Amor, Ansiedade, cartas, Crônica, Minhas Crônicas

Tórrido : Saudade

Tórrido, adjetivo:. quente em excesso; ardente.

Saudade, substantivo feminino: sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas

Preciso te dizer que eu errei.

Preciso te dizer que depois que eu te vi, eu me peguei pensando no que eu ainda não tinha vivido, fantasiei nosso amor, nossa casa e nossos filhos.

Preciso te dizer que eu também já te disse “eu te amo”, mas foi um engano, você nem me ouviu, mas ainda assim, mesmo sem me ouvir, você sorriu para mim.

Eu desejei ter suas mãos na minha cintura e minhas pernas circundando a sua, desejei teus lábios colados nos meus, desejei te deixar desnudo, prensado na parede, com meus lábios descendo por teu corpo. Eu desejei tanto que um dia cedi a eles e os transformei em realidade.

Preciso te dizer que era desejo.

Eu te olhei e cobicei o que não era meu, te disse eu te amo quando ninguém ouviu. Falei que seria meu quando não pertencias a ninguém, te apertei na parede e troquei minha respiração com a sua enquanto nos beijávamos.

Era uma noite tórrida no fim das contas…, mas eu me lembro de cada instante daquele pequeno e insistente momento.

Eu disse que não passaria daquilo, menti, voltei para os teus braços enquanto aproveitava teu abraço e desabotoava teus botões, te tirei a roupa e desci meus lábios por teu corpo, te jurei mentiras enquanto rodava minha saia e te arrastava para a cama.

Você me olhou em meio a surpresa e por leves instantes eu pensei que recuaríamos, mas eu estava mais uma vez errada, você me pegou pela mão e me puxou até o colchão.

Rolamos na cama em meio ao nosso riso, trocamos nosso olhar e compartilhamos segredos sem dizer uma única palavra.

Senti tua mão na alça da minha blusa enquanto perdia mais uma vez teus lábios por meu torço. Quando dei por mim eu já estava nua tentando com minhas mãos encontrar um lugar no seu corpo enquanto te olhava do alto do seu colo, sentada em sua cintura.

Era uma visão perfeita dos seus olhos, seu corpo virou meu mapa e suas mãos naquele instante se tornaram minhas guias.

Preciso dizer que não importa o que eu te diga, tudo que vai contar é o que você me prometeu.

Eu contei cada pintinha no seu corpo, contei cada uma: da pontinha do seu nariz até a ponta do seu dedão do pé.

Quando eu acabei de contar você me olhou sorrindo, se reclinou no colchão em meio a nossa bagunça particular e me deu um beijo, não um beijo voraz que me roubava os pensamentos, mas um beijo calmo e repleto de afeto.

Eu duvidei do que sentíamos enquanto via você invertendo nossas posições.

Eu me perguntei se você me amava realmente ou se amava aquele instante em particular, e como em um passo de mágica, você pareceu ouvir minha pergunta e sussurrou no pé do meu ouvido um “eu te amo”.

No fundo parecia uma trapaça para me fazer dizer o mesmo.

Sua boca desceu por meu pescoço, até chegar nos meus seios e me arrancar gemidos, eu senti cada dente me arranhando e sugando, eu arfei e você riu sem me olhar continuando sua árdua missão em encontrar diferentes maneiras de me tirar palavras.

Eu não te disse “eu te amo”, mas amei sentir sua boca me marcando, a sensação molhada que deixava no meu corpo quente, me afoguei no prazer que só você parecia saber me dar.

Eu realmente me permiti acreditar na sua promessa: de que iria ficar, que tudo permaneceria bem, que seríamos nós dois contra o mundo.

Confesso, eu sabia que você não iria ficar e talvez eu também não quisesse isso, mas ainda assim, foi bom saber que naqueles poucos instantes em que estivemos juntos você quis ficar, ficar comigo e por mim, quis me amar e fazer de nossas ilusões realidade.

Você não mentiu, naquela fração de tempo só existíamos nós no mundo, então tudo que disse ali, naquele quarto, era verdade.

Eu achei que eu te amava, mas amava o som da sua boca me dizendo o que eu queria ouvir, me fazendo sentir o que eu nunca senti.

Eu amei a forma como você parecia me ouvir sem eu nem mesmo falar, eu amei te ouvir enquanto encostava meu ouvido no teu peito e sentia suas mãos no emaranhado dos meus cabelos.

Eu amei ouvir nossos corpos no silêncio daquele quarto.

Eu amava teu toque tentando me descobrir. Amava a forma como nossas mãos pareciam tão perfeitas juntas em meio a nossa bagunça.

Eu amava o toque dos teus lábios me falando coisas indecifráveis enquanto dançava uma valsa inquestionável com sua língua.

Amava sentir suas mãos subindo por minhas pernas, era um misto de temperaturas, me arrepiava por inteira, sentir a pressão dos teus dedos nelas, me fazendo sentir algo que eu não sabia o que era, me fazendo perder as palavras e encontrar o instinto de me manter livre para receber cada parte de você.

Eu menti. Menti mais de uma vez, eu amei por mais de uma vez naqueles poucos instantes, amei segurar seus cabelos enquanto sua boca tracejava meu corpo e me sugava, me bebendo por inteira.

Eu não queria que terminasse, não, eu não queria que terminasse, eu queria te amar do jeito que você me amava.