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Entre amores e egoísmo.

soneto[1]
Soneto de Fidelidade – Vinícius de Moraes

Eu já dissertei mais de uma vez a respeito da minha minha capacidade de “supostamente” amar demais, resumindo eu não consigo desenvolver um relacionamento sério com quase ninguém pelo simples fato de não conseguir me ver amando uma pessoa minha vida inteira. Sim, esse é o mesmo problema quando penso em concursos públicos e na possibilidade de me ver prisioneira de um mesmo emprego por longos anos da minha vida. Deve ser por isso que penso tanto em tantas coisas diferentes para fazer.

Eu sempre fico muito aflita quando penso na minha poligamia, eu amo muitas pessoas, eu amo muitas profissões, eu amo de muitas formas, eu amo de forma errada muitas coisas, eu tenho muitos medos com relação ao futuro, meus medos consequentemente me fazem errar muito. Eu sempre me pego pensando quando digo que minha vida é uma eterna relação de poligamia, eu de fato preferiria mil vezes ser monogâmica não só com relação a afetividade mas com relação a vida profissional.

A vida seria bem mais fácil se todos fossem formatados na mesma forma, olha que chato e interessante, ao menos ninguém te julgaria pelas supostas escolhas que você não teve escolha, pelas orientação pré estabelecidas antes do meu nascimento, pelos gostos duvidosos em relação aos meus amores.

“Que seja eterno enquanto dure”, essa frase tá tatuada no meu coração, não aquele que bate mas o que ama, o que ama desesperadamente cada coisa e depois “desama” com a mesma intensidade. Eu sinto amor, e amo o sentir, eu amo cada peça dessa composição esquizofrênica do meu coração, mas queria não amar, veja bem toda vez que escolhemos entre uma coisa e outra nós impusemos nossos sentimentos pessoais acima de qualquer coisa, nós fazemos algo egoísta.

Ser egoísta não é pensar em si, é pensar em si acima do outro. O quão egoísta eu sou? Eu torno meus relacionamentos abertos por medo de não amar eternamente uma única pessoa, ou melhor, por medo de protagonizar a famosa cena de filme em que “a mocinha se vê apaixonada pelo vizinho e abandona a parceira de anos por quem se apaixonou perdidamente enquanto estava noiva do namorado de infância”, difícil? Nem tanto.

Sejamos sinceros eu não me sinto confortável com a estabilidade de um relacionamento, então eu o abro prevendo a possível outra pessoa invadindo minha vida, quase sempre acontece, as vezes não comigo, mas é a vida…, e eu no fim das contas tenho total direito de não me sentir completa estando com uma única pessoa.

Uma das coisas mais engraçadas quando se é naturalmente poligâmica é que quando você entra em um “suposto” relacionamento aberto com uma outra pessoa, você se torna uma certa referencia de um relacionamento opressor, principalmente se o relacionamento seguir a heteronormatividade e você for a mulher, é claro que se descobrirem que você é percursora da ideia do “relacionamento aberto”, você será promovida de submissa à puta. Um brinde a nossa sociedade machista.

Minha ideia de relacionamento poligâmico ideal é eu e a outra pessoa nos apaixonarmos igualmente pela terceira pessoa, utopia? Quem sabe…

Relacionamentos monogâmicos podem ser bem opressores e bem machistas tanto quanto qualquer relação de poligamia, nossa sociedade nos prova isso nos discursos do golpista, mulheres só servem para a economia quando verificam os preços no supermercado. Uma mulher não pode ter mais de um parceiro, ganhar mais, decidir sobre o próprio corpo, querer trabalhar tendo um filho, não pode querer terminar o relacionamento, decidir a própria carreira, uma mulher não pode saber sobre números, não pode comandar, não pode ser presidente, uma mulher tem que seguir um parâmetro para ser uma mulher.

E sim, eu tenho a certeza que boa parte das mulheres já sentiram seus desejos castrados por boa parte de seus parceiros, não na cama enquanto ele se negava a fazer um oral, ou enquanto ela emitia um falso gemido porque o pinto torto dele não atingia o local certo, estou me referindo a uma coisa bem mais simples na verdade, sentir desejo por outros corpos e não poder falar, pelo simples fato de que a sociedade nos diz que mulheres não sentem desejos por outros homens que não são seus parceiros, aliás a sociedade nos diz que se não sentimos desejos na relação a culpa é nossa e não dele.

Calma aí sociedade, se eles se sentem atraídos por outros corpos eu também posso me sentir atraída!

Mas tecnicamente falando, eu sou contra traição, e é por esse fato que eu sempre termino algo antes mesmo de começar, a simples ideia de que um outro corpo, uma outra composição de corpo e alma esta me atraindo me faz sentir culpada, mesmo que o desejo não legitime o ato.

Resumidamente falando, existem várias formas de relacionamentos poligâmicos, os mais conhecidos são: A terceira pessoa, em que a terceira pessoa se relaciona com ambos; o que cada um tem um parceiro e as vezes eles se encontram em uma suruba, temos o que eu o que eu mais entro mais sou reticente, que é o famoso relacionamento aberto, “eu te amo, mas pego outras pessoas”, e claro temos o que o querido macho alfa tem suas várias mulheres, vugo nosso querido Catra, queria eu ter vários maridos com tanto acolhimento pela sociedade.

Existem várias formas de se iniciar um relacionamento poligâmico com uma outra pessoa, mas a forma mais errada é impondo isso a alguém que não quer um relacionamento dentro desse parâmetro, e isso é um egoísmo, é a imposição do seu bem estar, sem preservar o bem estar do outro.

Não se impõe nada a uma outra pessoa, a pessoa tem que querer estar nessa relação, e principalmente se sentir desejada e desejar dentro dessa relação, e se a relação é aberta, todos os dois têm os mesmos direitos, a sua liberdade não pode castrar a liberdade de uma outra pessoa, não pode castrar os sentimentos. E é bem nesse ponto em que finalmente chegamos, qual o significado de “abrir um relacionamento”, serei sincera eu sinto muito preguiça para sair por aí beijando bocas durante a balada, então abrir o meu relacionamento só significa para mim me relacionar com uma outra pessoa que me atraía em todos os sentidos, mas para outra pessoa abrir o relacionamento pode significar a reafirmação do ego, “quero um compromisso, mas quero continuar com minha vida de solteiro”, abrir um relacionamento tem tantos significados mas a maioria deles é focada só no “eu”, “eu não consigo amar só uma pessoa”, “eu não sou feliz em uma vida a dois”, “eu não quero me prender a uma única pessoa”. É tanto “eu” sem “nós”, que nos esquecemos de um erro que é irreparável, sozinho nenhuma relação existe.

Estar em um relacionamento monogâmico ou poligâmico, não tem nada relacionado com ser ou não egoísta. Tudo bem se a pessoa for uma pessoa que gosta de compartilhar isso ajuda bastante em um relacionamento poligâmico, o que não a impede de ter comportamentos obsessivos. Cada pessoa é de um jeito, cada pessoa tem sua forma de amar, e essa forma é algo único que é incapaz de se descrever, o fato de você estar em uma relação poligâmica não quer dizer que você não sinta ciúme, que você não sinta, que você não ame, que você não impeça suas ações para ver a felicidade de outra pessoa. O fato de você se encontrar em um relacionamento monogâmico não te impede de não sentir, de não se sentir, de amar desesperadamente, de se sentir insegura.

Se sua relação não te faz feliz, você simplesmente não vive uma relação, vive algo condicionado, muito parecido com uma prisão sem grades.

Quando amamos inegavelmente flertamos com a insegurança, porque se uma pessoa ama automaticamente ela quer ser correspondida com a mesma intensidade, só que pessoas adultas sabem que o mundo adora quebrar nossas expectativas. Exitem tantas formas de amar que seria impossível realmente as descrever, se você ama a dois, a três, a quatro, se você ama, se ama e é amado é tudo que deveria ser importante. 

4 comentários em “Entre amores e egoísmo.”

  1. Eu vejo da seguinte forma. Ninguém é completo.. Ou talvez, cada um de nós somos especialmente singulares e tipo o brilho de uma pessoa é diferente do de outra. Vc pode ter 10 maridos ou esposas, ou maridos e esposas juntos, ainda sim vc vai encontrar um numero 11 diferente que vai te chamar a atenção. O que eu penso é que o erro está nas pré definições sociais que criamos. Poligamia ou Monogamia. São definições rasas para descrever toda a complexidade do ser humano, sua psique e parte emocional.
    O ideal é simplesmente vivermos da melhor forma possível expressando de forma essencial nossa existência para nos sentirmos completos, com força para lutar contra a maré preconceituosa da sociedade.
    Eu achei o seu texto muito importante! E cheio de conteúdo que podem gerar muitas conversas haha.

    E em especial adorei a máxima que você deixou no final “se você ama a dois, a três, a quatro, se você ama, se ama e é amado é tudo que deveria ser importante.” é uma síntese maravilhosa!

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