Amor, Ansiedade, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, refugiados

Diáspora do Fim do Mundo

It’s like the walls are caving in
Sometimes, I feel like giving up
But I just can’t

Para todos que fogem para encontrar algo melhor, que deixam um coração para trás, que não tem para onde voltar, que desabam sem ninguém ver…


Então eu finalmente consegui.

Cheguei.

Meus braços doem, meu corpo treme, eu não consigo olhar para trás e encarar tudo que deixei, não existe mais nada, não existe para onde voltar. 

Ainda ouço os gritos, ainda sinto o cheiro salgado e metálico do sangue, ainda vejo os passos apressados, os tropeços, o medo estampado nos olhos daqueles com tão pouca idade que nada entendiam. 

Cheguei só, mesmo que tenha tentado carregar outros comigo, eles não conseguiram, foram atravessados pela vida. 

Haviam dias que o baque da perda doía mais do que outros, eu lembro de tudo que senti, da angústia que parecia comprimir meu peito como se fosse uma parede me esmagando. Eu escorregava em meus soluços, e tentava me esconder das lembranças, é assustador reviver tudo em detalhes tão ínfimos. 

Quando cheguei não havia cama, abraços, ou pessoas para me receber, eu era um intruso protegido por uma fina burocracia social. Não me queriam, não me aceitavam, mas eu continuava aqui, preso, respirando de forma desesperada pronto para ser ouvido. 

Sentia o cheiro da chuva que molhava a terra, e sentia saudades do tempo que dançava com ela, os cheiros, da chuva e da saudade, se misturavam aos meus sonhos dissipados, era isso que eu queria mas ainda assim nada é como eu pensei. 

Nos primeiros dias eu não só sentia medo, mas também sentia frio, me senti desprotegido, mesmo que não houvesse motivo para isso. Era como me forçar a respirar mesmo me faltando ar, eu deixei que me levassem ao limite, que me testassem, que me tirassem o sono e que fizessem por mim planos, eu deixei pois não tinha mais forças para lutar…

Ainda tenho medo do escuro, tenho medo de não enxergar o que tá a minha frente, tenho medo de me perder e ninguém me encontrar, tenho medo por não ter ninguém que procure por mim. 

Se eu cair, será que vão sentir minha falta? Será que vão me ver desabar? Será que vão tentar me segurar, agarrar minhas mãos e me abraçar para não me deixar escapar? Será que eu vou continuar?

Tudo era diferente, até mesmo as minhas perguntas eram diferentes, o lugar era maior, mais frio, eram pessoas demais por perto e ainda assim todos pareciam bem distantes. Eu era invisível mesmo todos me conhecendo, senti vontade de anestesiar todas essas sensações. 

Eu não consigo respirar direito, minhas mãos tremem e tudo aqui parece apertado demais, minha garganta seca, as palavras somem, não havia ninguém para ouvir meu lamento ou paredes para proteger o som do meu choro, um choro vazio e ardido que me afogava sem o mínimo esforço. 

O cheiro do sangue misturado ao álcool parecem me completar. Juro que eu tentei evitar por muito tempo a ambos, mas depois de um tempo tudo parece meio impossível.

Queria correr, mas não havia para onde ir, eu não conseguia voltar, não conseguia fazer nada além de ficar travado ali, entre todos que me rodeiam, tentando inventar finais para aqueles que já deixei, tentando me imaginar em um futuro distante. 

Amor, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, escolhas, Minhas Crônicas, Sexo, término

Novembro: O que faço amanhã?

De repente você já nem vê
O que faz mais sentido
E me joga na cara palavras
Que fazem doer demais

(Jose Augusto Cougil / Miguel)

Para todas as pessoas que passam rápido demais por nossas vidas e nos deixam sem saber o que fazer no amanhã.


Tão rápido quanto novembro o amor passou, você se foi, e tudo acabou…

Em Janeiro nos encontramos,

Em fevereiro nos apaixonamos, eu ainda não te amava, mas gostava de como você parecia tropeçar em todas as palavras para me arrancar suspiros.  

Em março seu sorriso fez meu coração parar pela primeira vez.

Em abril você me trouxe flores, me pediu em namoro e eu sorri fingindo desacreditar dos seus sonhos sobre nós. 

Em maio eu te convenci de que éramos jovens demais para planejarmos um futuro,

Em junho comemoramos minha promoção e brigamos pela primeira vez sobre o sabor da pizza, eu venci a briga e descobri que gostava de te irritar só para ver seu biquinho zangado me olhando. 

Em julho brigamos de verdade, não foi pelo sabor da pizza, não foi pelo jogo de futebol ou pela conta da lanchonete. 

Em agosto tentamos resolver, colocamos todas as cartas na mesa, eu gritei, você gritou, nos magoamos, parecia que tudo passava por nós. 

Em setembro comecei a sentir saudade de você, das suas coisas espalhadas em meu apartamento, chamei por você e nos desencontramos. 

Em outubro tentamos novamente, mas não era só você, eu também não conseguia mais…

Em novembro descobri que tudo foi rápido demais, não havia mais tempo.

Procurei por você nas cobertas, 

Recordei nossas fotos juntos, 

Deite-me no colchão que antes era nosso,

Imaginei teu corpo espalhado nos lençóis, sua silhueta quase desnuda me recebendo, 

Me lembrei da toalha molhada abandonada tantas vezes na minha cama e do seu sorriso travesso evidenciando sua proposição.

Tropecei no tempo verbal e fechei os olhos, você não estava ali, e eu ainda estava aqui, o passado passou rápido demais, eu te amei e agora amava mais as lembranças do que o que restou de nós.

Me pergunto o que deu errado, onde erramos, o que não fizemos para tudo isso acontecer…

Sinto saudades do que éramos, dos sons mais furtivos que emitimos antes de tudo acabar, antes de todas as brigas começarem.

Será que fui eu ou será que foi você…?

Eu choro de saudade, choro pelo que fomos e choro ainda mais pelo que nos tornamos.

Ainda sinto sua perna se entrelaçando na minha, o toque quase felino que suas unhas deixavam em mim, seus dedos traçando caminhos inimagináveis, ainda sinto seus pés batalhando por um espaço inexistente enquanto riamos de alguma coisa sem graça. 

Se eu fechar os olhos ainda te ouço ao pé do meu ouvido, seu peito colado ao meu, o hálito quente me arrepiando nos cabelos, me prometendo o mundo. Eu não acreditava, mais ainda assim sorria, ainda me lembro de como você se surpreendia, enquanto você me roubava suspiros eu gostava de te roubar beijos, gostava de como seus olhos pareciam sorrir quando isso acontecia. 

Ainda sinto teu beijo suave me arrancando do chão e me levando para lugares inalcançáveis, ainda te sinto em mim, me amando, enlaçando minha minha cintura, subindo por mim, tocando meu dorso enquanto me beijava e se afogava em prazer, ainda sinto o ritmo que você dançava, ainda sinto seu toque tão voraz enquanto me devorava.

Em dezembro eu continuei sentindo, te sentindo, te sentindo aqui, te sentindo em mim, mas pronta para recomeçar em Janeiro.

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Tudo que começa acaba

Vocês sabem que eu escrevo sobre coisas que sinto, na verdade não escrevo sobre o que sinto, mas sobre os sentimentos que não são meus e me atravessam em forma de escrita. Tem uns dias que os Fãs Clubes do Jão andam atravessando minhas redes sociais, e eu acabei mergulhando em informações sobre ele. Ele curte escrever cartas, então eu escrevi uma carta que até agora eu não entendi se é para ele ou não. 

Oi,

Tenho um monte de perguntas para te fazer…, mas não sei se tenho esse direito. 

Eu sumi…, e ao contrário dos contos de fadas não deixei pistas, me perdi no meio de uma floresta densa sem deixar lembranças ou migalhas para serem seguidas, me senti um pouco estúpido, não sei se alguém vai entender, mas eu precisava sentir tudo aquilo que tinha dentro de mim, precisava sentir tudo que eu era e parar de mentir, eu me escondi em um lugar que só eu conhecia, meu frágil castelo de cartas que me mantinha aquecido mesmo quando estava desabando.

Queria esquecer todas as coisas que me fazem chorar, queria dizer que tá tudo bem, mas ainda não tá, eu não sei se você vai entender, mas espero que entenda, aqui dentro de mim ainda passa um filme, um filme que quase ninguém conseguiu assistir, eu sempre me considerei um roteiro ruim de assistir de perto, faço coisas sem sentido, coisas que quase ninguém entende, sou um bom vilão das minhas histórias. Me falam isso quando apareço com algum machucado novo, eu sou realmente um bom vilão…

Às vezes me pergunto se eu me tornei tudo que queria…, me desenhei e redesenhei tantas vezes que me perco em que me tornei…

Desculpa se eu não fui um bom herói, mas eu não sei como arrumar esse roteiro, não sei o que tirar e o que colocar no lugar, ainda tenho medo de tudo que eu sinto e do que posso fazer com isso, eu ainda não me acho essa pessoa legal para qual você escreve cartas, mas eu juro que estou tentando me encontrar, tentando ser um pouquinho mais parecido com aquela criança que você conheceu… 

Eu ando lendo, mesmo que em doses homeopáticas, o que escreveu para mim, eu sinto vontade de chorar, eu choro, e acho isso bom, você enxerga alguém que ainda não sei quem é, tenho que te agradecer por isso. 

Queria te contar que aqui o tempo passa devagar e eu não sinto saudade de como o tempo passava rápido, ando chorando de saudade e também de medo, isso me machuca mais do que cura, não sei se no fim de tudo eu vou conseguir voltar e salvar o dia, ou se alguém vai vir e me salvar… 

Talvez eu não precise ser salvo, mas eu ainda quero que alguém tente, ainda quero me sentir importante, desculpa pelo pensamento egoísta, mas eu espero que com o tempo me perdoe, espero que minhas palavras ainda possam ser importantes, e mesmo que eu não seja mais o herói na sua parede, espero que você ainda possa ter um tempo para me ouvir falar da vida, mesmo que de forma triste. 

Eu queria ter tido mais tempo, ter construído uma fortaleza mais forte do que as cartas de baralho que cercam esse castelo, mas não deu tempo…, eu sempre achei que dava, e por isso demorei para voltar.  Meses são anos, e eu aprendi isso enquanto desabava por tudo que perdi…

É estranho olhar para tudo que passou, ainda carrego todos os arranhões da minha última queda, não me lembro das noites mais divertidas, tudo parecia meio entorpecente, os cheiros eram ambíguos demais e de repente todo mundo pareceu gostar mais dessa minha versão, queria me tornar essa versão, eletrizante, apaixonante, fugaz…

Sempre fui bom em me remontar… Fugir era algo que eu era bom em fazer, as quedas não me machucavam, os medos não me assustavam, tudo parecia bem guardado aqui dentro. 

Ainda sinto a adrenalina desses dias, ainda sinto os toques, mesmo não me lembrando dos rostos, eu não sei explicar quando tudo começou a desabar, foi rápido, uma montanha russa em queda livre, sem freio, sem aviso, me senti frágil demais, pequeno, inseguro, quebrado, culpado, era como se tudo tivesse voltado novamente, só que com mais intensidade. Tudo que eu sempre evitei apareceu ali diante de mim. 

Meu peito apertava a cada palavra solta, os assuntos pareciam desinteressantes e tudo que vivi parecia uma lembrança distante do que eu não consegui viver, de repente tudo pareceu um erro maior do que um acerto, é estranho, era tudo que eu sempre quis, mas agora me faltavam palavras para entender o que eu havia me tornado… 

Queria fugir novamente, mas minhas pernas pareciam presas, e eu fui obrigado a assistir tudo que eu sonhei passar em um filme bem diante dos meus olhos, senti dúvidas, senti culpa. Não consegui fugir para nenhum outro lugar que não fosse aqui… 

Eu desejava desaparecer, assim como outras tantas vezes, então vim parar aqui, nesse lugar tão seguro e ainda assim tão frágil, me perguntei se o mundo era mais bonito do alto da torre de cartas, mesmo me achando incapaz de a escalar, sempre tive medo do que eu iria encontrar por lá, tive medo de gostar do silêncio, de desabar as cartas no meio do precipício e de gostar da queda. 

Meu coração ainda dói, parece que caí de lugares ainda mais altos, tenho dias bons e dias nem tão bons assim, a vida de todos pareceu andar tão bem sem mim, sinto medo de voltar e não me encaixar mais naquele lugar, eu ainda lembro dos risos e dos abraços, das palavras e dos afagos, mas tudo parece tão distante, que já não sei quanto tempo passou. É, o tempo passa realmente devagar aqui. 

Eu não sei se mudei, sei menos do que sabia sobre mim, eu ainda sinto vontade de me esconder, mas parece meio inevitável voltar, me olhar já não é algo tão assustador assim, já consigo me ouvir sem querer me esconder.

Os dias aqui tem cheiro de saudade, são quentes como um fim de tarde no Arpoador, às vezes são coloridos, barulhentos, mas outras tantas são cinzas, repetitivos, um loop enjoativo que me lembra de tudo que não volta mais. Nesses dias, a dor é mais forte e parece que nada vai fazer passar…, eu sei que vai passar, nesses dias eu não preciso de nada além de abraços quentes e silêncio. 

Eu voltei a escrever igual quando eu era criança, sabe, me sinto feliz com isso, não é algo bonito de se ler, mas ainda assim me sinto feliz… 

Me pergunto como o tempo anda por aí? se seu coração se acalmou ou se o tempo fez tudo ficar ainda pior?

Será que você sente o mesmo que eu senti?

Será que também já quis fugir no meio de uma tempestade? 

Será que já se afogou enquanto chorava lembrando de tudo que passou. Será que correu descalço, pisando em pedras, enquanto ouvia o coração gritar que deveria ficar mesmo que em migalhas?

Se você me fizer essas perguntas, não saberei responder, aqui tudo tá igual, mas também tá diferente, acho que aprendi a respirar com um pouco mais de calma, aprendi a ouvir meus gritos e a aceitar ajuda para secar minhas lágrimas. Ainda dói enquanto corro e por vezes parece que não tem ninguém que me entenda, às vezes tenho vontade de fugir para mais longe, mas não posso. 

Sentir é ruim para um caramba, dói, mas dói ainda mais não sentir nada. Continuo um filme bem ruim de assistir, mas agora ao menos eu ofereço pipoca para quem aceitar ficar, sei lá, pode parecer uma piada ruim, mas é quem eu sou e talvez eu não seja tão ruim assim.

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Silêncio na cidade não se escuta…

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado

(Francisco Buarque De Hollanda / Gilberto Passos Gil Moreira)

Acordar era difícil, mas ainda assim tinha que fazer, sentia o peso do mundo caindo sobre si, a boca seca, o mundo inteiro gritando, a vida se esvaindo, a barriga doendo, os sonhos moídos em um aparelho televisivo que narrava o caos e os desatinos daqueles que deveriam governar. 

O cheiro de sangue era seu despertador, logo o gosto de sangue se acumulava em sua boca, mesmo não querendo se sentia expulso da cama, se arrastava com a sensação de pisar em cacos, acordar era como colocar suas entranhas para fora, o corpo ardia, corria em um ritual matinal para se olhar no espelho, mas não havia nada ali, nenhuma gota fora do lugar, apesar de toda dor.  

Tudo que restava de si era um corpo vazio que agia no automático, só restou ele, um corpo vazio e desacreditado, que andava desviando dos mortos e dos vivos que habitavam as vielas do lugar onde ficava o local que chamava de abrigo. 

Não tinha mais um lar, não tinha para onde voltar nem para onde ir, tudo que restou-lhe foi um lugar vazio, um lugar que para ele era como uma prisão, um lugar que o sufocava ao acordar e o assombrava ao dormir…

“Inocentaram mais um”, ele sussurrava enquanto engolia a água que descia feito veneno, talvez devesse desistir de acordar, a esperança não existia mais, queria ter força para gritar por justiça, mas sua voz já havia se esgotado, queria ter lágrimas para chorar, mas até isso eles lhe tiraram. Caminhar era como escorregar por uma lama densa em meio a uma tempestade sem fim, era sufocante e desesperador e a cada minuto se lembrava que estava mais longe do fim. Entre acordar e dormir ele trabalhava, mergulhava em respostas automáticas e linhas de códigos perfeitas até chegar a noite e ele ter que pagar sua penitência. 

A noite ele lembrava de tudo, que não restava mais nada e que tudo que sobrou foi o silêncio que o atormentava enquanto relembrava vivamente todos os passos até o fim… 

Primeiro o flash de luz que invadiu as janelas do carro, depois o barulho, o cheiro de gasolina misturado ao sangue, o toque pegajoso escondido na penumbra, a tosse engasgada abafada em meio ao sufocamento, o grito seco em meio ao barulho incessante dos tiros cortando o metal e se alojando nas carnes quase sem vida, havia riso em meio a chuva, depois só silêncio, um silêncio sufocante e frio de quem via a morte de perto e pediu de forma insistente para ela também o levar. 

Quando o socorro apareceu acharam que ele estivesse morto e talvez realmente estivesse, não conseguia falar, nem se mexer, só havia grito, dor e medo, estava escuro demais para saber quem havia sido, mas ainda assim, em meio ao caos, imagens surgiam gravadas em câmeras, um a um seus nomes surgiam, e quanto mais apareciam, mais se afastam de uma justificativa. 

“Era uma perseguição, eles surgiram do nada”, “legítima defesa, demos ordem de parada”, “Os carros eram parecidos…”, ele lembrava de cada frase mesmo querendo as esquecer, repeti-las o fazia querer colocar para fora tudo que ainda existia dentro de si, mesmo que fosse quase nada. Ele queria esquecer quem era, esquecer todos os momentos, mesmo os felizes, se eles eram inocentes, a ele só restava ser culpado, culpado por não ter escolhido comemorar em casa, por ter cruzado um caminho sem volta, por ter ficado ao invés de partir. Ele não precisava que ninguém o culpasse, a culpa já existia dentro de si, inclusive a culpa era a única coisa que o segurava aqui, era o seu castigo permanecer, ficar, viver.

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We were right till we weren’t


Tudo é transmitido o tempo todo: o amor, a angústia, a traição. Logo as feridas ficam expostas e exigem de si uma reação imediata, como se sua dor fosse plástica, moldável aos anseios de quem te assiste. 

Para todas as pessoas que atravessam o caminho de quem sofre com um término, fiquem, acolham e abracem, não julguem, nada termina ou começa naquele ponto final. 


Terminar é um verbo muito difícil de ser conjugado sózinho e mesmo com a casa tão cheia eu ainda me sinto sózinho.

Ainda escuto o som daquela voz, me dando desculpas para conter meu riso, ainda sinto o toque de quem limpa minhas lágrimas após me fazer chorar, ainda o sinto por perto mesmo estando longe. 

Antes do fim eu me questionava se eu deveria ou não desistir desse nó que éramos nós, mas tudo se apagava quando você aparecia, me trazendo flores, falando sobre como eu me sentia, me fazendo sentir, como se ninguém mais me entendesse. 

Talvez ninguém realmente entenda!

Eu pensava que era minha culpa, achava que você me entendia, que todos os deslizes eram causados por meu desencaixe. 

Tudo dentro de mim sempre doeu, você sabia disso, falava que tudo estava bem, que estaria sempre aqui, era uma mentira que eu precisava acreditar. 

Agora dói ainda mais.

Tudo que sempre foi meio bagunçado, agora parece pior

Fico revisitando cada palavra, cada gesto, cada ausência, não é que eu nunca soubesse, é só que era difícil aceitar.

Me sinto sozinho, mesmo com todos em minha volta.

Uma angústia sobe com os soluços, meu pranto me rasga por dentro, me engasgo, a garganta dói, o peito aperta, me sinto pequeno, sózinho, o medo aumenta, me culpo, me questiono:

Por que deixei isso acontecer?

Por que eu sou assim?

Por que é tão difícil esquecer?

Eu queria que me respondessem o que fiz de errado. Se eu fiz algo de errado. 

As conversas de repente passaram a ser sobre mim, não gosto de ser assim, porque é tudo que sempre tentei evitar transparecer. Todos parecem saber tudo sobre mim, quando nem eu sei. Talvez possam me dizer onde errei, o que tenho que fazer para parar de doer.

Me sinto frágil, talvez eu tenha nascido quebrado, ou talvez tenham me quebrado tanto que agora pareço ser incapaz de remendar meus cacos. Será que existe uma super cola para isso?

Não sei onde comecei a estilhaçar-me, mas olhar para todos esse caos é como não me reconhecer.

Me machuco enquanto tento caminhar sozinho. 

Não para de doer.

Eu sinto cada parte de quem eu sou fugir de mim, ficar pelo caminho.

Quero fugir, fugir de tudo, de todas as conversas, de todos os abraços, de todos os olhares…

Não quero ter que dizer coisas boas, eu não consigo, não há nada de bom para ver aqui.

Procurei minhas roupas e encontrei lembranças. 

Minhas memórias não eram só minhas, e por mais que todos digam que é só apagar, é impossível.

Eu queria dizer que tudo sempre foi bom e que por isso não me importo com as lembranças, mas é mentira.

Talvez a maior mentira tenha sido escrita por mim, eu aceitei, sempre aceito

Dizem que dentro de mim há muita intensidade, que não consigo controlar o que sinto, mas eu controlo, eu tento controlar, tudo fica aqui dentro, guardado, tenho medo que se cansem das minhas palavras.  

Tudo ainda tem aquele cheiro, aquele gosto e ainda sinto aquele toque e isso é como caminhar em um campo minado, parece que tudo que sempre segurei vai explodir a qualquer instante. Não acho que alguém seja capaz de desarmar essa bomba que se encontra no meu peito.

Não quero conversar, não quero falar sobre aquilo que todos já sabem ou ter que contar o que não sabem, não quero ter que sair do lugar seguro que criei para não me machucar mais.

Me sinto uma criança fugindo da tempestade escondida dentro do armário, não quer ter que abrir essa porta. 

Talvez isso seja só o reflexo do cansaço de quem se acostumou a sorrir em concordância, dizer sim mesmo querendo dizer não, não consigo esquecer e esse sempre foi o problema, eu deveria ter gritado quando tive chance. 

Eu prometo que vou tentar apagar tudo, que vou tentar sorrir, que vou tentar fingir estar bem, mas por enquanto eu não consigo, tudo parece desmoronar aqui dentro e é só isso que tenho a oferecer por enquanto. 

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Tempo rei

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, Pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei

Quando um animal morre em seu habitat, seu corpo se transforma em vida, se transformando em abrigo, comida e refúgio, nós somos animais e o fim nunca é realmente o fim. Para todos os que pensam qual o legado a ser deixado, para todos que precisam deixar-se ir para encontrar a paz.

Música…

Minha vida sempre foi uma música estranha, uma balada que embalava os meus sonhos mais improváveis, eu sonhava acordada e me perdia fácil entre os acordes, não existia como passar por mim sem se perder na melodia que embalava minha vida. Mas as vezes me canso, a música com o tempo se tornou nublada, abafada e desconexa, ainda me perco entre os acordes, mas agora tudo é uma melodia melancólica e abafada…

As tempestades se tornaram frequentes, embalavam meus sonhos e tornavam o amanhã improvável, as melodias antes tão agitadas agora eram alcoólicas, nubladas, um solo de guitarra no meio do silêncio.  Tudo se tornou turbulento, uma despedida entre sorrisos tristes e suspiros cansados. 

Se tudo passa, por qual motivo ainda permaneço aqui, por qual motivo ainda não passou? Cada olhar era uma despedida incansável que eu não queria, mas eu precisava dançar mesmo que eu não quisesse, eles precisavam disso mais do que eu, eu precisava de outra música, outro tom, precisava dançar até cansar todas as músicas que ainda tinham dentro daquela pequena jukebox. 

Retirei meus sapatos, senti a areia da praia, dancei uma música que só eu ouvia, uma melodia inexistente e até mesmo desacreditada entre todos os mortais, eu gritei, um grito miserável, solitário, agudo, era assim que eu me sentia, mesmo aqui, mesmo agora.

Eu atravessei tudo que podia, mergulhei quando insistiam que eu deveria permanecer segura na terra, tive medo de me perder, me perdi, me encontrei, conheci tudo que queria 

Talvez tenha chegado a hora de iniciar uma nova canção, de dançar um novo ritmo, de me despedir da forma certa e deixar as lágrimas rolarem sem as interromper no meio do caminho. 

Talvez agora seja tarde demais para passar, agora eu já não quero que passe, já não quero que vá, eu só quero estar, viver e sentir, não importa por quanto tempo, eu quero deixar uma marca mesmo que não seja o plano inicial, tudo que quero é um tempo maior, mesmo que por um segundo.

O tempo a muito se tornou inconstante, o medo é praticamente solúvel, dissolve os sonhos, o orgulho, o amor, mesmo com tantos abraços, mesmo com todo o carinho, mesmo sentindo tudo que sinto, o amor também é solúvel e por ele eu tento permanecer, porque eu quero sentir mais um pouco de tudo isso. 

Ainda estou aqui, estou na gota de suor, nas lágrimas de despedida, nas palavras de amor, nas paredes desenhadas, no pôr do sol, eu estive, estou, estarei… Não sei por quanto tempo poderei conjugar esse sentimento, mas eu sinto que eu quero existir no agora e se for para ir que seja da melhor forma, eu quero sentir e quero que sintam, quero que me sintam.

Não sinto mais os abraços, o cheiro, o gosto… tudo se perdeu, menos meu eu, ainda estou aqui, sentindo a inexistência de não poder passar, eu queria deixar ir, me deixar ir, ao mesmo tempo que queria apenas sentir. 

O toque antes ágil agora é demorado, guardando a saudade do que não volta. 

De repente sinto-me como água, sinto frio, sinto sede, sinto-me afogando em sentimentos indesejados, em sentimentos de despedida, uma despedida indolor, quente, calma. O relógio não voltou, os ponteiros pararam, todas as despedidas pareciam se fazer presente naquele instante e então tudo passou por mim: Passou o amor, o cheiro, os abraços, o medo e finalmente eu passei.

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Era uma vez eu no meio da vida

Para todas as pessoas que se sentem pequenas e perdidas em meio ao mundo. 

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, queria abraçar o mundo, gostava de abraço apertado e conversas no silêncio, sua existência era peculiar, tinha cheiro de saudade e abraços tão aconchegantes quanto a areia da praia. Às vezes ele era céu azul outras tantas tempestade… 

Dentro da sua cabeça existia uma guerra interminável, uma avalanche de palavras que vez ou outra causava um desmoronamento em suas certezas. Quanto mais ele corria, mas aquele eco lhe perseguia, ele tropeçava, caía e se machucava, se machucava sem ninguém ver, secava às lágrimas e continuava a seguir mesmo machucado. A guerra dentro da sua cabeça era barulhenta, e talvez por isso ele tenha aprendido a viver de silêncios. 

Não que ele gostasse do silêncio, pelo contrário, o silêncio incomoda e é dolorido, ele prefere a casa cheia, mesmo que isso também signifique ficar com seu coração vazio. Era uma sensação de ter o sol no inverno, não era suficiente, mas era o necessário, isso bastava. 

Talvez ele nunca tenha se achado suficiente, o que é muito estranho, afinal, ele sempre foi tão cheio de certezas, sempre foi colo e abrigo, como podia não se achar suficiente? É, mas ele não se achava, pelo contrário.

O mundo mundo parecia não o compreender e isso fazia com que aquele menino que parecia tão pequeno crescesse muito rápido, mas era momentâneo, logo ele se sentia pequeno novamente, as palavras doíam, ele não entendia, machucavam mesmo sendo desconhecidos, tudo se misturava dentro de si e ele se perdia em tudo que sentia sobre si mesmo.

Pequenas palavras sempre foram guardadas no dicionário da guerra que existia em sua cabeça, por isso ele detesta jogos de palavras, ele guardava cada verso fora do compasso, cada história mal contada e cada resposta atravessada, é nessas horas que sua cabeça iniciava a guerra, refazendo cada momento como se ele por milagre pudesse ser mudado, era torturante e desgastante. 

Se sentia perdido, brincava de pique sózinho na esperança de alguém o encontrar e ouvir tudo que ele tinha para contar. Ele queria gritar, queria explicar o que estava acontecendo, tudo parecia tão óbvio, mas não era, era difícil buscar tantas palavras, os desmoronamentos aconteciam com frequência dentro de si.

Constantemente respondia que sua cor preferida é a que o céu tem. O mesmo céu que ilumina as tardes frias, é o que causa tempestades devastadoras, e bem, esse menino tem tempestades devastadoras dentro de si, tempestades que ele nunca soube quando começavam ou terminavam. Nunca soube definir o que sentia, talvez se ele tivesse a cor do céu fosse mais fácil. 

Queria que soubessem que seus dias não são só de sol, nem sempre são quentes e aconchegantes, que seu sorriso às vezes é bem enevoado e que suas tempestades acontecem mesmo quando tudo é parecido com uma tarde de verão.

Não tinha como controlar, se sentia culpado por isso, ele passou a ensaiar sorrisos, não que ele não quisesse ficar ali perto de todos aqueles abraços e risos, se sentia triste por não se achar suficiente, passou a sufocar tudo que sentia e sorrir, um riso nublado e incômodo que lhe tira o ar. 

Talvez ele já não soubesse conjugar os verbos: amar, sorrir e viver. Ele apagava constantemente sua conjugação em nome do que ele achava ser o certo para os outros. 

Cultivava o amor, tal qual um florista que insiste em cuidar das rosas sem luvas, se espetava com espinhos e não cuidava dos machucados. Era a única forma de amar que ele conhecia, uma forma dolorida, que escondia o choro mesmo quando visivelmente estava magoado.

Tudo que restava a ele era a busca incansável por alguém que ficasse e entendesse seu silêncio, que não o fizesse sentir um incômodo, que afastasse de si todas as palavras que insistiam em ser repetidas na sua cabeça. 

O peito doía, o corpo amolecia, ele não conseguia sobreviver sem os abraços, tudo cheirava a saudade mesmo com todos ali, se sentia culpado por sua tempestade invadir outros abraços, sentia medo das pessoas cansarem e irem embora sem avisar. Era como ser um passarinho na gaiola, ele não podia voar e seu canto era limitado.

Sempre foi mais fácil lançar palavras para desconhecidos, eles vão embora e não significam nada, mas os conhecidos, esses, ele tem medo de perder, e por isso sobrevive de silêncio, falando o que querem ouvir, sorrindo quando queria se esconder.

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, sobrevivia das grandes tempestades que existiam dentro de si, vivia dos abraços no acaso e de risos tempestuosos, mas o que ele não sabia é que mesmo com toda a tempestade dentro de si, ele ainda é capaz de produzir dias quentes, quando ele descobrir isso, talvez o medo de deixar suas palavras voarem comece a ir embora…

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I’m only human after all

Para todos que necessitam traduzir o que sentem enquanto se machucam quando o mundo dentro de si começa a desabar.

Preciso te contar uma coisa, eu sei que você disse que iria ficar mesmo se eu te expulsasse, que foi você que bateu na porta, mas não é tão fácil assim, eu sou complicado, na maioria das vezes eu faço escolhas ruins, ainda assim te deixar ficar me pareceu uma boa escolha. 

Desculpe-me por abrir a porta, por ter aceitado sua ajuda e por ter permanecido ao seu lado mesmo quando eu deveria ter te mandado embora 

Eu gosto do seu sorriso enquanto me conta coisas bobas sobre o seu dia, para me entreter e mesmo que pareça que você sabe tão pouco sobre as estrelas, ficar do seu lado, é como me sentir aquecido pelo sol, eu gosto disso, pode não parecer mas eu gosto. Me desculpe por gostar. 

Às vezes eu me perco por lugares frios demais… Preciso te contar que às vezes eu demoro para voltar desses lugares, que caminho até meus pés doerem porque quando sinto dor, não me lembro do que aconteceu. 

Quando não sinto dor as coisas tendem a ficar complicadas, tudo parece turbulento demais, mil palavras vem de encontro a mim, muitas vezes desejo ser surdo para não as ouvir. Eu me machuco para não lembrar do quão machucado já fui, é estúpido, eu sei, mas é a forma que encontrei para sobreviver. 

As vezes eu sinto dúvida se você se preocupa de verdade, eu tenho dúvidas se você é real, se só é uma alucinação criada por mim em meio ao desespero, eu não sei, costumo não saber de muitas coisas quando estou assim. Você disse que ficaria, você ficou, sem fazer perguntas e isso nunca aconteceu. 

Preciso te contar que eu queria que você perguntasse como vão as coisas, como estou e onde estou, você disse que ficaria e isso deveria me bastar, mas pela primeira vez eu sinto falta das perguntas, das suas perguntas.

Me pergunto se te pagaram? Será que foi o suficiente para ficar? Será que vai durar para sempre…?

Preciso te contar que você tem cheiro de saudade, tem cheiro de infância, de carinho e de medo, eu tenho medo de você, isso me machuca, tenho medo de você não voltar, tenho medo do que vai restar de mim, eu enxergo o mundo do alto do precipício e isso é sempre assustador, não há nada para olhar, tudo tá sempre apagado, tenho medo, tenho medo desse sentimento aumentar. 

Preciso te contar que é sempre bem frio na beirada do precipício, eu nunca sei como cheguei até lá, mas acontece quase sempre que algo foge do meu controle, é frio e solitário, não importa o que façam nada parece me alcançar nesses momentos. 

Desculpe-me por ser tão quebrado, eu gosto da sua companhia, gosto de sentar do seu lado e da forma como você me faz rir enquanto tenta me entender no silêncio. Mas daqui onde estou eu sei que se você ficar não vai ser para sempre, olhar para o futuro é sempre desesperador, é vazio, incerto e perturbador. 

O futuro é inebriante, uma cortina espessa de fumaça que cobre meu corpo e me impede de respirar.

Eu sei. Não importa o que digam você não tem culpa, não importa o que eu diga você não tem culpa, só me desculpa por te fazer chorar, por ser assim tão quebrável, você pode desistir, pode me deixar em silêncio, mas promete que volta para me abraçar, eu gosto do seu abraço, gosto de me aquecer no seu silêncio.

Promete?

Me pergunto caso você não volte se serei capaz de continuar lembrando do seu sorriso, da sua voz calma me acalmando e do seu abraço tão solar. Eu não queria sentir o que sinto, ou ter meus olhos inundados a cada pequeno desastre que eu mesmo cometo, mas eu sou assim. 

Tenho que te contar que eu não sei quem é você, mas você parece saber tanto sobre mim que tenho medo do que pode fazer comigo, tenho medo de você me jogar daqui de cima e eu me perder na escuridão. 

Respirar é sempre mais complicado quando isso acontece, minhas decisões são impulsivas, eu escolho sentir dor a pensar de forma repetitiva nas coisas que fiz. Tenho medo de me esquecer de quem eu sou, de me perder no meio dos meus escombros e ninguém me encontrar, tenho medo de você não me encontrar, de desistir, de fechar a porta e me trancar aqui dentro, de ir embora assim como chegou.

Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, Minhas Crônicas

I have a tale to tell

Para todos que vivem de abraços perdidos e perguntas não feitas, eu tenho uma história para te contar… 

Eu te via de longe, mesmo quando você se esforçava para ficar perto. 

Nunca me contou seus sonhos, medos ou o que te fazia ficar feliz. 

Sempre foi mais parecido com um ponto final, mesmo eu querendo que você se tornasse uma vírgula. 

Não me lembro quando me perdi do seu sorriso, quando deixou de ser real para ser alguém que vivia a esperar uma resposta do amanhã. 

Logo você que sempre corria na direção oposta ao tempo, que vivia a vida contando cada gota de emoção, que sempre demorava para chegar, quando chegava não parecia querer ir embora. 

Era estranho que seus passos tão apressados ficassem ali tão à vontade. 

Você estava comigo, sempre sentado ao meu lado, segurando minha mão e sorrindo um sorriso triste de quem queria me convencer de que tudo daria certo. 

Não deu tudo certo. 

Seus olhos me pareciam sempre prestes a explodir, pareciam gritar por socorro, você fugia das perguntas sem olhar para trás.

Você desaparecia tão logo chegava, não deixava rastro e nem perguntas, apenas ia. 

Parecia sempre pronto para uma despedida, te encontrar era sempre como ler uma história de um parágrafo único . 

Não respondia perguntas, não deixava dúvidas, você não queria deixar saudades. 

Eu não entendo todas as conjunções temporais que separam o que somos do que fomos, queria entender onde nos partimos e eu te deixei partir. 

Queria não ter te deixado ir tão rápido.

Ainda me lembro do som da sua voz enquanto me ensinava como me proteger do mundo. 

Eu não precisava ter medo, era o que você sempre repetia ao fim de cada história, eu sabia que era mentira, te ouvir contando sobre os perigos da vida era o único momento que eu conseguia te entender, você sentia medo, não medo do que viveu e ainda poderia viver, mas medo de mim, medo que eu me levantasse e fosse embora. 

Eu ficava mesmo sem querer ficar. 

Você me mostrou suas cicatrizes mesmo sem eu querer ver. 

Você sorriu mesmo quando queria chorar, e eu sabia disso. 

Você não queria perguntas, não sabia como responder, e eu deveria ter entendido isso. Só queria ser ouvido em silêncio. 

Eu nunca soube como reagir. 

Sempre me perguntei os motivos do seu sorriso ser tão triste e de você mesmo falando verdades parecer me contar mentiras.

Amor, cartas, Crônica, Opinião

Heaven’s not ready for you

Para todos que precisam deixar ir. 

Fiz você me prometer que ficaria, que iria tentar, que ia lutar…

Você tentou, eu sei que tentou, mas talvez você não devesse ter prometido ou eu não devesse ter cobrado essa promessa. 

Ficar nem sempre é bom, às vezes quando mais ficamos mais saímos machucados. Lembro de como você sorria sempre que sonhava com algo novo, às vezes acho que seus sonhos não existem mais, sinto saudade do seu riso, do seu olhar tão peculiar sobre as coisas do mundo.

Sinto saudade de quando você queria ficar, de quando não se apegava a promessas. 

Eu quero que você tente, quero que fique, não por mim mas por você. 

Eu não quero carregar a culpa da sua dor. 

Talvez eu devesse ter te deixado partir, ter te deixado voar.

Talvez eu seja egoísta e não saiba viver sem você, mas te ter aqui sempre foi tão confortável, que não consigo me imaginar longe de você. 

Acho que você não pensa mais nisso…

Eu deveria estar feliz por você tentar, mas tudo que sinto é uma angústia grande, um silêncio que nasce nos seus olhos e termina no meu coração. 

Te ter aqui agora é como permanecer no vazio, um lugar frio e escuro, logo você que sempre foi tão quente, que distribuía um sol em cada sorriso.

Vejo seus pedaços caindo pelo meio do caminho, e tudo que posso fazer é juntar o que puder e te entregar no fim dessa jornada.

Vejo seus passos se perdendo, e tudo que consigo fazer é correr até você e segurar na sua mão e te guiar por um caminho que acredito ser melhor.

Vejo sua luz se apagando e tudo que tenho a oferecer é uma vela acesa e uma companhia no escuro. 

Não sei se isso basta, se algo que fiz basta para você permanecer.

Eu quero gritar, eu sei que você também quer…

Eu quero ficar, eu vou ficar e quero que você fique, mas fique bem. 

Quero ser seu sol nas manhãs de tempestade.

Não aguento te ver assim, e eu sei que isso também é egoísmo. 

Eu ainda te peço para lutar e mesmo que você não tenha mais força, eu sei que ainda posso ajudar. 

Eu ainda te peço para ficar, quando deveria te deixar partir. 

Eu também te fiz uma promessa, que permaneceria ao seu lado mesmo que você me expulsasse. 

Eu ficaria mesmo se o seu silêncio me machucasse, mesmo se o seu sol se apagasse. 

Eu te fiz tantas promessas, bem mais do que você a mim, eu só queria que tudo terminasse bem, queria ouvir sua voz gritar por uma desventura, queria me perder na sua confusão, eu queria tanto quanto ainda quero. 

Você não pode ir, não agora, não sem sorrir, não sem se lembrar o quão bom são os abraços de fim de tarde. Você não pode ir sem se despedir de todos os seus sonhos, de todos os seus medos. 

Te deixar ir é a pior coisa que posso fazer por mim.