Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas, silêncio

Carta 1 – Despedida

Silêncio.

De todos os silêncios que eu poderia desejar, o seu silêncio é o pior de todos. Não percebi quando começou e não sei se um dia vai terminar.

Barulho. 

De todos os barulhos que eu esperava ouvir, o som da sua voz me pedindo para eu não voltar era o último som que eu imaginei quebrar a barreira do nosso silêncio.

Loop

Você me mandando seguir sem olhar para trás é tudo que se repete em minha memória, de forma vagarosa e cruel, é como uma janela se estilhaçando no chão.

Esquecimento. 

Não vou dizer que eu espero que se lembre de mim para todo o sempre, eu prometo que você não vai virar uma vaga lembrança, mas não tenho certeza se ainda vou lembrar do seu vago sorriso enquanto dividimos histórias que nunca vivemos. 

Lembranças. 

Me pergunto quantas lembranças de verdade conseguimos criar juntos sem desistirmos dos nossos planos?

Medo.

Confesso que eu tenho medo de te esquecer e, que talvez me esquecer não seja o seu medo. 

Verdades. 

Talvez nossas vidas se tornem melhores se não estivermos juntos. Nos machucaríamos bem menos em meio a todas as nossas expectativas. 

Mentiras. 

Toda vez que eu abrir um livro complicado que explique coisas simples, eu vou me lembrar de você, mas vou fingir não lembrar, fingir te esquecer e, ignorar todas as páginas que dizem tanto sobre você. 

Ilusão

Aceito que você possa me esquecer, mas lá no fundo eu ainda terei a ilusão de que tudo vai terminar bem de alguma forma, terminar bem pode ser que nós nunca nos encontremos novamente.

Desculpa.

Eu deveria ter cometido menos erros e pedido mais desculpas.

Expectativa. 

Eu te fiz acreditar que eu era diferente, que eu te ouviria em todas as situações, que eu te abraçaria em todos os momentos e que eu te amaria independente do que houvesse. Era verdade, mas também era mentira. Tem dias que eu não me amo, que eu não me ouço, que eu não me entendo. 

Solitude. 

Eu vivo entre muitos, gosto de vozes e de barulho, mas ainda assim sinto falta do seu silêncio que ensurdece meus momentos mais peculiares.

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Armário bagunçado

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Para uma outra criança que encontrei por aí… talvez ela seja tão bruxa quanto eu.

Tudo era uma confusão.

Não sabia o que sentia, não entendia nada que acontecia, as vezes tudo que sabia era que a incerteza eram sua única certeza;

Não contava mais quantas vezes seu riso escapou ou quantas vezes suas lágrimas surgiam sem motivo aparente.

Não entendia como respirar podia ajudar, sentir a vida se esvaindo entre sua corrente respiratória nunca ajudou.

Era pesado sentir tudo aquilo entrando e saindo de dentro de si…

Contou todas as vezes que deixou cair algo importante enquanto respirava:

Deixou cair seu coração…

Deixou cair seu equilíbrio…

Deixou cair o que acreditava ser certo.

Tudo escapou naquele espaço tão pequeno que existia entre os sentimentos e o vazio.

Sentir…

Era bom sentir, sabia que vivia assim dessa forma: sentindo.

Era ruim sentir, era devastador não poder controlar o que sentia.

Tentou guardar tudo no armário, mas era muita coisa e quase nada cabia naquele espaço tão pequeno, as portas logo cederam e tudo desmoronou em cima de si.

O ar fugiu, e tudo ficou mais turvo do que costuma ser.

Se deparou com coisas que nem ousava pensar ter guardado, havia guardado realmente muita coisa.

Encontrou seus gritos escondidos no fundo do armário.

Encontrou as palavras carregadas de sentimentos que guardou por baixo de todas as tralhas desimportantes.

Encontrou as vozes, aquelas que queria esquecer, mas que não podia negar a existência, elas se multiplicavam.

Se culpou, afinal não soube guardas as coisas dentro do armário.

Se culpou porque quando olhavam para si viam aquela bagunça toda que escapava daquele espaço tão pequeno.

Se culpou porque supostamente sua bagunça havia respingado em outras pessoas.

Era estranho, complicado e inteiramente desconfortante.

Tudo que sentia era rápido e não podia controlar, não entendia muito bem como as outras pessoas escondiam tão bem tudo dentro de seus armários.

Não entendeu quando quis se enfiar por inteiro dentro daquele espaço tão pequeno e quebrado.

Respirar doía e ninguém deveria sentir dor enquanto respirava, mas nem sempre era assim.

As vezes respirar era bom, sentir todo aquele ar correndo dentro de si era confortante, era sinal de liberdade, de vida, de história.

Queria ser como o vento, livre, entrar e sair sem pedir licença.

Queria sair sem que perguntassem o motivo, queria sentir que era vida, que era a vida que existia nos outros e em si.

Queria sentir e saber o que sentir.

Preferia pontos finais á vírgulas, não gostava de criar continuação para nada, até gostava, mas se preocupada demais com tudo, pontos finais eram rápidos emergências e não precisavam de explicação.

Era difícil entender que tudo que sentia era seu, eram suas angustias, seus medos, suas alegrias e amores, tudo era seu e de mais ninguém.

Ninguém poderia engavetar o que sentia, ou guardar nos cantos do armário aquilo que não agradava por muito tempo.

Era difícil, era dolorido, era confuso, mas também era bom, afinal as vezes é bom no meio de toda aquela bagunça que desaba sobre nós descobrirmos que lá dentro também está guardado o que somos.

É bom nos reencontrarmos, redescobrirmos o que sentimos e entender ou desentender o que nos faz chorar e sorrir.

 

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“Não me toca, por favor não me toca”,

Têm dias que é difícil se concentrar no mundo, têm dias que é difícil se entender e entender o outro.

Teve dias que eu me perguntei como seriam aquelas crianças quando crescessem. Teve dias em que eu as reencontrei.

Por favor, não me toca.

Eu sei que parece estranho, mas isso me machuca.

Dói quando você me toca, quando se aproxima demais e quando me abraça assim tão apertado. Às vezes parece que está tudo queimando aqui dentro.

Eu queria ficar para sempre no seu abraço, mas isso me machuca, e eu nem sei explicar o que sinto, então eu só espero que seja rápido e que você entenda o quanto isso me machuca.

Eu não consigo explicar, eu não consigo entender, as vezes você me faz sentir em casa, mesmo quando eu não consigo entender o que é uma casa de verdade.

Às vezes eu não sei o que falar, e falo desordenadamente sobre qualquer assunto, mas é que poucas vezes alguém tenta me ouvir.

Às vezes eu troco de assunto sem nem perceber, eu não faço de propósito, é só que é difícil pensar tão rápido e não conseguir controlar o que surge na minha cabeça, eu não consigo me controlar, eu só queria seguir em um único caminho, mas vez ou outra me perco por tantos lugares que nem sei onde estou.

Às vezes eu preciso falar comigo e não gosto que me interrompam, não gosto que não entendam que essa é minha forma de me entender. Eu até tento agir naturalmente, mas nem sempre dá, tem dias que não dá para controlar e parece que tudo que acontece faz tudo ficar ainda mais complicado.

Às vezes eu não quero falar, mas não é que eu não tenha o que dizer, é só que eu não consigo falar. NÃO CONSIGO, por favor entende. Eu só quero ficar quieto, em silêncio, sem todo esse barulho que eu causo e sem todo esse barulho que me causam.

Eu não sei se você entende, ou quão estranho deva ser você para tentar me entender, mas tudo que eu queria era não ser eu e não sentir tudo que eu sinto.

Às vezes eu não sei o que fazer, é complicado ter tantas opções e não saber para onde ir. Tudo dentro de mim parece apertar, minha cabeça fica tão bagunçada que as palavras somem e eu não consigo entender para onde vou.

Eu não gosto de aglomerações, não gosto quando tudo que tenho que fazer é conviver com um monte de gente que não fala comigo, que não me conhece, que encosta em mim sem me avisa, isso faz meu coração acelerar, eu fico atônito tentando fugir, minha garganta arde, meu corpo queima. Parece que tá todo mundo olhando para mim, eu não gosto de ser o centro de toda a atenção.

Tem dias que eu não sei o que sinto por você, não sei se gosto ou não de você, não gosto de como você insiste em ficar perto de mim, não gosto de gostar de ficar perto de você.

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Respirar

Tente passar pelo que estou passando
Tente apagar este teu novo engano
Tente me amar pois estou te amando

-Pérola Negra

Composição: Luiz Carlos Dos Santos

Certo dia senti vontade de voltar a escrever e senti preguiça, o texto morreu antes mesmo de nascer. Mas hoje em meio a meditação ao som de Caetano e os livros de engenharia de requisito que eu deveria ler, resolvi me arriscar a escrever sobre o que mais amo amar, pessoas.

Ao irmão extraterreno.

Era confuso, muito confuso.

Ninguém entendia, nem quem estava perto e muito menos quem estava longe. Nem ele se entendia.

A respiração pesava, e parecia acumular um bolo no meio do peito, era pesado, estava cansado, a dor não era explicável e nem tinha remédio, era angustiante e tudo que queria era se encostar em algum lugar, onde a dor tão inexplicável pudesse ser sentida.

Respirar, respirar era tudo que queria. Fechar os olhos e ouvir o som das ondas batendo nas pedras, como ninguém jamais o ouviu.

Não gostava de responder perguntas, porque geralmente não tinha respostas. Não gostava de não ter explicações para as lágrimas ou para o acumulo no peito que o impedia de encontrar palavras e tentar se explicar.

Ele nem sabia os motivos de tentar se explicar, mas era como se a todo instante lhe cobrassem isso. Era dolorido, denso e perverso, não tinha explicação.

Respirar, tudo que restava era respirar e sentir todo aquele ar invadindo seu corpo. Respirar era se sentir pesado pelo que não conseguia colocar para fora.

Era estranho como todos achavam que o conheciam, e que tinham a solução para o que estava sentindo. No meio de todo aquele caos que eram seus sentimentos, tudo que conseguiam era que ele achasse que seus sentimentos eram o problema.

Ele respirava forte e engolia o que queria sair, respirar as vezes era se sentir fora do próprio corpo. Respirar era dolorido, machucava e rasgava. O que não podia sair transbordava e inundava quando menos esperava.

Respirar, respirar e fechar os olhos, tudo escuro, tudo que se ouve são gotas caindo no nada, vazio sufocante. Respirar era viver em um silêncio barulhento.

Era difícil se ouvir em meio a todo aquele barulho que vivia sua mente, não eram frases fáceis de serem compreendidas, era tanto barulho que lhe dava vertigem e facilmente ele se perdia principalmente pelos caminhos fáceis.

Era mais fácil aceitar que seus passos jamais seriam retos.

Respirar, respirar as vezes era pesado, mas também era leve. Respirar era ter calma, para não se engasgar com si mesmo.

As vezes ele conseguia se entender, não era tão fácil, mas se contentava em chegar mesmo que por caminhos tortos nos lugares que deveria.

Respirar enquanto caía e se machucava era uma especialidade, o ato de respirar era longo, denso e solitário a espera que no final alguém o enxergasse e o ajudasse a levantar, alguém que o ajudasse a respirar.

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Mentiras sobre “nós”

173/366 - Abseits / Offside
Disponível em pxhere

 

Atenção: esse texto contém menção a depressão, abuso e suicídio. Se achar que isso pode ser um gatilho, por favor não continue essa leitura.

Nó: Enlaçamento de fios, de linhas, de cordas, de cordões, fazendo com que suas extremidades passem uma pela outra, amarrando-as. [Figurado] Vínculo; ligação estreita entre pessoas por afeição ou parentesco. [plural] nós.

Nós:Pessoa que fala e mais uma ou várias;

Dicionário: dicio

Quando a criança falou, eles não ouviram;

Quando tropeçou enquanto tentava fugir, ninguém estava na sua frente para frear seus passos;

Quando disse “não”, ninguém desconfiou que era medo.

Quando disse “sim”, ninguém percebeu que ele gritava por dentro dizendo não.

Fugiu, ninguém percebeu;

Gritou, falaram que era birra, “coisa de criança”;

Seu corpo não parava quieto, mas “era o efeito da hiperatividade”;

Roeu as unhas, puxou os cabelos, mordeu os lábios, “era de ansiedade”;

Cresceu, e quanto mais crescia mais remédios de nomes complicados conhecia;

Não gostava de chorar, de falar, de respirar, “o nomearam como depressivo”;

Não queria engolir a comida, já engolia muitas palavras enquanto diziam ser só mais “alguns de seus delírios”.

Se retraía, tentou se esconder, encolheu seu corpo e tremeu, “não suportou tudo que teve que segurar”. Não estava frio, mas tremeu.

Chorou como chorava quando era criança, não adiantou, ninguém veio em seu socorro, tudo continuava no mesmo lugar, a cama, o chão, as paredes, e os gritos que com o tempo aprendeu a conter.

No fim de tudo, nada restou, as lágrimas caiam, e a dor que o dilacerava era mais cortante que o objeto que ele usou para dar fim a tudo.

Não se despediu, não disse “eu te amo”, não mandou sinais de aviso. Ele apenas foi, foi ser livre enquanto deixava suas verdades finalmente saírem e como se não se importasse se iriam ou não acreditar nelas depois de tanto tempo. Ele apenas foi, sem se importar com tudo que podiam dizer.

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Pequeno Viajante

Gostaria de compartilhar mais um texto que fiz para mais um dos meus amigos. Uma mesma palavra pode ser usada de muitas formas….

arvoresabedoria
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Um dia conheci um menino meio perdido por esse mundo…

Pequeno,

Ele era pequeno na forma de agir,

tinha um sorriso gigante mas que quase ninguém via,

mãos curiosas que viviam agindo escondido,

passos tão curtos quanto os de um idoso.

Seus olhos pequenos eram atentos aos pequenos detalhes.

Suas palavras eram curtas e seus silêncios longos;

As vezes ele se perdia,

se perdia no tempo,

se perdia nos lugares,

se perdia até dele mesmo,

as vezes ele se encontrava em meio a uma bagunça que ele nem lembrava ter feito.

As vezes ele arrumava a bagunça,

outras tantas não…

ele precisava da bagunça para poder viajar…

Ele gostava de viagens longas e intermináveis;

Seus lugares preferidos não estavam no mapa,

eram lugares tão secretos, mas tão secretos, que as vezes ele esquecia de como se chegava lá,

as vezes ele lembrava: tudo que precisava era se perder nas entrelinhas do silêncio.

Ele se perdia,

se perdia

e se perdia,

era naquele silêncio tão barulhento que suas aventuras aconteciam,

derrotar vilões, salvar pessoas, invadir planetas,…

eram aventuras tão mágicas que ele se esforçava ao máximo para não esquecer,

as vezes ele esquecia, e aí ele tinha que viajar novamente,

talvez por isso ele goste tanto de colecionar lugares inesperados:

ilhas perdidas,

países nunca descobertos,

planetas fora do sistema solar,

abraços intergalácticos.

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Dor

passarinho

Passarinho vivia preso, não sabia voar;

Suas asas se embolavam nas entrelinhas dos seus livros preferidos;

Passarinho fazia ninho com aquilo que não queria ler;

Passarinho se perdia naquilo que não conseguia entender;

Passarinho se perdia entre os versos que ele cantava e ninguém entendia;

Passarinho queria voar, mas não podia.

Escrito para á pessoa que tropeçou com os seus sentimentos em mim….

Dor,

sentiu dor, mas não havia nada físico que lhe causasse aquilo que sentia.

Seu peito subia e descia, tudo doía, era angustiante, amedrontador.

É sentiu medo, o medo que ele sempre sentia mas ninguém sabia;

Tentou se distrair, mas miseravelmente falhou, se perdeu com facilidade em sua próprias palavras, não as entendia e já nem sabia porque antes ria;

Não se lembrava, não respirava, não enxergava;

Ele ouvia, ouvia tudo que não queria ouvir, queria que parassem, mas não paravam, isso o assustava.

Tentou dar um passo caiu;

Tentou escapar se descobriu preso;

Todas as portas estavam fechadas, trancadas, ele estava trancado, seus suspiros estavam trancados, suas dores estavam trancadas o rasgando por dentro.

Tudo cheirava a sangue, inclusive o tempo que não passava.

Sangue, ele sangrava.

Ele sangrava sem derramar uma gota de sangue, uma hora ou outra todo aquele sangue inundaria aquele lugar.

Doía e ninguém ligava, ninguém perguntava, ninguém se importava;

Doía tanto que ele tentou parar a dor e não conseguiu, aceitou que era castigo pelos pecados que ele nem sabia haver cometido;

Tentou achar o ar e não o sentiu, doeu, acelerou, ele não estava correndo, mas acelerou;

Seu coração acelerou, sentiu ainda mais medo;

Doeu,

Doeu,

Doeu;

O ar não saía, a dor não passava, ele tropeçava.

Chorou, se afogou nas próprias lágrimas, quis gritar, mas estava perdendo o ar;

As palavras não saíam, os versos não mais floresciam, tudo era momento e ele só queria que aquele momento acabasse;

Queria que parassem de gritar, que o ouvissem e o retirassem daquele lugar;

Que parassem os medos, que tudo parasse, que o tempo parasse, que o barulho parasse, que ele parasse.

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Barulhento e silencioso

Escute-o-silêncio

Acho que eu me envolvo muito com as pessoas, tenho certeza disso. Escrevi isso pensando em como um dos meus novos amigos estava se sentindo, é uma daquelas coisas que não sabemos como escrevemos, mas sabemos sentir em cada abraço silencioso e apertado em meio aos soluços…

Tudo dói, o silêncio, a angustia, a vontade, tudo.

Já faz um tempo que eu não sei explicar essa dor e o motivo dela residir em mim, tudo dói e parece que vai sempre doer.

Nada faz sentido, não sei se estou lento demais ou se o tempo passou a se arrastar, só sei que cada um daqueles minutos parecem horas. As unidades de medidas medem o tempo que essa dor mora em mim. Eu queria que elas não medissem nada.

Eu queria gritar de dor, mas minha voz não sai, eu tento não ouvir, mas parece impossível, preferia o silêncio eterno a sentir cada uma daquelas palavras dentro de mim, elas doem.

A dor é parecida com aquela dor de quando nos perdemos no meio da chuva na infância, ficamos sozinhos, os trovões parecem bombas e nos deixam ainda mais indefesos do que já estamos.

O som ecoado pelo trovão com tempo, pouco tempo, vai deixando a distorção, palavras conhecidas vão surgindo, tudo é tão barulhento em meio ao vazio.

Parece que a cada segundo fica mais e mais escuro, tudo parece ser tão longe, e não se vê nada, só se ouve cada som ecoando em meio ao vazio em meio ao meu silêncio.

 

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Muito pouco, (IN)sanidade.

loucuraa

Pronto

Agora que voltou tudo ao normal

Talvez você consiga ser menos rei

E um pouco mais real

 (Muito pouco, Moska)

Olhou…, não reconheceu aquele espaço, era tudo tão igual a antes, mas ainda assim tão diferente, como não percebeu que tudo mudou?

Seus sonhos não estavam no lugar certo, estavam todos encaixotados, empoleirados, deixados de lado no canto de um quarto empoeirado.

Andou por todos os cantos, mas nenhum canto era o seu. Olhou-se no espelho e não se reconheceu, as roupas, o cabelo, o tênis, era o seu corpo, mas não era ele. Escorregou os dedos no espelho e sentiu o toque gelado, não havia diferença no reflexo e em si. Quando ficou assim?

Afastou a mão e levou ao rosto, não sentiu o habitual sorriso, nem se lembrava quando aquele canto dos lábios deixou de abrigar sua alegria.

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

Gritando pra não ficar rouco

Em guerra lutando por paz

Seus pés não estavam descalços mais ainda assim doíam como se estivesse andando a horas em círculos, era tudo sempre igual, deslizou-se por qualquer parede, respirou fundo e se sufocou com as lembranças.

A música que tocava era a mesma de ontem, e de todos os dias anteriores, era um disco repetido que o lembrava que o condenaram por não seguir a um mesmo ritmo, por não andar na linha, por não seguir à realidade dos fatos.

Era tudo tão chato, era sempre mais do mesmo. Era insuportável ver a mesma paisagem da janela, ter seus passos milimetricamente controlados, se sufocar dentro da roupa e de si mesmo. O suspiro sobrepôs à música, foi alto e desesperador, era um grito sem palavras que ecoou por todos os cantos.

Fechar os olhos não adiantava, ele não esqueceria, mas não reconhecia aquela certeza que tantos tinham como absoluta.

Pesos e medidas não servem

Pra ninguém poder nos comparar

Porque

Eu não pertenço ao mesmo lugar

Viver…, quando viver passou a ser sinônimo de “não viver”? Seus dias eram eternas tempestades, tropeçava nos próprios pés, eram os mesmos gostos, os mesmos caminhos, e aquilo, aquilo não bastava.

Era tudo tão cinza, uma eterna neblina que escondia tudo inclusive a si.

Sentiu saudades dos seus sonhos e abriu uma das caixas, eram tantos, lembrava-se de quando eles transbordavam de dentro de si e inundavam o mundo. Respirou fundo, sentiu todo aquele aroma de liberdade, quando havia se contentado em aprisionar seus sonhos?

Mal percebeu quando suas mãos rasgaram cada uma das caixas, o perfume da liberdade inundava a casa, as roupas estavam o sufocando, ele não era o mesmo, preferia transbordar a se conter.

Deixou-se transbordar enquanto respirava cada sonho, cada lembrança, cada parte daquela realidade particular, que criou para sobreviver dentro da “verdadeira” realidade tão insana.

E muito pra mim é tão pouco

E pouco é um pouco demais

Viver tá me deixando louco

Não sei mais do que sou capaz

  • Música utilizada
  • Muito Pouco – Paulinho Moska
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Carta para a minha ansiedade

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É estranho escrever uma carta para a minha ansiedade, nunca pensei que fosse fazer algo assim, mas me sinto levemente tentada a te contar como são meus dias em sua, nada, doce companhia, ou ao menos um dos dias.

Quando estava na calçada esperando todos os carros pararem eu encarei um ponto qualquer, era uma loja de roupas masculinas, estava exposto uma calça jeans muito bonita e ao lado dela tinha um vendedor com belas pernas, tinha perdido o sinal verde para atravessar. Desviei meu olhar das pessoas que me encaravam e quando o sinal abriu atravessei correndo, peguei o ônibus e me concentrei nas palavras cruzadas, eram tantas em tantas linhas que não pude me impedir de divagar entre os milhares de significados e como cada um deles se encaixava em minha vida.

Lá estava você, com seu sorriso sacana, me fazendo bater a perna esquerda desesperadamente no assoalho, enquanto marcava aquelas letras no papel, minha mente divagava pela letra de uma música qualquer de algum desconhecido, enquanto tentava a entender, escrevia as tais frases no papel que só deveria escrever letras. Minha garganta secou repentinamente quando no meio de uma outra música, uma frase me fez lembrar de algo que eu preferia esquecer, fiquei meio sem ar, e minhas mãos nervosas quase sem querer começaram a dobrar as folhas da revistinha.

Estava transpirando sem nem estar calor, sequei minhas mãos na camisa amarrota, e apertei a caneta…

Você é definitivamente muito sacana, guardei a revistinha antes que eu a rasgasse, revirei meus olhos enquanto procurava por meu celular para ouvir minha própria música, o fone estava embolado, desesperadamente, tentei desatar aquele nó tão simples, mais foi complicado e entre um bufar e outro acabei acidentalmente arrebentando um dos fones, fiquei frustrada, a música de outrem continuava a tocar, ela não acabava, não me deixou me concentrar na minha própria música.

Quando mal percebi já estava perto da minha descida, tive que correr para dar sinal, não que eu estivesse atrasada, desci com calma, enquanto caminhava para casa a cada passo, a cada detalhe, pensava em algo diferente, parecia que pisava na minha própria mente, era uma bagunça particular que ninguém era capaz de entender, mais uma vez absorta em meus próprios pensamentos cheguei em casa, fui direto para o banho para esfriar a mente, não adiantou, comi qualquer coisa enquanto pensava que não podia perder tempo. Eu já tinha perdido demais.

Qual o motivo de você sempre me visitar quando tenho que resolver algo sério, quando tenho que fazer algo que já deveria ter feito? Qual a porcaria do motivo de você aparecer, e como quem não quer nada, compilar em uma seleção premiada, todos os meus erros e medos, enquanto eu desesperadamente tento sair da minha encruzilhada pessoal?

Você continuou lá assombrando minha mente enquanto eu digitava os parágrafos do artigo que deveria estar pronto a muito tempo, lá estava você me encarando, me fazendo revisar aquelas linhas em meio a culpa de não ter feito antes, de não conseguir fazer mais rápido, de não conseguir me inspirar para escrever. Parei, respirei, pensei em tudo que planejo, tantas vezes com altos detalhes e não consigo realizar, me contorço na cadeira e tento alcançar um dos livros para o referencial, me pergunto quando marquei aquelas frases…?

Você continuou ali, enquanto eu aumentava o som nos meus fones, e lia as linhas dos livros que eram minhas referências, minha mente estava tão bagunçada ao seu lado que eu mal percebia quando saia de um texto e entrava em outra leitura, mas eu não conseguia transcrever todos aqueles pensamentos para o papel, não, quanto mais eu lia, quanto mais eu refletia, mais eu me perdia, tudo era muito rápido e eu não conseguia me acalmar para conseguir transcrever, quando eu comecei finalmente a escrever meus olhos cravaram no relógio, e mesmo que ele não fizesse o famoso TIC TAC, minha mente fazia, meus dedos não acompanhavam o tempo, ele era mais rápido, então um bolo subia na minha garganta e eu o tossia.

A tosse era quase uma forma de colocar aquele bolo invisível para fora, você sabe, eu sei, todo mundo sabe, não tinha nada subindo do meu peito para minha garganta, até porque o caminho percorrido era algo biologicamente impossível, biologicamente não é mentalmente, não adiantava eu saber, aquela bola que queimava por onde passava continuava a subir e a descer, eu não conseguia expelir, ela se dissipava na minha barriga, e eu a ignorava, continuava escrevendo, a essa altura qualquer ruído me trazia desconforto.

Entre o desligar ou não a música, meus dedos batiam freneticamente na mesa eu encarava as unhas malfeitas, eu deveria ter mais vaidade, minhas mãos instintivamente vão aos meus cabelos, me lembrando que eu não tinha nem penteado decentemente antes de sair de casa, eu começo a coça-los enquanto fico nervosa e penso em todas as vezes que fiz isso, quem liga? Eu não ligo, não eu não ligo, não eu achava que não ligava até a hora que você apareceu na minha vida, e me fez pensar esse monte de coisas, maldita ansiedade, eu penso na minha idade, no meu dinheiro, nas idas e vindas que não tive… Droga, eu não aguento mais essa música, eu não consigo escrever, eu tenho 25 anos e não tenho a menor ideia do que fazer…

Enquanto parava o maldito “play” meus olhos desviaram para a barra de pesquisa, e mesmo que a música tenha parado ela continua a tocar repetidamente na minha mente enquanto transito pelas redes sociais, pessoas, barra de pesquisa, curtir, comentar, desviar, compartilhar, quando olhei novamente o relógio, tinha perdido muito tempo, minhas pernas balançavam freneticamente na cadeira, para um lado e para o outro, me perdi naquele movimento incansável enquanto me desesperava por todas as linhas que não escrevi.

Tentei me concentrar novamente mas tudo que consegui fazer foi pensar na sobremesa que não comi, ela ainda estava esperando por mim, estava lá, na geladeira, mal percebi quando minhas mãos alcançaram aquele pote, caminhei com ele para o quarto novamente, sentei, respirei, comi, digitei, digitei, digitei, e quando finalmente só faltava a conclusão, ouço o apito de mensagens do smartphone soar, tento continuar digitando, ele soa novamente, ele soa freneticamente, busco com os olhos a onde o deixei e o encontro ali, jogado ao lado da pilha de livros de distintos assuntos, que eu deveria ter lido e não li.

Olhei as mensagens, respirei, me frustrei, falei sozinha, briguei sozinha, ameacei digitar, digitei, apaguei, digitei, não revisei, enviei, me arrependi. Droga! Me responderam, continuaram a responder, enviei, enviei novamente, desisti de enviar porque perdi o interesse na conversa, ri revirando os olhos, me sentei no chão enquanto buscava algo legal para ouvir enquanto ignorava as mensagens, descobri um texto legal, legal mesmo, muito legal, me deu ideia do que escrever.

Me sentei na cadeira e li meu texto de cabo a rabo fazendo novos apontamentos, me perdi na hora, na música, no texto, nas minhas divagações, mal percebi quando terminei, parecia que tinha demorado mais do que realmente tinha, não quis revisar, não sou obrigada a revisar, eu sou obrigada a revisar, mas enviei mesmo assim, a orientadora revisa, o mundo revisa e eu durmo, ou não…

Tomei um banho quente, e cai na cama, olhei para as paredes estava escuro mal dava para ver os rabiscos que tinha feito, respirei tentando fechar os olhos e dormir, não consegui, contei até cem, não dormi, imaginei mil e uma coisas, me arrependi de comer o doce, bebi agua, li as mensagens, pensei em responder, me arrependi, pensei no rapaz sexy que não sabia o nome, endereço ou que rosto tinha, mas sabia como eram suas pernas, que pernas, queria ter visto seu rosto, minha mente voou, voou longe me fazendo pensar que deveria ter entrado naquela loja, ter perguntado alguma coisa, me frustrei, tentei fechar os olhos e o nervosismo voltou a aparecer, eu deveria ter revisado o texto, e se não gostarem, e se tiver muitos erros, e se…, droga!