tornando tão escassas quanto a satisfação em as receber. Um enorme vazio tomava conta de você, a liberdade era convidativa, mas se aprisionou de tantas formas que o mundo do lado de fora da gaiola passou a também não te caber.
A sensação de que não cabia em nenhum lugar passou a fazer parte de quem havia se tornado, então ficava na gaiola, se sentia preso mesmo quando as portas estavam abertas, não importa o que fazia e nem por quem fazia, sempre queriam mais, queriam seus sorrisos, seu apoio, sua boa vontade em ser quem não era, não era desejado ali, mas ainda assim não iriam te expulsar porque no fundo eles precisam te usar, até não ter mais serventia, precisam te fazer útil mesmo te lembrando todos os dias da sua ineficiência em se adequar a aquele espaço.
Como todo passarinho você também sentia falta de um lugar quente, de alguém que entendesse o seu choro triste em meio às conversas, de voar para outros lugares, mas tinha medo e tudo que te restava era olhar para o chão e só ver sua finitude caindo, não tinha como esconder, todos percebiam e se você já não cabia lá antes, agora então é que tudo passou a ser um completo desencaixe.
O choro latente que invade sua garganta fez com que te jogassem para longe daquele lugar, sua melancolia crescente era um convite a solidão, não tinha para onde ir, não tinha onde ficar, era uma peça quebrada em um brinquedo de encaixe, tentou lançar sorrisos falsos para se convencer de que tudo ficaria bem, mas nada ficaria, não se reconhecia havia se perdido de si mesmo a tanto tempo que não se entendia.
Parecia que o choro latente que durante tanto tempo estava guardado resolvia sair em meio a tantas mágoas pelo recém abandono, a gaiola estava quebrada assim como suas asas, seu corpo doía por todas as penas arrancadas, sua voz não saia, e tudo que conseguia era desesperadamente tentar entender os motivos de terem o jogado para fora, você se esforçou tanto para caber, para se encaixar, deu tanto de si, amou mesmo os que te fizeram chorar, sorriu quando só queria se esconder, e ainda assim isso não bastou…
Depois disso, tudo que você queria era juntar seus pedaços e se recolher em um lugar onde ninguém te machucasse, foi se afastando de quem se aproximava, sua voz antes tão dócil se tornava áspera diante a qualquer ameaça de introdução no seu espaço, não queria se permitir machucar novamente, ainda doía e parecia que não iria passar tão cedo, andar por lugares desconhecidos ainda era como pisar em cacos de vidro, não sabia voar para os lugares que queria conhecer, parecia que ninguém era suficientemente treinado para te ouvir.
Manter diálogos era torturante, não tinha ânimo para falar com pessoas que deduzia que iriam embora na primeira oportunidade, não importava se elas demonstram querer ajudar catando suas penas, era difícil acreditar, não queria ficar perto dessas pessoas, não queria acreditar que elas estavam ali por você quando nem mesmo você estava.
Então você sentiu, sentiu um toque no canto dos seus olhos, tentou forçar sua visão para entender o que acontecia, você não conseguiu expulsar todos, um riso contido se fez presente, tentou entender o que acontecia e percebeu que o riso era seu, se sentiu culpado pela própria felicidade, mesmo que ela fosse irrisória diante a tanta dor. A culpa também passou a ser sua companheira constante, quanto mais perto as pessoas chegavam mais distante você queria ficar.
Sentia culpa por não conseguir caber dentro daquele espaço, sentia culpa por não se reconhecer, sentia culpa por não ter um lugar para ir e nem para onde voltar, sua culpa é tão intensa que ela não te deixava sentir nada além da dor de não poder construir novas relações, se sentia tão incompleto, tão inacabado que tudo que sentia era culpa por não ser suficiente para permanecer ali com aquelas pessoas…
Não importa o quão suficiente seja, você nunca vai caber em lugar algum, nunca vai ser o esperado ou o desejado, mas não é só você, ninguém vai ser. Se permita ter ajuda na hora de juntar seus pedaços e construir um novo espaço, onde caiba você por inteiro e não só aos pedaços, conte seus sonhos mesmo que eles pareçam bobos, ouça sua voz mesmo que digam que você fala desimportâncias. Escute o seu silêncio e cresça com ele, você não está sozinho, há sempre alguém que pode escutar seu piar de lamentação e que vai te fazer sentir em casa em meio a um abraço quente.