NETFLIX, Resenha, Série, Série, Sem categoria

Rebelde: Lo que no fue no será

Logo da série da Netflix/2021

Eu não sou boa em escrever resenha, porém após assistir a primeira e a segunda temporada de Rebelde(2022/Netflix), isso me fez ficar um tanto quanto reflexiva sobre o que é considerado qualidade nos dias atuais, e sim eu gostei da construção da história, as atuações foram impecáveis (um salve para a talentosa Giovanna Grigio), a escalação de um elenco tão diversificado é um acerto essencial no século XXI, sem dúvida é uma série que cativa, apesar de pecar na superficialidade que trata suas tramas.

Eu sempre fui fascinada pelas artes cênicas, o poder de transmitir ao outro uma informação/sentimento apenas com o corpo sem dizer uma única palavra vivendo algo que não faz parte de você, criando sensações em desconhecidos que te assistem, é sim algo fascinante e ainda assim perturbador.

elenco principal da série

Pensando em metas e objetivos, quais são os dessa versão de Rebelde? Particularmente eu responderia que é apresentar alguns talentos que não eram tão conhecidos (não para um público Netflix) dentro de um ambiente nostálgico, afinal inegavelmente mesmo que a trama se torne atual ainda assim se mistura com as narrativas da versão Mexicana de 2004/2006

Adolescentes complicados, relações familiares complexas sempre deram um bom enredo e geraram uma certa identificação, mesmo que a maioria dos personagens venham de uma realidade social diferente da do público que está assistindo. Voltando a série, eu achei formidável a ideia de recriar o EWS, quase 17/18 anos depois, foi espetacular mostrar o que aconteceu com a instituição em consequência da ação da criação da banda Rebelde, a nova versão é mais sobre o EWS do que sobre Rebelde, o ambiente ganhou um programa de excelência musical considerado o melhor pelo público latino, mas não é só isso, ganhou também outros programas como o de administração e robótica, estudar lá ou em qualquer outra filial é se encontrar entre os melhores.

Primeiro dia de aula Emilia (Giovanna Grigio) apresentando o EWS

Se considerarmos então o foco da série como o EWS e o desenvolvimento dos personagens dentro dessa instituição podemos então considerar que ter apenas dez episódios por temporada, se torna algo impossível explorar todas as narrativas expostas ali, e limita os enredos a ficarem dentro do ambiente do EWS. Se têm personagens principais e uma penca de personagens secundários que possuem narrativas que mereciam ser trabalhadas com mais afinco, em uma novela com toda certeza seriam bem mais exploradas.

Pôster Rebelde 2004/2006 – México

A versão Mexicana (2004/2006) que a maioria de nós conhece possui 440 episódios e 3 temporadas, manter o sucesso e a qualidade durante tanto tempo e de forma tão linear fez com que a novela, mesmo sendo uma obra inspirada em uma versão argentina chamada de Rebelde Way (Cris Morena/2002-2003), se tornasse então a mais conhecida das versões. A versão Mexicana se tornou a fórmula do sucesso, as adaptações que vieram depois se baseiam no sucesso da versão Mexicana para assim tentar alcançar seu próprio sucesso, a versão atual de Rebelde (2021-2022/Netflix) deixa isso muito claro, ela traz elementos de nostalgia ao público a todo instante, os uniformes, a rivalidade entre as personagens principais, Colucci, Celina, Pilar e as histórias dos seis membros da Rebelde que rondam a trama como um fantasma

Pilar e Celina

Esse revival mantém viva a história de 2004 como se nada tivesse terminado, mantendo acesa a chama de todo fã do RBD que sonha com a volta do grupo e novas turnês, foi uma jogada muito inteligente, mesmo que os membros do grupo sejam apenas mencionados, ainda assim eles se encontram presentes nas narrativas, mas isso é suficiente?

Mesmo com episódios relativamente longos é muito fácil em um fim de semana de folga maratonar as duas temporada, se é fácil maratonar, significa que tem potencial para ser um viral. É uma história com enredo próprio, que mistura os problemas atuais com narrativas já conhecidas, e para mim o problema é exatamente esse, são tantas histórias para cada personagem que dez episódios se torna muito pouco tempo para as explorar, as histórias não tem continuidade, tudo é tão rápido, que até as músicas ganham uma interpretação rápida, e é por isso que para mim o personagem principal é o EWS, todas as narrativas morrem fora da instituição. 

Vou dar um exemplo da minha interpretação favorita, Franco Masini para mim ganhou o personagem com mais potencial para ter uma trama explorada, entretanto não foi o que aconteceu. São tantas ramificações para serem exploradas que ao longo da primeira temporada eu fiquei esperando esse desenvolvimento que não aconteceu de forma tão profunda assim, afinal são dezenas de histórias, dez episódios e entorno de 35 minutos em cada episódio, particularmente eu esperava mais conflitos entre Luka Colucci e Marcelo (o pai), por exemplo o mecanismo de defesa de Luka, é ter um comportamento vilanesco com o resto do mundo, tá sempre atacando para não ser atacado, se alia a seita, e essa aliança com um grupo suspeito só porque ele quer vencer e se mostrar o melhor, não faz sentido, ele tinha uma banda que estava vencendo e por mais que ele não gostasse da Jana, ainda assim eles eram um grupo com muito potencial, no primeiro episódio Luka tem uma das interpretações mais tocantes do episódio, a cena em que ele canta “Lo que no fue no será” para o pai, é algo tão carregado de emoção que merecia um desenvolvimento tão maior do que teve…

Franco Masini como Luka (Rebelde/2021-2022)

Mas por qual motivo Luka se torna o meu personagem preferido? Simples, Franco interpreta Luka com tamanha perfeição que até mesmo os olhos falam por ele, isso compensa a falta de desenvolvimento do enredo, se houvesse um pouco mais de tempo de tela para esse desenvolvimento poderíamos ver um pouco do emocional de um adolescente que quer o amor e aceitação do pai, que não consegue estabelecer vínculos de amizade, que teve sua sexualidade exposta contra a sua vontade, que demonstra uma afeição com o álcool para fugir dos problemas e que se apega a qualquer possibilidade de mostrar o seu valor e realizar suas ambições, mesmo que isso o machuque ou machuque outros e se somar tudo isso ao fato de que ele traiu os amigos e depois os ajudou e ainda ganhou um irmão bastardo que é filho da sua ex professora de piano, o personagem seria uma grande bomba relógio, no mínimo ele deveria ter tido uma crise de ansiedade, mas não é o que acontece, o rapaz é inabalável, cabendo a Franco Masini interpretar Luka até com o último fio de cabelo do corpo, diminuindo o tom de voz, brincando com o olhar, ora reprimido, curioso e revelador.

Se levarmos em conta que toda história é como uma grande árvore, Rebelde é uma árvore com um tronco gigante e muitos galhos e ramificações, se tivessem podado alguns galhos do enredo, aprofundado a emoção e as relações dos personagens nos galhos que sobraram, mostrando a consequência de cada reação a história se tornaria ainda melhor e até mesmo um pouco mais contínua. 

Deixe um comentário