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A tempestade e o tempo

Tempestade: substantivo feminino Temporal; perturbação atmosférica violenta, geralmente associada à chuva forte, ao granizo, ao vento, aos trovões, raios ou nevascas: tempestade de neve

Sabe uma vez eu ouvi que não há nada mais egoísta do que pedir para uma pessoa que não quer ficar permanecer… Permanecer em um lugar onde nada basta, para que o silêncio e a dor acumulada passe, é algo que não deveria ser cogitado. É preciso ter algo, ou alguém que amenize essa tempestade que acontece aí dentro e você nem sabe explicar.

Todos te pedem para ficar, 

todos te pedem para sorrir, 

todos te pedem para continuar a caminhar…

Mas você não consegue permanecer, não consegue ouvir, não consegue se encontrar ali, das primeiras vezes que ouviu esses clamores você quis acreditar que eles compreenderam, que estariam ao seu lado e que amenizariam a sua dor. Você sorriu, secou suas lágrimas e deitou em sua cama, as promessas de que “estariam com você” serviram para te ninar naquela noite. 

Os dias que se seguiam eram sempre vazios, sem sons, em completa anestesia, não havia barulho que amenizasse o que você sentia, nada te fazia sair do lugar, era tudo tão vago e raso que as palavras deles pararam de fazer sentido, no início o vazio dava espaço a uma quietude que vez ou outra era inundada por afagos rápidos e falsas promessas de que tudo ficaria bem, mas depois se cansaram, foi rápido, foram dias e não semanas… E toda aquela sensação repentinamente afastada dava espaço para uma muito pior, a de se afogar na própria angústia. 

Os dias de tempestade sempre aparecem quando você sente que decepcionou alguém, que não foi suficiente e que não fez o suficiente para que eles permanecessem, era uma inundação que surgia de dentro de você e tomava seu ar, te fazia não respirar ou encontrar palavras, era como se a todo instante você estivesse lutando em ondas revoltas tentando buscar por alguém que segurasse sua mão e te tirasse daquele lugar. Te tirasse de você, afinal você era o mar.

De início tentou se conformar em ficar, mesmo com todo o frio que sentia, tentou permanecer da mesma forma, anestesiada com a própria dor, olhando para um horizonte que parecia não existir, esperava constantemente pelos seus momentos de afogamentos diários, se concentrar em algo já não era suficiente, desviar o foco também não, se sentiu imobilizada, nada do que fazia era dentro do planejado. 

Os passos tortos, os bocejos constantes e os tropeços em palavras era uma rotina que casualmente todos passaram a perceber sem questionar, era como se você constantemente tivesse acabado de passar por uma sessão de mergulho que deu muito errado. No fundo você os entendia, era mais fácil não questionar, suspirava de angústia em meio aos olhares tortos, quanto mais olhares recebia mais parecia não caber dentro de si mesma, era como se constantemente estivesse vestindo uma roupa muito menor que si. 

Recebia algumas mensagens vagas, assim como alguns silêncios, dormia e acordava da mesma forma, continuava a sentir o cansaço, durante as noites pensava em todos os “se” que poderiam ter ocorrido, durante os dias pensava no futuro e em tudo que poderia ter feito para que o futuro não fosse um lugar tão frio e tão desinteressante. Encarar o futuro era como encarar um mar sem saber onde encontrar terra firme. O futuro era como uma noite fria e vazia, onde não existia porto para ancorar seu navio, apenas a promessa de ondas revoltas que te iria afastar da ancoragem. 

Não é como se realmente não quisesse ficar, mas era como se não tivesse motivos para permanecer, o tempo passa diferente na sua cabeça, às vezes os dias são mais curtos do que alguns minutos.  Você repete a mesma cena algumas vezes, e tudo parece uma prisão, alguns dias são melhores do que outros, e alguns outros são como grandes tempestades. 

Nos dias de tempestade você escolhe seu abrigo, e tenta amenizar o barulho dos trovões causados pelos seus pensamentos, se recolhe da forma como aprendeu a fazer desde que descobriu sobre o silêncio que te acompanhava, você respira e o único barulho que realmente escuta é o do seu coração. Não é como se não quisesse ficar, é como se fosse uma eterna tempestade que você não tivesse controle para onde ela vai te levar. 

Nos dias de sol, você continua a respirar fundo e vê todo o estrago da tempestade, seu ânimo não é dos melhores, e angústia volta, só que dessa vez não é por decepcionar os outros, mas sim por decepcionar a si mesmo. O chão parece ser um ótimo abrigo nos dias de sol, você repassa cada passo que deu dentro da tempestade, verifica os joelhos ralados, procura por mensagens de preocupação e encara o silêncio de não saber para onde ir. 

Nunca foi sobre querer ficar ou não, mas sempre foi sobre quem quer que você permaneça, mesmo que nos dias de tempestade, onde tudo que você precisa é de um bote salva vidas que te leve para terra firme e fique com você até todos os barulhos sanarem, até o sol aparecer.

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