
Aos amigos que em silêncio pedem socorro…
Se sintam abraçados.
Eu sei que você queria entender essa dor, que brotou dentro do seu peito de forma tão assustadora que é incapaz de dizer quando começou, foi tudo tão de repente…, um dia você dormiu, colocou a cabeça no travesseiro tranquilamente, e no outro, no outro seu coração parou repassando passo a passo de cada erro seu, de cada sorriso não correspondido, foi tudo abrupto demais, até para você que parecia pensar tão rápido.
Era como se lhe arrancassem o ar e retirassem junto às entranhas, a súbita vontade de gritar tomava conta de sua garganta, mas não saía som, não saía lágrima, não saía nada a não ser a dor, aquela maldita dor que te impedia de ter qualquer reação.
Seus olhos pareciam doer mais do que o normal, sua vontade de permanecer de pé parecia desaparecer, o choro se tornou tão latente que a cada soluçar você parecia se despedaçar, não existia “eu te amo” que te fizesse sair daquele espaço onde se sentia seguro, enrolou-se nos lençóis e sufocou o primeiro grito enquanto se encolhia esperando por uma ajuda que nunca veio.
De forma súbita você ia desaparecendo, seu sorriso ia se esvaindo e deixava no lugar um leve levantar de lábios que dói cada vez que você tenta mascarar sua dor. De certa forma suas palavras também desapareciam, suas certezas iam embora a cada pequena tempestade dentro de si e aquelas malditas lembranças se tornavam tudo que restou.
Tentou engolir o choro e não adiantou, tentou esconder suas palavras e tudo que conseguiu foi às deixar sair de forma torta, era quase como se rosnasse, se defender do mundo foi a forma que encontrou para minimizar os ferimentos que ninguém enxergava, você focou naquilo que achava que era bom, que não podia criar decepções e se afundou ali, naquele lugar tão desproporcional a você, você começou a sentir que nem ali você cabia, mas era só aquilo que lhe cabia.
Você já não se reconhecia, seu silêncio silenciava suas verdades, deixava sair apenas aquilo que queriam ouvir, respirava fundo buscando o ar, tentando se reconhecer em meio a toda aquela fantasia que criava, minimizou sua dor, estancou seus medos e se segurou em meio a incertezas, seu frágil coração vez ou outra demonstrava que aquilo não era certo, deixava cair a cada dia um pedaço do que um dia foi.
Se olhar no espelho se tornou tão complicado quanto olhar para as roupas abandonadas no fundo do armário, roupas que não lhe servem, mas que você deixava ali, se recusando a se desfazer daquelas lembranças.
Você se encarava e não se reconhecia, o tempo passava, o choro te afogava, o soluço te impedia de respirar, era como encarar o passado e se perguntar o que ele tinha feito com você, a tortura permeava seus dias e você sentia vontade de esmigalhar aquele maldito vidro. Você repelia toda e qualquer circunstância que pudesse abalar o mundo frágil construído por você.
Olhar o relógio era uma lembrança constante que o tempo não voltava, os ponteiros não andavam na direção contrária, respirar fundo se fazia cada dia mais presente, e você não sabia se queria que o tempo passasse mais rápido ou mais devagar, afinal você parecia se afogar dentro de si mesmo, todo dia que amanhecia parecia um convite para ancorar sua vida em outro porto e modificar seu percurso.
Era um convite constante que passava por sua cabeça, um convite que você nunca seguia, um convite repleto de incertezas em um mundo construído com cartas tortas que a qualquer vento poderia derrubar, era um mundo repleto de lembranças que iam e voltavam com a mesma velocidade que os ponteiros do relógio andavam.
Você queria aceitar, eu sei que queria, mas era tão difícil, você tinha medo de tudo desabar com tamanha velocidade que seria impossível as colocar no lugar sozinho, afinal você realmente se achava sozinho, seu choro não era ouvido, e seus medos pareciam te trancar em uma sala deserta e escura sem portas ou janelas, ninguém parecia te ouvir, ninguém parecia ligar, era doloroso demais se encontrar sozinho em um mundo onde verdades são silenciadas e sorrisos falsos se tornam verdadeiros, você se engasgava forte com suas dores, e se despedaçava sem ninguém perceber, ancorar em outro porto exigia uma coragem que você não sabia ter.
Você respirava fundo buscando soluções para tudo que sua mente tão ágil reproduzia de forma tão insana, não sentiu o abraço, ignorou os pedidos de calmaria e correu em direção contrária ao mundo, mentiu quando perguntaram qual era o problema, disse não quando queria dizer sim, a sensação de casa cheia e coração vazio nunca deixou você.
Se eu fosse te dar um conselho seria para se ouvir e desabar você mesmo esse castelo de cartas tortas, desaba, ele já tá bambo a muito tempo, deixa cair as lágrimas, o medo e as incertezas, se já não te cabe mais por qual motivo continuar no mesmo lugar?
Respira devagar, você vai conseguir. Olha para trás e vê tudo que você já construiu, você tem sorte, tem mãos que vão te reerguer quando cair, pode ancorar em qualquer porto que você não vai deixar para trás suas conquistas, mas também vai levar junto suas lembranças, lembranças boas e ruins, elas são parte de quem você é, se o castelo realmente desabar, você vai juntar carta a carta e remontar aquele castelo, montar de uma forma que te agrade, que você se encaixe e se reconheça ali dentro. Vai construir e reconstruir esse castelo até você se reconhecer como parte dele.