cartas, Crônica, silêncio

Só te direi mentiras.

Believer

Eu te disse, nem sempre eu vou ser a melhor versão de mim, as vezes eu vou te decepcionar e bem, isso é decepcionante. Nesse momento eu sou a pior versão de mim e isso não me dá orgulho.

Eu sei que eu sou ácida, uma agulha espetando alguém que não pode se defender, um incêndio em folhas secas, eu sou tudo isso, mas eu não sou só isso.

Eu sei o que eu sou e talvez eu goste de ser assim, talvez eu goste de não pensar em tudo que eu falo, nem nos sentimentos a minha volta, talvez eu devesse sempre ter sido assim. A probabilidade de qualquer um se envolver comigo seria remota, causaria menos dor e não estaríamos aqui nesse momento: nos encarando como dois estranhos sem nada a dizer.

As palavras sempre somem em meio a desilusão, é quase como um vidro embaçado pelo sereno. Tentamos voltar no tempo e viver como se tudo que vivemos juntos nunca tivesse existido. É como reiniciar o jogo e pular uma fase para chegar direto no final, eu não sei o quão bom jogador você é, mas isso não funcionou comigo.

Tudo é apenas um talvez, essa é a pior versão de mim e não significa que eu também não esteja me machucando enquanto estou vivendo sendo assim. Seria hipocrisia eu falar que eu não sei o que falei, ou que eu não me arrependo da forma como falei, mas não posso voltar no tempo, sinto muito se eu fui a pior versão de mim com quem só conhecia a melhor versão.

Mentira, você já conhecia meus pecados, meus delitos, meus erros e minhas insistências, talvez dessa vez nós dois tenhamos caído no mesmo ponto do jogo, por motivos diferentes, de formas diferentes, talvez eu tenha realmente sido a pior versão e isso tenha me feito voltar ao início do jogo e zerar todas as fases que eu já tinha vencido.

Eu escrevi durante tanto tempo sobre os silêncios dos outros que esqueci de escrever sobre a tempestade que eu sou. O que eu sou é tão devastador quanto o que existe em você, só que existe uma diferença bem grande entre eu e você:

Você convive com tempestades desde que nasceu e não consegue as controlar elas moram dentro de você e eu, bem eu sou uma tempestade a todo instante que as vezes pode trazer abonança e as vezes devastação.

Não vou pedir desculpa por ser quem eu sou, por meus destemperos nas horas impróprias, por minhas palavras repletas daquilo que você nunca esperou ouvir da forma que ouviu de mim.  Seu erro foi não entender que não era com você e transformar tudo isso em uma leitura particular do que eu sentia por você.

Isso foi realmente um erro, eu ainda te amo como sempre amei, um amor destemperado, repleto de despropósitos e completamente inesperados. Espero que eu ainda te ame durante um bom tempo, eu gosto de amar as pessoas. Eu gosto de te amar porque assim como eu, você não é perfeito, é cheio de defeitos, é dúbio e cheio de sentimentos a flor da pele.

Te amar é fácil, te fazer entender que eu te amo é difícil, é como se eu estivesse em um jogo onde tenho que dar um passo de cada vez e as vezes em uma jogada errada eu tenho que voltar alguns passos para trás. É um desafio, um intenso e divertido desafio que as vezes é recompensado com um sorriso bem pequeno ou um abraço meio sem jeito, sem palavras e sem propósitos, mas ainda assim cheio de sentimentos.

Eu não sei quantos passos eu dei para trás, mas sei que a cada dia eu estou mais perto da linha de largada e menos perto da de saída, eu não estou cansada de jogar esse jogo e nem me sentindo culpada por errar tantas vezes, eu jogo sozinha, sem direito a dicas então é um desafio, eu gosto de desafios, reiniciar o jogo as vezes é bom ao menos já se sabe onde não se deve errar.

É difícil entender, eu assumo, as horas e os dias passam e nós nos distanciamos, não pela forma como agi, mas por você transformar tudo que aconteceu antes em uma mentira, como se eu nunca tivesse sido eu mesma antes, como se todos os dias anteriores fossem uma história para ninar crianças. Você é o dado que dita quantas casas eu tenho que voltar até finalmente eu poder te alcançar novamente.

Quando você reinicia o jogo quem está do seu lado vai sempre pensar que você vai cair no mesmo ponto novamente, vai cometer os mesmos erros e vai desistir em algum momento, porque nem todo mundo persiste. Então enquanto você espera que eu não erre, você também está esperando por todos os meus erros para me afastar ainda mais de você. É assim né? Sempre foi.

Eu sou muito boa em ler pessoas, em ler silêncios, mas eu não sou boa em deixar as pessoas me lerem e isso torna tudo muito difícil, eu jogo sozinha, eu jogo contra mim.

Eu sou tudo que você espera que eu não seja, seu erro foi também o meu erro, acreditamos que eu conseguiria não ser aquilo que eu sou, humana. Você também não é o que eu esperava e talvez por isso eu entenda o que você sentiu ao me ver ruir.

Eu chorei quando você ruiu pela primeira vez e me mostrou que nada era perfeito, você ruiu tantas e tantas vezes diante de mim que eu só consegui pensar que eu tinha que me manter inteira para não te deixar quebrar ainda mais.

Eu definitivamente não deveria ter feito isso. Eu menti sobre a única coisa que eu não deveria ter mentido. Eu erro, cometo meus pecados e não me arrependo, sou insana nas horas vagas e isso é como chuva no deserto é uma tempestade devastadora dentro de mim.