Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, depressão, escolhas, Minhas Crônicas, Opinião, Saúde, silêncio

Filme antigo.

Ainda é cedo amor

Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora de partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

(Cartola)

Aos que se perdem no tempo e perdem tempo…

Algumas vezes seu relógio não marca as horas da forma correta, é como se o seu tempo não fosse cronológico, tem dias que seus minutos duram mais do que horas e outros tantos, suas horas passam mais rápido do que os segundos. É como olhar o mundo, seu mundo, sentado diretamente na cadeira de um cinema vazio, sem ninguém do seu lado, é como ser um espectador da própria vida. 

De repente não mais do que de repente, sua vida antes tingida de tantas cores parece ter virado um eterno filme em preto e branco, sem som, sem direção, a imprevisibilidade passou a fazer parte dos seus dias, você deseja que aquele longo e cansativo filme acabe mas ele não acaba ele se arrasta. Às vezes você assiste ao filme, outras tantas você se transforma em uma personagem coadjuvante que ninguém percebe por ali, uma personagem que arrasta uma longa corrente por todo o filme, é esse seu único enredo, ninguém repara nela, ninguém para, e todos os outros personagens evoluem, mas ela não.

Você percebe que parou e o mundo continuou a girar, todos a sua volta continuam da mesma forma seguindo com suas vidas, tropeçando em você e seguindo sem perguntar se estava tudo bem. As pessoas não param, não perguntam, apenas seguem, elas não querem perder tempo, elas não querem ter suas vidas estacionadas apenas por tropeçar em você. Quando você finalmente consegue se mexer, você percebe que o tempo passou, que ele correu e você nem percebeu. 

É uma batalha perdida, não tem como lutar contra o tempo, de alguma forma você não sabe como começou a se sentir assim, se foi algo de agora ou de muito antes de você se tornar adulto, mas aconteceu e agora tudo que você consegue fazer é assistir a esse filme que se repete dia após dia, você às vezes ri de forma involuntária, as piadas são sem graça mas você apenas faz, para não perder o costume, para que não percebam que as coisas mudaram. 

Algumas vezes é difícil manter o disfarce, e você desaba, e é como se aquele filme desastroso estivesse em um aparelho quebrado, ele é rebobinado várias e várias vezes para que você pudesse lembrar suas derrotas, seus medos e seus erros. Você desaba e se afoga naquele sentimento, não consegue escapar daquela correnteza, se sufoca, se esconde e se machuca. 

Seus suspiros são de desespero, afinal durante tantos anos o medo era tudo que você queria evitar e agora parece que de forma inevitável tudo que você tem pela frente é isso, o medo, o medo constante de se afogar e não ter ninguém ao seu lado, o medo de se tornar um eterno espectador da sua vida. O medo finalmente bateu à sua porta e se mostrou um hóspede bastante exigente, faz festas assustadoras que te tiram o sono, involuntariamente você tenta o expulsar, mas é como se aquela casa não fosse sua e você não tivesse direito a opiniões sobre quem vai ou quem fica. É um medo frio, vazio e silencioso, que te faz ficar doente. 

Viver se tornou sinônimo de esperar, você espera de forma impaciente para que aquela sensação vá embora e seus anseios que antes eram minimizados, se tornam cada vez mais presentes em sua vida. Você questiona o que faria se não tivesse tantos medos.

Dúvidas realmente pairam sobre a sua cabeça, será que as coisas mudaram e deixaram de ser tão prazerosas? Será que um dia elas foram realmente prazerosas? Constantemente sua cabeça roda e você se esquiva de dar respostas para perguntas que sabe que deveriam ser feitas. 

É complicado, seu tempo que antes era só seu, agora pertence a outras pessoas e você não sabe lidar bem com isso, sua cabeça entra em uma guerra constante para conseguir estabelecer objetivos. Tudo parece um eterno conta gotas de um remédio de gosto amargo, as gotas caem devagar e parece que nunca vai chegar a contagem final, você se angustia com aquela sensação de espera eterna. Você tenta ter paciência, tenta esperar, tenta desacelerar sua vida, mas se irrita fácil com o ritmo das gotas, elas caem devagar e parecem te machucar sempre. 

Não existe uma posologia para viver a vida, e por isso você se irrita constantemente pelo ritmo como as gotas caem, é vagaroso demais e você não se concentra naquilo, perde o foco, a contagem e não lida com o erro causado pelo seu cansaço de viver esse filme tão solitário. 

Constantemente você se força a dizer “tenho que continuar”, mas é um mantra falho, seu tempo que por vezes passa tão arrastado parece te impedir de continuar, parece te impedir de assistir esse filme solitário ao lado de outras pessoas, você anseia pelo final sem perspectiva de que ele se torne feliz, afinal você ultimamente dúvida do que é realmente felicidade. 

Por qual motivo você continua? Por qual motivo você não consegue ir por outro caminho, seguir por outra curva? Você se sente perseguido de forma constante pelo medo de errar… 

Sua mente tem muitos barulhos que não são seus, você diz sim quando sabe que deveria dizer não, utiliza vírgula onde deveria haver um ponto final, você escreve parágrafos novos para um assunto que já deveria ter terminado. 

Reinicia, olha para trás e respira, respira forte e tenta fazer o melhor que pode fazer, não o que você acha que as pessoas esperam que seja o melhor. A vida não vai parar, os minutos não vão voltar, mas você pode revisitar seus bons momentos, eles houveram, pode rir dos erros, comemorar as pequenas vitórias, mas não ultrapasse seus limites a vida é como um filme muito antigo, se você rebobinar ou avançar muito rápido, a fita agarra, o filme embola e tudo que vai restar é um drama mexicano como uma recordação que você não vai querer lembrar.

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A tempestade e o tempo

Tempestade: substantivo feminino Temporal; perturbação atmosférica violenta, geralmente associada à chuva forte, ao granizo, ao vento, aos trovões, raios ou nevascas: tempestade de neve

Sabe uma vez eu ouvi que não há nada mais egoísta do que pedir para uma pessoa que não quer ficar permanecer… Permanecer em um lugar onde nada basta, para que o silêncio e a dor acumulada passe, é algo que não deveria ser cogitado. É preciso ter algo, ou alguém que amenize essa tempestade que acontece aí dentro e você nem sabe explicar.

Todos te pedem para ficar, 

todos te pedem para sorrir, 

todos te pedem para continuar a caminhar…

Mas você não consegue permanecer, não consegue ouvir, não consegue se encontrar ali, das primeiras vezes que ouviu esses clamores você quis acreditar que eles compreenderam, que estariam ao seu lado e que amenizariam a sua dor. Você sorriu, secou suas lágrimas e deitou em sua cama, as promessas de que “estariam com você” serviram para te ninar naquela noite. 

Os dias que se seguiam eram sempre vazios, sem sons, em completa anestesia, não havia barulho que amenizasse o que você sentia, nada te fazia sair do lugar, era tudo tão vago e raso que as palavras deles pararam de fazer sentido, no início o vazio dava espaço a uma quietude que vez ou outra era inundada por afagos rápidos e falsas promessas de que tudo ficaria bem, mas depois se cansaram, foi rápido, foram dias e não semanas… E toda aquela sensação repentinamente afastada dava espaço para uma muito pior, a de se afogar na própria angústia. 

Os dias de tempestade sempre aparecem quando você sente que decepcionou alguém, que não foi suficiente e que não fez o suficiente para que eles permanecessem, era uma inundação que surgia de dentro de você e tomava seu ar, te fazia não respirar ou encontrar palavras, era como se a todo instante você estivesse lutando em ondas revoltas tentando buscar por alguém que segurasse sua mão e te tirasse daquele lugar. Te tirasse de você, afinal você era o mar.

De início tentou se conformar em ficar, mesmo com todo o frio que sentia, tentou permanecer da mesma forma, anestesiada com a própria dor, olhando para um horizonte que parecia não existir, esperava constantemente pelos seus momentos de afogamentos diários, se concentrar em algo já não era suficiente, desviar o foco também não, se sentiu imobilizada, nada do que fazia era dentro do planejado. 

Os passos tortos, os bocejos constantes e os tropeços em palavras era uma rotina que casualmente todos passaram a perceber sem questionar, era como se você constantemente tivesse acabado de passar por uma sessão de mergulho que deu muito errado. No fundo você os entendia, era mais fácil não questionar, suspirava de angústia em meio aos olhares tortos, quanto mais olhares recebia mais parecia não caber dentro de si mesma, era como se constantemente estivesse vestindo uma roupa muito menor que si. 

Recebia algumas mensagens vagas, assim como alguns silêncios, dormia e acordava da mesma forma, continuava a sentir o cansaço, durante as noites pensava em todos os “se” que poderiam ter ocorrido, durante os dias pensava no futuro e em tudo que poderia ter feito para que o futuro não fosse um lugar tão frio e tão desinteressante. Encarar o futuro era como encarar um mar sem saber onde encontrar terra firme. O futuro era como uma noite fria e vazia, onde não existia porto para ancorar seu navio, apenas a promessa de ondas revoltas que te iria afastar da ancoragem. 

Não é como se realmente não quisesse ficar, mas era como se não tivesse motivos para permanecer, o tempo passa diferente na sua cabeça, às vezes os dias são mais curtos do que alguns minutos.  Você repete a mesma cena algumas vezes, e tudo parece uma prisão, alguns dias são melhores do que outros, e alguns outros são como grandes tempestades. 

Nos dias de tempestade você escolhe seu abrigo, e tenta amenizar o barulho dos trovões causados pelos seus pensamentos, se recolhe da forma como aprendeu a fazer desde que descobriu sobre o silêncio que te acompanhava, você respira e o único barulho que realmente escuta é o do seu coração. Não é como se não quisesse ficar, é como se fosse uma eterna tempestade que você não tivesse controle para onde ela vai te levar. 

Nos dias de sol, você continua a respirar fundo e vê todo o estrago da tempestade, seu ânimo não é dos melhores, e angústia volta, só que dessa vez não é por decepcionar os outros, mas sim por decepcionar a si mesmo. O chão parece ser um ótimo abrigo nos dias de sol, você repassa cada passo que deu dentro da tempestade, verifica os joelhos ralados, procura por mensagens de preocupação e encara o silêncio de não saber para onde ir. 

Nunca foi sobre querer ficar ou não, mas sempre foi sobre quem quer que você permaneça, mesmo que nos dias de tempestade, onde tudo que você precisa é de um bote salva vidas que te leve para terra firme e fique com você até todos os barulhos sanarem, até o sol aparecer.

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Barulho de saudade

Em algumas línguas como o espanhol Saudade significa “Nostalgia de casa”, no nosso idioma, significa “um desejo melancólico e nostálgico por uma pessoa, lugar ou coisas, que estão longe, quer no espaço, quer no tempo”

Aos desconhecidos que sentem saudade, saudade de quem se ama e de quem um dia foi a sua casa…

De repente, não mais do que de repente, tudo fica silencioso e por mais barulhento que possa ser do lado de fora, aqui dentro, tudo parece que foi invadido por um turbilhão de emoções, consigo ouvir o ritmo frenético da batida do meu coração fora de ritmo, é algo que eu já deveria ter me acostumado, prendo a respiração de maneira não intencional, sinto meu olho inundar, a sede imediatamente me acomete, quero fugir, mas me sinto preso nessa imensidão que são meus sentimentos. 

É como se tudo voltasse, menos você. Não entendo o motivo, já se passou tanto tempo, não entendo os gatilhos, na verdade eu não entendo nada, e tudo parece me afogar. A cada instante é como se eu tivesse mergulhado em um mar revolto e não conseguisse voltar para a superfície, sinto algo me puxar para baixo, sinto a água me invadindo, sinto a dor em meu peito. 

Eu sou racional demais, mas ainda assim é dessa forma como me sinto, minhas mãos tremem, e eu me sinto desprotegido, não ouço ninguém porque parece que o silêncio se apoderou de mim, ninguém me ouve, ninguém me enxerga, me sinto ainda mais encolhido, eu não queria sentir, não eu não queria sentir…

Tudo que sinto nessa hora é saudade, saudade de te ouvir sussurrar que me amava, do seu abraço, de estar ao seu lado e de brincar de pique esconde até você me encontrar e me pôr em seus braços. Parece que eu sou uma criança esperando eternamente você me encontrar, esperando você chegar e me pedir desculpas por ter demorado demais…

Nesses dias eu sinto seu toque em meus ombros, como se você ainda estivesse aqui, aperto meus olhos, me encolho no primeiro apoio que encontro, me toco para te tocar, você não estava aqui, não tinha cheiro, não tinha abraço e tudo que restou foi um soluço abafado em meio a dor de não poder te ter novamente. 

Eu sinto raiva, sinto vontade de gritar, o desespero me consome e se mistura a minha saudade é algo angustiante demais para lidar sozinho, é algo que eu não sei controlar, mordo meus lábios, aperto meus braços, estrangulo meu coração, a dor não passa, o ruído em meu ouvido também não, ainda é como se eu ouvisse sua voz ninando minhas angústias e me dizendo que tudo ficaria bem. Mas nada ficaria bem, você não está aqui. 

Queria ter conversado mais, e não ter fugido dos seus abraços, queria ter atendido quando você me chamou, queria não sentir o que sinto, ter me despedido com calma e ter te agarrado para não ir, queria poder te ter todos os dias, principalmente nesses em que me sinto tão criança, quando preciso tanto do seu colo, quando tudo que quero é me esconder na sua cama.

Com você eu não tinha medo, eu não tinha saudade, não me faltava o ar para traduzir as palavras que tanto me prendem. A garganta sempre entalada pelo medo que me sufoca, a dor súbita me afoga, eu tento, você sabe que eu tento, mas às vezes eu não consigo. 

Chove lá fora, o vento frio toca minha pele, sinto seu cheiro e tenho certeza que não é a última vez, me afundo ainda mais naquela parede, o choro vem forte, o medo de não conseguir finalmente transborda para fora, eu não tenho para onde ir, nem onde me esconder, eu sinto que quero ser forte, eu sinto que poderia ser forte, mas me falta força. 

Se eu te pedir perdão será que você me escuta? Se eu te contar segredos, será que você me abraça? Eu quero te dizer como são os dias, como são os meus dias, nem todos são bons, mas eu faço o possível para conseguir levantar e me pôr de pé, mesmo sem você. Eu tento, você sabe que eu tento. 

Eu tento me lembrar do seu sorriso, do seu toque e do seu apego, eu quero não te esquecer, não esquecer do que você me ensinou e do que eu te ensinei. As lágrimas caem com um pouco menos de força enquanto me lembro de você, enquanto me lembro de como você me abraçava para que eu permanecesse aqui, para que eu continuasse, você acreditou em mim quando nem eu mesmo acreditei, então eu tenho que continuar…

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Castelo de cartas

Aos amigos que em silêncio pedem socorro…

Se sintam abraçados.

Eu sei que você queria entender essa dor, que brotou dentro do seu peito de forma tão assustadora que é incapaz de dizer quando começou, foi tudo tão de repente…, um dia você dormiu, colocou a cabeça no travesseiro tranquilamente, e no outro, no outro seu coração parou repassando passo a passo de cada erro seu, de cada sorriso não correspondido, foi tudo abrupto demais, até para você que parecia pensar tão rápido.

Era como se lhe arrancassem o ar e retirassem junto às entranhas, a súbita vontade de gritar tomava conta de sua garganta, mas não saía som, não saía lágrima, não saía nada a não ser a dor, aquela maldita dor que te impedia de ter qualquer reação. 

Seus olhos pareciam doer mais do que o normal, sua vontade de permanecer de pé parecia desaparecer, o choro se tornou tão latente que a cada soluçar você parecia se despedaçar, não existia “eu te amo” que te fizesse sair daquele espaço onde se sentia seguro, enrolou-se nos lençóis e sufocou o primeiro grito enquanto se encolhia esperando por uma ajuda que nunca veio.

De forma súbita você ia desaparecendo, seu sorriso ia se esvaindo e deixava no lugar um leve levantar de lábios que dói cada vez que você tenta mascarar sua dor. De certa forma suas palavras também desapareciam, suas certezas iam embora a cada pequena tempestade dentro de si e aquelas malditas lembranças se tornavam tudo que restou.

Tentou engolir o choro e não adiantou, tentou esconder suas palavras e tudo que conseguiu foi às deixar sair de forma torta, era quase como se rosnasse, se defender do mundo foi a forma que encontrou para minimizar os ferimentos que ninguém enxergava, você focou naquilo que achava que era bom, que não podia criar decepções e se afundou ali, naquele lugar tão desproporcional a você, você começou a sentir que nem ali você cabia, mas era só aquilo que lhe cabia. 

Você já não se reconhecia, seu silêncio silenciava suas verdades, deixava sair apenas aquilo que queriam ouvir, respirava fundo buscando o ar, tentando se reconhecer em meio a toda aquela fantasia que criava, minimizou sua dor, estancou seus medos e se segurou em meio a incertezas, seu frágil coração vez ou outra demonstrava que aquilo não era certo, deixava cair a cada dia um pedaço do que um dia foi.

Se olhar no espelho se tornou tão complicado quanto olhar para as roupas abandonadas no fundo do armário, roupas que não lhe servem, mas que você deixava ali, se recusando a se desfazer daquelas lembranças. 

Você se encarava e não se reconhecia, o tempo passava, o choro te afogava, o soluço te impedia de respirar, era como encarar o passado e se perguntar o que ele tinha feito com você, a tortura permeava seus dias e você sentia vontade de esmigalhar aquele maldito vidro. Você repelia toda e qualquer circunstância que pudesse abalar o mundo frágil construído por você.

Olhar o relógio era uma lembrança constante que o tempo não voltava, os ponteiros não andavam na direção contrária, respirar fundo se fazia cada dia mais presente, e você não sabia se queria que o tempo passasse mais rápido ou mais devagar, afinal você parecia se afogar dentro de si mesmo, todo dia que amanhecia parecia um convite para ancorar sua vida em outro porto e modificar seu percurso. 

Era um convite constante que passava por sua cabeça, um convite que você nunca seguia, um convite repleto de incertezas em um mundo construído com cartas tortas que a qualquer vento poderia derrubar, era um mundo repleto de lembranças que iam e voltavam com a mesma velocidade que os ponteiros do relógio andavam. 

Você queria aceitar, eu sei que queria, mas era tão difícil, você tinha medo de tudo desabar com tamanha velocidade que seria impossível as colocar no lugar sozinho, afinal você realmente se achava sozinho, seu choro não era ouvido, e seus medos pareciam te trancar em uma sala deserta e escura sem portas ou janelas, ninguém parecia te ouvir, ninguém parecia ligar, era doloroso demais se encontrar sozinho em um mundo onde verdades são silenciadas e sorrisos falsos se tornam verdadeiros, você se engasgava forte com suas dores, e se despedaçava sem ninguém perceber, ancorar em outro porto exigia uma coragem que você não sabia ter. 

Você respirava fundo buscando soluções para tudo que sua mente tão ágil reproduzia de forma tão insana, não sentiu o abraço, ignorou os pedidos de calmaria e correu em direção contrária ao mundo, mentiu quando perguntaram qual era o problema, disse não quando queria dizer sim, a sensação de casa cheia e coração vazio nunca deixou você. 

Se eu fosse te dar um conselho seria para se ouvir e desabar você mesmo esse castelo de cartas tortas, desaba, ele já tá bambo a muito tempo, deixa cair as lágrimas, o medo e as incertezas, se já não te cabe mais por qual motivo continuar no mesmo lugar?

Respira devagar, você vai conseguir. Olha para trás e vê tudo que você já construiu, você tem sorte, tem mãos que vão te reerguer quando cair, pode ancorar em qualquer porto que você não vai deixar para trás suas conquistas, mas também vai levar junto suas lembranças, lembranças boas e ruins, elas são parte de quem você é, se o castelo realmente desabar, você vai juntar carta a carta e remontar aquele castelo, montar de uma forma que te agrade, que você se encaixe e se reconheça ali dentro. Vai construir e reconstruir esse castelo até você se reconhecer como parte dele.

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Escute o seu silêncio

É necessário entender silêncios, entenda seu silêncio e aprenda com ele, às vezes seu corpo grita aquilo que você tanto quer esconder. Se escute meu bem, se ouvir dói, mas é necessário. 

Não somos mais jovens, não somos crianças a opção colo não existe no nosso vocabulário, não tem para onde correr, não tem com quem chorar, não tem o que fazer a não ser tentar compreender essa dor, esse peso que nasceu bem no meio do seu peito e que de forma tão poética quase esmaga seu coração. 

Nada parece suavizar o que você sente, porque o que você sente não é algo de agora, e aquela maldita dor é tão maldita que arrasta com ela lembranças indesejadas que você nem sabia que tinha. 

Sorrir já não é suficiente, e incrivelmente uma culpa súbita por algo que você não é capaz de controlar te consome, te faltam palavras para descrever o que é essencial, te falta ânimo para fazer o que antes era tão prazeroso, te falta tempo para compartilhar os pequenos prazeres da vida. 

Não é como se você não amasse viver, não é como se você não se importasse, mas é como se o mundo não se importasse com você, como se o seu desespero fosse só seu, como se o seu silêncio fosse algo tão incomum e tão indesejado que ninguém ousa quebrar. Às vezes você queria que o quebrassem, que gritassem com você e que te dessem respostas.

Repentinamente olhar no espelho ao acordar se torna algo cansativo, se torna algo tão banal que você se nega a encarar aquilo que se tornou, mesmo com todo mundo te falando o quão incrível você é, ainda assim, você não se encara, alguma coisa dentro de você diz que tá cansada, tá cansada de tudo que sua vida se tornou, tá cansada de todos os ciclos que se repetem, de todos os medos, de todas os dias que se repetem e que durante noites tomam seus sonhos. 

Respirar se torna uma tarefa tão árdua que você se engasga com as próprias palavras e se perde em pensamentos, o tempo se torna seu inimigo e a todo instante parece que você perde um pouco mais de tempo, é uma busca desesperada por um tempo que já passou. 

Respira, respira, vai passar, sempre passa, sempre passou, na sua vida nada nunca foi fácil, e você sempre cuidou do mundo e esqueceu de você, se dê de presente um tempo, um tempo para reaprender a respirar, para reaprender a se amar, para reaprender a se ouvir. Se escute, escute seus instintos, se ame, se abrace. É o seu tempo, um tempo que voa e que não volta. 

Não aprisione seus sentimentos, porque eles se instalam e criam morada aí no seu peito, e quando menos você esperar, eles surgem, eles transbordam, eles gritam para você os libertar. Se cuide, se cuide muito bem, porque no fim de todas as contas, só você sabe o que é preciso para se curar de tantas e tantas dores. 

No fim de todas as contas, mesmo com remédios, festas, amores, ainda vai existir a dore, e essa dor, é só sua, é uma carga que ninguém pode entender além de você. Se cuide mais do que cuida dos outros. 

Fique Bem.