Feminismo, Violência

Eu não sou Culpada…

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Na madrugada de terça, 24 de maio, uma moça que poderia ser eu, minha irmã, amiga, conhecida ou desconhecida, qualquer uma de nós, ela foi violentada por trinta homens, que não satisfeitos com tamanha violência, ainda expuseram o vídeo em Rede Social, se vangloriando do ato, com frases como “ essa engravidou” e “foram mais de trinta”.

culpaNão se tem muito o que falar quando no dia seguinte ao ato, dia 25, a primeira visita pública ao Ministro da Educação, para se entregar uma proposta, provavelmente sobre as Escolas sem Partido, é um Estuprador confesso em Rede Nacional. Realmente não se tem muito a falar… principalmente quando o Suplente do atual Ministro da Saúde o deputado Federal Ricardo Barros (PP-PR) está preso desde fevereiro, Osmar Bertoldi, que teve a prisão decretada por cinco crimes, entre eles, estupro, agressão e cárcere privado da ex-noiva.

O Estupro, a cantada, o assédio, o cárcere, tudo isso é resultado de uma sociedade que ensina seus filhos a serem machos, a serem predadores, a não terem sentimentos e a tratarem mulheres como objetos de desejo sem vontades. Meninos são ensinados a serem abusivos, opressores, a excluir a eles mesmos, caso não caibam nessa concepção. Essa é a mesma sociedade que diz que a menina tem que ser sensível, respeitável, educada, linda, recatada e do lar, submissa aos homens.

O agressor se disfarça no comodismo dessa sociedade que não dá a nós (mulheres) direito sobre o próprio corpo. Se reclamos da cantada, eles dizem que são elogios, que é muito mimi; se reclamos das mãos, dos assédios, eles culpam nossas roupas, a bebida, a maquiagem; se somos colocadas em cárcere ou abusadas, a culpa é nossa, da nossa roupa, do horário que saímos, do local onde estávamos, por sermos infiéis, por dizermos não.

A sociedade grita na nossa cara que a Culpa não é do agressor e sim da vítima, eles nos culpam simplesmente por existirem.

Vivemos na cultura do Estupro, a prova disso é que a cada comentário que surgia criminalizando o ato, os agressores se justificavam dizendo que “a menina estava bêbada”, “se ela estivesse em casa estudando isso não ocorreria”, que “ela já estava acostumada”. A nossa sociedade banaliza tal violência assim como banaliza o racismo e a homofobia, tornando todos esses atos parte de uma rotina.

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Feminismo Empoderador (Página)

Rotina essa que faz parte da trama das novelas, onde um rapaz abusa de uma moça e é tudo romantizado, como se fosse algo normal, como se ela tivesse por obrigação gostar do ato que foi feito contra sua vontade. A televisão nos diz a cada instante como devemos ser e agir, nos dão um padrão idealizador de mulher perfeita que querem que sejamos.

Querem nos moldar, querem nos calar. Semana passada um ex BBB foi preso acusado de estupro, ao invés das pessoas culparem a ele, culparam a menina que tinha 13 anos que o “seduziu”, as reportagens ao invés de falarem dos crimes sexuais contra menores, falaram de como os “pobres” homens são enganados por menores de idades em baladas…

Ainda hoje, 26 de maio, me deparei com uma notícia na página do Coletivo de Mulheres da UFRRJ, uma das estudantes que havia sido violentada dentro do campus havia se matado. Essa estudante foi vítima não só desse agressor, como de toda uma comunidade que tentou culpabilizar a ela pelo ocorrido. Tal qual fez um professor das Ciências Sociais (UERJ), em uma postagem de uma amiga, que praticamente disse que uma mulher não pode entrar no quarto de um desconhecido.

Culpar, é isso que o Projeto de Lei 5069 pretende fazer, culpar a vítima, fazer ela se responsabilizar por algo que não teve culpa, a PL em questão, dificulta mulheres que sofreram violência a abortarem, aliás não só isso como também torna a essa criminosa, diz que ela tem que ser presa.RTEmagicC_violencia-contra-mulher.jpg

O nosso corpo não é nosso, é isso que esses babacas nos falam a cada segundo.

Não importa a idade dela, ou quem ela era, se tinha filhos ou não, se traiu o namorado ou não, se era viciada, o lugar onde se estava, nada disso importa, isso são apenas justificativas para que cada vez mais possa se culpabilizar a vítima. É isso que a nossa sociedade faz, culpa a vítima, por sua roupa, por seu batom, pela hora em que se encontra na rua, por ser mulher.

            Quem nunca tevê medo de andar sozinha na rua? Quem nunca desconfiou de um carro que misteriosamente diminuiu a velocidade no momento em que você passou por ele? Quem nunca teve seu corpo vítima dos olhares inquisitórios de homens? Quem nunca tevê medo dentro da própria Universidade? A grande realidade meus caros é que ser mulher nessa sociedade machista é praticamente nascer predestinada a sofrer com isso, como se nós, por sermos mulheres tivéssemos, que pagar uma pena por isso.

            Pena, punição… É isso nos culpam e nos penalizam, se vamos a delegacia relatar um caso de violência, nos tratam como loucas, nos olham como culpadas, impõe a nós uma outra violência que nos faz sentir uma #RaivaComRazão, aliás essa é a Tag nova levantada pela Organização Think Olga.

            prmeiroassedioA Culpa não é minha, a culpa não é nossa, a culpa não foi dela, da roupa, do lugar, da droga, a culpa é dessa sociedade que a culpou, a culpa foi dos 30 homens, pais, filhos, irmãos, a culpa foi deles, eles foram os criminosos, eles cometeram o ato, eles não se pronunciaram em defesa da vítima, nenhum deles e assim se fez 30 contra uma.

Aos homens que leram esse texto, nós não vamos nos calar, vamos gritar, não foram 30 contra uma, foram trinta contra todas nós. A cada dia sofremos com esse machismo enraizado em nossa cultura. Nós merecemos andar na rua sem nos preocupar a cada 10 segundos com quem está atrás, merecemos ser livres e não enclausuradas em um mundo que nos culpa por tudo.

 

 

Feminismo

Além da Bela, recatada e do lar…

Bem amores eu não vou ”Colar” o texto aqui, mas vou deixar o link para que vocês possam visitar minha ilustre participação junto com a Ana Luz, no blog ”Terras Frias”:

Enquanto eu lia a reportagem em questão, algo muito interessante se fez presente, Marcela não tem voz na matéria, ela é mera figurante em uma reportagem que a torna estrela. Não se tem a fala dela, sabemos quem ela é pelos olhares dos outros, pelo cabeleireiro, pelo marido, pela irmã, pela mãe, mas nunca por ela. A mulher perfeita, dona dos versos quentes do vice-presidente é também uma mulher sem voz, que não se definiu ‘’Bela, Recatada e do Lar’’; a definiram assim, e exatamente por isso ela se tornou calada, ela foi calada, e idealizada.

Clica aí para ler esse texto!

http://www.terrasfrias.com/2016/04/alem-da-bela-recatada-e-do-lar_22.html

Racismo

Que Mimi é esse Dona Isabel?

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Dona Isabel que história é essa de ter feito abolição,
De ser princesa boazinha que libertou a escravidão
Tô cansado de conversa, tô cansado de ilusão
Abolição se fez com sangue que inundava este país
Que o negro transformou em luta cansado de ser infeliz
(Mestre Toni Vargas)

Amados Leitores, voltei após o carnaval e aniversário sobrevivi a ambos e continuarei tentando sobreviver até segunda feira, mas vamos ao assunto.

Tive muitas inspirações para esse texto uma delas meu próprio grupo de amigos que desconheciam haver racismo, que atos de racismo são só um grande mimi e que adivinhem só, de acordo com eles as oportunidades são as mesmas para todos, conseguir ou não algo vai depender da força de vontade da pessoa, afinal ano passado tivemos aquele senhor que concluiu a faculdade de direito com mais de cinquenta anos pedalando de bicicleta todos os dias… (HAHAHA senta lá Cláudia!)

Grande exemplo com toda certeza, mas o interessante a se pensar é porque esse senhor só voltou a estudar depois de tanto tempo? Pobre, negro, pedalando quilômetros com uma bicicleta… Qual o motivo dele ter abandonado os estudos? As oportunidades são as mesmas para todos? Porque ele só voltou agora e porque mesmo com essa idade avançada ele continuou trabalhando como pedreiro, pedalando ao invés de viajar de ônibus? Amados se vocês acham que isso é mimi, é bom parar a leitura por aqui!

É inevitável olhar para a rede pública de ensino dos grandes centros urbanos, no meio das grandes favelas é caracteriza-la como um lugar de gente pobre e/ou negra, é interessante você vê uma constante de pessoas com menos de 18 anos tendo que trabalhar para alcançar sua liberdade, para ajudar em casa, para ter o que nunca possuiu… Algumas dessas pessoas em algum momento de suas vidas vão optar pelo trabalho aos estudos, vão estudar a noite, vão chegar atrasados, vão dormir no último tempo e reprovar nos primeiros… Igualdade…?

Quando essas pessoas alcançarem a Universidade vão perceber que a Universidade Pública não é para pessoas pobres, não, realmente não é. Professores inflexíveis que se acham os reis por terem um Concurso Público, um horário que mesmo não sendo integral se torna integral, e coleguinhas de outros cursos que se acham superiores a você só por não possuírem cota, por não precisarem trabalhar para se sustentar e muito menos enfrentar o transporte público para se chegar a Universidade e consequentemente não contar as moedas.

Não, eu não era cotista, levei marmita, contei moeda, repeti a roupa, não comprei a xerox, já pensaram que eu fosse, digo com muito orgulho que se eu fosse seria muito feliz, alguém tem noção de quão difícil é passar por cota? É, é muito difícil, fora o fato de você conseguir manter o lindo benefício que não dá para nada no fim no mês. Minha total admiração aos cotistas que por muitos anos foram e são melhores que muitos não cotistas… Digo mais, o número de Cotas não sustenta o número de gente que precisa dela em uma Universidade Pública…

Refletindo aqui sobre todo esse mimi que me acusam, percebo que boa parte das minhas amigas não me consideram negra…, meio difícil eu sei, mas quem não se lembra do caso da ex-Globeleza Nayara Justino, a acusaram de ser negra demais para o padrão estético da Globeleza (UAI????), a mulher foi substituída do nada. E aí eu percebo pela segunda vez o quão o FDP é o Racismo, nós negros não nos consideramos negros no Brasil porque sentimos medo da repressão que o “ser negro” representa e por vezes denominações como, moreninha, mulata, morena, são melhores do que se ouvir falar que é negra…

Para não esquecer galera sou contra a Globeleza e toda a ideia da erotização do corpo da mulher negra, principalmente no carnaval, comerciais de cerveja com toda aquela ideia do corpo do pecado, pouca roupa, quero descobrir porque nesses momentos não vejo a coleguinha loira, alta e branca? Sem falar claro nas fantasias sem noção de Nega Maluca, a história em torno de tal fantasia é que ela era uma escrava que foi abusada e engravidou do rapaz branco, cara isso não é engraçado é cruel, é abusivo, é machismo a mulher não era maluca…

Eu me considero negra, meu pai é negro, meu avô era negro e por ter a pele um tom mais claro que a deles, muitas das amigas me acham “morena” e por eu ser “morena” admito que tenho certos privilégios que nem meu pai e nem meu avô tiveram, sou consciente disso pois já cansei de ter que sair do carro do meu pai para revistarem, da última vez rolou até uma ameaça com arma… Uma arma a menos ou a mais quem liga? (é só mimi galera, vitimismo!)

Preta, pobre e favelada é assim que eu me considero, mesmo com o privilégio (perante a sociedade) de eu nascer com um tom de pele mais claro (“moreninha”) eu sou constantemente vigiada quando vou a shoppings na Zona Sul, lá eu não tenho privilégios, eu sou negra (sério, mesmo?), minha roupa não é de marca, meu sapado não é importado, meu óculos de sol é da SAARA e bem meu Cabelo é meu Cabelo livre, leve e cheio, lá eu sou negra, pobre e favelada e em alguns momentos descabelada.

Um dos detalhes que eu constantemente toco no assunto é que eu sou Pedagoga, recém formada, e isso me permite ver por muitos ângulos uma mesma situação, eu tinha uma amiga que fazia estágio em um renomado colégio da Zona Sul do Rio, ela é negra e em um determinado momento do estágio ela trançou os cabelos, adivinhem o que aconteceu? Sim começaram a reclamar disso, (reclamaram do Black também)… Mas gente é só um cabelo… Um cabelo que para muitos é simbolismo da resistência, da cultura, da sobrevivência de uma raiz… Dou um doce para quem adivinhar se o quantitativo de crianças negras nessa escola era proporcional? Não, não era, aliás nem na escola que eu fiz estágio na Tijuca, (Considerada alternativa!) mas fato é que algumas dessas crianças não se identificavam com o cabelo da minha amiga e achavam o próprio cabelo feio.

Vou aproveitar todo esse papo com a escola e vou falar sobre um assunto que essa semana me teve entalado na garganta…

Deparei-me com aquela imagem do menino negro vestido de Abu (o macaco de Aladim) demorei bastante tempo para conseguir assimilar o acontecimento, confesso meus sentimentos foram deverás ambíguos, de acordo com os pais não foi intencional e não iriam expor a criança a isso. Fato é que tal foto gerou polêmica principalmente pelo fato da criança ser adotada, e eu de verdade prefiro acreditar no amor desses pais que não se identificaram com as lutas que futuramente seu filho enfrentará apenas por ser negro. (APENAS!)

Que o diga Kaike Pereira de 13 anos, ator da Rede Record!

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Mas vamos debater esse assunto de forma social? Uma criança negra vestida de macaco? Meus amores o macaco poderia até ser o King Kong ainda assim em uma sociedade como a nossa isso é racismo sim! Crianças negras independente da classe social são constantemente chamadas de Macacas, nós vivemos em uma sociedade que faz questão de lembrar que os negros descendem de escravos e que faz questão de dizer que por esse fato merecem estar subjugados aos piores empregos, as piores condições, aos piores tratamentos, por esse fato merecem continuar na senzala, na cozinha da casa grande cuidando dos filhos dos patrões. Muita gente prefere se esconder atrás do rótulo de morena, parda, mulata pelo simples fato de não quererem estar subjugados ao estigma social que o branco impôs ao ser negro.

Não se conta toda a história de quando foram escravizados, retirados de suas casas, de quando arrancaram seus filhos dos braços, destituíram seus líderes, queimaram suas lembranças, mataram seus homens, abusaram de suas filhas e mulheres… Os Deuses, a Cultura os sonhos foram esquecidos, aniquilados e convertidos no que o Ocidente chama de pecado, misticismo, crença!

O menino em questão foi adotado por um casal de poses, vai morar em um bairro legal e conforme for crescendo vai perceber que o fato de ele ter sido adotado por um casal branco não o protegeu dos desatinos da vida, ele não é branco, ele é um negro em um local de branco e constantemente vai ser encarado como o “coitadinho que foi adotado” e/ou “eterno menor abandonado”…, vai enfrentar os coleguinhas brancos na escola que o consideram diferente, vai vê aquela foto sua da infância vestido de Abu sendo usada como justificativa para os xingamentos, não vai se identificar com seu cabelo, com sua cor e vai crescer sobre constantes olhares estigmatizadores, principalmente quando começar a frequentar os lugares chiques da Zona Sul ou encarar a polícia subversiva que aponta a arma, bate e depois pergunta.

Vivemos em um país que diz que “o Racismo está nos olhos de quem vê”, “O mundo tá chato”, “se a criança fosse branca não teria esse problema” “isso é drama é se fazer de coitado”… E esse é o grande Xis da questão, a criança branca não vai crescer estereotipada com milhares de preconceitos e olhares tortos em sua direção enquanto entrar em uma loja, a criança branca não vai ser chamada de macaca pela simples comparação de sua cor, com atos referentes a líderes religiosos que diziam na época da escravidão que negros eram animais e não tinham alma.

Que fique bem claro caro leitor, se vocês acham que só porque uma pessoa é de classe média ou da rica, milionária, ela não irá sofrer preconceito, não eu não digo isso, isso é uma inverdade… A prova disso são os Artistas globais nacionais e internacionais que vira e mexe são vítimas de injúrias raciais, a prova disso são os pesquisadores negros que são constantemente barrados nos eventos em que são palestrantes. A prova disso são aos donos de carros, de prédios, de lugares que são confundidos ou com o motorista, com o vendedor ou com o assaltante, A prova disso são os moradores dos condomínios de dois elevadores (o de serviço e o convencional) que constantemente recebem um olhar devastador, aquele olhar, de que o lugar deles não é ali, não é naquele elevador, naquele condomínio, naquele bairro, naquele carro, naquela novela, naquela universidade….

É e se no fim você continuar vendo tudo como um grande MIMI de gente que só que se vitimizar, seja feliz pois você é um grande privilegiado socialmente!

(Texto bisoiado pela Alyne Ferreira, a amiga das trancinhas que eu citei!)

Quem te ensinou a odiar a textura do seu cabelo?

Quem te ensinou a odiar a cor da sua pele a tal ponto que você alveja para ficar mais branco.

Quem te ensinou a odiar a forma do seu nariz e lábios?

Quem te ensinou a odiar você mesmo da cabeça aos pés?

Quem te ensinou a odiar os seus iguais?

Quem te ensinou a odiar a sua raça tanto que vocês não querem estar perto uns dos outros?

É bom que você começar a se perguntar quem te ensinou a odiar o que Deus te deu.”

 – Malcolm X – Por qualquer meio necessário.

Texto de Juliana Marques postado em 15/02/2016

Feminismo, Padrão

Padrões: o vírus da normalidade

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Estava pensando a respeito do que escrever essa semana, acabei me deparando com os milhares de compartilhamentos sobre a Boneca mais famosa dos últimos tempo, sinônimo de beleza e moda, mesmo sendo difícil admitir ela é o ideal de beleza de muitas meninas e a idealização de muitas pessoas sobre o quê é ser mulher…

Ainda no começo dessa semana comecei a me perguntar o motivo desses milhares de compartilhamentos a respeito das novas formas da boneca que mais impõe rótulos, todas poderemos ser enfim contempladas pelos novos pedaços de plástico moldado? Na verdade, não.

A velha boneca, branca, loira, magra e de olhos azuis continua intacta em sua onipotência de que ela é a soberana, ela não é negra, nem tem cabelos de caracóis, não tem medidas acima do 36, continua intacta assim como sempre esteve, não utiliza a cadeira de rodas tal qual Becky, sua miga, aliás Becky nem mesmo é produzida hoje, enquanto a Barbie continua sendo a atriz principal dos seriados, filmes e jogos de videogame “para meninas”.

Milhares de meninas assim como eu já tiveram ao menos uma Barbie em suas mãos, já olharam para ela e para o espelho ao mesmo tempo, já alisaram tanto os cabelos com a escova que chegaram a arrancar os fios, não se identificaram com a cor da pele, já quiseram ser a Barbie em frente ao espelho e se tornaram-na não porque quiseram, mas sim por ser uma imposição e por esse motivo, só por esse eu entenda que o motivo de tantos compartilhamentos.

Mas esse fato não irá inibir a exclusão e o desencantamento diante ao diferente, Becky deixou de ser produzida depois que a fabricante passou sua mensagem de apoio aos deficiente, mas continuam tendo crianças deficiente, elas não deixaram de ser deficientes, não deixaram de ser excluídas. Eu entendo o encantamento diante a essa nova ideia de ter perto de si tantas bonecas brancas e de olhos azuis e não se identificar com nenhuma, mas eu também entendo que para a empresa tudo é apenas um jogo de mercado, onde bonecas são simples pedaços de plásticos moldados para se reproduzir padrões e se ter lucros.

            Nos deparamos com o século da comunicação, século XXI onde nada é impossível, nada é improvável, onde a verdade pode ser vista por vários ângulos e a mentira essa pode ser facilmente escondida atrás de algumas palavras, padrões, costumes, gírias, gestos, em geral tudo que utilizamos em nosso rotina, é nos passado como algo natural acarretando um processo que ignora e recrimina o diferente, cria-se um estigma sobre  aquele determinado indivíduo que tem condutas que frustram a normalidade daquela sociedade, nós criamos um sistema em que nos tornamos objetos de nossas ações, nós nos vigiamos e vigiamos o outro, ” a domesticação foi algo que os seres humanos sempre fizeram para melhorar e assegurar as suas vidas quotidianas ” (SILVERSTONE, 2006).

simpsonlisaA mídia televisiva acompanha os acontecimentos rotineiros, existe um episódio dos ”Simpsons” de 1995 (Lisa e a Boneca Falante), em que se satiriza o poder da Barbie que durante anos vem impondo a meninos e meninas formas de pensar, o padrão de beleza, comportamento e etc…, nesse episódio Lisa compra uma boneca Malibu Stacy falante, cuja as frases da boneca são de total submissão ao sexo masculino, ”Não me pergunte, sou apenas uma garota”, ” vamos fazer compras?”.

            Lisa Simpson a personagem budista, vegetariana, politicamente engajada é a personagem ideal para se discutir esse tipo de assunto, nas diversas imagens de seu futuro ela é mostrada como alguém que quer mudar o mundo, sofreu Bullying por sua forma de se vestir e se portar, essa é a imagem criada para destoar de todo um universo que vê e desenha o feminino como algo frágil e quebrável muitas vezes ligada a sensualidade e ao sexíssimo, onde até mesmo quando meninas que não se identificam com a figura frágil das princesas querem ser heroínas, vão se encontrar presas ao estereótipo do corpo perfeito, das curvas e roupas curtas.

            Lisa Simpson é cada uma das crianças, entre meninas e meninos que já quiseram se encaixar na pequena caixa da Barbie na qual não cabiam, a idealização do que é ser mulher e do que é ser homem começa a ser empregada ainda na infância, é na infância que as frases do que pode e que não pode se fazer de acordo com seu sexo começam a ser textualizadas.

“Não bata como uma menina”, “Não senta assim”, “essa boneca é a sua cara”,

 “se comporte como uma mocinha”, “meninos não brincam de casinha.”,

“Larga isso aí, isso é da sua irmã”, “Isso é coisa de Frutinha”.

“Meninas brincam de boneca e meninos de bola”

            Essas e tantas outras frases já fizeram parte da vida de muita gente… A exclusão e a domesticação, o olhar inquietante do outro para aqueles que não se adequam a um padrão social, aos que não tem uma tribo, aos que são diferentes e não se importam com esse fato. Esses olhares impõem estigmas, como se a diferença entre o eu e o ele, fosse um crime, impõe ideias, conceitos, o diferente se torna a ameaça e por ser uma ameaça a suposta normalidade, busca-se a exclusão.

            No clipe de 2004 ”Barbie a princesa e a plebeia”, são informados os hábitos que uma princesa tem que ter, ”ter mil sapatos”, ter ”conduta exemplar’‘ além de informar que mesmo se ela ‘‘não gostar, ela tem que dizer sim”. Nos remetendo novamente ao papel do masculino e do feminino e de como essa ideia é trabalhada na mídia, porque as meninas não podem brincar de jogos de guerra? Porque elas têm que saber se comportar bem? E principalmente porque meninas não podem ocupar determinadas profissões, ter carreiras de sucesso, porque não se pode ter a representividade do que é ser mulher?

No episódio já citado dos Simpsons, Lisa tenta fazer de tudo para mudar essa imagem que a boneca tenta passar, ela contata a criadora da boneca e sugere que ela possa ser a modelo (físico) para a criação, mas segundo a criadora ela não tem o ‘‘padrão (estético) perfeito”, assim como a MATTEL que cria outras bonecas para mostrar a ‘‘diversificação’,’ mas no final o plástico apenas mudou de cor.  Quando Lisa finalmente consegue com a ajuda da criadora da boneca uma nova boneca batizada de ”Lisa Coração de Leão”, no qual as frases eram encorajadoras, elas não conseguem sucesso porque o dono da franquia da Malibu coloca um chapéu na boneca que fora isso continua a mesma, incluindo as frases.

A nova reforma do visual da boneca de nada significa, não importa se vão ser sete tons de pele, quatro tipos de corpos, 22 cores de olhos e 24 estilos de cabelos diferentes, nenhuma delas será a Barbie, porque essa segundo a mensagem da própria fabricante continua sendo única e perfeita e todas as outras são só as amigas da Barbie. Seria cômico se não fosse trágico a empresa após 57 anos de imposição de uma beleza esteticamente impossível de se possuir, resolve contemplar e reconhecer outros tipos de mulheres, será que essas mulheres agora contempladas deveriam sorrir e agradecer ou deveriam rir da cara da fabricante, afinal sua existência não depende do reconhecimento de uma boneca, dentro desses 57 anos inúmeros padrões de mulheres sempre existiram. Ironicamente tal fato ocorre justamente quando segundo o jornal Eliane Brum, El País, quando houve uma queda significativa nas vendas.

Dentro desse círculo de 57 anos muita coisa aconteceu, mulheres se tornaram presidentes, venceram lutas em ringes, lutaram pelo protagonismo, por respeito, por igualdade e reconheceram que não é uma boneca magrela que vai nos fazer ser mulher, amaram seus corpos, reconheceram suas diferentes belezas. A mídia embuti a ideia da mulher perfeita em formas de plástico e potes de creme apenas para se enquadrar dentro de um mercado, não existe perfeição, mulheres vão continuar sofrendo com o machismo, vão continuar a ser ensinadas a ser submissas e a entrar em um padrão para não ser excluída, mulheres vão continuar lutando por direitos, respeito e igualdade.

Não é necessário presentear uma menina com uma boneca para ela saber o significado do que é ser menina, ela tem o direito de ser o que quiser, de jogar bola e brincar na lama inclusive ela tem o direito de não ser menina.

Fontes de pesquisa:

Novos Regimes de visualidade e descentramentos culturais

Jesús Martín-Barbero

Gênero Sexualidade e Educação / uma perspectiva pós-estruturalista

Guaciara Lopes Louro

Estigma- capítulo Estigma e identidade Social

Erving Goffman

Artigo: Domesticando a domesticando a domesticação. Reflexões sobre a vida de um conceito

Roger Silverstone

Fonte da imagem 1:

http://www.tumblr.com/tagged/malibu%20stacy?language=pt_PT

Texto Publicado originalmente em 07/02/2016 por Juliana Marques

Feminismo, Poliamor, Sexo

Solidão a dois… O poliamor e a complexidade de amar

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Imagem retirada do site: sucessonosrelacionamentos.com.br

 Solidão a dois de dia
Faz calor, depois faz frio
você diz: já foi
Eu concordo contigo
você sai de perto
Eu penso em suicídio
Mas no fundo eu nem ligo
Você sempre volta
com as mesmas notícias (Cazuza)

 

Eu sou uma escritora de coisas pesadas, poucas, pouquíssimas pessoas sabem desse meu lado mais caliente, mas não é para mostrar meus textos que eu vim aqui, na verdade os leitores do blog raramente vão descobrir esse meu lado, entretanto entrei nesse tema por um simples fato eu acredito no poliamor,  o amor além das convenções sociais, um amor que não se contenta em ser só a dois, mas eu sou um contraponto, minhas histórias continuam sendo monogâmicas e cedendo ao que a sociedade acredita ser o certo.

A sociedade nos diz ‘’e viveram felizes para sempre’’, que ‘’ele era o único e verdadeiro’’, que ‘’só existe um único amor’’, isso não é mentira, mas também não é verdade, existem pessoas que amam demais, que não se contentam em sentir um único olhar e que amam amar e não se sentirem presas a determinadas convenções. Existem pessoas que amam amar loucamente o mundo, que dizem “eu te amo” para o vento enquanto beijam o mar.

O poliamor não é um fetiche, veneração a masculinidade ou feminilidade, poliamor é assumir um amor além, com respeito, com diálogo, um amor partilhado e ao mesmo tempo ampliado, amar é se doar, estar em um relacionamento poligâmico é entender que todas as partes, tem voz, não existe líder, existe amor, não se ama sozinho, se ama sendo correspondido, partilhando e não se reprimindo, afinal poli no latím significa vários, amor entre várias pessoas.

Amar, amar e amar muito, isso é poliamor, é sentir e ser sentida entre os versos de mais de uma boca, entre os olhares horas tão calmos, horas devoradores, poliamor é desejo, tesão, carinho, atenção.

O fato de eu acreditar no poliamor não significa que eu não entre em um relacionamento a dois, significa apenas que eu aceite que existam enumeras chances de eu me pegar amando alguém que não é meu companheiro, significa que meu amor não cabe a nós dois, significa dizer que eu vou me sentir só em algum momento por não estar completa, significa dizer que eu provavelmente seja uma pessoa bem resolvida quanto a minha sexualidade e que não imponha sobre ela rótulos.

A forma mais conhecida de poliamor é a poligamia, essa forma na verdade é bem recriminada pelos que acreditam no poliamor, (tipo eu), a ideia da poligamia se encontra ligada a arem, a disputa ciúmes e muitas vezes ao não diálogo, em sua maioria não existe um convívio entre todos e só entre o casal, a figura central e seus ou suas parceiras, é um relacionamento a dois, baseado no controle e na afirmação de poder.

A polifidelidade como o nome diz preza a fidelidade dos membros daquele relacionamento, seguindo as regras da monogamia, eles se relacionam entre si e são felizes assim, se relacionando e se amando, todos ao mesmo tempo, ou não.

Existe ainda os famosos relacionamentos abertos, onde os dois parceiros ou apenas um tem relações extraconjugais, baseadas apenas no desejo, continuam tendo um relacionamento a dois, não considerando as relações extras como traição.

Eu só entro em relacionamentos quando eu amo, eu entro em um relacionamento conjugando o verbo amar, mergulho, solto de cabeça, mas eu saio com a mesma sintonia que entrei quando não me sinto inteira, correspondida, minha inconstância me permite amar até mesmo quando o relacionamento termina, o amor não acaba ele estaciona e fica ali no cantinho, escondido, paradinho naquele local tão pequeno, esperando para ser desperto ou apenas abandonado ali.

O maior erro dos términos é a doce e perversa ilusão de se esperar que tudo vai ser apagado, não vai, vai ficar tudo paradinho ali, então uma boa forma de se terminar uma coisa é aceitar que iniciar aquilo não foi um erro, foi apenas um desvio, houveram tropeços mas também felicidades, acabe algo compreendo que você não é culpada ou culpado, as coisas só não podiam ficar daquela forma, por vezes imutáveis e não satisfatórias a ambos.

Amar é isso e também aquilo, amar é dizer sim e dizer não, amar é dividir e agregar, amar é odiar a sensação de se te amor. Amar é um erro matemático onde dois mais dois nunca dá quatro, amar é compreender que só você amar não basta.

Não existe amar sozinho, existe amar e conjugar com outro, ou outros esse amor, amar é se olhar no espelho e falar que “eu posso ser feliz”, é acreditar que sua felicidade só depende de você, amar é fazer sua felicidade com o outro, amar é se completar com erros e acertos, amar é ri e dançar na chuva apenas encarando aquele riso te admirando enquanto se embalava ali nos seus passos tortos.

Amar é  encarar que esse relacionamento, seja ele qual for, pode não dá certo, pode ser mal interpretado, você pode não saber lidar, amar é compreensão entre todos, amar não  é subjugar. O poliamor tá bem longe de ser uma relação de controle e sim de respeito e liberdade.

Muita gente acha que liberdade sexual, é o sexo sem camisinha ou transar loucamente, na verdade a liberdade sexual é sim você ter o direito de fazer sexo com que bem entender, é você poder falar disso sem ser recriminada, é entender os seus desejos e os desejos do outro, com respeito e cuidado (usem camisinha povo!), a liberdade sexual é o caminho para aceitar que somos livres para sermos felizes e construir ou não relacionamentos.

Devia ter amado mais / Ter chorado mais / Ter visto o sol nascer Devia ter arriscado mais/ E até errado mais/ Ter feito o que eu queria fazer (Titãs)

Construir um relacionamento não é pautar todos os seus sonhos no outro, longe disso, amar a dois, três, quatro, quantos forem é respeitar, dialogar e se tornar um sabendo que vocês não são só isso, é se amar, ter seus sonhos e sonhar com o outro. Amar se torna complexo quando se confunde com prisão, o amor não é feito de amarras… O amor deve se confundir com a loucura, com os desatinos, com a liberdade e com o respeito, não existe amar só com um.

Texto publicado por Juliana Marques no dia 22/01/2016

Saúde, Sem categoria

Comer ou correr? Eis a questão…

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Comida Rápida, Fast Food, a maioria de nós ao menos uma vez já se rendeu a esses pecaminosos pedaços de carne com molho especial e pão, muito pão amassado, praticamente espremido em uma caixa, afinal na correria de nossos dias tudo que queremos é algo rápido, gostoso e barato…

                Raramente percebemos o quê a ingestão desses alimentos faz ao nosso corpo, achamos que as espinhas são do calor, que a gordura a mais é puramente normal, que a dor na região abdominal é causada por tudo menos pela comida, sem falar que até mesmo a promoção mais barata do podrão no fim da rua pode nos causar um rombo monumental no fim do mês e uma barriguinha indesejada e tudo isso por causa daquela vontade de consumir a imagem meramente ilustrativa.

Algumas coisas que podem ser observadas antes de dar aquela mordida no pão de hambúrguer e se melecar todo no molho especial:

  1. Os altos índices de gordura e colesterol o que acaba muitas vezes propiciando doenças arteriais.
  2. Pouquíssimas fibras o que pode prejudicar o funcionamento do seu intestino. (ou seja você passa a dar lucros a duas empresas ao mesmo tempo a de Fast Food e a de Iogurte)
  3. Sal, muito sal e ele não tá presente só na comida mas também no refrigerante e na maioria dos produtos instantâneos, (Miojooooo nãooooo, a salvação dos universitários falidos, que não tem dinheiro para Fast Food ou que chegou atrasado em algum lugar, ao menos compartilhamos da pressão alta.)
  4. O consumo excessivo desses alimentos favorece a obesidade, sabe aquela gordurinha, aquele gasto com a academia, aquelas dietas malucas, tudo ficaria mais fácil se o fast food, o miojo e a coca cola e todo aquele balde calórico não estivessem no meio do caminho.
  5. A obesidade infantil.
  6. A ingestão rápida demais de alimentos grandes demais, propicia além daquela dor maldita lá no fundo da alma uma série de problemas intestinais.
  7. A procedência duvidosa de muitos produtos não só das famosas redes de Fast Food como dos podrões de esquina.

Mas porque eu estou insistindo em um assunto sobre comida? Ainda mais um assunto que nós já estamos cansados de saber, afinal a algumas semanas até mesmo a OMS (Organização Mundial de Saúde) se pronunciou quanto ao consumo de carne e o quão nocivo ela é ao nosso corpo podendo propiciar uma série de doenças, principalmente o Câncer.

                Voltemos ao assunto e aos motivos de eu ter escolhido esse assunto hoje, não sei se vocês sabem, mas para se ter aquela boa e velha carne grelhada e malpassada na churrasqueira é necessário desmatar e consumir um valor absurdo de água, a grande verdade é que se não consumíssemos carne provavelmente não enfrentaríamos boa parte dos problemas ambientais que temos hoje, boa parte eu não falei todos, jamais…

                Quando eu terminei a faculdade eu acabei percebendo que eu passei a consumir financeiramente menos, afinal deixei de comer na rua, ou melhor beliscar, eu sempre fui das que levava marmita e só aproveitei o bandejão poucas vezes, mas ainda assim senti uma grande diferença principalmente porque eu aboli boa parte dos produtos industrializados e até mesmo a carne, minhas roupas começaram a diminuir de tamanho, minhas espinhas diminuíram e meu cabelo misteriosamente ficou mais brilhoso.

                As empresas de alimentos movimentam o mundo, você come quando tá feliz, chateada, quando tá com fome, entediada, quando tá com preguiça e quando tá agitada, nós não paramos de consumir comida e por causa dela gastamos dinheiro com remédio, médicos variados, com cabelereiros (afinal nossa comida influência nosso cabelo), gastamos com academia, com terapeutas, com mais comida, com roupa, por causa da nossa comida cria-se inúmeros gastos variados e por mais que alguns tenham o vale alimentação do trabalho, ele não pagará nem metade dos gastos que se derivaram.

Texto de Juliana Marque publicado em 14/01/2016

Feminismo, Violência

Enem 2015: Redação ou Relatos?

Eu estava no
meu trabalho quando pensei: Sabe, eu vou estudar, meus filhos já estão crescidos. Então saí do trabalho e vim ao colégio. Fiquei tão feliz quando consegui! Cheguei em casa e falei para os meus filhos e para o meu marido. Eles acharam legal e me deram a maior força para eu voltar a estudar. (Sandra Maria, 2009:86).

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      A fala em questão diz respeito a uma das muitas falas presentes na minha monografia, especificamente no terceiro capítulo que trata da questão de Gênero na Educação de Jovens e Adultos, voltar, abandonar, amar, construir versos pulados, estrofes abandonadas, isso tudo faz parte daquelas mulheres que compõe essa modalidade de Ensino, elas abandonaram tudo por outros e não por elas. É com essa fala que dou início ao texto de hoje.

          Em 2014, o Disque 180, Central de Atendimento a Mulher prestou atendimento a 485.105 pessoas, desses 52.957 faziam referência à relatos de violência esses dados são disponibilizados pela SPM-Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ainda ontem os jornais noticiavam que 55 redações do ENEM 2015, segundo o MEC, tiveram relatos pessoais de violência sofrida, de acordo o Ministério, essas mulheres relataram serem vítimas ou testemunhas de alguma violência.

             Observar esses dados é perceber que nascer Mulher em um País com uma essência machista é nascer no Desprivilegio, nascer sem ter suas próprias escolhas, é nascer com a certeza de que sua vida sera incerta, que a sociedade colocará sobre si comandos que você não quer realiza, sua única certeza será que ao menos uma vez na vida você será subjugada a alguma violência física ou psicológica apenas por ser mulher.

         Dede muito cedo os filhos desse país são ensinados a serem machistas, nossos pais são machistas, nossos amigos, nós somos machistas, fomos criadas diante a uma ideologia que trata as mulheres como frágeis criaturas que são incapazes de decidir por si mesma suas ações, roupas, costumes e maquiagens, somos veladas e cultuadas para bel prazer, nos dizem o que é certo e o que é errado, e o que para muitos é cuidado na verdade é machismo, violência, controle emocional.

          Vozes gritam a cada dez segundos que elas tem ESCOLHAS, que nós temos Escolhas, mas isso não é verdade, as frases são convincentes, os gritos são muitos, nos calam e calam, as razões são muitas, filhos, pais, dependência, baixa alta estima, opressão seletiva, falta de apoio, é difícil nadar contra maré diante a tantos fatores, afinal meninas brincam com bonecas para desdê pequenas aprenderem que a elas competem os filhos, a casa, o cuidar e o amar, não foi nos dado escolhas. Recorro mais uma vez a minha monografia para falar de tal ato:

Escolha? Ela parecia inexistente em um mundo de certezas, certezas que não eram as suas. Sentiu-se culpada por seus sonhos irem além dos seus casulos, se sentiu culpada pelos olhares famintos, e pelas dores alheias, se sentiu culpada por não saber dizer não e por ser obrigada a dizer sim, se sentiu culpada por sua roupa, por seus medos, por tudo que era relacionado a si, porque simplesmente nesse momento ela era outro. (SILVA. Juliana. UERJ)

           A essas mulheres como Sandra, Tereza, Maria, minhas tias ou avós competia uma única coisa abdicar de seus direitos em prol de outros, estudar, viver, sair, sua vida não a pertencia mais e isso significava que todas as suas escolhas eram em função dos que estavam a sua volta, cuidar dos irmãos enquanto os pais trabalhavam, cuidar dos filhos enquanto o marido trabalhava, cuidar da casa e do marido, abandonar os estudos para trabalhar, abandonar o trabalho para cuidar da casa e dos que nela residem. 

           O machismo tá ali, logo ali, no canto da sala ouvindo os gritos de Não pode da mãe e as ordens do pai, se encontra na desistência em prol de um amor, nos gritos calados, nas manchas roxas inquestionáveis, nos gritos de choro, nos desabafos…

            A redação do ENEM que para muitos foi algo perfeitamente normal para outros se tornou um diário secreto, um diário aberto, um veículo para gritar ao mundo que tudo aquilo que vemos relatado no Facebook, nos jornais não é mera ficção, não é algo difícil de se encontrar, que aquilo que outros tem tanta facilidade de escrever para ela ou para ele é algo extremamente torturante pois aconteceu com a irmã, com a mãe, com a tia, com a avó, com ela.

       Essa infantilidade humana de se dizer perfeita e olhar apenas para as notas 1.000 e não questionar as notas baixas, os zeros, os motivos que foram muitos para tal ato acontecer. Para muitos pode parecer impossível que alguém que fale e lute com tamanha propriedade sobre esse assunto consiga tirar uma nota abaixo de 600, mas essa não é a realidade, não falo apenas de coesão, coerência e toda aquela finalidade da língua portuguesa, se expressar em palavras é algo muito difícil ainda mais para quem viveu algo assim. Quem garante que os mais de 104 alunos que tiveram nota mil ao menos alguns não eram os agressores que praticam tal ato, falar de agressão se torna fácil quando se é o manipulador que convence a todos que é o inocente.

            O tema da redação na verdade expôs um problema grande no Brasil a violência e a banalidade com a qual a tratamos, uma menina não pode ser assediada em um programa de televisão e isso ser tido como normal, uma mulher não pode ser morta e isso virar piada, nascer mulher não é nascer como um pedaço de carne que qualquer um pode avançar e pegar. O tema da redação expôs algo muito pior não estamos preparado para lidar com nossos erros, a sociedade te puni pela saia curta, pelo batom vermelho, pela calça apertada, pela forma como anda, a sociedade não aceita que isso é uma violência, não aceita que oprimir o outro não te faz pior ou melhor do que quem comete violências físicas, te torna igual e igualmente opressor.

         Banalizar, normalizar e romantizar, nós conjugamos esses verbos, disfarçamos a violência e impomos a elas rótulos que não cabem, ter ciúmes não dá o direito de agredir, matar e humilhar o outro. Não sei se alguns de vocês acompanham a nova minissérie da Rede Globo, Ligações Perigosas, baseada em um livro que já teve milhares de adaptações, eu não li e nem vi nenhuma delas, muito menos essa mas a internet ferve e eu vejo, mas isso não vem ao caso, o ponto que quero chegar é no Estupro que tendenciosamente foi romantizado nas telas da dramaturgia, o problema não foi a demonstração do ato, o problema foi a direção da telenovela ter romantizado o ato como se aquilo fosse algo normal, uma virgem tendo sua primeira experiência, aprendendo e deixando de ser menina, a banalidade como a cena foi tratada foi tamanha que até mesmo o site da emissora em questão apenas noticiou que fulanos ”dormiram” juntos, como se ambos quisessem consumar o ato.

         É nesse momento em que a ficção se mistura com a realidade no momento em que deixarmos de pensar que violar um corpo é algo normal, que a culpa pela violação é de quem foi violado, no momento em Pensarmos que as pessoas tem escolhas, tem desejos, elas podem dizer NÃO, elas não são obrigadas, não é por ser mulher que eu tenho que ser assediada pela minha roupa curta ou por descer até o chão. O fato de eu nascer mulher não deve significar que eu tenha que seguir uma linha reta daquilo que a sociedade espera de mim, aliás a sociedade não pode esperar nada de mim, porque nem eu mesma espero algo de mim.

         Nós como sociedade temos que olhar para outro como se outro fossemos nós, afinal nós fazemos parte da sociedade e só quando percebemos o significado da palavra empatia aprenderemos o que é viver em sociedade. 

Texto publicado por Juliana Marques em 12/01/2016

Feminismo

#PrimeiroAssédio – tantos gritos silenciados…

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Eu começo esse texto parabenizando à todas e todos que compartilharam seu #PrimeiroAssédio ou algum outro #Assédio ao longo de suas redes sociais, a algumas horas, uma página da Universidade, UDD (UERJ dá Depressão), cujos moderadores são estudantes da mesma e assumem a função de informar, compartilharam uma das coisas mais intensas que eu já li, Luísa Guimarães, estudante, filha, irmã, amiga que nas suas palavras e nas de tantas outras iguais a ela sofreu assédio ao longo de sua vida, ela não relatou o primeiro, ela não relatou o segundo, ela relatou algo que mudou sua vida e que quase acabou com ela, ela relatou o estupro, cometido pelo taxista que deveria leva-la para casa, ele não só a ameaçou com uma arma, como também chamou um amigo para consumar o ato, ler aquelas linhas e me imaginar no lugar de Luísa era algo tão inevitável, que me pego chorando enquanto escrevo, imaginando o tamanho desespero ao acordar sozinha, ao ser vê daquela forma, me pego imaginando o tamanho de sua dor durante todos esses dias e meses.

A dor da Luísa é a dor de milhões de mulheres, crianças, filhas e filhos, mães… amigas, desconhecidas (e também desconhecidos).

Eu já disse não consigo me lembrar de um assédio quando pequena, ele provavelmente ocorreu, lembro que minha mãe sempre me mandava correr se eu visse um carro suspeito no caminho para o colégio, lembro do pai meu falando para eu não chegar tarde, ele sempre dormiu depois de eu chegar, lembro do meu irmão que nunca foi de demonstrar tanto afeto, coisas de irmão, me abraçando em meio a olhares devoradores. Eu não me lembro do primeiro assédio, mas lembro de ser constantemente lembrada que ele, o assédio, existi, sentar na fileira do corredor, andar armada com um guarda-chuva, usar calça ao invés de saia no Metro.

Me lembro que certa vez, no meu primeiro ano do Ensino Médio, no Colégio (Estadual) Normal Heitor Lira, enquanto pegava o 906 um senhor que deveria ter idade para ser meu avô entrou no ônibus para assediar as moças, para azar dele eram muitas contra um. Também me lembro de levantar do meu lugar e preferir ir em pé porque o rapaz que estava do meu lado se masturbava enquanto me olhava. Me lembro de fingir ter uma arma e encarar meu assediador enquanto mostrava uma faca de cozinha e sorria apertando o cabo do guarda-chuva, ele desceu dois pontos depois, nunca mais sai de casa sem guarda-chuva não por ser uma pessoa prevenida, mas por me sentir segura portando aquele objeto. Eu também me lembro que não andava tarde da noite com meu uniforme de normalista pelo simples fato de não me sentir segura, afinal era uma constante caminhoneiros, motoristas de ônibus e de carros suspeitos já me faziam acelerar o passo o suficiente a luz do dia, a verdade é que assumo eu não me sinto segura e nem nunca me senti segura andando sozinha.

Segurança, medo, revolta… a dor do outro é a minha dor.

Ler sobre o #PrimeiroAssédio, pensar nos assédios que já vivi enquanto trafegava tantas vezes antes das sete pelas desertas ruas que me levam a UERJ me fizeram pensar nas roupas que não vesti, dos caminhos que criei me desviando dos meus algozes, das vezes em que tampei meus ouvidos e apressei meu passo ou ainda das vezes que não curti meu sono porquê quem estava ao meu lado era um homem, lembro também das vezes que gritei, encarei, xinguei, das vezes que fiz tudo isso e ainda assim senti em mim o medo.

Medo…

A campanha, #PrimeiroAssédio, surgiu com o coletivo Feminista Think Olga, alertando para o assédio a crianças, tais quais Valentina e tantas outras, incentivando mulheres (e sim alguns rapazes) a contar sobre a primeira vez em que foram assediadas. Tantas e tantas vezes as cantadas são tidas como elogios, coisas normais, os olhares na bunda, nos seios, as mãos bobas, os fiu-fiu são deverás naturalizados por quem os comete, pela vítima e por quem cerca a vítima.

Não, não é um elogio, quando um carro para na sua frente e grita ‘’Oh lá em casa!’’, ‘’Gostosa’’, ‘’Quero te ter toda molhadinha’’,  seu coração para e você sente vontade de correr e de chorar, quando um homem vem na sua direção te encarando você tenta desviar, você anda atenta, você muda o caminho e você ouve ‘’Gata’’, ‘’Gatinha será que mia’’, ‘’Bom Dia’’, isso não é elogio, isso não é brincadeira, isso não é natural, isso é assustador.

A três semanas o Twitter e o MasterChefe Junior andam em total sincronia negativa, primeira o assédio, depois a homofobia e agora o sumiço da participante, a equipe do programa diz que a edição foi feita de acordo com a evolução dos participantes, fato é que direta ou  indiretamente isso ocasionou em algo muito comum no julgamento humano, culpar a vítima, sumir com ela, esconde-la, a culpa é dela, a culpa é minha, a culpa é nossa, pela roupa, pelo batom, pela saia, pelo vestido, por ser mulher…

Ler o que Luísa escreveu me fez pensar no que meus pais falavam, dizendo o quão inseguro era andar dentro de um transporte sozinha com um homem, não gosto de táxi, também não gosto de Vans vazias e ônibus apenas com motorista e trocador, mas mesmo assim os pego, com medo e o meu medo aumenta cada vez que leio algum relato, algumas vezes desço no meio do caminho, corro, mudo de roupa e deixo de passar batom, outras tantas percebo que não posso viver escondida, que não posso viver no medo, na escuridão, eu não sou culpada eles são os criminosos, eles são os verdadeiros culpados, eu não posso mudar minhas roupas, minha maquiagem, minha forma de ser e os caminhos por onde ando, eu luto, eu grito, eu bato e até empurro, mas mesmo assim para alguns eu faço por nada.

Lembro que enquanto lia, o segundo sexo de Simone de Beauvoir, eu fiquei tão feliz quando ela dizia que os comportamentos sociais são impregnados em nós, existe ainda uma esperança para a humanidade, eis aí o motivo da celebre frase ‘’mulheres não nascem mulheres, tornam-se mulheres’’, todo comportamento relativo ao que sou para a sociedade foi me imposto por ela, assim como o machismo, assim como a culpa da vítima, assim como se mudar para não ser assediada.

Deixo aqui todo o meu amor a Luíza, Valentina, Ana, Sofia, Teresa, Juliana, Maria…. a tantas outras e outros que sofreram, que choraram, que mudaram seus caminhos, suas roupas por medo, deixo a todos o meu abraço de gratidão por não desistirem, por lutarem, por compartilharem tantas palavras para mostrar que outros devem se pronunciar, que isso não é algo comum, para provar o mundo que nascer com o sexo feminino não é sinônimo de nascer como  um pedaço de carne, como uma vaca que a qualquer momento pode ser levada para o abatedouro por olhares raivosos e mãos abomináveis, ser mulher não pode ser uma condição para ser assediada, para ser abusada e ser consumida.

Deixo todo o meu amor à essas pessoas, minha solidariedade, minha sorosidade, meu abraço mais apertado a todos que já fá foram vítimas de alguma forma.

Para ler a postagem da Luísa é só clicar no nome dela.

#PrimeiroAssédio Maioria de participantes de campanha sofreu 1º abuso entre 9 e 10 anos https://t.co/wehmYkLHFl pic.twitter.com/Eu8eRFbBHx

— BBC Brasil (@bbcbrasil) 29 outubro 2015

Tinha uns 8 anos e esperava minha mãe nas compras. Dois rapazes passaram por trás, pegaram na minha bunda e saíram rindo. #PrimeiroAssédio

— Bruxa Onilda (@byankarruda) 21 outubro 2015

Texto Publicado Por Juliana Marques em 30/10/2015

Sem categoria

Nas lentes do Mundo – Crianças são só crianças…

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Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigado a ser feliz

(Chico Buarque – João e Maria)

Nas últimas semanas o assunto ‘’Crianças’’ tem se alastrado nas redes sociais, já que essa semana pertence igualmente a toda agitação do Enem, retorno aqui o tema igualmente polêmico do Enem anterior ‘’Publicidade infantil em questão no Brasil”, alguém já parou para pensar em como as crianças se encontram expostas nas redes hoje?

Filósofos e sociólogos diriam que é impossível não se expor a essas redes sociais, fato é que cada vez mais jovens elas se encontram expostas em um mundo tecnológico, o parto é filmado, a ultrassonografia em 3d com som digital, os álbuns de papel foram substituídos pelos tecnológicos, pelos selfies após o nascimento…com o obstetra.

E assim nasce cada vez mais cedo uma geração da Hipertextualidade que faz tudo ao mesmo tempo, ouve música, lê várias páginas em várias abas, curte, compartilha, dança e multiplica conhecimento por aí a fora.

É estranho falar de publicidade infantil quando nós mesmos estivemos tantas vezes expostos a ela, estivemos ali na plateia da Xuxa, Eliana ou da Angélica as vendo beber refrigerante, comer pipoca, devorar chocolates e chocolates e nos dizendo para igualmente os consumir junto com todos os seus produtos, quem não lembra da pipoqueira e da sorveteira da Eliana, os cds da Xuxa as bonecas da Angélica.

A publicidade infantil existiu no momento em que se foi concebido a criança como um público que compra e vende.

Brinquedos, roupas, desenhos, revistas, chicletes, doces, programas infantis, hoje eu tenho vinte e três anos e revejo todos aqueles programas, alguns brinquedos e me pergunto, isso não era para minha faixa-etária né? Não, não era.

Da mesma forma que existe no imaginário social o ideal de homem e de mulher existe nesse imaginário a ideia do que é criança, e para muitos ser criança é ser um mini adulto que gosta de doces e coisas coloridas, ser criança é bem mais do que isso, e é isso que a publicidade infantil tenta esconder atrás dos famosos jogos de vídeo game ou das roupas estilizadas da Barbie.

Da mesma forma que nós adultos tentamos nos moldar, crianças igualmente o fazem, roupas, penteados, meias, quem não usou aquelas meias coloridas, aquele tênis estranho, aquele vestidinho fofo, isso tudo porque queríamos ser como as princesas, apresentadoras, os heróis, ou as personagens da novela, não importa, isso gerou lucros milionários, assim como ainda gera, vide os famosos programas infantis baseados nas versões adultas diferenciados apenas com uma palavra (Kids, Juniors, infantil, crianças)

Falar desses programas é algo particularmente interessante, quando eu falei que essa semana o tema Crianças anda circulando nas redes sociais me referi a isso também, relutei um pouco em saber quem era Valentina, a tal menina de doze anos que remexeu as redes sociais, enfim descobri quem era Valentina a menina de somente doze anos que foi assediada por homens que deveriam ter a idade de seu pai ou até mesmo de seu avô, também conheci o pequeno Hytalo, de apenas onze anos que teve contra si os gritos de uma sociedade homofóbica, instantaneamente lembrei-me da pequena Maísa e de seus colegas apresentadores, das crianças que compuseram os grupos infantis da décadas de 90, dos pequenos  atores e cantores que crescem sobre o olhar dessas câmeras que na mais criteriosa leitura de Focault te puni na mesma medita que observa.

São só crianças, de doze, onze, dez, cinco….

Valentina é uma criança que assim como milhares foram assediadas, tiveram seus corpos violados e seus olhos violentados pela crueldade humana, assim como as meninas traficadas e vendidas, ou as pequenas que tem seus corpos expostos nas rodovias, ou as vizinhas, primas, sobrinhas, conhecidas que tem seus corpos vistoriados como um pedaço de carne. Crianças que não devem saber o significado da palavra machismo, mas mesmo assim a vive. Vivemos em uma sociedade tão hipócrita que os assédios se tornaram tão frequentes quanto um ‘’Bom Dia’’.

Eu não lembro do meu primeiro assédio na infância, provavelmente deve ter tido, mas não o lembro, em comparação lembro bem de como fui assediada por conta do uniforme de normalista, eu sei como é você andar a passos apresados para chegar no colégio e olhar para vê se não tem um carro te observando como se você fosse um pedaço de comida, ou ainda lembro da palpitação em segurar um guarda-chuva como se fosse a arma mais mortal do mundo, lembro, eu lembro assim como sei que Valentina, Hytalo e tantos outros vão lembrar de todas essas palavras.

Enquanto escrevo esse texto estou pensando na política de filho único, hoje extinta. É nesse momento em que percebo que independente do lugar quando algum mecanismo de controle percebe seus filhos, ele quer lucros, o governo autoriza mais um filho para impulsionar a economia, não para corrigir um erro social que possivelmente levou a morte milhões de meninas já que os pais preferiam os filhos homens, já que no fim eles proveriam a família. Coincidência ou não, aqui no Brasil um país em que não se tem controle de natalidade, o machismo concebe essas mesmas ideias, mulheres não servem para determinadas tarefas, não podem dirigir, são emocionais demais, são santas, professoras, mães…, mulheres são só mulheres e só elas têm o direito de expressar sentimentos, afinal pais ensinam seus filhos que “homem não chora’’.

Homens choram, psicologicamente e biologicamente, eles choram, eles sentem, eles se prendem tanto quanto nós aos padrões sociais, o machismo só existe porque ele foi ensinado na escola, na partida de futebol, com os carrinhos, em casa. Hytalo sofreu com esse machismo, ele era só uma criança que ouviu e ouve todos os dias comentários que reproduzem uma lógica de ódio quanto aos que não se enquadram nessa sociedade quadrada.

Recordem na mente de vocês quantas vezes foram Hytalo e Valentina, quantas vezes seus corpos e comportamentos foram motivos de constrangimento e lágrimas isso antes dos quinze, crianças deveriam ser só crianças, deveriam ter sonhos, deveriam sonhar poder fazer qualquer coisa e serem da forma e do jeito que quiserem, crianças não deveriam e não poderiam estar expostas a isso.

Teoricamente você nem foi exposto às câmeras, mas quem disse que o ideal social, os olhos milimétricamente programados, não falaram sobre seu cabelo e o motivo dele não ser liso, não falaram sobre seu manequim ou o tamanho da sua saia, ou ainda discursaram sobre o seu comportamento, quem disse que você também não foi violentado por essa sociedade que te consome como um produto qualquer em uma prateleira.

Penso nas crianças expostas ao frio, vítimas de uma sociedade que as vê como mero produto, um pedaço de qualquer coisa, um número, um futuro inexistente, eu nunca me vi grávida mas quero ser mãe, talvez por esse fato eu seja tão sensível a essas crianças que tem tão pouco, por vezes quase nada e que se expõe a tudo. Crianças aprendem fazendo, brigando, correndo, brincando, derrubando, crianças não deixam de ser crianças quando nascem mais pobres ou menos ricas, elas mudam de endereço, de rua, de viaduto.

E é nesse contexto que fui apresentada a outra criança, a de uma escola de um município pequeno aqui do Rio de Janeiro, ela estava agitada, quebrando, reproduzindo, gritando, estava assustada, chorando e os adultos a sua volta filmando, o vídeo que viralizou em poucas horas, me pergunto onde se encontra a sanidade humana quando uma criança que não chegou nos dez anos se descontrola nesse ponto e nem um adulto se preocupa em saber o que de fato acontece, só se preocupam em filmar, compartilhar, curtir…

Observo um pouco desse caso e me recordo dos ex atores mirins, que tiveram suas vidas expostas durantes tantos anos, que acabaram entrando em depressão, fazendo coisas normais e absurdas a olhares de determinadas lentes, ninguém nunca se perguntou o que sentiam, o que queriam, o que verdadeiramente eles eram? Eles só queriam saber de viralizar as notícias sobre os ex queridinhos e atuais problemáticos.

Vendemos nossa alma a uma câmera, em busca de curtidas e comentários elogiando nossa beleza. Certas vezes pergunto-me quem somos nós? Somos o que está dentro ou está fora das redes sócias? Quem nos conhece? Quem nos curti na vida real e compartilha de nossas ideias?

Enfim por hoje é só, boa noite.

Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock para as matinês

(Chico Buarque – João e Maria)

Texto de Juliana Marques publicado Originalmente em 29/10/2015)

Crianças, Feminismo

Keep Calm é só o ENEM! (Ou será que é a vida?)

KEEP

Sobre o ENEM: Sim, estou muito feliz com o fato do ENEM fazer jus ao rótulo de Exame Nacional de Ensino Médio, e de fato ir além das questões programadas que os cursinhos e algumas escolas se propõem a ‘’ensinar’’, mas eu continuo achando esse sistema de avaliação deverás arcaico, não por privilegiar uns e outros, até porque o ENEM é baseado em currículo Nacional, mas eu não acredito em um sistema de avaliação que te ponha a prova durante dois dias, em meio ao seu nervosismo e as insistentes crises de TDAH, preferia em uma ideia utópica ser avaliada por minhas competências, assim seria mais fácil e justo.

Mas falemos das questões do ENEM, teóricos conceituados, FREIRE, MARX, Beauvoir, e um monte de outras pessoas que tentaram mudar o mundo, história e geografia aplicada de maneira social e cultural, segundo relatos as questões de português também estavam trabalhadas na amorosidade, nas variações linguísticas e bem a provas de ciências exatas era a prova de ciências exatas.

O que eu quero dizer é o seguinte tanto se foi comemorado durante o dia sobre tudo isso, sobre esses pensamentos, sobre esses autores, sobre tudo, que uma questão pairou em minha cabeça o dia inteiro, esses autores são trabalhados da forma que se devem ser trabalhados com os alunos em sala? Eles são ensinados a refletir sobre esses assuntos? E se eles que tanto quiseram quebrar o sistema estavam sendo usados a favor do sistema eles estavam agora excluindo?

Eu realmente fiquei feliz pelo ENEM fazer jus a uma formação Humana, que aliás se faz presente com a obrigatoriedade do ensino de sociologia e filosofia, mas a questão é: Mesmo que as ideias mais contemporâneas sobre igualdade de direitos tenham sido expostas nessa prova, na prova anterior (2014) e nas demais (que vão vir e já vieram), isso não vai significar nada se a formação de alunos e professores continuar a ser uma formação que valorize a reprodução, a programação e a desigualdade, onde a lógica da exclusão se faz presente em um exame que deveria incluir, afinal quantas escolas entre públicas e particulares se preocupam realmente com isso??? Quantas escolas ouvem seus alunos??? Quantas escolas de fato fazem o que é proposto pelas Diretrizes???

Entre os milhares de comentários de comemoração pelos temas propostos ouso a falar que o barulho foi feito sem reflexão alguma, é fácil falar do que é machismo, violência, exclusão do lugar onde estou, acabei a faculdade de pedagogia, minha formação é em humanas e digo com clareza que as crianças que prestaram esse vestibular em sua maioria não tomaram ciência política da metade das questões naquela prova. Sim, eu os chamei de crianças, cada dia mais cedo eles prestam vestibular, se preparam para um mercado de trabalho no jardim de infância enquanto aprendem o terceiro idioma, mas isso é um outro texto.

Chega a ser engraçado em meio a um dia em que uma prova e sua redação pro vestibular causou tanto rebuliço uma pequena reportagem do Fantástico chamar atenção justamente pela controvérsia, um dos quadros, intitulado ‘’o grande plano’’ com a presença de três artistas acima de sessenta ( Berta, Vilma e Elke), a participante a pedido do marido teria que mudar seu estilo de se vestir por causa do marido, ele achava suas roupas apertadas, curtas e transparentes, e as três senhoras concordaram, em meio a uma grande discussão sobre direitos das mulheres ideias tão ultrapassadas se fazem presente, ‘’o que as pessoas vão pensar’’, as pessoas não deveriam pensar nada, o corpo é dela, a vida é dela, ela se veste como ela quiser e ninguém tem o direito de falar algo sobre isso.

Vivemos em um mundo onde o machismo se encontra tão impregnado que não conseguimos nunca achar a raiz do problema, o tamanho da roupa, a cor do batom, o solto, a falta de pintura, pequenas ações, detalhes que são nos impostos todos os dias como forma de controlar nosso corpo, não somos objetos, somos mulheres.

Deixo aqui a minha reflexão sobre esse ENEM, talvez essa seja a pequena revolução que começou no lugar mais improvável para que futuramente os vestibulandos não precisem decorar formulas e formulas em meio a um desespero para passar no vestibular. Quem sabe seja essa a hora de refletir sobre o que é ensinado nas escolas desse país?

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas

As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas

Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
As suas novenas
Serenas

(Chico Buarque)

Texto de Juliana Marques (publicado no dia 26/10/2015)