Amor, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, Minhas Crônicas, silêncio, término

We were right till we weren’t


Tudo é transmitido o tempo todo: o amor, a angústia, a traição. Logo as feridas ficam expostas e exigem de si uma reação imediata, como se sua dor fosse plástica, moldável aos anseios de quem te assiste. 

Para todas as pessoas que atravessam o caminho de quem sofre com um término, fiquem, acolham e abracem, não julguem, nada termina ou começa naquele ponto final. 


Terminar é um verbo muito difícil de ser conjugado sózinho e mesmo com a casa tão cheia eu ainda me sinto sózinho.

Ainda escuto o som daquela voz, me dando desculpas para conter meu riso, ainda sinto o toque de quem limpa minhas lágrimas após me fazer chorar, ainda o sinto por perto mesmo estando longe. 

Antes do fim eu me questionava se eu deveria ou não desistir desse nó que éramos nós, mas tudo se apagava quando você aparecia, me trazendo flores, falando sobre como eu me sentia, me fazendo sentir, como se ninguém mais me entendesse. 

Talvez ninguém realmente entenda!

Eu pensava que era minha culpa, achava que você me entendia, que todos os deslizes eram causados por meu desencaixe. 

Tudo dentro de mim sempre doeu, você sabia disso, falava que tudo estava bem, que estaria sempre aqui, era uma mentira que eu precisava acreditar. 

Agora dói ainda mais.

Tudo que sempre foi meio bagunçado, agora parece pior

Fico revisitando cada palavra, cada gesto, cada ausência, não é que eu nunca soubesse, é só que era difícil aceitar.

Me sinto sozinho, mesmo com todos em minha volta.

Uma angústia sobe com os soluços, meu pranto me rasga por dentro, me engasgo, a garganta dói, o peito aperta, me sinto pequeno, sózinho, o medo aumenta, me culpo, me questiono:

Por que deixei isso acontecer?

Por que eu sou assim?

Por que é tão difícil esquecer?

Eu queria que me respondessem o que fiz de errado. Se eu fiz algo de errado. 

As conversas de repente passaram a ser sobre mim, não gosto de ser assim, porque é tudo que sempre tentei evitar transparecer. Todos parecem saber tudo sobre mim, quando nem eu sei. Talvez possam me dizer onde errei, o que tenho que fazer para parar de doer.

Me sinto frágil, talvez eu tenha nascido quebrado, ou talvez tenham me quebrado tanto que agora pareço ser incapaz de remendar meus cacos. Será que existe uma super cola para isso?

Não sei onde comecei a estilhaçar-me, mas olhar para todos esse caos é como não me reconhecer.

Me machuco enquanto tento caminhar sozinho. 

Não para de doer.

Eu sinto cada parte de quem eu sou fugir de mim, ficar pelo caminho.

Quero fugir, fugir de tudo, de todas as conversas, de todos os abraços, de todos os olhares…

Não quero ter que dizer coisas boas, eu não consigo, não há nada de bom para ver aqui.

Procurei minhas roupas e encontrei lembranças. 

Minhas memórias não eram só minhas, e por mais que todos digam que é só apagar, é impossível.

Eu queria dizer que tudo sempre foi bom e que por isso não me importo com as lembranças, mas é mentira.

Talvez a maior mentira tenha sido escrita por mim, eu aceitei, sempre aceito

Dizem que dentro de mim há muita intensidade, que não consigo controlar o que sinto, mas eu controlo, eu tento controlar, tudo fica aqui dentro, guardado, tenho medo que se cansem das minhas palavras.  

Tudo ainda tem aquele cheiro, aquele gosto e ainda sinto aquele toque e isso é como caminhar em um campo minado, parece que tudo que sempre segurei vai explodir a qualquer instante. Não acho que alguém seja capaz de desarmar essa bomba que se encontra no meu peito.

Não quero conversar, não quero falar sobre aquilo que todos já sabem ou ter que contar o que não sabem, não quero ter que sair do lugar seguro que criei para não me machucar mais.

Me sinto uma criança fugindo da tempestade escondida dentro do armário, não quer ter que abrir essa porta. 

Talvez isso seja só o reflexo do cansaço de quem se acostumou a sorrir em concordância, dizer sim mesmo querendo dizer não, não consigo esquecer e esse sempre foi o problema, eu deveria ter gritado quando tive chance. 

Eu prometo que vou tentar apagar tudo, que vou tentar sorrir, que vou tentar fingir estar bem, mas por enquanto eu não consigo, tudo parece desmoronar aqui dentro e é só isso que tenho a oferecer por enquanto. 

Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, Minhas Crônicas

Tempo rei

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, Pai, o que eu ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei

Quando um animal morre em seu habitat, seu corpo se transforma em vida, se transformando em abrigo, comida e refúgio, nós somos animais e o fim nunca é realmente o fim. Para todos os que pensam qual o legado a ser deixado, para todos que precisam deixar-se ir para encontrar a paz.

Música…

Minha vida sempre foi uma música estranha, uma balada que embalava os meus sonhos mais improváveis, eu sonhava acordada e me perdia fácil entre os acordes, não existia como passar por mim sem se perder na melodia que embalava minha vida. Mas as vezes me canso, a música com o tempo se tornou nublada, abafada e desconexa, ainda me perco entre os acordes, mas agora tudo é uma melodia melancólica e abafada…

As tempestades se tornaram frequentes, embalavam meus sonhos e tornavam o amanhã improvável, as melodias antes tão agitadas agora eram alcoólicas, nubladas, um solo de guitarra no meio do silêncio.  Tudo se tornou turbulento, uma despedida entre sorrisos tristes e suspiros cansados. 

Se tudo passa, por qual motivo ainda permaneço aqui, por qual motivo ainda não passou? Cada olhar era uma despedida incansável que eu não queria, mas eu precisava dançar mesmo que eu não quisesse, eles precisavam disso mais do que eu, eu precisava de outra música, outro tom, precisava dançar até cansar todas as músicas que ainda tinham dentro daquela pequena jukebox. 

Retirei meus sapatos, senti a areia da praia, dancei uma música que só eu ouvia, uma melodia inexistente e até mesmo desacreditada entre todos os mortais, eu gritei, um grito miserável, solitário, agudo, era assim que eu me sentia, mesmo aqui, mesmo agora.

Eu atravessei tudo que podia, mergulhei quando insistiam que eu deveria permanecer segura na terra, tive medo de me perder, me perdi, me encontrei, conheci tudo que queria 

Talvez tenha chegado a hora de iniciar uma nova canção, de dançar um novo ritmo, de me despedir da forma certa e deixar as lágrimas rolarem sem as interromper no meio do caminho. 

Talvez agora seja tarde demais para passar, agora eu já não quero que passe, já não quero que vá, eu só quero estar, viver e sentir, não importa por quanto tempo, eu quero deixar uma marca mesmo que não seja o plano inicial, tudo que quero é um tempo maior, mesmo que por um segundo.

O tempo a muito se tornou inconstante, o medo é praticamente solúvel, dissolve os sonhos, o orgulho, o amor, mesmo com tantos abraços, mesmo com todo o carinho, mesmo sentindo tudo que sinto, o amor também é solúvel e por ele eu tento permanecer, porque eu quero sentir mais um pouco de tudo isso. 

Ainda estou aqui, estou na gota de suor, nas lágrimas de despedida, nas palavras de amor, nas paredes desenhadas, no pôr do sol, eu estive, estou, estarei… Não sei por quanto tempo poderei conjugar esse sentimento, mas eu sinto que eu quero existir no agora e se for para ir que seja da melhor forma, eu quero sentir e quero que sintam, quero que me sintam.

Não sinto mais os abraços, o cheiro, o gosto… tudo se perdeu, menos meu eu, ainda estou aqui, sentindo a inexistência de não poder passar, eu queria deixar ir, me deixar ir, ao mesmo tempo que queria apenas sentir. 

O toque antes ágil agora é demorado, guardando a saudade do que não volta. 

De repente sinto-me como água, sinto frio, sinto sede, sinto-me afogando em sentimentos indesejados, em sentimentos de despedida, uma despedida indolor, quente, calma. O relógio não voltou, os ponteiros pararam, todas as despedidas pareciam se fazer presente naquele instante e então tudo passou por mim: Passou o amor, o cheiro, os abraços, o medo e finalmente eu passei.

Ansiedade, cartas, Crônica, Cronicas 24/25, depressão, Minhas Crônicas, silêncio

Era uma vez eu no meio da vida

Para todas as pessoas que se sentem pequenas e perdidas em meio ao mundo. 

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, queria abraçar o mundo, gostava de abraço apertado e conversas no silêncio, sua existência era peculiar, tinha cheiro de saudade e abraços tão aconchegantes quanto a areia da praia. Às vezes ele era céu azul outras tantas tempestade… 

Dentro da sua cabeça existia uma guerra interminável, uma avalanche de palavras que vez ou outra causava um desmoronamento em suas certezas. Quanto mais ele corria, mas aquele eco lhe perseguia, ele tropeçava, caía e se machucava, se machucava sem ninguém ver, secava às lágrimas e continuava a seguir mesmo machucado. A guerra dentro da sua cabeça era barulhenta, e talvez por isso ele tenha aprendido a viver de silêncios. 

Não que ele gostasse do silêncio, pelo contrário, o silêncio incomoda e é dolorido, ele prefere a casa cheia, mesmo que isso também signifique ficar com seu coração vazio. Era uma sensação de ter o sol no inverno, não era suficiente, mas era o necessário, isso bastava. 

Talvez ele nunca tenha se achado suficiente, o que é muito estranho, afinal, ele sempre foi tão cheio de certezas, sempre foi colo e abrigo, como podia não se achar suficiente? É, mas ele não se achava, pelo contrário.

O mundo mundo parecia não o compreender e isso fazia com que aquele menino que parecia tão pequeno crescesse muito rápido, mas era momentâneo, logo ele se sentia pequeno novamente, as palavras doíam, ele não entendia, machucavam mesmo sendo desconhecidos, tudo se misturava dentro de si e ele se perdia em tudo que sentia sobre si mesmo.

Pequenas palavras sempre foram guardadas no dicionário da guerra que existia em sua cabeça, por isso ele detesta jogos de palavras, ele guardava cada verso fora do compasso, cada história mal contada e cada resposta atravessada, é nessas horas que sua cabeça iniciava a guerra, refazendo cada momento como se ele por milagre pudesse ser mudado, era torturante e desgastante. 

Se sentia perdido, brincava de pique sózinho na esperança de alguém o encontrar e ouvir tudo que ele tinha para contar. Ele queria gritar, queria explicar o que estava acontecendo, tudo parecia tão óbvio, mas não era, era difícil buscar tantas palavras, os desmoronamentos aconteciam com frequência dentro de si.

Constantemente respondia que sua cor preferida é a que o céu tem. O mesmo céu que ilumina as tardes frias, é o que causa tempestades devastadoras, e bem, esse menino tem tempestades devastadoras dentro de si, tempestades que ele nunca soube quando começavam ou terminavam. Nunca soube definir o que sentia, talvez se ele tivesse a cor do céu fosse mais fácil. 

Queria que soubessem que seus dias não são só de sol, nem sempre são quentes e aconchegantes, que seu sorriso às vezes é bem enevoado e que suas tempestades acontecem mesmo quando tudo é parecido com uma tarde de verão.

Não tinha como controlar, se sentia culpado por isso, ele passou a ensaiar sorrisos, não que ele não quisesse ficar ali perto de todos aqueles abraços e risos, se sentia triste por não se achar suficiente, passou a sufocar tudo que sentia e sorrir, um riso nublado e incômodo que lhe tira o ar. 

Talvez ele já não soubesse conjugar os verbos: amar, sorrir e viver. Ele apagava constantemente sua conjugação em nome do que ele achava ser o certo para os outros. 

Cultivava o amor, tal qual um florista que insiste em cuidar das rosas sem luvas, se espetava com espinhos e não cuidava dos machucados. Era a única forma de amar que ele conhecia, uma forma dolorida, que escondia o choro mesmo quando visivelmente estava magoado.

Tudo que restava a ele era a busca incansável por alguém que ficasse e entendesse seu silêncio, que não o fizesse sentir um incômodo, que afastasse de si todas as palavras que insistiam em ser repetidas na sua cabeça. 

O peito doía, o corpo amolecia, ele não conseguia sobreviver sem os abraços, tudo cheirava a saudade mesmo com todos ali, se sentia culpado por sua tempestade invadir outros abraços, sentia medo das pessoas cansarem e irem embora sem avisar. Era como ser um passarinho na gaiola, ele não podia voar e seu canto era limitado.

Sempre foi mais fácil lançar palavras para desconhecidos, eles vão embora e não significam nada, mas os conhecidos, esses, ele tem medo de perder, e por isso sobrevive de silêncio, falando o que querem ouvir, sorrindo quando queria se esconder.

Era uma vez um menino, ele nem era tão pequeno assim, sobrevivia das grandes tempestades que existiam dentro de si, vivia dos abraços no acaso e de risos tempestuosos, mas o que ele não sabia é que mesmo com toda a tempestade dentro de si, ele ainda é capaz de produzir dias quentes, quando ele descobrir isso, talvez o medo de deixar suas palavras voarem comece a ir embora…