Amor, Crônica, Crianças, escolhas, Homofobia, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, Poliamor, Preconceito, Sem categoria, Violência

Pena & Tinta : Tão opostos e tão iguais.

passaros
imagem retirada do Pinterest, não consegui achar autor. ;(

Cartas de amor devem ter saído de moda, mas eu não fui comunicada formalmente a respeito disso, me apaixonei, mais vezes tentando te odiar, do que eu poderia imaginar, na verdade eu me assusto quando escrevo isso, e leio em voz alta.

Te conheci enquanto amarrava meu tênis e me preparava para cobrar uma falta, na aula de educação física, ainda não acredito que os meninos iriam realmente te chamar para entrar no meu lugar, ok, eu já superei isso, (mentira, não superei! Machistas) mas você não aceitou, preferiu continuar lendo aquele seu livro de histórias fantásticas, affs, te achei um tanto quanto “metido”.

Pensando bem você realmente era metido, exibido e estranho, aquele cabelo arrumadinho, aquele tênis completamente branco, aquela calça jeans limpa… Que tipo de adolescente era você? Com toda certeza alguém bem estranho, estranho o suficiente para no primeiro trabalho em grupo a turma inteira te odiar. “Eu não vou fazer com ninguém professora, vou fazer sozinho, eu sou capaz”. É…, naquele dia você conseguiu a antipatia de bastante gente.

Não preciso te lembrar que no final do dia, você precisou correr bastante antes de levar o primeiro soco, e cair de cara na lama. Demorei muito para ir te ajudar, fiquei meio estática quando percebi que os meninos estavam gritando palavras ofensivas na sua direção, o professor de Educação Física foi bem mais rápido do que eu, e te tirou do meio daquilo tudo, enquanto anotava o nome de cada um dos agressores.

Na última semana antes de fecharmos o bimestre você simplesmente sumiu, achamos que você tinha finalmente desistido, mas que tipo de adolescente desiste de algo e os pais não ligam? Essa hipótese foi quebrada quando a coordenadora recebeu uma ligação do seu pai, avisando que você estava doente. Duas semanas depois você apareceu com o braço quebrado.

No dia que você esqueceu seu caderno, e saiu sem nem olhar para trás, eu te segui, e para minha total surpresa, você não percebeu, lá estava você desajeitadamente entrando naquela academia de dança. Balé, quem diria o “senhor arrogante” fazia balé, não preciso dizer a quantidade de pensamentos que surgiam na minha mente né?

Fui homofóbica e o fato de ser adolescente não era desculpa para isso, muito menos para tirar a foto que eu tirei de você, enquanto fazia algo complexo na ponta dos pés, acho que nunca poderei falar o nome daqueles passos. Também acho que nunca serei capaz de realiza-los, lembro que tentei te imitar enquanto te observava.

No fim daquele dia não enviei a foto, não criei perfil falso, não fiz nada a não ser te olhar e imaginar como alguém tão idiota conseguia fazer algo tão lindo, é eu achava, eu ainda acho balé algo intenso e lindo, naquele instante eu só pensei que talvez fosse bom tentar te entender um pouco.

Te devolvi o caderno, e você não me agradeceu, sugeri fazermos o trabalho junto e você simplesmente continuou andando, quando já estava quase perdendo a paciência nossa professora de história resolveu que todos deveríamos fazer os trabalhos em grupo, ninguém queria fazer com você, e você não queria tirar zero.

Fazer um trabalho de ensino médio nunca tinha sido tão difícil, livros, livros, livros?????? Com tanta coisa na internet, como aquela professora pode nos mandar pesquisar na biblioteca da escola, você não falava muito, você não falava nada, apenas copiamos algumas coisas, tiramos algumas xerox e só.

No fim daquela semana já tínhamos feito tudo, era sexta, não nos despedimos, mas você foi embora, chutou as pedras pelo meio do caminho e se perdeu entre as ruas. Eu sabia para onde você ia.

Durante todo aquele ano eu fui a sua única parceira de grupo, o que me causou sérios problemas, era representante de turma e tecnicamente eu havia abandonado meu grupo de trabalho para te ajudar, e não estava recebendo nem bom dia, adolescentes são vingativos, um dia resolvi que não queria mas tentar te ajudar, não queria mais ser do seu “grupo”. Foi a pior coisa que eu fiz admito.

Lá estava você quietinho demais, disperso, fingindo ler aquele livro, aquele maldito casaco escondia quase toda a sua mão, eu não deveria me preocupar, mas estava calor demais e você parecia não ligar para as “zoações” que ocorriam no seu entorno, aquelas brincadeirinhas nada inocentes já estavam cansando, eu não via mais graça. Eu te segui naquele dia, fiquei preocupada, você estava estranho, tinha sobrado nos grupos e eu me senti culpada.

Você havia entrado em uma lanchonete, limpou os olhos e eu estranhei, você estava chorando, hoje eu me pergunto qual o problema? Homens choram… Uma moça bagunçou os seus cabelos enquanto dava um leve beijinho em seu rosto secando suas lágrimas, algo aqui dentro do meu coração ficou bem espremido, sabe o que eu pensei naquele momento? “Ele curte meninas????” Como eu era idiota, me desculpe, deveria ter me perguntado o motivo das suas lágrimas.

Um dia eu apareci naquela lanchonete, você me encarou surpreso, mas não falou comigo, eu também não falei com você. Dias se passaram até você finalmente se sentar ao meu lado e perdurar o silêncio por minutos que mais pareciam horas, enquanto eu bebia o suco de laranja.

“Você pode fazer o trabalho de matemática comigo?”, te encarei durante muitos instantes, sem nenhum por favor, “claro que não”, você se levantou e foi se embora. Eu deveria ter perguntado o motivo de você ter quebrado aquele seu orgulho idiota, mas não fiz, outro maldito erro. Você ficou de recuperação em matemática, você não tinha problemas com números quando eu te conheci, eu não conseguia entender como aquilo era possível.

As férias de dezembro logo chegaram, soube que você tinha passado de ano com média cinco, passou, viajei e só voltei em janeiro, quando fui naquela lanchonete você não trabalhava mais lá, não frequentava as aulas de balé e eu não entendi como você tinha evaporado dessa forma, talvez tivesse viajado, eu desejei que só fosse uma viajem.

A primeira semana finalmente aconteceu, mas você só apareceu duas semanas depois, estava com o braço enfaixado, com olheiras, e andava devagar, jogou suas coisas na cadeira do fundo, aquela que ficava perto da parede, tombou sua cabeça ali, a professora suspirou quando você não respondeu, alguns deram leves risinhos, outros cochicharam, mas estávamos no terceiro ano e bem…, no terceiro já somos meio-adultos, alguns não acharam graça e se preocuparam com você, eu me preocupei.

Você era uma figura estranha, nunca pensei ver você perdendo a cabeça e socando alguém, também nunca pensei te ver fumando, mas lá estava você fazendo tudo aquilo que esperavam que você fizesse…

Quando suas notas baixas no primeiro bimestre surgiram e você passou a não responder os professores, comecei a perceber que eu deveria ter feito aquele trabalho de matemática com você. Pela terceira vez te segui, você não foi para lugar algum especificamente, só sentou no chão de uma rua qualquer, enquanto a chuva caia e se misturava com suas lágrimas, é meninos choram, eu já tinha aprendido isso. Me sentei ao seu lado e você me ignorou, não percebi quando comecei a soluçar, mas que droga eu tinha me apaixonado por você!

“QUAL A PORRA DO SEU PROBLEMA” – Foi essa a primeira frase que eu troquei com você em meses, você me ignorou e eu te bati, foi um soco forte que fez você fechar os olhos.

“O MEU PROBLEMA SÃO OS SERES HUMANOS” – Como assim seres humanos? Fiquei parada tentando entender aquilo, mas você não continuou, se levantou e eu te segui, você me deixou te seguir enquanto fumava mais um dos seus cigarros, entrou naquela casa e bateu a porta na minha cara. No dia seguinte você não foi, nem no outro dia, no terceiro dia eu bati na sua porta, seu pai falou que você estava doente.

Quando finalmente apareceu eu me sentei ao seu lado, estava decidida a não me livrar de você. Mas que DROGA, você nem falava nada, mas por algum motivo você tinha voltado a fazer os trabalhos.

“Eu te vi no dia que tirou aquela foto na academia”, eu te encarei surpresa, você não me olhava estava observando alguma coisa mais interessante em algum outro canto, “minha mãe fazia balé, eu me sinto perto dela quando danço”. Eu não entendi, ainda não entendo, os motivos de você finalmente ter começado a falar…

Quando eu conheci seu pai achei que ele era quem te deixava daquele jeito, machucado. Não, não era seu pai, e eu descobri isso quando você surtou enquanto fazíamos um trabalho de geografia, lembra? Você se cortou na minha frente, eu me desesperei, eu gritei com você, segurei seus braços e te beijei, você desmaiou, eu entendi o motivo das camisas grandes, eu não duvidava que tivessem mais daqueles cortes espalhados. Você não me encarou por dias, eu também não tinha te encarado. Droga eu realmente gostava de você, mas não da forma como você gostava de mim.

Apaguei aquela foto do meu celular quase que ao mesmo tempo que seu pai me ligou pedindo para conversarmos, seu pai sim era um cara engraçado, ele nem sabia como começar aquela maldita conversa, sua mãe tinha morrido, você se mudado para morar com ele, trocou de escola, teve que abandonar o namorado, finalmente eu tinha descoberto que você era gay, finalmente eu tinha descoberto sua história, sua depressão e sua tendência autodestrutiva.

Eu também era meio autodestrutiva naquela época, engoli minhas lágrimas enquanto te encarava brincando com uma caixa de música na cama, eu estava decidida a não te deixar sofrer, me sentei ao seu lado, respirei fundo enquanto vi você se sentar e abaixar os olhos me perguntando se eu sabia, o silêncio era tão ensurdecedor que eu quase me perdi enquanto meu corpo me empurrava na sua direção, te abracei e foi nosso primeiro abraço debulhado em lágrimas. Droga eu te amava, e isso estava me destruindo.

Nos tornamos amigos finalmente, era final de ano, vestibular, provas finais, decidir o que fazer durante boa parte da vida era algo tão complexo que tudo que eu pensei foi “não quero fazer nada, quero fazer de tudo”, minha primeira opção foi uma universidade longe de casa, liberdade finalmente, trote, professores malucos, solidão. Passamos pelas mesmas coisas em locais diferentes, não estudávamos mais juntos, mas você parecia melhor, eu não me preocupei, seu pai também não, mas estávamos errados, nenhum de nós notou suas olheiras voltando a surgir, ou suas palavras sumindo em meio as frases. Droga eu era sua amiga, eu te amava, como deixei isso acontecer.

Naquele dia você simplesmente não ligou avisando que chegaria mais tarde, tinha sumido, comunicamos a polícia, dias depois você apareceu, estava um caco, não queria falar, tivemos que te dopar para que cuidassem de você. Você só ficava dopado, mas um dia, um determinado dia você simplesmente se cansou.

Eu realmente deveria não ter te amado, talvez se eu tivesse te amado menos eu tivesse percebido toda aquela dor disfarçada de sorrisos pequenos, eu ainda penso em você toda vez que abro aquela caixa de música, ainda penso em você enquanto ouço alguma música clássica e ainda penso em você quando percebo que eu poderia ter amenizado a sua dor.

Brincadeiras machucam, arrancam sangue, cansam… Eu entendo o motivo de naquele dia você me dizer que o seu problema eram os “seres humanos”, acho que no fundo esse é um problema de todos. DROGA eu ainda te amo…

_________________________________________________________________

Esse texto faz parte do Pena & Tinta, um projeto de escrita criativa que tem como objetivo a criação de textos (crônicas, contos, poesias, relatos pessoais etc) em cima de temas predeterminados mensalmente. Um dos temas de novembro é OPOSTOS.

 Tem um blog e quer participar das próximas edições do Pena & Tinta? A gente está te esperando AQUI.

Capitalismo, Crônica, Minhas Crônicas, Opinião, Preconceito, Proletariado, Racismo, Sem categoria, Violência

“As vezes eu falo com a vida”

Poder da Imagem.JPG
Foto de Tércio Teixeira, Morro da Mangueira, RIO, durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas

Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo (domingo!)

O Rappa

A forma como o olhavam dizia muito mais do que qualquer palavra pronunciada, era como um mar de história, história escrita a muitas décadas. Era uma epidemia que se espalhava como a agonia que subia em sua garganta, ele queria gritar, mas não podia.

Revirou os olhos, ignorou “os canas” do outro lado da rua, apertou o passo, endireitou a mochila, mas antes mesmo de atravessar a segunda esquina ele ouviu o primeiro aviso, o som dos tiros ecoaram, as crianças se abrigaram nos braços da mãe, baixaram as portas do comércio, ele apenas olhou para o relógio enquanto fazia mais uma vez o sinal da “cruz”, que “ele o protegesse”.

Entre o silêncio gritante que se instaurou naquelas ruas sem asfalto, ele tropeçou nas pedras, enquanto via as portas sendo arrombadas, sentiu novamente os olhares, baixou a cabeça ao passar bem perto de uma das crianças que praticamente viu crescer, o tiro tinha sido para ele, jogado ao chão, como tantas outras, podia ouvir o grito silencioso daquela mãe.

“Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!”

_Tá olhando o quê? – Perguntavam, ignorou. Apertou o passo, cravou os olhos ignorando as lágrimas, “podia ter sido eu!”, ele sempre pensava.

Enquanto se perdia nos seus pensamentos, ouviu mais tiros, viu os carros pretos, os homens armados, estavam invadindo novamente, adentrando as vielas onde a “Segurança” nunca entrou.

“Qual a paz que eu não quero conservar
Pra tentar ser feliz?”

Se abrigou no bar de esquina. O tal português não gostava muito de si, torceu o nariz antes dele entrar e pedir uma garrafa d’água, viu a mulher correndo, ofereceu-lhe água e ela negou. Se sentou no chão mesmo, ouviu a gritaria, o choro, podia imaginar o sangue, todos ali eram seus conhecidos, a dor era algo eminente.

_Já acabou? – Nem percebeu quando o dono do bar o olhou de cima para baixo, o medindo, olhou suas roupas, sua mochila e finalmente seus olhos. Se negou a responder, ele não podia o expulsar e tão pouco ele poderia sair dali, limpou os olhos e continuou a ouvir todas aquelas vozes que vinham de tão longe e ainda assim tão perto.

Pegou os cadernos na mochila, e resolveu se perder por ali, era assim que sua mãe tinha o ensinado. Sempre se acalmava e se lembrava dela enquanto pegava os cadernos no meio de todo aquele barulho. Ainda podia a escutar brigando consigo, tentando o distrair, o mandando estudar, dizendo que “aquele lugar” não era para si. Nunca entendeu aquela frase, aquela era sua casa, ela deveria ser segura.

“Eu não quero ficar
esperando
o tempo passar, passar”

Não percebeu quando suas lágrimas voltaram a cair e muito menos quando suas mãos automaticamente passavam as folhas, o dono do bar mais uma vez o encarava, um olhar descrente em negação, um suspiro e mais uma pergunta.

_Difícil né? – não era difícil, talvez até fosse, mas não aquilo, se limitou a responder um “unhum” e voltou sua atenção para o livro, o fechou finalmente, haviam cessado a guerra, se levantou calmamente, arrumou novamente a mochila e esperou o homem finalmente abrir a porta do bar, saiu, estava chovendo, apressou o passo até finalmente chegar no ponto de ônibus, suspirou apertado, quando viu as crianças saindo da escola, corriam desesperadas pela rua, as imaginou encontrando tudo aquilo do qual estava fugindo.

O ônibus finalmente apareceu, não parou, o motorista tinha sido alertado a não parar ali, caminhou até mais a frente, andou por toda aquela avenida a pé, olhou os carros apressados, ouviu as buzinas, observou o rio começando a encher, sabia que quando chegasse teria que escoar a água, ficou frustrado pensando se havia lembrando de retirar tudo do chão.

“Não dava tempo de voltar”, o relógio mais uma vez o dizia que estava atrasado, apressou o passo, mas o manteve cauteloso, não podia e nem queria ser “confundido” novamente, “atividade suspeita”, ele era uma “atividade suspeita” desde que nascerá.

“Oh! Meu Deus
Se eu não rezei direito
A culpa é do sujeito
Desse pobre que nem sabe fazer a oração”

Ignorou os pensamentos, e enxergou o ponto de ônibus, correu um pouco a fim de chegar mais rápido, viu que recuaram a sua presença, se arrumou um pouco, limpou um pouco a roupa e evitou mexer nos bolsos e na mochila, tudo que ele menos queria era parecer uma atividade suspeita estando atrasado.

Embarcou no ônibus lotado, colocou a mochila pra frente, e fechou os olhos, teria que encarar mais alguns bons minutos em pé se nada estivesse alagado, ignorou toda a confusão dos bancos preferenciais, enquanto voltava sua concentração para se lembrar dos artigos, falou em silêncio, e percebeu que arrancou a curiosidade de um menino sentado no colo da mãe, mexeu um pouco o cabelo enquanto observava que ela brigava com ele por algum motivo, não entendeu muito bem, mas viu o menino rindo e resolveu acompanhar aquele riso sapeca destinado a si.

Observou quando a moça entrou, ela também estava molhada e apresada, chegou a trocar olhares com ela, principalmente quando ela esbarrou em si propositalmente, ela o conhecia, já o tinha visto outras vezes ali, naquele mesmo ônibus, trocaram algumas poucas palavras e logo depois cada um voltou a se enterrar em seu próprio mundo.

Ela era linda, mas não tinha nome”.

Apertou o ferro de apoio do ônibus quando o motorista freou, alguém tinha acabado de ser atropelado, o trânsito tinha parado de vez. Ficaram bons minutos esperando tudo se resolver, viu o homem levantar apressadamente, pegar suas coisas do chão, falar que “estava tudo bem” e adentrar a condução apressadamente, tempo era dinheiro…

O ônibus voltou a andar, acelerou, ouviu alguns xingamentos do motorista enquanto ele cortava alguns outros carros na avenida, era sempre assim, deixou alguns no ponto, outros fora até finalmente chegar aquele que todos já conheciam, “Olha a bala, a paçoca, o amendoim, tudo baratinho só na mão do amigo, lá fora é mais caro”, ele já havia decorado o discurso, os rostos eram diferentes, mas a oratória era a mesma.

_Ajuda o parceiro aqui, irmão. – sentiu o toque nos braços, mostrou os bolsos vazios e o sorriso de canto, o homem entendeu, sempre entendiam, no fundo rolava sempre aquela identificação, viu o homem caminhando dentro do coletivo e por fim jogando um pacote de amendoim para o motorista, desceu e agradeceu.

A viagem seguiu tranquila até o seu destino, desceu naquele bairro diferente, prédios altos, poucas pichações, o olhavam de cima sempre, abaixou o olhar enquanto apertou o passo, evitou encarar, atravessou a rua olhando apenas para os lados, desviou das pessoas e antes que o parassem por algum motivo ele descruzava os caminhos, o céu ali estava limpo.

“As grades do condomínio
São pra trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão”

Encarou os morros que cercavam aquele local, ainda estava chovendo daquele lado, mas ali não, o comercio estava aberto, as crianças andavam tranquilamente, caminhou pela calçada, admirou o asfalto liso e não encarou aquelas pessoas, viu de relance um carro passando, os homens armados passando por ele, deu uma breve olhada para dentro do “camburão”, o suficiente para reconhecer um rosto, a mão caída para o lado de fora, o corpo jogado, com toda certeza ainda chovia no morro.

Atravessou a última rua até finalmente entrar naquele lugar, ainda tinha prova, estava atrasado e tinha certeza que havia perdido todo o primeiro tempo, correu apresado, não esperou o elevador, correu desesperadamente no único lugar em que se sentia à-vontade para correr, escorregou um pouco, admirou a vista enquanto tinha pressa, olhou o entorno e observou tamanha contradição, prédios, casas, medo, lágrimas, morro, asfalto.

Estacionou seus passos, colocou a mão na porta, observou o olhar repreensivo do professor enquanto ele desviava pelo canto dos olhos ele caminhar até seu lugar, permaneceu calado, fez algumas anotações e trocou alguns olhares com os colegas enquanto ouvia as indiretas a respeito dos atrasos.

Recebeu a prova, secou as mãos, bateu na testa ao perceber que havia esquecido o estojo, pegou emprestado o material, refletiu, leu, respondeu, demorou mais do que deveria, fez a prova, saiu correndo voltaria mais tarde, estava atrasado para o trabalho, olhou o relógio, andou até o trabalho, vestiu o uniforme, atendeu, atendeu, atendeu, foi ignorado quando falou que algo estava errado, “ele estava errado”, esqueceu do almoço, correu para a próxima aula, bateu a cabeça de cansaço, se forçou a ouvir o que tanto falavam naquela aula, olhou pela janela, para o relógio, bateu os dedos na mesa.

_Está com pressa? – Era claro que estava, estava chovendo, ele podia ouvir bem longinquamente que estava se tendo um tiroteio por algum lugar, mas mesmo assim respondeu que não, encarou os malditos três tempos finais de uma quarta feira como se fossem os últimos, faltavam só mais alguns meses para tudo terminar, só mais alguns meses.

“Sou pescador de ilusões
Sou pescador de ilusões”

10 horas, correu até o ponto, algumas luzes piscavam, estava deserto o suficiente para ele pensar em pegar dois ônibus ao invés de um, mas percebeu que se fizesse isso possivelmente ficaria sem dinheiro no final da semana, apressou os passos, limpou os olhos pelo sono e por sorte o ônibus já estava lá quanto chegou, o motorista o conhecia, o esperou.

Finalmente estava sentado, encarava a noite chuvosa que pincelava aquele lugar tão contraditório, fechou os olhos inalando a fina brisa, podia ter certeza que ficaria doente, tentou evitar esses pensamentos e voltou a pensar em coisas banais, desejou que a tal moça de todas as manhãs entrasse no ônibus, ele não sabia quem ela era, nem para onde ia, mas gostava de imaginar coisas sobre ela, mesmo que no fundo ele soubesse serem impossíveis de acontecer.

Não deu sinal, estava cansado demais para se lembrar do ponto, mas por muita sorte o motorista o conhecia bem o suficiente para saber que ele havia esquecido, deu um grande sorriso enquanto descia as escadas e desejava “boa noite” e agradecia, correu para casa, lembrou-se da chuva pela manhã, olhou o rio e como de esperado ele havia subido, podia ver a marca d’agua na parede assim como as ondas de terra no chão.

As ruas estavam silenciosas, vazias, algumas fracas luzes iluminavam seu caminho, podia ver alguns homens fardados o seguindo com os olhares, entrou em casa, pegou o rodo escoou a água, se jogou no chão, cansado, se arrastou até o banheiro, ligou a água fria, ainda não podia dormir, se sentou no corredor, onde não haviam janelas, ascendeu a fraca luz, e voltou a sua leitura…

Mal percebeu quando seus olhos finalmente fecharam…

A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!
Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!(Medo!)
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero conservar
Pra tentar ser feliz?
– O Rappa-

Músicas Utilizadas:

Minha Alma,

Pescador de Ilusões,

Súplicas  cearenses,

Lei da sobrevivência,

Rodo cotidiano.

Amor, Cores, Crônica, Minhas Crônicas, Opinião, Padrão, Sem categoria

O Menino, as Cores e o Mundo

 

cores.jpg
Imagem retirada do site: mensagens e reflexões

Aqui estava eu em mais uma das inúmeras madrugadas cariocas pensando em amigos meus, um em especial, quando vi, já tinha escrito o texto…

Existia no mundo um menino que enxergava tudo em preto e branco, isso não o tornava triste, não, as cores para ele eram sentimentos, então seu mundo era colorido com as cores mais intensas possíveis.

O Azul sempre o remeteu a serenidade que ele tinha nos dias chuvosos, ele amava esses dias, ele corria para o lado de fora, entre a tempestade e todos os trovões, e ia observar a alegria das flores ao receber as gotas de chuva e a espontaneidade das crianças em pular as poças d’água, era como se isso causasse leves cosquinhas nele, ele sorria enquanto imaginava que aquelas cenas sem dúvida seriam embaladas pela cor azul…

Sorrisos azuis…, era assim que ele pintava seu mundo, com grandes e inesquecíveis sorrisos azuis, sorrisos repletos de prazeres simples e imateriais.

Os dias quentes o remetiam sempre ao amarelo, ele gostava de sorrir enquanto se sentava e apreciava os primeiros raios de sol encontrando sua pele, era quente, diferente, era como o beijo dos apaixonados casais, era como os seus beijos, os beijos que ganhava ao pé do ouvido nas madrugadas insanas, o amarelo era tão voraz quanto qualquer toque, era suave, íntimo, era um movimento bilateral. O amarelo no fundo era o encontro de corações, um grande abraço invisível que acontecia.

Ele vivia desses abraços intermináveis que pintavam seu mundo de amarelo.

O vermelho o remetia a doces, ele via o vermelho e sentia vontade de o devorar como se ele fosse feito de uma droga viciante, ele amava aquele doce, ele simplesmente mergulhava naquela sensação que o dava coragem de enfrentar qualquer coisa sem desistir. Ele corria, corria e corria com aqueles olhos tímidos, com aquele sorriso solto e devorava qualquer coisa que via na sua frente e o fizesse se sentir bem.

Ele amava aquela sensação de prazer, era como respirar, essencial para sua vida. O vermelho era seu prazer, e seu prazer era gritar para o Mundo que ele queria o descobrir, que ele queria o devorar…

Quando fechava os olhos e se perdia na imensidão que era seus sonhos, ele Imaginava o verde, e era como se perder no Mundo, era divertido imaginar que entre tantas cores a que se fazia mais presente era o verde, era como pular de um avião sem paraquedas, uma queda livre. O verde era aventura, uma aventura que invadia todos os órgãos do seu corpo, ele amava se sentir verde, se sentir parte de algo e lutar por esse algo tão livremente quanto qualquer pássaro na floresta, ele era verde por inteiro.

Ele era livre, e talvez por isso tantas vezes ele achou que não cabia no mundo… Talvez por isso ele tenha inventado tantas vezes seu próprio Mundo e o pintado de cores tão peculiares que nenhum outro alguém poderia as identificar…

Sabe quando você se sente o inventor do Mundo? Então quando o menino se sentia dessa forma ele se sentia abóbora. Se sentir abóbora era se sentir quente e doce, o menino sempre se sentia assim, quando inventava que era o rei do mundo. Ele corria por aí inventando de consertar corações quebrados, seus passos ágeis formavam quase uma orquestra, ele raramente se preparava para os tombos, mas… ele não se importava em cair, se isso fizesse os outros voltarem a sorrir.

Abobora não era uma cor tão legal assim, eram intermináveis os dias em que ele se sentia abobora e voltava para casa com o joelho ralado e o sorriso travesso no rosto, nesses dias tudo que ele precisava era a certeza de que suas ações tinham valido a pena, afinal quem liga para um joelho ralado no fim das contas?

Se sentir abobora sem dúvida era melhor do que se sentir violeta, entre todas as cores a que mais o remetia ao “preto e branco” era o violeta, ele gostava da cor apesar dela ser tão fria, tão fria quanto os dias tristes, ele sempre precisava de abraços nesses dias, ele gostava de se sentir quente e não frio… Sabe os dias violetas, eram os dias em que ele mais se sentia criança, hora estava agitado procurando por uma resposta impossível, hora estava procurando se sentir acolhido…

Os dias violetas eram dias chatos demais, cheiravam a saudade, a angustia e a medo, ele não gostava de sentir medo, mas era difícil compreender o menino, mesmo gostando tão pouco de Violeta ele ainda se sentia inspirado a ter coragem e a tingir esses dias com várias cores, as misturando e formando dias improveis possíveis.

É, ele realmente amava viver em um Mundo “preto e branco”, sua maneira de enxergar o mundo era algo único e talvez por isso ele enxergasse melhor do que qualquer outra pessoa…

Capitalismo, Crônica, escolhas, Padrão, Sem categoria

Apenas 1, 2, 3,… escolhas.

escolhas.jpg

Começo escrevendo esse texto dizendo que gostaria que o tema desse fosse outro, mas estou em uma semana muito complexa por causa de uma prova, que não, não é o ENEM, já passei dessa fase, agora estou naquele limbo eterno a procura de emprego e estabilidade.

Como eu ia falando gostaria que o tema desse texto fosse algo político, queria escrever a respeito da PEC241, da Medida Provisória que altera o Ensino, da Escola sem Partido, queria escrever a respeito de tudo isso, e de como tentam nos amordaçar enquanto nos tiram direitos, mas infelizmente não posso. Não que eu não consiga falar dessas monstruosas alterações, que tem como princípio básico diminuir o número de acessos a Universidade Pública, assim como parar o crescimento capital da população em prol de um crescimento econômico ilusório pautado na privatização.

Não eu definitivamente não vou falar disso, nem muito menos do fato do Prefeito da Minha Cidade ter sido eleito com um número inferior ao número de votos de pessoas que se pautaram na abstenção, muito menos comentarei ao fato desse candidato apoiar a PEC241. Não, eu definitivamente não quero falar mal da população que se absteve ao voto e agora fica reclamando da decisão de se ter como prefeito um senhor que diversas vezes deixou claro seus atos de intolerância.

Sabem durante boa parte da minha vida escolar me foi empregado que eu deveria escolher algo que eu gostasse para seguir como profissão, sabem qual é problema disso, eu nunca soube escolher. NUNCA!

Quando pequena eu amava rasgar os sacos plásticos da minha mãe e me imaginar uma estilista famosa que desenhava em todos os cantos seus planos para dominar o mundo da moda, minha vó até falava que um dia iria me levar no barracão da Portela para eu me enfiar no meio de toda aquela pluma e paetês que eu tanto amava, afinal quando ia na casa dela adorava ficar brincando com as fantasias velhas do meu primo. Bem ela nunca me levou na Portela, nunca conheci o processo de confecção de fantasias e não sei bem se a culpa foi dos meus pais que não deixaram ela alimentar essa “fantasia infantil”. De fato, eu ainda curto desenhar roupas para passar o estresse, assim como “as vezes” costuro algumas coisas na máquina que fica no meu quarto.

Às vezes eu fico pensando como seria se de fato eu tivesse conhecido o barracão da Portela, talvez minha vida fosse ser igual, ou talvez diferente, nunca saberei. Nessa época eu tinha umas primas que brincavam comigo, entre eu ser bruxa e modelo pop star, descobria que não existe “bruxa boazinha”, e meninas tinham que ser “boazinhas” e nem “modelo gordinha”, eu realmente preferia os sacos plásticos ao menos eles não me diziam que “eu não podia ser”. Mas nem tudo são flores, principalmente quando brincava de “lutinha” com meu irmão mais novo, altos golpes que me fizeram ganhar o rótulo de “garota-moleque”, nossa eu fui bastante rotulada quando pequena, me pergunto porque não fiz judô, boxe, karatê, sei lá, eu curtia e ainda curto esse tipo de esporte, acho que a grana na época era pouca e eu agora não tenho tempo.

O mais engraçado é que eu nunca fui uma coisa só, desde pequena, cresci entre as panelas da minha mãe e entre as ferramentas do meu pai, minha mãe é ciumenta com as panelas dela, então quando pequena eu a esperava sair, para poder inventar algo na cozinha, é claro que raramente dava certo, e mais claro ainda que isso de certa forma fez ela me manter muito longe das panelas, eu queria ser chefe de cozinha e hoje apesar de ainda colecionar receitas ainda não me sinto confiante perto das panelas.

Conforme fui crescendo fui me interessando ainda mais por uma série de coisas diferentes, ajudar meu pai tinha suas vantagens, aprender sobre carros, obras e fiação elétrica me fizeram questionar se eu deveria fazer alguma engenharia, física, sei lá alguma coisa de exatas. Mas eu não fiz, na verdade meu ensino médio, foi bem humano, fiz formação de professores em uma escola Normal Estadual, um pacote completo que me fizeram questionar como o Estado pretendia formar professores da Educação Básica, sem que o currículo fosse rico em disciplinas essenciais…?

Talvez esse fosse meu primeiro passo em humanas, se eu tive poucas disciplinas de exatas não posso dizer o mesmo a respeito das disciplinas da área da psicologia, todo ano era uma nova e isso de fato fazia meu ID enlouquecer querendo prestar vestibular para psicologia. Eu não tentei, fiz para pedagogia, a verdade é que apesar de eu amar educação, o motivo foi bem menos nobre, admito, a relação candidato vaga, era mais atraente do que em Psicologia.

Minha vida inteira eu gostava de várias coisas ao mesmo tempo e na hora do vestibular não poderia ser diferente, eram tantas questões com respostas parecidas que eu vivia um caso de amor em completa bigamia enquanto escolhia a resposta. Isso ainda acontece, nem sei como eu passo nas provas, escolher realmente é um problema grave que eu tenho.

Quando passei para Pedagogia, me vi mais uma vez filha da pública, só que dessa vez longe de todo o glamour do Ensino Médio, nesse meio tempo acabei alimentando algumas paixões antigas, a psicologia foi uma delas com toda certeza, vocês não têm ideia de como um amor mal resolvido pode acabar te machucando, você acha que sabe de tudo e quando vê, não sabe de nada. Muitos dos meus problemas, de não ter feito psicologia, foi que eu de fato, tenho um “dom” de ouvir o outro, e isso me frustra bastante, as pessoas me procuram, eu ouço e depois somem.

Me tornei o que meus amigos definem de “esquerdopata relax”, curtia defender todas as causas em todos os momentos, ao mesmo tempo em que brigava com os grupos quando agiam com infantilidade e egoísmo. Virei representante, conhecida entre os alunos, e me metia em confusões por conta disso, cogitei me mudar para as Ciências Sociais em uma visita ao 9º andar da UERJ, confesso que me ludibriei mais por causa da barba do rapaz do que as 10.000 palavras de ordem, que ele cuspia por minuto enquanto bebia um café no Centro Acadêmico, provavelmente foi nesse momento em que descobri minha vocação para “vender miçanga”.

Entre coordenar as disputas pelo Centro Acadêmico do 12º andar, que muitas vezes melavam, e uma resenha crítica eu acabei iniciando um curso técnico de Eletrotécnica, desisti do curso uns dois meses depois, os estágios da Pedagogia não me deixaram concluir, nossa doeu me despedir dos meus colegas de curso. Mas entre tantas desistências de fazer ou não fazer o processo de transferência interna na Universidade, meu computador acabou dando pau e eu descobri uma nova paixão entre tutoriais e sites com dicas de informática eu ia fazendo pequenos reparos no meu computador e nos computadores dos coleguinhas. Nada melhor do que uma nova paixão…

Cursar Pedagogia me fez nesses quatro anos perceber que eu quero dar aula, mas talvez eu não queira só isso, foi difícil admitir isso, principalmente porque segundo as leis da humanidade “você só deve ser uma única coisa nessa vida”. Cara, nem quando me relaciono eu consigo me relacionar apenas com uma pessoa, eu amo várias vezes ao mesmo tempo e é amor mesmo.

Esse ano resolvi fazer um curso de Informática com ênfase em programação, estou amando descobrir que “no mundo existem 10 tipos de pessoas, as que entendem binário e as que não entendem”, entendedores entenderam, de fato estou me divertindo enquanto armo na minha cabeça uma forma de “dominar” o mundo e ganhar uns trocados enquanto não passo em concurso público.

Por falar em concurso público tenho que admitir a ideia de passar, e fazer a mesma coisa durante longos 30 anos da minha vida vem me aterrorizando, eu quero, mas não sei se consigo, assim como não sei se consigo terminar algum dos meus intermináveis livros presos nas pastas do meu computador, nunca entenderei minha dificuldades de escrever finais, de concluir histórias, provavelmente isso deva ter alguma relação com o fato de eu muitas vezes ter dificuldade de enxergar o futuro, enxergar além pode ser bem assustador, então viva o agora.

O motivo de eu ter escrito isso é para mostrar quantas vezes cerceamos nossos próprios desejos, ou somos cerceados por nossos pais e até mesmo pelo Estado. Sabem o que me dá o maior medo nas reformas que acontecem no Ensino Médio, além de claro ter minha voz vigiada e castrada como professora? O fato de que cada vez mais os jovens têm uma leitura do mundo hipertextualizada, eles fazem muitas coisas ao mesmo tempo, de muitas formas.

Eu não fui a única a enfrentar esses dilemas, provavelmente não serei a última, se meu ensino médio fosse ainda mais restritivo em disciplinas eu seria ainda mais podada. Quanto mais se separa e desassociam as disciplinas, mas nos distanciamos do objetivo principal de ensinar. Não temos que racionalizar o ensino temos que o tornar atraente para que todos sintam que são capazes de se tornarem aquilo que quiserem, de desistirem e fazerem o que sentirem vontade.

Afinal não se ama uma única vez, se ama de várias formas, então se encantar por muitas coisas não é loucura, é só sua mente te dizendo que para você ser feliz, você tem que seguir aquilo que acredita. E daí se os números que usamos para programar não cabem dentro dos PDFs sociais que tanto lemos. O importante é viver longe das prisões que criamos para podar nossos desejos.

No fim acho que minha poligamia se estende a tudo em mim…